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Capítulo 3 – Análise e Discussão de Resultados

3.2. Análise do Conteúdo das Entrevistas “focus-group”

3.2.1. Actores de Bullying nos Testemunhos dos Alunos

O espaço de abertura e o clima positivo que se desenvolveu em torno desta investigação de campo propiciou aos entrevistados, reflectirem e descreverem as características dos agentes de bullying. O agressor caracterizado por uma estrutura física “mais forte […] com mais força […] com cara de mau” e a vítima caracterizada pela sua fraqueza física (“magras”, “baixas”, “feias”, “frágeis”, “fracas”) e psicológica (“tímidas”, infelizes”, “ansiosas”). Ilustrados, alguns exemplos, nos seguintes testemunhos vividos na própria escola: “Um gajo alto magro a dar pontapés na cabeça de um miúdo mais novo que era baixo e magro”; “Um rapaz de tudo retirava sempre dinheiro, todos os dias, e a vítima era muito pequena”, exemplos vivos de bullying.

Com referência às imagens observadas no vídeo, os indivíduos abordaram mais algumas características sustentando a relevância desta caracterização. Reflectiram sobre os agressores como: “[…] pode ser frustrado pelas pessoas o gozarem e para libertarem essa raiva noutras pessoas, encontram a mais fraca”, e tendo um modelo de agressividade patente em casa: “Nos agressores, por exemplo, os pais podem ter violência em casa e eles depois fazem na escola”, crendo no antigo provérbio “casa de

pais, escola de filhos”. No que respeita às vítimas, as suas características podem destacar-se, e estes indivíduos tornarem-se em alvos fáceis (“Pessoas que tenham traumas, pessoas magras, tímidas, podem ser feias, e serem gozadas por isso”, infelizes e serem “pessoas com ansiedade”. “Normalmente são sempre os mais fracos; escolhem sempre as pessoas mais fracas em termos psicológicos e físicos a levarem” e são consideradas como: “[…] totós… e normalmente são malucos”) conduzindo à ideia de que, muitas vezes, a sua aparência ou o seu padrão de comportamento são diferentes dos das outras crianças e isso constitui à partida um factor de risco.

Por fim, reflectindo acerca das características dos observadores, os alunos testemunharam baseando-se: “Por isso é que é “bullying”; Era frequente o agressor bater em miúdos e os outros como não se podem virar a ele, por isso é que fugiram!”. Atitudes passivas, de medo, fuga e afastamento de situações de agressão, “os outros” como abordam estes alunos, referem-se aos observadores que “podiam ajudar, são mais, mas têm medo!”. Uns, “não sentimos nada, é ver o que acontece, apenas!”, argumentando outros, sentindo que estas situações não passam de “[…]uma injustiça!”.

3.2.2. Formas de Agressão Observadas v.s. Espaços Físicos Escolares

São representativas as agressões apercebidas pelos sujeitos em estudo, nomeadamente, as agressões físicas, verbais e de roubo/extorsão de bens na escola que frequentam. Com maior representatividade e, consideravelmente, com um maior número de situações identificadas (ver Anexo V), as agressões físicas (“bater”, “pontapear”, “empurrar”, “espancar com murros”) são mais frequentes como se ilustra nos seguintes testemunhos: “Agressão física (socos, pontapés e nomes porcos), agressor cigano e vítima apanhadinha”; “Vejo muitas vezes os rapazes a baterem e a gozarem um rapaz gordinho”; “Muito sangue! O puto esticou-se para ele e apanhou”; “Um rapaz do 7º Ano a lutar com um de 5 ou 6, claro era impossível de haver resposta”. Por sua vez, a extorsão de bens são também as mais salientadas entre os alunos: “Roubo. Um rapaz baixo rouba um rapaz alto, todos os dias e ameaça-lhe se contar a alguém. Dá-lhe porrada. Para se certificar que ele não diz, bate-lhe”.

As agressões verbais (as mais preeminentes pelos sujeitos: “chamar nomes”, “gozar” e “ameaçar”) são menos identificadas, mas consideradas pelos alunos: “Um rapaz negro todo os dias a ser gozado”; “Um rapaz da minha turma a chamar nomes”.

Com menos enfoque entre alunos, estas parecem ter mais relevância entre alunos com funcionários da escola: “Um puto gozou e fugiu de uma empregada”; “Um rapaz problemático faltou ao respeito a uma empregada, gozando-lhe. Parecia que estava a falar com uma colega”, ou mesmo em situações observadas em redor das imediações escolares: “Já vi várias pessoas a chamarem outras pessoas e a fazerem ameaças do lado de fora do portão. Os agressores eram chungas e as vítimas eram normais”. Relatam, também, episódios com acontecimentos de agressividade entre alunos e professores na sala de aula: “Vi que a professora ao expulsar a aluna, deu-lhe um caldo na cabeça, depois a aluna deu-lhe uma chapada e fugiu. A professora foi atrás dela e começaram à luta, pontapés, murros, etc. Mas só a aluna é que foi para a polícia, através da escola segura. E eu acho mal porque as duas fizeram mal e deviam sofrer as duas as consequências e aliás acho que a professora por ser mais velha e ter mais consciência devia ter uma, um bocado mais grave”.

Nos diferentes espaços físicos escolares, os indivíduos conseguiram identificar as agressões frequentemente observadas na sua escola, através da facilitação e colagem de “post-its” (ver Anexo VI). Pôde-se verificar que situações de agressão física e de extorsão de bens são mais identificadas em ambientes de recreio (e em redor dos espaços de educação física), seguidamente nos espaços de refeitório/papelaria/bar da escola. Menos evidentes na sala de aula, no corredor e nas escadas, nas casas de banho e em outros espaços das imediações escolares.

Relativamente à prática perpetuada pelos agressores às suas vítimas, são mais prevalentes as situações de agressão em que a relação é de 1 para 1 (“Já vi um rapaz que devia estar no seu 5º ou 6º Ano a bater e a gozar na fila para a papelaria. O agressor era maior mais robusto e com cara de mau e a vítima era mais pequena e magrinha”) e reduzidas aquelas identificadas de vários para 1 ou de 1 para vários (“O aluno foi espancado por mais de cinco alunos na casa de banho”; “Cinco miúdos do 5º Ano ao pé da parede e outro a tirar dinheiro a esses cinco”).