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3.2 O projeto Palcos da Cidade

3.2.3 Adedanha – 2018

Figura 3 – Arte gráfica Adedanha

O tema integrador de 2018 foi Educação integral, diversidade étnico-racial e inclusão. Com foco nas potencialidades, o espetáculo visitou o universo das brincadeiras infantis, a partir de um jogo de palavras chamado adedanha. Em cena, quatro estudantes representaram a brincadeira. A cada sorteio de uma letra, feita pela imposição súbita de um número aleatório indicado pela soma dos dedos das mãos dos participantes do jogo, uma letra é revelada. A partir dessa letra, surgem personalidades que fizeram de suas limitações elementos de potência para modificar suas vidas e o mundo. Nelson Mandela, Frida Kahlo, Chiquinha Gonzaga, Beethoven, dentre outros foram representados pelas coreografias, assim como a cultura de seus países de origem, e o simbolismo dessas personalidades e desses lugares para o mundo. A apresentação aconteceu em 12 de dezembro de 2018, no grande teatro do SESC Palladium (BH). Participaram 15 escolas, foram realizados 3 encontros formativos para os monitores e 1 ensaio geral.

Desde o início, observam-se nas falas de estudantes, professores e comunidade escolar grande entusiasmo pelo projeto, como se a ação abrisse para eles uma nova janela de possibilidades. Os relatos passam a impressão de que participar do processo e do evento traz uma perspectiva transformadora. Reside aqui o foco da pesquisa.

4 A METODOLOGIA: UMA VISÃO RIZOMÁTICA

O projeto aqui estudado desenvolve-se por meio de uma grande rede cooperativa de coreógrafos e estudantes de diferentes escolas, que têm tarefas e contextos diferentes. Nesse sentido, o fluxo de propagação das temáticas e suas sensibilidades foi tratado como um rizoma, processo vivo que não pede uma conclusão. Sobre as circunstâncias em que Deleuze e Guattari cunharam o termo rizoma, nos esclarecem Oliveira e Mossi (2014):

Os autores escreviam em uma França dos anos 60, 70, 80 condicionados por, em alguns casos, uma forte renúncia ao viés epistemológico do estruturalismo, em outros, por uma postura de ampliação de algumas iniciativas e correntes de pensamento propostas por tal movimento de pensamento. [...] Ou seja, Deleuze e Guattari se propunham a travar uma luta armada contra o pensamento continuísta/causal do campo da história contra o sentido oculto/obscuro a ser desvelado no campo da linguística, contra o insciente psicanalítico e contra a filosofia hermenêutica/interpretativa (OLIVEIRA; MOSSI, 2014, p. 185).

O rizoma é dinâmico, o agenciamento está na multiplicidade das conexões, nas linhas que se cruzam sem priorizar pontos de hierarquia. O alcance, o fluxo, as direções em que a ideia pode seguir são todas possibilidades. Ao contrário da cultura arborescente, todos os pontos da rede são ativos e atuantes e, a cada movimento, as ideias e sentimentos são processados e podem seguir em diferentes e imprevisíveis fluxos. Para Deleuze e Guattari,

Ser rizomorfo é produzir hastes e filamentos que parecem raízes, ou, melhor ainda, que se conectam com elas penetrando no tronco, podendo fazê-las servir a novos e estranhos usos. Estamos cansados da árvore. Não devemos mais acreditar em árvores, em raízes ou radículas, já sofremos muito. Toda a cultura arborescente é fundada sobre elas, da biologia à linguística. Ao contrário, nada é belo, nada é amoroso, nada é político a não ser que sejam arbustos subterrâneos e as raízes aéreas, o adventício é o rizoma. (DELEUZE; GUATTARI 1995, p. 24).

