• Nenhum resultado encontrado

As sucessivas gerações residentes sempre viveram da agricultura e da pastorícia. A agricultura é feita à base da cultura do centeio, do milho, das batatas, do vinho, de algumas espécies de feijão, couves e outras leguminosas, para a alimentação caseira.

Os terrenos, que se estendem ao longo do vale, são ricos e profícuos, retribuindo ao homem todo o trabalho que tem para o cultivar. Como podemos ler na canção que se segue, Sapiãos, terra barrosã, é conhecida pelos seus produtos agrícolas, tão saborosos.

Barroso

Barroso as tuas terras dão, Dão batatas e pão, tão saborosos.

Minha terra é Sapiãos Eu doutra terra não sou, Só dela não tem saudades Quem por lá nunca passou. Barroso as tuas terras dão, Dão batatas e pão, tão saborosos.

Refrão

Há no lugar do Cruzeiro Duas pedrinhas de assento, Uma é de namorar

Outra de passar o tempo.

Refrão

A aldeia de Sapiãos É bonita e tem graça, Tem um chafariz ao meio Dá de beber a quem passa.

Refrão

103

À beira da estrada fica, É a aldeia mais bonita Do concelho de Boticas.

Refrão

O concelho de Boticas Cá no norte é o primeiro, Tem o vinho dos mortos Boa carne e fumeiro.

Refrão (Alice Barros do Couto)

As segadas do centeio eram um momento de muito trabalho em que os trabalhadores trabalhavam de sol a sol para ganharem a jeira. Para enganarem o corpo e entreterem a mente, cantavam e riam-se a fim de tornar o trabalho menos árduo.

Rosinha do meio

Ó Rosinha, ó Rosinha do meio, Vem comigo malhar o centeio. O centeio, o centeio é cevada, Ó Rosinha minha namorada.

Minha namorada, teu amor sou eu Não me vou embora sem um beijo teu.

Ó Rosinha, ó Rosinha trigueira, És a moça mais linda da eira. Lá na eira malhando a cevada, Ó Rosinha ficas mais corada.

Ficas mais corada, teu amor sou eu Não me vou embora sem um beijo teu.

Ó Rosinha, Rosinha te digo, Qualquer dia vou casar contigo. Nesse dia tu não vais à eira, Ó Rosinha minha feiticeira.

104 Minha feiticeira, teu amor sou eu

Não me vou embora sem um beijo teu.

Ó Rosinha, ó Rosinha ceifeira, Vou contigo trabalhar na eira. Lá na eira contigo a meu lado, Ó Rosinha estou mais descansado.

Estou mais descansado, teu amor sou eu Não me vou embora sem um beijo teu.

(Grupo de cantares)

Tigueirinha

Ó trigueira, ó trigueirinha Quem te pôs assim trigueira Foi o andar à tardinha, ó ai A conhar o pão na eira. Malhador que andas na eira Malha o centeio bem

Não olhes para o caminho, ó ai Que a merenda já lá vem Não há pão como o centeio Até no cheirar é doce

Nem amor como o primeiro, ó ai Se variado não fosse.

Chamaste-me trigueirinha Isso é do pó da eira

Hás-de-me ver ao domingo, ó ai Como a rosa na roseira

Rosa que estas na roseira Deixa-te estar em botão

Que a rosa depois de aberta, ó ai Perde toda a estimação.

105

Final dos trabalhos das ceifas

À entrada desta rua Já me quiseram bater Eu meti a mão ao bolso Ou retirar ou morrer. Siga a malta, siga a malta Siga a malta, trema a terra, Venha lá o que vier Esta malta não arreda. Esta malta não arreda Nem espera de arredar. Venha lá outra mais forte Que a faça retirar. Eu hei-de ser o primeiro Que hei-de subir a escaleira Para dar as boas festas À senhora cozinheira. Ò senhora cozinheira Saia fora e venha ver Venha ver o seu ranchinho Venha-lhes dar de beber. Ó senhora cozinheira O seu caldo cheira bem, Dê-me uma malguinha dele Por alma de quem lá tem.

