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Acordos e negociação: algumas definições

1.5 Acordos e negociação

1.5.2 Acordos e negociação: algumas definições

As seguintes definições para os termos acordos e negociações são de Houaiss (2001) e parecem ser adequadas para este trabalho.

Acordo- ... 1.1 ajuste entre partes; combinação, consenso, pacto

2 resultado da comunhão de ideias, sentimentos etc.; entendimento recíproco; concórdia, harmonia...

3 mudança para adaptação a novas condições; acomodação, combinação, conciliação...

5 ausência de problemas

29 No original: “Negotiation is a communication process by which two or more interdependent parties resolve some matter over which they are in conflict”.

30 No original: “It is the process by which all the pieces of the living world find their relationships to the other pieces to form larger wholes and to enable the living world to grow, adapt, and survive”.

6 eliminação de oposição ou conflito; conciliação 7 decisão ou resolução conjunta ( p. 65)

Ajuste 2 atitude de integração harmônica em um contexto; adaptação, amoldamento 3 estabelecimento de um pacto; trato, acordo, convenção (p. 132)

Negociação- 1 ato ou efeito de negociar; negociamento, negócio 3 qualquer tipo de negócio

4 entendimento sobre tema polêmico ou controverso

5 conversação diplomática entre duas ou mais nações visando a tratado, convenção (p. 2005)

Negócio - 4 assunto a ser resolvido; pendência

6 transações comerciais, contratos, ajustes, acordos entre pessoas, empresas ou países (p. 2005)

Dessa forma, em consonância com a definição do termo, concebo os acordos no contexto teletandem como ajustes, ou seja, o resultado de busca por um consenso na parceria, por um entendimento recíproco a fim de que se obtenha mútua adaptação às novas condições do contexto, eximindo-se de problemas. São tentativas de conciliações, concessões e doações dos falantes em prol de um fim único, que é o equilíbrio e a harmonia na parceria em teletandem com fins práticos e pedagógicos acerca do aprender línguas e culturas.

O termo negociação é bastante recorrente em nossa vida diária. Ocorre em situações variadas e, muitas vezes, nem nos damos conta de que estamos diante de processos de

negociação. Assim, por permear diversas esferas da sociedade, várias são as áreas de estudo que se ocupam do termo.

Segundo Gelfand e Brett (2004), as pesquisas se encontram em ascensão pelas duas últimas décadas e a compreensão tem se avançado no que diz respeito aos processos psicológicos fundamentais (cognição, emoção, motivação), aos processos complexos sociais (comunicação, poder e influência) e aos efeitos do contexto das negociações (equipes, terceiros e tecnologia).

De acordo com Weingart e Olekalns (2004), as definições de negociação apresentam variações concernentes à forma e ao conteúdo, todavia, há consenso em relação ao enfoque da negociação como um processo.

Assim, a literatura oferece subsídios teóricos para a negociação sob perspectivas políticas, econômicas e sociais, definindo o papel do negociador e suas atribuições. Entretanto, em contexto educacional e nas línguas estrangeiras às quais tenho acesso, nota-se a abordagem pela negociação de significado como uma interação modificada (LONG, 1983a, 1983b; GASS e VARONIS, 1985; VARONIS e GASS, 1985b; PICA, 1994, 1994a; ELLIS, 1999; VAN DEN BRANDEN, 1997, 2000; OLIVER, 2002; SHEKARY e TAHRIRIAN, 2006; KITADE, 2006; WANG, 2006; SMITH, 2009).

É importante esclarecer que os conceitos de acordos e negociação abordados neste trabalho não se limitam somente a este tipo citado, mas abrangem, também, a aprendizagem e os processos interativos na prática de teletandem. De acordo com o enfoque desta pesquisa, a negociação está ligada não somente ao escopo linguístico mas também ao interacional. Todavia, as pesquisas sobre a negociação de significado podem auxiliar a teorizar os processos de acordos e negociação entre os pares na aprendizagem em teletandem e buscar sentidos e um diálogo com os dados coletados nesta pesquisa.

A negociação, envolvendo o significado, tem adquirido espaço sob a ótica interacionista na aquisição de segunda língua –SLA- (MACKEY et al, 2000). Para Oliver (2002), a negociação de significado facilita a aquisição de L2 pois oferece aos aprendizes três elementos que considera essenciais ao sucesso na L2 que são o input compreensível, o output compreensível e o feedback.