A ideia de comportamento rizomático não se restringe à botânica. Assim como ratos e formigas podem apresentar esse comportamento, é observável que outras dinâmicas sociais também reproduzem esse formato. O raciocínio em forma de rizoma tem múltiplas conexões, sem centralidade e sem hierarquia. Diferentemente da ideia de árvore, que tem um tronco, um centro e um fluxo definido, o rizoma tem a imagem de uma erva daninha, com sua proliferação e espalhamento. Não há um plano definido e sim passagens, atalhos, conexões e desvios. Possibilidades sem fim.

Um rizoma pode ser rompido, quebrado em um lugar qualquer, e também retoma segundo uma ou outra de suas linhas e segundo outras linhas. É impossível exterminar as formigas, porque elas formam um rizoma animal do qual a maior parte pode ser destruída sem que ele deixe de se reconstruir (DELEUZE; GUATTARI, 1995, p. 17).

A partir desses raciocínios, tratamos o projeto A Educação Integral nos Palcos da Cidade como uma ação educativa que pretende atingir a experiência estética e a educação pelo e para o lazer e para as sensibilidades.

Para realizar a presente pesquisa, optou-se por investigar a problemática através da percepção dos monitores/professores de dança que já participaram como coreógrafos das edições do projeto. Compreendendo que através das falas dessas pessoas, teríamos potencialmente respostas aos questionamentos desse estudo. A escolha desses sujeitos foi determinada pela posição que ocuparam nessa cena, pois participaram dos processos formativos e da concepção do espetáculo, criaram e ensaiaram as coreografias e estavam em contato direto e permanente com todos os segmentos envolvidos: estudantes dançarinos e espectadores, direções e coordenações escolares e comunidade escolar. Para delimitar o recorte, foram convidados os monitores coreógrafos participantes da edição de 2018, que culminou no espetáculo Adedanha. A escolha por esse recorte se deu em função de ser essa a última edição do projeto na ocasião do início dessa pesquisa, havendo, assim, maior possibilidade de conseguir contato e acesso aos participantes para a realização das entrevistas, tendo em vista, dentre outras variáveis, a rotatividade dos profissionais que atuam nas escolas integradas. Como o projeto foi realizado desde 2016 nos mesmos moldes, a edição de 2018 acumulava a maior experiência em relação ao seu funcionamento. E, neste ano,o critério para participação dos coreógrafos e suas escolas no processo formativo e no espetáculo foi a participação do Fórum EduDança do ano anterior.

Segundo Alves-Manzzotti e Gewandsznajder (2002), não existe um formato único para produzir conhecimento em pesquisas de natureza social, nem mesmo uma maneira melhor ou pior. O que se vê são metodologias adequadas ao contexto que se deseja investigar. Em acordo com esta definição foram escolhidos e definidos os caminhos e procedimentos metodológicos para esta pesquisa.

A entrevista foi o principal meio de busca de informações. Em se tratando de pesquisas de cunho social, Cruz Neto (2002, p. 57) avalia que “a entrevista é o procedimento mais usual no trabalho de campo. Através dela, o pesquisador busca obter informes contidos na fala dos atores sociais”. O autor elucida que a entrevista é uma conversa com propósitos bem definidos, uma técnica pela qual o pesquisador pode obter dados objetivos e subjetivos.

A escuta dos envolvidos se deu através de entrevista semiestruturada11, conduzida por questões preestabelecidas, mas dando margem a relatos espontâneos, pois não há uma verdade a ser revelada, as impressões individuais irão se somar em uma voz que anunciará a tendência do grupo.

Para realizar a aproximação com os sujeitos e favorecer a concessão das entrevistas, foi elaborada carta de apresentação da pesquisa, remetida pela coordenação do PPGIEL e deferida pela SMED, bem como pelo consentimento do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFMG, concretizado pelo documento número CAAE 17869319.0.0000.5149. Os entrevistados foram convidados a participar voluntariamente e, na ocasião do aceite, foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que explana os detalhes da realização da entrevista e da pesquisa e recolhe assinatura de autorização e aceite12.