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Adequação do sistema bancário brasileiro após os acordos da Basiléia

3. OS ACORDOS DA BASILÉIA

3.4. Adequação do sistema bancário brasileiro após os acordos da Basiléia

Uma vez definido pelo Banco Central que o Brasil seguiria o Acordo da Basiléia, sendo, portanto, signatário dos tratados, os bancos que compunham o Sistema Financeiro Nacional precisariam se adequar às normas estabelecidas pelos padrões internacionais de administração bancária. Com o difícil papel de introduzir os ensinamentos internacionais para a realidade brasileira, o Banco Central do Brasil (BACEN) e o Conselho Monetário Nacional (CMN) foram responsáveis por normalizar a proposta e definir as regras do mercado interno de crédito.

A Resolução CMN (Conselho Monetário Nacional) nº 2.099, de 17 de agosto de 1994, instituiu o conceito de Patrimônio Líquido Ajustado – que posteriormente viria a se transformar em Patrimônio Líquido Exigido (PLE) – e o impôs aos bancos, em consonância com as diretrizes do Acordo da Basiléia I. A resolução definiu também o índice de capital mínimo requerido, que à época foi definido em 8,0%. Isso caracterizou o início da inserção do sistema financeiro brasileiro nos padrões internacionais de administração dos riscos bancários, atribuindo maior segurança às instituições financeiras nacionais no mercado de finanças globalizado e reduzindo o risco de crises internamente6.

Posteriormente, ocorreram duas atualizações importantes. A Circular BCB 2.784/97 alterou o índice de capital mínimo requerido para 11%7. Por sua vez, a Resolução 2682/99 redefiniu o papel do CMN no sistema financeiro brasileiro. De acordo com o documento, o

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O quadro A2, em anexo, apresenta os principais normativos que marcaram a implementação dos Acordos da Basiléia (I e II) no Brasil. O quadro A3, em anexo, mostra a relação de contas e ponderações de ativos. 7

Assim como em outros países em desenvolvimento, o BCB resolveu adotar medidas mais conservadoras do que as estabelecidas originalmente pelo acordo da Basiléia. Karacadag e Taylor (2000) apresentam uma revisão sobre o assunto.

42 propósito maior do CMN é estabelecer critérios e regras para a constituição da provisão para créditos de liquidação duvidosa, com a finalidade de aprimorar o controle sobre os resultados das instituições pertencentes ao Sistema Financeiro Nacional.

Curiosamente, a introdução do acordo no Brasil foi relativamente mais rigorosa que os padrões internacionais. Segundo Medeiros e Pandini (2007), as exigências de capital mínimo definidas pelo BACEN superavam as definidas no Basiléia I, contribuindo para a construção de um sistema financeiro menos exposto aos riscos, o que teve impacto sobre a capacidade de alavancagem dos bancos nacionais.

Assim, as instituições financeiras brasileiras foram obrigadas a adotar modelos mais consistentes em sua classificação de risco de crédito. Tratava-se de mais uma renovação dos critérios de administração dos riscos inerentes aos sistemas financeiros, com seus efeitos positivos confirmados ao longo do tempo. Um exemplo seria o resultado do trabalho de Zamperlini e Rosa (2009) que visava avaliar a gestão de risco na atividade bancária brasileira após a implementação da Resolução 2.682/99, o qual sugere que seus efeitos impactaram positivamente na classificação do risco de crédito nas instituições financeiras atuantes no Brasil, em sua totalidade. Observou-se que houve aumento no cálculo da provisão para crédito de liquidação duvidosa, porém, reduzindo-se as despesas com provisão para devedores duvidosos.

No entanto, apesar do importante papel desempenhado por essa primeira resolução, novos acordos precisaram ser feitos ao longo do tempo, visando acompanhar o ritmo de inovações do mercado financeiro. Nesse sentido, o próprio acordo da Basiléia, em sua primeira versão, foi revisto e originou um Novo Acordo da Basiléia. No Brasil, as novas regras foram primeiramente instituídas via a Resolução CMN 2.837/01 que, segundo Silva (2005), teve importância pela introdução do conceito de Patrimônio de Referência (PR), que ampliou o conceito de capital e permitiu uma reavaliação da situação do sistema financeiro nacional sob esse novo prisma.

Contudo, é apenas em 2004 que se inicia a definição do arcabouço institucional vigente baseado no Basiléia II. Nesse ano, o BACEN divulgou essa reestruturação do setor por meio do Comunicado 12.746/04, uma espécie de plano de implementação dos novos parâmetros de avaliação da estrutura de capital, essa nova estrutura é apresentada no quadro 4 a seguir. Em conformidade com Basiléia II, as regras propostas no edital consideram os

43 efeitos de fatores mitigadores de riscos como avais, fianças, outros instrumentos de garantia pessoal, coobrigação em cessão de crédito, cessão fiduciária de títulos e valores mobiliários, derivativos de créditos, assim como depósitos em espécies, ouro e títulos públicos federais, entre outros. Quando do uso de tais instrumentos, o fator de ponderação de risco passa a ser determinado por estes. Por exemplo, quando uma operação de empréstimos é garantida pelo Tesouro Nacional, Banco Central, Fundos Constitucionais ou Instituições multilaterais, o fator de ponderação de risco de crédito deixa de ser 100% e passa a 0%.

Quadro 4 – Basiléia II e abordagem padrão simplificada: ponderações de risco de crédito Ponderação de Risco 0%

 Disponibilidade em moeda nacional ou estrangeira  Aplicações em ouro

 Operações com o BCB e Tesouro Nacional

 Operações com entidades multilaterais de desenvolvimento  Atendimentos do FGC

Ponderação de Risco 20%

 Depósitos bancários à vista  Dívidas do FCVS

 Direitos de operações de cooperativas de crédito Ponderação de Risco 35%

 Financiamentos imobiliários para imóvel residencial com alienação fiduciária  Certificados de recebíveis imobiliários

Ponderação de Risco 50%

 Operações com outras instituições financeiras

 Operações com governos e bancos centrais estrangeiros  Outras operações de financiamento imobiliário

Ponderação de Risco 75%  Operações de varejo Ponderação de Risco 100%

 Operações de creditos

 Quotas de fundo de investimentos  Outras operações ativas

Ponderação de Risco 300%  Créditos tributários

Fonte: Edital de Audiência Pública n. 26 (jul. 2006).

Em 2007, a Resolução CMN 3.490/07 definiu que as instituições financeiras deverão manter capital, o Patrimônio de Referência (PR), acima de um valor mínimo, o Patrimônio de Referência Exigido (PRE), que substitui o PLE. O PRE é composto por parcelas referentes aos riscos de crédito, mercado e operacional, sendo o risco de mercado

44 representado pela soma das parcelas referentes a risco cambial, de taxa de juros, de

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