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Adequação didática das tarefas

Capítulo 1 – Enquadramento teórico

1.10. Adequação didática das tarefas

Godino (2011) defende que a adequação matemática de tarefas tem que obedecer a seis componentes, e são elas: adequação epistémica, cognitiva, interacional, mediacional, afetiva e ecológica. Passaremos a explicar cada uma destas componentes.

 A adequação epistémica: refere-se ao grau de representação dos significados institucionais implementados ou pretendidos, em relação a um significado de referência. Esta componente envolve os problemas, linguagens, procedimentos, definições, propriedades e argumentos. Como se pode comparar ao esquema da figura 44, em termos de adequação epistémica, o que é exigido numa tarefa matemática é semelhante.

 A adequação cognitiva: expressa o grau em que os significados pretendidos ou implementados estão na zona de desenvolvimento potencial dos alunos, assim como a proximidade dos significados pessoais conseguidos dos significados pretendidos ou implementados.

 A adequação interacional: um processo de ensino aprendizagem terá maior adequação interacional se as trajetórias didáticas permitam identificar conflitos (que se possam detetar à priori) e que permitam resolver estes mesmos conflitos durante o processo de construção de conhecimentos. Está relacionado com o diálogo entre o professor e alunos, bem como entre os alunos.

 A adequação mediacional: consiste no grau de disponibilidade e adequação dos recursos materiais e temporais necessários para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.

 A adequação afetiva: está relacionada com o grau de implicação (interesse, motivação, empenho) dos alunos no processo de construção de conhecimentos. Esta componente está relacionada com a instituição, com o professor, mas também com o historial do aluno (em termos de escola e mesmo a nível pessoal).

 A adequação ecológica: é a componente que está relacionada com o ajustamento entre o currículo, projeto educativo da escola, ou outro documento oficial, com a turma, com os alunos especificamente, com o professor e até com a sociedade que os envolvem.

Para a realização das tarefas, outro dos esquemas que serviu de orientação foi o de componentes e relações numa configuração epistémica que é semelhante a adequação epistémica de Godino, em que temos a situação, neste caso, são os números figurados e a sequência de Fibonacci. As definições são os conceitos que estão ligados à situação, neste caso, poderíamos abordar o que são números figurados, números triangulares, números quadrados, o que é uma sequência, termo, ordem, lei de formação, sequência de Fibonacci, entre outros. Os procedimentos indicam a forma como se irá abordar. Proposições são as afirmações que podemos enunciar, sendo elas verdadeiras ou falsas e justificar, como por exemplo: um número quadrado é a soma de dois triangulares consecutivos, entre outras.

Figura 44– Componentes e relações numa configuração epistémica de Vicenç Font (2007)*.

Quando se está envolvido numa atividade, realiza-se uma certa tarefa, sendo esta, o objetivo da actividade. Não basta seleccionar boas tarefas, pois é preciso ter atenção ao modo de as propor e de conduzir a sua realização na sala de aula. Existem muitos tipos de tarefas matemáticas, são elas: os problemas, os exercícios, as investigações e as tarefas de exploração, segundo Ponte (2005). As definições de cada um destes tipos ainda são algo subjetivas. Iremos explicá-los a seguir.

Em relação ao primeiro tipo referido, alguns problemas são para alguns alunos problemas, enquanto que para outros não passará de um mero exercício. O professor deve propor problemas aos seus alunos para que estes se possam sentir desafiados nas suas capacidades matemáticas e assim experimentar o gosto pela descoberta, perceber a verdadeira natureza da Matemática e desenvolver o seu gosto por esta disciplina. Um problema comporta sempre um certo grau de dificuldade. No entanto, se o problema for demasiado difícil, pode levar o aluno a desistir rapidamente. Se o problema for demasiado acessível, não será um problema mas sim um exercício.

Quanto aos exercícios, a questão fundamental é saber se o aluno dispõe, ou não, de um processo imediato para os resolver. Caso conheça esse processo e seja capaz de o usar, a questão será um exercício. Caso contrário, a questão será antes um problema. Em todas as questões está perfeitamente indicado o que é dado e o que é pedido. Isso é típico dos problemas e dos exercícios. Já o mesmo não acontece com outros tipos de questões matemáticas, como analisaremos à frente. Os exercícios servem para o aluno pôr em prática os conhecimentos já anteriormente adquiridos, ou seja, para a consolidação de conhecimentos. Reduzir o ensino da Matemática à resolução de exercícios origina riscos de empobrecimento nos desafios propostos e de desmotivação dos alunos. Os exercícios são muito importantes nas tarefas, mas mais importante do que fazer muitos exercícios será fazer exercícios que testem a compreensão dos conceitos fundamentais por parte dos alunos.

O mesmo autor afirma que no que concerne às investigações, estas são importantes, porque, mais do que nos problemas, promovem o envolvimento dos alunos, pois requerem a sua participação ativa desde a primeira fase do processo, nomeadamente, a formulação das questões a resolver e o processo de pesquisa de informação para resolver a tarefa.

Por último, o autor acrescenta que quanto às tarefas de exploração, estas são parecidas às de investigação. Contudo, a diferença reside no grau de desafio, pois se o aluno puder começar a trabalhar desde logo, sem muito planeamento, estaremos perante uma tarefa de exploração. Caso contrário, será uma tarefa de investigação.

O autor conclui que existem duas dimensões das tarefas que são o grau de desafio matemático e o grau de estrutura. O grau de desafio matemático relaciona-se com a percepção da dificuldade de uma questão para graduar as questões que se propõem aos alunos. Varia, naturalmente, entre as extremidades de desafio “reduzido” e “elevado”. O

grau de estrutura é uma dimensão que varia entre os pólos “aberto” e “fechado”. Uma tarefa fechada é aquela onde é dito tudo o que é dado e o que é pedido e uma tarefa aberta é a que permite um grau de indeterminação significativo no que é dado, no que é pedido, ou em ambas as coisas. Se juntarmos estas duas dimensões, obtêm-se quatro quadrantes, em que se situam neles os quatro tipos de tarefas atrás apresentadas:

 Uma exploração é uma tarefa aberta e de desafio reduzido (1.º quadrante);  Um exercício é uma tarefa fechada e de desafio reduzido (2.º quadrante);  Um problema é uma tarefa fechada, mas com elevado desafio (3.º quadrante);  Uma investigação tem um grau de desafio elevado e é uma tarefa aberta (4.º

quadrante).

Observemos o seguinte esquema que representa a relação entre diversos tipos de tarefas, em termos do seu grau de desafio e abertura.

Figura 45 – Tipos de tarefas consoante o grau de desafio e de abertura, segundo Ponte (2005).

O trabalho com padrões podem envolver estes tipos de tarefas, pois como já vimos anteriormente, existem problemas que para serem resolvidos necessitam da descoberta da sequência. A relação que as sequências têm com os exercícios pode ser notória quando se pede a descoberta de vários termos e podem ser tarefas de exploração ou investigação, consoante a presença de questões (exploração), bem como a própria investigação em descobrir a regularidade existente.