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CAPÍTULO III – A realidade prisional: reflexões do empírico

3.1. Adentrando no mundo da prisão feminina

Nesse primeiro momento buscamos apresentar através de dados quantitativos como são compostas as reeducandas na penitenciária feminina a partir de gráfico que abordará faixa etária, grau de escolaridade e etnia.

Gráfico 2 – Faixa etária das reeducandas

Fonte primária: 201722

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A pesquisa ocorreu entre os meses de março e maio de 2017; e os dados são referentes às participantes.

41%

16% 33%

10%

Faixa etária das reeducandas

Entre 18 e 25 anos Entre 26 e 30 anos Entre 31 e 40 anos Entre 41 e 50 anos Entre 51 e 60 anos Acima de 60 anos

Observamos através desse gráfico que o início no cometimento do ato criminoso começa bem cedo na vida das reeducandas. No capítulo 2 deste trabalho, apresentamos que as causas do ingresso nessa situação social é impelida pela falta de oportunidade empregatícia, o aceleramento nas exigências para a ocupação dos cargos de trabalho, a falta de educação entre outros fatores, ocasionando assim, o elevado índice de jovens que compõem os quadros prisionais.

Devemos ressaltar que a falta de percentual para as idades “entre 51 e 60 anos” e “acima de 60 anos” não afirma a inexistência dessa população prisional, pois pudemos constatar durante o período de estágio e pesquisa a presença dessas mulheres mesmo sendo pequena, e não aparecendo em nossa pesquisa.

Gráfico 3 – Grau de escolaridade das reeducandas

Fonte primária: 2017

A partir desse gráfico, podemos fixar o demonstrativo da ineficiência da educação em nosso país e a constatação de que os brasileiros pobres que são a população desse espaço precisam escolher entre trabalhar ou ingressar na ilegalidade porque muitas vezes se torna questão de sobrevivência. E com isso, a

43% 7% 27% 10% 10% 3%

Grau de escolaridade das reeducandas

Não alfabetizado Fundamental incompleto Fundamental completo Médio incompleto Médio completo Superior incompleto Superior completo

educação escolar transforma-se preferencialmente característica da classe média e rica. Como nos relata Freire (2014),

Ao analisarmos esses dados percebemos atributos de classe na população carcerária. É que a baixa escolaridade está presente em maior proporção nos sujeitos das classes subalternizadas, ou seja, das classes mais pobres da sociedade. Isso se dá por uma série de fatores, entre eles a negação de um dos direitos básicos e fundamentais de todo cidadão brasileiro: o direito à educação. Previsto na Constituição Federal de 1988 em seu artigo 6º e descrito mais especificamente na Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Nesta lei, o artigo 4º prevê que é dever do Estado à oferta da educação escolar básica, sendo esta obrigatória entre 4 e 17 anos de idade (p. 55)

Na instituição são desenvolvidas atividades voltadas para a educação escolar, sendo que é uma atividade muito efêmera, pois relataram que as reeducandas não demonstram interesse e sendo sincero, percebemos que a equipe dirigente também não desenvolve empenho em incentivá-las. O foco é para atividades manuais como fuxico23, fabricação de bonecas de pano que supostamente irá auxiliar na reintegração da reeducanda no seio social dando-lhe fonte honesta para angariar renda para sobrevivência. Não queremos subestimar a educação manual, mas de acordo com a lei 7.210/84 no artigo 18º inciso 2º “os sistemas de ensino oferecerão aos presos e às presas cursos supletivos de educação de jovens e adultos” que na realidade não acontece como também não é real o artigo 21º que prevê “em atendimento às condições locais, dotar-se-á cada estabelecimento de uma biblioteca, para uso de todas as categorias de reclusos, provida de livros instrutivos, recreativos e didáticos”, o que na instituição consta é uma pilha de livros didáticos que não são utilizados pelas apenadas e só servem para acumular sujeira e insetos. Na instituição existe uma sala de aula, mas na mesma sala há uma estante com um aglomerado de livros e materiais inutilizáveis como cadeiras quebradas, ventiladores, ar condicionando danificado que não gela. Muitos dos educadores não têm material de expediente (como caneta, cadernos) para efetivar seu trabalho tendo que trazer de casa ou não aplicar suas atividades simplesmente. E ainda nos

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É uma arte manual que utiliza retalho, a união de várias pequenas trouxas de tecido, as quais, entretecidas, constituem flores coloridas.

perguntamos, a educação ofertada dentro das penitenciárias brasileiras realmente transformam vidas? A resposta é não.

Gráfico 4 – Naturalidade das reeducandas

Fonte primária: 2017

Com esses dados podemos aferir que a maioria das residentes desta instituição pertencem ao Estado da Paraíba e que tais contravenções foram realizados no perímetro de João Pessoa à Campina Grande, pois em observação realizada no espaço pudemos averiguar que uma porcentagem das internas que são do interior, pertencem a essas cidades: Itabaiana, Guarabira e Sapé.

Constatamos também que 73% são negras (junção de 43% que se autodeclaram pardas, 30% pretas) e 27% brancas. Desta amostra, 80% são solteiras, 10% tem união estável, 7% são divorciadas e 3% casadas. Percebemos que a maioria ao ingressar na penitenciária são desprezadas pelos (as) companheiros (as) e pela família ocasionando revolta, um alto índice de relacionamento homoafetivo e desequilíbrios emocionais, que agrega nessa última característica as condições físicas do ambiente e da relação com os superiores (os agentes).

Notamos que a tenra idade na inserção no mundo do crime, a falta de escolaridade, a situação civil de solidão, a etnia predominantemente negra (junção

43%

36% 20%

Naturalidade das reeducandas

João Pessoa

Interior

Outros Estados Federativos

de parda e preta) são causas de reflexão e urgente ação eficiente por parte do Estado na busca de dirimir esse cenário de exclusão e desmonte de perspectiva de vida dessa população eminentemente atacada por uma sociedade egoísta, racista, higienista e hipócrita.

3.2. Entendendo esse cenário de exclusão através dos relatos das