(Alice Barros do Couto)

Nas Romarias

Nas romarias

Há danças e há cantigas, Há também muita alegria Para animar as raparigas

106 As romarias que lindas são

Onde as Marias todas lá vão Nas romarias não há tristezas Porque as Marias são portuguesas

- Ó ai Maria Só tu és o meu amor Eu vou logo à romaria E trago-te uma flor - Ó ai Manel

Uma flor não quero não Quero só o teu amor Da raiz do coração

Refrão

- Ó ai Maria, Maria meu ai Jesus O dia que te não vejo Nem a candeia dá luz - Ó ai Manel,

Meu pucarinho de cheiro Andam tantas à porfia Quem te levará primeiro

Refrão (Grupo de cantares)

Saia velhinha

A minha saia velhinha,

Toda rotinha de andar a bailar, Agora tenho uma nova

Feita na moda para estriar.

Ai não olhes para mim (ai não olhes)

Ai não olhes tanto, tanto (tanto, tanto)

Ai não olhe para mim (Ai não olhes)

Que eu não sou o teu encanto (teu encanto)

107

Ai não olhes para mim (ai não olhes)

Ai não olhes por favor (por favor)

Ai não olhe para mim (ai não olhes)

Que eu não sou o teu amor (teu amor)

Refrão

A saia que traz vestida (traz vestida)

È bonita e bem feita (e bem feita)

Não é curta nem comprida (nem comprida)

Não é larga nem estreita (nem estreita)

Refrão (Grupo de cantares)

Transmontana

Sou transmontana, e toda ufana em ser daqui, Terra tão linda não vi ainda ou nunca vi, Ó Trás-os-Montes mas tuas fontes quero beber, E no teu sol lindo a rebole quero aquecer

Ó Trás-os-Montes terra linda abençoada,

Que trago sempre gravada dentro do meu coração Terra formosa desta pátria tão ditosa

Quem és tu Sapiãos igual

És o rincão mais belo de Portugal

A tua gente que ama e sente como ninguém Sabe cantar, sabe lutar porque alma tem Gente que reza sem tristeza na árdua vida Na dura serra cavando a terra lá ganha a vida

Refrão

(Alice Barros do Couto)

Lá vem a Lua

108 Lá vem, lá vem

Atrás da serra Que graça tem Vem dar abraços Vem dar beijinhos Fazer carinhos A quem quer bem

Ó lua vai-te deitar

À cama da minha namorada Dá-lhe beijinhos por mim Se ela estiver acordada

Refrão

Anda o sol atrás da lua, A lua atrás do luar Meu amor atrás de mim Eu não lhe quero falar

Refrão

Ó luar da meia-noite Tu és o meu inimigo Estou à porta de quem amo Não posso entrar contigo

Refrão

Minha mãe, case-me cedo Enquanto sou rapariga Que o milho sachado tarde Nem dá cana nem dá espiga

Refrão

A espiga do milho rei À minha mão veio ter P’ra beijar o meu amor O que eu gosto de fazer (Grupo de cantares)

109

Dois tristes pastores

Dois tristes pastores resolveram fazer o casamento, então, no dia do casamento, o pastor tinha as ovelhas no monte e quando chegou a noite disse p’ra noiva:

- Eu agora tenho de ir ao monte, tenho de ir p’ro pé das ovelhas p’ras cancelas. E ela disse:

- E então quem é que vai dormir comigo? Diz ele:

- Não te preocupes, um senhor qualquer.

O marido foi p’ro monte, ela ficou em casa, preparou-se e veio-se pôr à porta, à espera do senhor qualquer. Passou um e ela:

- Boa noite, o senhor quem é? - Eu sou o António.

- Ah, não é do senhor que estou à espera. Vem outro…

- O senhor quem é? - Sou o Joaquim.

