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ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO TRABALHO

D) Observações Realizadas

4.2. A ANÁLISE DA ACTIVIDADE

4.2.1. O TRABALHO PRESCRITO

4.2.2.3. Actividade Real de Colheita de Sangue Venoso Serviço de Neurologia Médica

No departamento de Neurologia Médica foi observada maior variabilidade intersujeitos na forma como executam a mesma tarefa. Apresenta-se de seguida o resultado das observações.

1 - Preparação do material necessário ao procedimento

Na sala de enfermagem, retira fichas de um suporte na parede (que diz "análises"), com as indicações médicas das análises a fazer a cada doente.

Coloca num tabuleiro agulha "buterfly", pensos rápidos, tubos, compressas que previamente embebeu em álcool e adaptador (também designado porta tubos).

Desloca-se com o tabuleiro para a enfermaria.

Põe as luvas. Abre o invólucro da "buterfly" e adapta o porta tubos a uma das extremidades. Coloca este material em cima da cama, sem tirar a protecção à agulha.

2 - Procedimento

1. Garroteia o braço do doente, que se encontra em decúbito dorsal.

2. Dá "palmadinhas" no braço, na zona que vai puncionar, para tornar a veia mais visível e saliente.

4. Retira a protecção à agulha e punciona-a no braço do doente, fazendo-a progredir dentro da veia.

5. Pressiona o tubo contra o porta-tubos.

6. Durante a colheita para o último tubo, solta o garrote.

7. No final, retira a agulha e pressiona a veia com algodão embebido em álcool.

8. Segura na "buterfly" e põe a extremidade que esteve puncionada dentro do adaptador.

9. Desloca-se da enfermaria para a sala de enfermagem, onde deita agulha e adaptador no contentor de agulhas.

Este procedimento foi observado num enfermeiro novo e sem experiência. O adaptador, que supostamente é utilizado em colheitas sucessivas, uma vez que nunca entra em contacto com o sangue, foi neste caso inutilizado. Contudo, é patente neste enfermeiro uma grande preocupação em rodear-se de todas as precauções, de modo a não entrar em contacto com o sangue do doente.

Nas tarefas realizadas por outros profissionais mais velhos e mais experientes, o procedimento foi o seguinte:

1 - Preparação do material necessário ao procedimento

Prepara o tabuleiro com garrote, tubos de colheita, "vacutainer" (fig. 4), adaptador, algodão embebido em álcool e contentor de agulhas.

2 - Procedimento

1. Garroteia o braço do doente.

2. Retira a tampa de uma das extremidades da "vacutainer", deixando à mostra um revestimento de borracha que recobre um dos lados da agulha.

3. Adapta o porta-tubos, enroscando-o, fazendo com que a parte recoberta pela borracha fique dentro do mesmo.

4. Limpa a zona a puncionar com algodão e mantém-no na mão enquanto palpa a veia. 5. Tira a tampa da outra extremidade da "vacutainer" e punciona-a.

6. Adapta o tubo de colheita ao porta-tubos. Vai colocando os tubos cheios sobre a cama.

7. Durante a colheita para o último tubo, desaperta o garrote.

8. Coloca o algodão por cima e retira a agulha, pressionando depois o algodão com a mão esquerda.

9. Com a mão direita, introduz a agulha no contentor e pressiona, de modo que o mecanismo faz rodar e cair a agulha dentro do contentor, libertando o porta-tubos. 10. Retira as luvas e coloca um penso rápido.

11. Volta à sala de enfermagem, com todo o material, etiqueta os tubos e coloca-os num suporte para análise.

Fig. 4: "vacutainer" (com tampas de protecção), porta-tubos e tubo, dispostos segundo a forma como se adaptam.

Foi observado um procedimento diferente pelo mesmo enfermeiro cuja tarefa atrás se descreveu num tipo de análise cujo volume de sangue necessário não corresponde ao volume dos tubos de colheita padrão.

Neste caso, e observando os mesmos cuidados, a recolha de sangue foi feita para uma seringa, até à quantidade desejada. A seringa foi depois espetada na tampa de um tubo (que não tem sistema de vácuo), fazendo passar o sangue para dentro deste.

Contudo, como neste caso o sangue é injectado sob pressão da seringa, torna-se mais difícil controlar esta operação e, na tarefa observada, houve um refluxo de sangue que contaminou o enfermeiro e o espaço à sua volta. Este momento correspondeu também a um ponto crítico, na medida em que o sangue saiu do tubo sob pressão e espalhou-se a uma distância que poderia ter atingido não só os olhos, pele e mucosas do enfermeiro que estava a realizar a operação, mas também do doente que se encontrava na cama ao lado deste, pois o procedimento foi realizado entre as duas camas, que se encontram a curta distância.

Questionados os enfermeiros sobre a razão pela qual usavam diferentes sistemas de colheita de sangue ("vacutainer" e "buterfly"), foi explicado que, tal escolha, está muitas vezes associada à prática que o profissional tem. Por ter um tubo maleável e

transparente a mediar as duas extremidades, a "buterfly" permite ver se há sangue nesse tubo, sabendo assim que a veia foi correctamente puncionada. A agulha rígida ("vacutainer") não permite ver isto, pelo que é necessário ter uma melhor percepção e prática para saber, antes de aspirar, se a agulha está na veia ou não.

Esta explicação é coincidente com o observado na Urgência e em Neurocirurgia: no primeiro serviço, a população de enfermagem é muito jovem e recorre na sua quase totalidade às "buterfly", enquanto que, no segundo serviço, todos os profissionais observados eram mais velhos e experientes e usavam "vacutainer". No entanto, uns e outros referiram que a escolha de um ou outro sistema era inteiramente sua. De acordo com o observado e com as explicações dadas, parece que a aquisição de experiência pode levar à passagem de um sistema para outro, o que leva a crer que o sistema "vacutainer" apresentará mais vantagens, em termos de rapidez, segurança ou outras, a quem o saiba usar correctamente.

Outra variante que contribui para a escolha de um ou outro sistema, situa-se ao nível do doente. Se o doente estiver agitado, será mais eficaz a utilização da "buterfly", uma vez que a sua maleabilidade ajuda a conseguir manter a agulha na veia, mesmo que o paciente se mexa. Deste modo, também o risco de uma picada acidental pelo enfermeiro será menor do que com a "vacutainer". É de notar que, na Urgência, foram observados mais doentes agitados do que nos outros serviços, o que também pode contribuir para a escolha e, em consequência, para a aquisição de mais prática com este sistema, contribuindo também este factor para que o seu uso seja privilegiado.