• Nenhum resultado encontrado

5.3 O desenvolvimento do PAA no polo de Itapari/Panaquatira em São José

5.3.1 Adesão e dados do PAA

O povoado de Itapari pertence ao distrito de Panaquatira, bairro de São José de Ribamar, situado a aproximadamente 15 quilômetros do núcleo urbano do município.

A história desta comunidade se confunde com a do próprio município e está presente em um dos eventos cruciais da ocupação colonial no Maranhão. Diz- se que a região abrigou o Forte de São José de Itapary a partir de 1613, construído na Ponta do Itapari, com a finalidade de fornecer poder de fogo francês ante o avanço de tropas portuguesas pela Baía de São José. Com o domínio português, os franceses teriam forçado a ceder o controle do forte antes de sua expulsão. O destacamento militar teria então contribuído para o povoamento da região do Panaquatira (IHGB, 2016).

No entanto, há evidências arqueológicas que indicam que a presença do homem na região seja ainda mais antiga, datando de um período de 3.840 a 1.420 anos atrás, como destaca a observação de indícios de sambaquis (BANDEIRA, 2013).

De toda forma, considerando o processo mais recente de povoamento de São José de Ribamar, o polo Itapari/Panaquatira faz parte da zona rural de São José de Ribamar. Como boa parte da infraestrutura de povoados, bairros e comunidades da zona rural ribamarense, Itapari/Panaquatira enfrenta problemas tanto na rede viária como em serviços básicos em saúde e educação. Apesar de consistir numa vila de pescadores artesanais e agricultores familiares, frequentada como balneário e com elevado potencial turístico, a região depende de uma única via e o acesso dos povoados a esta é geralmente complicado durante o período chuvoso e por conta das condições de acesso prejudicadas pelo persistente descaso do Poder Público.

É possível que o isolamento parcial da comunidade tenha fortalecido a coletividade entre os moradores e as relações produtivas e, consequentemente, a participação da comunidade ao Programa de Aquisição de Alimentos.

Com problemas para escoar de forma independente e cada vez mais sujeita à ação de intermediários, a incorporação do modelo conduzido pela administração pública ofereceu uma alternativa para antigos problemas no transporte e na destinação de alimentos para o mercado convencional, sendo a possibilidade de obtenção de uma melhor margem de lucro e garantia de escoamento de boa parte da produção – em comparação à negociação com intermediários – destacada por integrantes e gestores do PAA São José de Ribamar como um dos elementos fundamentais para a adesão dos agricultores familiares do polo Itapari/Panaquatira. “O governo é algo garantido. A feira a gente vai para aventurar. A gente pode ganhar, mas pode perder também. Já no programa o pagamento é certo. Não que o governo pague melhor, mas é algo garantido” (M1).

O problema do lavrador é o seguinte: se você tem uma atividade, produz e não consegue vender, acaba com você porque fica no prejuízo e desestimula você e você diz: eu não vou mais trabalhar com isso. Antes era na mão do atravessador. Nem milho a gente plantava e pra vender pingando, não tinha condição. Aí a Compra Local chegou, melhorou (H2).

De acordo com dados da Secretaria de Agricultura do município, a comunidade foi uma das pioneiras entre os 20 núcleos de desenvolvimento do programa, juntamente com o polo Bom Jardim, pois foi visto entre os participantes que a atuação do modelo transmitia maior segurança na destinação da produção, na redução de encargos logísticos e na garantia de uma remuneração básica para os agricultores.

Além dos problemas de acessibilidade aos povoados, o processo de ocupação territorial do município se demonstra desfavorável aos produtores com que transportem os alimentos de forma simplificada, sendo mais conveniente num momento anterior à criação do PAA São José de Ribamar com que a produção fosse comercializada com atravessadores de outros municípios – principalmente entre revendedores da feira do João Paulo, na capital – do que viesse a ser assumido pelos agricultores, já que os principais povoados e comunidades que compõem o cinturão verde ribamarense são distantes entre si e com relação à sede municipal.

O secretário relatou que mesmo nos primeiros anos de funcionamento do PAA local, a dificuldade no escoamento da produção para os centros de beneficiamento da gestão do programa pecava nos detalhes da organização, principalmente pela falta de critérios e responsabilidade entre as etapas de recepção e uso dos alimentos, que eram repassadas para quem deveria se dedicar a outra atividade. Por exemplo, antes eram as próprias escolas que usavam a produção na merenda que incumbiam de centros de beneficiamento da produção, e por vezes as próprias diretoras das unidades beneficiadas que deveriam se deslocar até os produtores para receber sua demanda. Além da sobrecarga de funções, o risco de extravio da produção era considerável, bem como o da ocorrência de problemas de ordem sanitária que pudessem comprometer a qualidade dos alimentos.

Com o andamento do programa e da constatação dessas falhas operacionais, a gestão do PAA São José de Ribamar adquiriu caminhonetes para facilitar o transporte de alimentos, bem como de funcionários encarregados do controle sanitário, estoque adequado, distribuição e anotação correta das entradas para conferência de remuneração correta aos produtores, especialmente porque o repasse passou a ser feito através de instituições bancárias credenciadas, conferindo maior credibilidade e efetividade no processo, já que o pagamento passou a ser realizado de forma direta na conta corrente dos fornecedores. Foi neste período de reorientação do PAA que, segundo o secretário, a iniciativa passou a ter um aumento considerável em termos de adesão, uma vez que os agricultores passaram a contar com outra via de rendimento, além das que já tinham estabelecido vendendo a produção para outras praças ou em negociação com intermediários.

Esse êxito, no entanto, não se alçou de forma homogênea entre todas as comunidades participantes, muito por conta de problemas no repasse do programa decorrente de mudanças na administração pública municipal e também por conta de fatores locais. Esta imprecisão trouxe problemas consideráveis aos agricultores familiares e que revelam similaridades com experiências malfadadas em outros municípios brasileiros atendidos pelo PAA, como o endividamento, a falta de assistência, desmotivação e a inevitável desistência dos fornecedores (SARAIVA et al., 2013).

A questão da cooperação entre fornecedores também foi citada pelos gestores entrevistados mais com o intuito de justificar, pela análise do discurso, do

programa ter apresentado resultados melhores em determinadas comunidades que em outras. Além de ter sido um dos primeiros a aderirem ao PAA em São José de Ribamar, a experiência no polo Itapari/Panaquatira pode ser considerada positiva, muito por conta do associativismo; pelo fato de que esta comunidade possui uma estrutura política mais unida e organizada que a de outros polos onde a implantação do programa não se demonstrou sólida; o que pode ser algo não somente atribuído a fatores locais, mas da própria responsabilidade da gestão em observar as razões para o desnivelamento de resultados.

O que sugere o êxito da PAA São José de Ribamar para o polo Itapari/Panaquatira exigiu a remissão à análise de aspectos concretos sobre o desenvolvimento socioeconômico de seus produtores e da rede de beneficiários locais. No entanto, a apreensão destas informações necessitou de um procedimento voltado para a observação in loco e pautado nos testemunhos locais sobre os impactos do programa na vida dos participantes.