- Ah, não é de si que estou à espera. Vem outro.

- O senhor quem é?

- Que lhe interessa? Eu sou um senhor qualquer.

- Ah, é de si mesmo que estou à espera, entre, entre. Ele entrou, entretanto já estava p’ra deitar na cama e chega o noivo:

- Que é que este gajo está aqui a fazer?

- Este é um senhor qualquer, não disseste que vinha um senhor qualquer dormir comigo? Eu estava ali na escada, o senhor chegou e mandei-o entrar.

- Ai foi? Ah meu malandro, ponha-se aqui às minhas costas! Agarra nele às costas…

- O senhor donde é? - Eu sou ali de Cervos. Então o gajo:

- Ponha-se aqui às costas.

O gajo, tau, tau, tau, com ele às costas chegou à Mãe de Água e diz-lhe: - Olhe, por esta trouxe-o aqui, mas na próxima ainda o levo mais longe.

(Maria da Conceição Fortuoso Alves)

O pastor e a vinha

Um pastor ia a passar perto de uma vinha, olhou p’ra dentro, viu umas uvas madurinhas, saltou p’ra cima do muro e disse assim:

110

- Prepara-te vinha que aí vai o lagar.

Mas o dono da vinha estava de dentro, quando o pastor saltou p’ra dentro da vinha, o dono da vinha salta-lhe com um pau nas costas e diz assim:

- Prepara-te lagar que aí vai a trave!

(Manuel Romão Carvalho Gonçalves)

Provérbios e adágios populares (paremeologia)

Quem tem rabo não se assenta. (Manuel Gonçalves)

Água mole em pedra dura, tanto dá até que fura. (Manuel Gonçalves)

Quem em Maio não merenda, aos finados se encomenda. (Maria Alves)

Guarda pão p’ra Maio e lenha p’ra Abril, o que não veio há-de vir. (Maria Alves)

O mal e o bem à cara vem. (Manuel Gonçalves)

Quando não há vento, não há bom tempo. (Manuel Gonçalves)

Cu de mulher e nariz de cão, nunca souberam quando é Verão. (Manuel Gonçalves)

A mulher e a sardinha, quer-se a mais pequenina. (Manuel Gonçalves)

Passou por ali como cão por vinha vindimada. (Manuel Gonçalves)

Dos Santos ao Natal, Inverno crual. (Manuel Gonçalves)

Em Janeiro, um na corte e outro no fumeiro. (Manuel Gonçalves)

Janeiro fora uma hora, quem bem contar, hora e meia há-de achar. (Manuel Gonçalves)

Em Janeiro cada suco seu rigueiro, ou mata a mãe ao soalheiro. (Manuel Gonçalves)

111 Ramos molhados, carros carregados. (Manuel Gonçalves)

Páscoa enxuta, ano de muita fruta. (Manuel Gonçalves)

Páscoa em Março, ou muita fome ou muito mortasso. (Manuel Gonçalves)

As trovoadas de Abril, metem os porcos no covil. (Manuel Gonçalves)

Junho, foicinho em punho. (Manuel Gonçalves)

Em Agosto toda a fruta tem gosto. (Manuel Gonçalves)

Quando em Março ardem os matos, em Maio nadam os barcos. (Manuel Gonçalves)

A palavra fora da boca é como pedra fora da mão. (Maria Alves)

Não digas mal do teu vizinho porque o teu mal vem pelo caminho. (Maria Alves)

Eu venho pedir você tem de dar para esta criança que quer falar. (Maria Alves)

Saco vazio não se segura em pé. (Manuel Gonçalves)

Neve de Fevereiro derrete-a uma velha com um peido. (Manuel Gonçalves)

Quem faz da curva meta não chega à meta. (Manuel Gonçalves)

Mal vai Portugal se não tem três cheias antes do natal. (Manuel Gonçalves)

O dinheiro ganha-o um burro, o problema é sabê-lo gastar. (Manuel Gonçalves)

112