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Não obstante o exercício de cargo público seja de livre acesso, atendidas as prescrições legais, salvo algumas situações, o seu acúmulo encontra vedação no ordenamento pátrio. Esta limitação visa evitar abusos e a monopolização de atividades públicas.

Neste espectro a Constituição Federal com o objetivo de ampliar a participação da sociedade na estrutura da administração pública e para obter especial dedicação dos ocupantes de cargo público, estabelece como regra a proibição da acumulação remunerada de cargos públicos, prevendo algumas exceções104, proibição esta estendida também a empregos e funções públicas, a teor do inciso XVII105 do artigo 37 da Constituição Federal. (SANTOS, 2012, p. 279-280).

É de longa data a previsão da proibição de acumulação remunerada de cargos, empregos e funções, tendo sido prevista pelo Decreto da Regência, da lavra de José Bonifácio, no ano de 1822, com o intuito de impedir que uma mesma pessoa pudesse ocupar ou exercer vários cargos ou funções, sem fazê-lo de forma proficiente e mesmo assim ser remunerado por isso. Persiste na atualidade essa orientação proibitiva, pois a acumulação vem em evidente prejuízo à administração pública, seja pela deficiência na prestação dos serviços pela impossibilidade de serem prestados ao mesmo tempo106 ou pela dúplice remuneração. (MEIRELLES, 2009, p. 447-448).

Maria Sylvia Zanella Di Pietro assinala que “a vedação só existe quando ambos os cargos, empregos ou funções forem remunerados”, ou ainda quando houver

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O inciso XVI do artigo 37 da Constituição Federal, assim estabelece: “é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI: a) a de dois cargos de professor; b) a de um cargo de professor com outro, técnico ou científico; c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas”.

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Inciso XVII, do artigo 37 da Constituição Federal: “a proibição de acumular estende-se a empregos e funções e abrange autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público”.

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A Súmula 246 do Tribunal de Contas da União prevê que: “O fato de o servidor licenciar-se, sem vencimentos, do cargo público ou emprego que exerça em órgão ou entidade da administração direta ou indireta não o habilita a tomar posse em outro cargo ou emprego público, sem incidir no exercício cumulativo vedado pelo artigo 37 da Constituição Federal, pois que o instituto da acumulação de cargos se dirige à titularidade de cargos, empregos e funções públicas, e não apenas à percepção de vantagens pecuniárias”.

compatibilidade107 de horários, não sendo ainda possível a tríplice108 acumulação a menos que uma das funções109 não seja remunerada. (2011, p. 566).

Assim, compatibilidade, refere-se à possibilidade de exercício ao mesmo tempo, mas em horários110 distintos, de dois cargos, empregos ou funções públicas, obedecidas as exceções previstas na Constituição, as quais objetivam tornar mais eficiente e profissional o serviço público. Além disso, a remuneração não deve exceder os limites111 fixados para cada ente, e desde que se trate112 de dois cargos de professor; um cargo de professor com outro, técnico ou científico; dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com

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MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR PÚBLICO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO DIREITO LÍQUIDO E CERTO ALEGADO PELO IMPETRANTE. PEDIDO DE RECONDUÇÃO A CARGO DE PROFESSOR DA REDE ESTADUAL. INDEFERIMENTO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR INVESTIDO NO CARGO DE INSPETOR DE POLÍCIA. CUMULATIVIDADE DE CARGOS NÃO ADMITIDA. AUSÊNCIA DE PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS DO ARTIGO 37, XVI, B, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. AUSÊNCIA DE PROVA DA COMPATIBILIDADE DE HORÁRIOS ENTRE OS CARGOS A SEREM ACUMULADOS. PRELIMINAR ACOLHIDA E DENEGARAM A SEGURANÇA. UNÂNIME. (RIO GRANDE DO SUL, Tribunal de Justiça, 2012). (grifo do autor).

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Servidor público. Tríplice cumulação de proventos e vencimentos. Vedação constitucional. Inexistência de violação de direito adquirido. 1. A Emenda Constitucional n. 20/1998, ao introduzir o § 10 no art. 37 da Constituição da República, apenas transformou o entendimento jurisprudencial consubstanciado na interpretação do art. 37, incs. XVI e XVII, e do art. 95, parágrafo único, inc. I, da Constituição da República em texto constitucional, firmado no sentido de que é vedada a acumulação de proventos e vencimentos, salvo em relação a cargos acumuláveis na atividade. 2. A vedação constitucional à percepção cumulativa de três cargos públicos, entre proventos e vencimentos, sempre existiu, nada importando que as fontes pagadores sejam diversas, pelo que não há falar em violação qualquer de direito adquirido no ato que cancela uma das aposentadorias em acúmulo inconstitucional. (BRASIL, Superior Tribunal de Justiça, 2005).

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Ao referir-se sobre a acumulação de funções, Lúcia Valle Figueiredo, explica que “mesmo não havendo acumulação remunerada, a acumulação de funções também estaria definitivamente vedada pela Constituição, porque esta acumulação é indesejável pelo ordenamento jurídico”. (2006, p. 132).

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AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR PÚBLICO. ACUMULAÇÃO DE DOIS CARGOS PRIVATIVOS DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE. IMPOSSIBILIDADE DA LIMITAÇÃO DA CARGA HORÁRIA SEMANAL COM A MERA APLICAÇÃO DO ACÓRDÃO 2.133/2005 DO TCU. COMPATIBILIDADE DE HORÁRIOS A SER AFERIDA EM AVALIAÇÕES DE DESEMPENHO. VIOLAÇÃO DO DIREITO SUBJETIVO PREVISTO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E NO ART. 118, § 2o. DA LEI 8.112/90. INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL QUE LIMITE A CARGA HORÁRIA, DIÁRIA OU SEMANAL. ACÓRDÃO EM SINTONIA COM A JURISPRUDÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. INÚMEROS PRECEDENTES. SÚMULA 83 DO STJ. AGRAVO REGIMENTAL DA UNIÃO DESPROVIDO. 1. O art. 37, XVI da Constituição Federal, bem como o art. 118, § 2o. da Lei 8.112/90, somente condicionam a acumulação lícita de cargos à compatibilidade de horários, não havendo qualquer previsão que limite a carga horária máxima desempenhada, diária ou semanal. 2. Dessa forma, estando comprovada a compatibilidade de horários, não há que se falar em limitação da carga horária máxima permitida. Precedentes desta Corte. 3. Agravo Regimental da UNIÃO desprovido. (BRASIL, Superior Tribunal de Justiça, 2013).

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O artigo 37 da Constituição Federal, inciso XI, prevê: “a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da administração direta, autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos”.

112 A Constituição Federal no artigo 37, inciso XVI, assim dispõe: “ é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos,

exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI: a) a de dois cargos de professor; b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico; c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas”.

profissões regulamentadas; exercício da Magistratura com uma função de magistério113. (GALANTE, 2010, p. 42).

Desse modo, o provimento dos cargos e empregos públicos deve se dar por meio de concurso público, que objetiva selecionar pessoal apto a melhor desempenhar as atribuições e atender o interesse público, oportunizando igualdade de condições e sem distinções, estabelecendo-se regras que restringem a monopolização de cargos. Portanto, a proibição de acumulação de cargos propicia uma maior participação da sociedade.