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Adentrando o cenário da avaliação da aprendizagem

CAPÍTULO 3 A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM

3.1 Adentrando o cenário da avaliação da aprendizagem

A avaliação é um campo amplo e complexo, com uma gama de denominações de acordo com o foco a que se refere. Os estudos e pesquisas relativas à temática avaliativa são originários do enfoque da aprendizagem, ou de outro modo, no enfoque da avaliação do rendimento escolar do aluno, e posteriormente evoluiu para a avaliação de currículos, avaliação de programas e projetos educacionais até se chegar ao debate mais recente de avaliação institucional (TORRES; BOCHNIAK, 2006, p. 389). Para a discussão deste trabalho nos ateremos no enfoque mais embrionário, o da aprendizagem, que se refere à avaliação da aprendizagem, onde mesmo com uma literatura grandiosa e consolidada a respeito não tem tido um desenvolver significativo no que tange a prática nas instituições de ensino, seja ela presencial ou a distância.

De modo a adentrarmos no campo específico da avaliação da aprendizagem, o qual é o foco desta pesquisa, discutiremos primeiramente o aspecto institucional da mesma como forma de nos situarmos historicamente e entendermos o reflexo que este panorama tem nas práticas avaliativas da atualidade.

Ao nos remetermos ao ato de avaliar, vemos que historicamente ele tem o sentido de controle e encaminhamento dos sistemas educacionais, consolidando-se como um sistema de poder que atende a interesses diversos. Neste sentido nos fala Torres e Bochniak (2006, p. 387)

Temática controvertida a da avaliação, principalmente a da avaliação educacional, porque, ao mesmo tempo em que é aceita e

considerada como parte integrante e fundamental do processo educativo, vem caracterizada até então de maneira generalizada, como um instrumento de poder nas mãos de quem avalia, e que provoca invariavelmente, por parte dos que são avaliados, sentimentos de insegurança, termos e constrangimento... A avaliação no âmbito da educação tem sido basicamente um instrumento de medo e de poder.

De tal modo, apesar de a avaliação ser de suma relevância na prática pedagógica, ela tem sido compreendida como forma de manute nção do status quo, onde se torna um instrumento de coerção e exclusão.

Ao observarmos o cenário educativo, vemos que a temática da avaliação tem tido um grande enfoque, o que nos leva a indagar : que motivações fizeram a avaliação se colocar no centro das discussões sociais de forma tão permanente? Esta inquietação é posta por Vianna (2000, p. 22-23) que nos diz “que a mesma sempre existiu se tomarmos como verdade a assertiva de Stake- de que o homem observa, o homem julga, isto é, avalia”. Porém, ainda segundo Vianna (2000, p. 23) a discussão sobre avaliação se coloca como central nos dias atuais devido ao fato de que

As grandes agências financiadoras nacionais e internacionais são, em parte responsáveis pelo desenvolvimento que a avaliação vem tendo...Os altos financiamentos exigem, necessariamente, um projeto de avaliação que demonstre resultados em termos de custo- benefícios.

A partir desta assertiva podemos perceber que avaliação, com sua forte repercussão e pressão social, está inter-relacionada às políticas públicas que têm como retórica a visão do cenário escolar global e controle sobre este, a partir dos resultados obtidos pela avaliação, como forma de se obter uma educação de qualidade.

A partir dos anos 70 há uma mudança significativa no âmbito educativo e que afeta diretamente a avaliação. Neste período, tem-se um discurso de educação para todos, quando na realidade os esforços socioeconômicos e políticos caminham em direção a metas instrumentais, que acarretarão uma competição, seleção no âmbito da avaliação (ÁLVAREZ MÉNDEZ, 2002, p. 45). Já na década de 80, devido ao interesse por parte dos governos neoconservadores e neoliberais, vemos a introdução da expressão “Estado Avaliador”, o qual significa que o estado passa a

assumir a lógica do mercado trazendo para o domínio público modelos de gestão privada com base nos resultados ou produtos do sistema educativo como forma de diminuir despesas públicas e criar mecanismos de controle e responsabilização sofisticados (AFONSO, 2009, p. 49).

Neste mesmo direcionamento Silva (2010) coloca que a educação é um espaço de luta política e que na atualidade o sistema educativo tem se alinhado aos interesses do capital, o que atinge diretamente a avaliação. Desta maneira, ele disserta sobre o reflexo desta realidade na avaliação no cenário educativo brasileiro

Nesse processo, a avaliação ganhou lugar privilegiado, mas não qualquer avaliação. Através das chamadas políticas de avaliação institucional foram implementadas pela gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) e do Ministro da Educação Paulo Renato (1996 a 2002) ações como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e o Exame Nacional de Curso (ENC). Este último tem desempenhando competentemente o papel de hierarquizar as instituições de ensino superior (IES) para criar condições para a construção do mercado desse nível de educação...serve também para verificar se as IES têm cumprido com as exigências impostas pelo conjunto de política que o governo gera, tornando-se mecanismo de controle identitário das instituições (SILVA, 2010, p. 26-27).

Partindo desta visão da avaliação como forma de o governo controlar a qualidade da educação, através dos exames criados, trazem para a realidade escolar uma cultura competitiva e excludente, nos moldes do mercado, onde os melhores irão ter o seu lócus social garantido, e, por conseguinte, a meritocracia passa a ser posta como uma verdade. Desta maneira, a sociedade busca tirar a responsabilidade inerente a esta de educar e a transfere ao indivíduo, uma vez que se este não tem êxito é excluído do processo, e esta exclusão é reflexo da falta de competência do próprio indivíduo, e não pela engrenagem política capitalista oculta que prega o direito a educação, quando na realidade age contrária a ideologia posta. Indo além deste marco da avaliação por um prisma político-econômico, percebemos que a avaliação não é um processo neutro, ao contrári o, ela reflete o posicionamento filosófico do docente, que em detrimento da forma que concebe o processo de ensino e de aprendizagem irá consolidar uma prática progressista, que vise considerar o processo avaliativo como forma de auxiliar no processo de

construção do conhecimento ou reprodutivista, mantendo a exclusão e segregação através da postura autoritária e práticas seletivas.

Desta forma, percebemos o quão complexa é temática da avaliação, uma vez que envolve uma série de influências de ordem política, econômica, social, filosófica e educacionais, e, portanto, só conscientes destas esferas é que podemos compreender as configurações circunscritas na realidade atual, onde avaliação permanece associada ao termo medida, tanto no ensino presencial como no caminho trilhado por esta na Educação Online, o que se demonstra totalmente discrepante e incoerente.

Assim, passaremos a seguir a discussão de como a avaliação pode se consolidar a luz dos paradigmas que a embasam, que reflete o vislumbrar de educação e sociedade que se quer formar.