A respeito de ‘negociação’, Pica (1994a) esclarece que :

Este termo tem sido usado para caracterizar a modificação e reestruturação da interação que ocorre quando aprendizes e seus interlocutores prevêem, percebem ou experimentam dificuldades na compreensão da mensagem. Enquanto negociam, eles trabalham linguisticamente para obter a compreensão necessária, repetindo literalmente a mensagem, fazendo ajustes na sintaxe, modificando palavras ou modificando a forma e o significado de variadas formas. (p. 494)31

Assim, no que diz respeito à interação, a negociação de significado é tida como forma de auxiliar os aprendizes a modificar o input compreensível e modificar seu próprio output, além de oferecer acesso à forma e significado da língua-alvo. As modificações linguísticas promovidas por meio da negociação de significado entre os pares são cruciais para que os aprendizes desenvolvam a percepção e a consciência da língua em questão e, por este insumo, possam aprimorar sua compreensão e produção. A autora (1994) esclarece que, na negociação de significado, os aprendizes buscam esclarecimentos, confirmação e repetição do discurso que não entendem.

Esta posição é, também, defendida por Foster (1998) que vê a negociação de significado como a atividade de checar e solicitar esclarecimentos. A negociação se daria por

31 No original: “This term has been used to characterize the modification and restructuring of interaction that occurs when learners and their interlocutors anticipate, perceive, or experience difficulties in message comprehensibility. As they negotiate, they work linguistically to achieve the needed comprehensibility, whether repeating a message verbatim, adjusting its syntax, changing its words, or modifying its form and meaning in a host of other ways.”

meio de ajustes conversacionais que permeiam as interações na língua estrangeira. Para Van den Branden (2000), “As negociações de significado visam reestabelecer a compreensão mútua...” (p. 429).32

Alguns autores falam em negociação de significado e negociação de forma (Lyster e Ranta, 1997; Van den Branden, 2000; Lyster, 2002). Para este último autor, a visão de negociação não deve se restringir ao estabelecimento da compreensão mútua, mas ampliada para que se leve em conta o feedback de correção e a distinção entre negociação com enfoques na forma e no significado na interação entre professor e aluno. A diferença entre tais enfoques seria funcional, sendo a função da negociação de significado considerada “conversacional” e a da forma, “didática” (LYSTER E RANTA, op cit).

Também relevante para este estudo são os resultados de Varonis e Gass (1985), Gass e Varonis (1985), Doughty e Pica (1986), Pica (1996), sugerindo que os falantes não-nativos (NNSs) utilizam mais ajustes interacionais para promover o input compreensível.

A partir destes estudos, a troca de informações entre aprendizes de diferentes línguas, como nas parcerias telecolaborativas e interculturais em teletandem, tenderiam a utilizar mais a negociação que em situações tradicionais de aprendizagem. Isso poderia ser justificado pela tendência dos pares possuírem diferentes níveis de conhecimento linguístico (OLIVER, 2002) e menos questões em comum, o que propiciaria entraves, não somente linguísticos mas também culturais. Gass e Varonis (1985) afirmam que, em geral, quanto menor a proficiência do aprendiz, maior será o número de estratégias de negociação utilizadas.

Não se espera que um aprendiz, ao iniciar sua aprendizagem em determinada língua, demonstre domínio total da língua-alvo e da cultura. Trata-se de um processo de aprendizagem e muitas questões que ainda não fazem parte do repertório do aprendiz serão incorporadas na interação e na (co)construção de conhecimento em colaboração com o

parceiro. Neste contexto, são recorrentes os andaimes – scaffolding - (HARTMAN, 2002), ou seja, o par mais proficiente oferece ajuda e meios para que o menos proficiente atinja a meta proposta para a comunicação e aprendizagem.

Pica (1996) reconhece que a interação de falantes nativos (NSs) e não nativos (NNSs), no que concerne à negociação, atende à necessidade específica de aprendizes de L2 em relação ao provimento de dados lexicais e estruturais aos NNSs, o que confirma a modificação do output.

Nesta investigação, todavia, a visão de negociação adotada inclui a língua (forma) mas não restringe-se a ela, adquirindo um caráter mais holístico.

Há consenso nos estudos acerca da negociação de significado como ajustes feitos para que incompreensões que causam interrupções na fala sejam sanadas. Em termos de nomenclatura, estes são classificados como conversacionais (LONG, 1983a; FOSTER, 1998) e interacionais (VARONIS e GASS, 1985; GASS e VARONIS, 1985; DOUGHTY e PICA, 1986; PICA, 1996).

Long (op cit) trata de dispositivos que classifica como estratégias ou táticas utilizados (a) para reparar o discurso seguido por um interrupção na comunicação e (b) para evitar novas ocorrências de interrupção. São eles: auto-repetições, outras repetições, expansões, verificação de confirmação, pedidos de esclarecimento e verificação de compreensão33 (LONG, 1980, 1983a).

Estas teorias auxiliam mas não dão conta de explicar os processos nos quais me debruço nesta pesquisa. Aqui, vou além das incompreensões ou interrrupções na fala para investigar o fluxo das negociações que permeiam as interações em teletandem. De qualquer maneira, o modelo Varonis e Gass será aplicado na análise dos dados no Capítulo 3 sob a ótica dos processos e do gerenciamento do teletandem.

33 No original: “…self- and other-repetitions, expansions, confirmation checks, clarification requests and comprehension checks.”

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