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3. METODOLOGIA

3.4. A adaptação da proposta à escola Waldorf

Nesta seção, discutimos os elementos da escola Waldorf que trouxeram recursos para a adaptação da proposta de intervenção fonoaudiológica.

Com base no que foi observado, as bases do programa foram expandidas. Além de vivenciar, era preciso explorar o sentir (ver, ouvir, tocar), o relacionar (as informações apresentadas com a rotina) e o observar (a si mesmo e aos outros), aspectos estes presentes no cotidiano da escola com pedagogia Waldorf.

São características das escolas Waldorf, segundo Oliveira (2006), a estrutura de organização das disciplinas em épocas, os tipos de objetos utilizados (simples e feitos de materiais naturais), a disposição artística que se exige dos professores, os princípios educacionais e a constituição administrativa da escola.

A constante utilização de materiais naturais nas escolas Waldorf é uma estratégia de renovação dos vínculos das crianças com o mundo natural (HUTCHISON, 2000), o que reforça uma visão ecológica de mundo. Uma série de elementos e fenômenos comuns em escolas Waldorf que proporcionam uma interação entre o ser e a natureza é apresentada por Oliveira (2006), onde se destacam o ambiente físico composto por muitas árvores, gramados e edificações com tijolos à vista, objetos que conservam suas propriedades de origem (brinquedos de madeira ou tricô, bonecas de algodão cru, mochila e materiais escolares confeccionados em couro cru), versos recitados com ênfase a elementos da natureza e a alimentação que prioriza alimentos frescos e

integrais. Notamos a presença nas salas de aula de muitos elementos em seu estado bruto, como pedras, galhos, sementes e blocos de madeira.

Desta maneira, buscou-se a introdução de alguns elementos naturais na proposta de programa de saúde vocal. O vôo dos gansos está presente em um conto utilizado no início da intervenção, buscando a identificação da atitude dos participantes com a atitude dos gansos, que trabalham em equipe e se apóiam constantemente. A importância da água é enfatizada por meio de leitura adicional, reflexão e discussão sobre o tema. Vasos de violeta e a maneira de regá-los exemplificam o processo de produção de voz. Segundo Ignácio (1995), a experiência direta e freqüente com os elementos da Natureza contribui para que o indivíduo sinta-se parte de um organismo vivo maior que é a Terra. Além disso, esta identificação com o ambiente natural é fruto da atividade integrada do pensar, do sentir e do querer (OLIVEIRA, 2006).

Em relação ao interior das salas de aula, percebeu-se que elas são amplas, acolhedoras, iluminadas e bem ventiladas, sendo constantes os cestos com linhas e agulhas de tricô, varais com desenhos feitos com giz de cera de abelha, vasos contendo flautas, móveis rústicos de madeira, e, nas salas do jardim, muitos brinquedos de tricô e madeira. A partir do primeiro ano, como recurso visual, apenas quadros negros, com portas que se abrem como armários. É comum o professor Waldorf desenhar belas paisagens nas “portas” destes quadros-negros, renovando os desenhos periodicamente. Acreditando que o computador traga à criança um pensamento lógico indesejado no processo de escolaridade, este recurso não é parte da pedagogia. Portanto, as salas de aula não utilizam data-shows, retroprojetores ou outros recursos visuais eletrônicos.

Foi decidido então que o programa de saúde vocal fosse integralmente conduzido nas próprias instalações da escola, em uma sala com as mesmas características de conforto, iluminação e ventilação que são oferecidas aos alunos. Observou-se ainda que as reuniões não deveriam contar com computadores e seus conseqüentes recursos audiovisuais, mas com materiais tão simples quanto possível. Outro elemento marcante do caminho educacional proposto por Rudolf Steiner e mencionado por OLIVEIRA (2006) é a prática de oferecer ao aluno um mínimo de elementos prontos para nele despertar a tentativa de conseguir, por esforço próprio, aquilo que se torna uma necessidade em sua experiência. Pensando em estimular esta iniciativa da busca de conhecimento, foram deixados espaços para anotações próprias dos professores no material de apoio. Assim, esperamos despertar a reflexão e a observação de si próprio, fatores que são essenciais no processo de aprendizagem. As anotações eram livres, poderiam ser feitas durante os encontros ou fora deles, porém há algumas anotações dirigidas por meio de perguntas que remetem às sensações dos professores diante dos exercícios e da apresentação dos temas. Há perguntas como “Como você se sentiu?”, “Você teve dificuldade?”.

Uma das bases do ensino na Pedagogia Waldorf é a construção do conhecimento a partir de vivências concretas. Baseando-se nisso, a pesquisadora intensificou a exploração de sensações dos professores durante os exercícios para a elaboração de conceitos relacionados à voz.

Segundo OLIVEIRA (2006), aquilo que o professor sente que sua classe ou um determinado aluno necessita deve guiar a prática pedagógica em uma escola Waldorf. Assim, os meios que o professor deve escolher para conduzir situações específicas não são estabelecidos de forma rígida, “mas ele decide em que momento irá introduzir

determinados conteúdos, cria caminhos de produções artísticas que os alunos seguem e permeia toda a rotina da sala com sua personalidade”.

Da mesma maneira que um professor Waldorf não estabelece os conteúdos a serem trabalhados de forma rígida, a pesquisadora também procurou adotar esta flexibilidade no programa de saúde vocal. Os temas propostos não mudaram, mas a forma de apresentá-los foi sendo adaptada de acordo com a turma, com a situação e à medida que a pesquisadora passou a conhecer os professores. Alguns assuntos também foram sendo acrescentados durante o programa, como a discussão sobre a eficiência sobre as soluções caseiras na melhora da voz. Assim, a proposta foi sendo adaptada de acordo com as necessidades e interesses dos professores.

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