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Adesão no tratamento da síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS)

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) ou, com é mais comumente conhecida, AIDS (acquired immune deficiency syndrome) caracteriza-se como uma doença crônica causada pela infecção do vírus HIV (human immunodeficiency virus). O HIV ataca células do sistema imunológico, mais especificamente os linfócitos T CD4+ gerando diminuição na capacidade de defesa contra infecções oportunistas (BRASIL, 2012). Estas doenças, como hepatites virais, tuberculose, pneumonia, toxoplasmose e alguns tipos de câncer, são desencadeadas em estágios avançados da infecção pelo HIV e associam-se a falta de adesão medicamentosa (BRASIL 2012; KOURROUSKI; LIMA, 2008). De acordo com o último Boletim Epidemiológico do ministério da saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2012), o Brasil apresentou 656.701 casos de AIDS entre 1980 a 2012; a taxa de incidência é de 20,2 casos por 100 mil habitantes, sendo mais frequente entre 25 a 49 anos.

Todos os estudos pesquisados abordavam indivíduos acompanhados ambulatorialmente. A maioria dos trabalhos optou por pesquisar indivíduos com idade acima de 18 anos (da Silva et al, 2008, Blatt et al, 2009,Dos santos, 2011), destacando- se Padoin, et al (2011) que estudou indivíduos de 50 a 59 anos. Por outro lado, Kourrouski, Lima (2009) estudou adolescentes entre 13 a 18 anos; Feitosa et al (2008), crianças com idade entre de 5 a 9 anos e Trombini; Schermann (2010) estudou indivíduos de 18 meses a 13 anos. A maioria dos trabalhos utilizavam menos de 72 indivíduos na amostra (PADOIN ,et al 2011; DOS SANTOS et al 2012; TROMBINI; SCHERMANN, 2008; KOURROUSKI; LIMA, 2008; NEMES et al 2009 BLATT, et al 2009; DA SILVA, et al 2009; FEITOSA et al 2008; SANTOS, 2006) com uma média de 95,64 ± 137,5 indivíduos. Outros trabalhos utilizaram uma maior quantidade de

indivíduos, 323 indivíduos (GOMES et al, 2009;) e Silva et al 2009 com 412 participantes.

Não foi observado testes de adesão comumente utilizados na literatura, como Morisk-Green. Prevaleceu a avaliação através de questionários próprios da quantidade de doses restantes (TROMBINI; SCHERMANN, 2008; SANTOS, 2006; PADOIN, et al 2011; NEMES et al 2009; KOURROUSKI; LIMA, 2008; FEITOSA et al 2008; DOS SANTOS et al 2012; DA SILVA, et al 2009; BLATT, et al 2009) e/ou cumprimento das datas para nova dispensação (GOMES et al, 2009;).

Da Silva et al (2009) observaram que a conscientização sobre a gravidade da doença e a importância do tratamento anti-retrovial (TARV) e de suas características constituem um fator importante para a adesão. Contudo, Gomes et al (2009) deixa a questão um pouco controversa ao notar que o conhecimento sobre o significado da contagem de linfócitos TCD4+ diminuía a adesão; já que Indivíduos orientados e com valores acima de 200 células/mm3 tiveram uma maior chance de abandono do tratamento. Porém o mesmo autor concorda que a não percepção da gravidade da doença na ausência de sintomas, acarreta diminuição do uso da medicação. Padoin et al (2011) chega a conclusão semelhante a de Gomes et al (2009), a variável conhecimento do motivo do tratamento apresentou-se como fator associado à não adesão no que se refere ao cotidiano medicamentoso e ao cuidado de si. Logo, o conhecimento sobre a doença e sobre a necessidade dos medicamentos, não representa necessariamente adesão ao tratamento (PADOIN et al 2011). Assim a lembrança do HIV, o fato de tomar uma medicação para algo que não tem cura e a não aceitação da doença constituem fatores negativos que influenciam, diretamente, na adesão medicamentosa (KOURROUSKI; LIMA, 2009).

Dos Santos et al (2010) observa que a maioria dos entrevistados relatou a complexidade do tratamento como um aspecto dificultador da adesão a TARV. Os sujeitos em uso constante de antirretrovirais relacionam a medicação a uma espécie de prisão, relatando que suas vidas estão totalmente relacionadas as dosagens e horários impostos pelo tratamento (DOS SANTOS et al 2010). Feitosa et al (2008) destaca o efeito negativo do número de medicamentos empregados, a grande ingesta de comprimidos/dia, os horários de utilização e o sabor desagradável dos medicamentos

sobre à adesão à terapêutica. Há, contudo, autores que afirmam que a dificuldade na adesão a TARV pela complexidade posológica não é algo absoluto. É correto afirmar que a quantidade de medicamentos e a complexidade do tratamento desfavorece a adesão; mas não seria um fator determinante em vista da quantidade significativa de indivíduos com posologia complexa e boa aderência (DA SILVA et al 2009). Ainda em relação as características da TARV, Dos Santos et al (2010) constatou correlação entre a ocorrência de efeitos colaterais e baixa adesão aos medicamentos. Feitosa et al (2008) ainda acrescenta que além do incômodo causado pelos efeitos colaterais, a saída do ambiente doméstico acarreta esquecimento do uso.

No que diz respeito aos serviços de assistência a pessoas com AIDS, Gomes et al (2009) relacionou intervalos entre consultas superiores a 6 meses com uma chance quase oito vezes maior de abandonar a terapia. Outro fato interessante notado por Gomes, et al (2009) foi o fato de muitos pacientes que não fizeram uso de outros medicamentos diferente dos TARV abandonaram a terapia. Os pacientes acompanhados por outros profissionais não diretamente relacionados ao TARV, como outros especialistas médicos, enfermeiros e farmacêuticos, ficariam mais motivados em seguir adequadamente o tratamento prescrito. Nemes et al (2009) aponta para a associação entre adesão e características de qualidade dos serviços, o acompanhamento de grupos menores de 100 pacientes mostraram risco estimado bruto de não-adesão significativamente maior que os serviços com mais de 500 pacientes. Isto talvez se deva ao porte do serviço em relação a quantidade de profissionais e estruturas necessárias para acompanhar uma maior demanda.

Com relação aos cuidadores, nos casos de crianças e adolescentes, Trombini; Schermann, (2010) observaram que quanto pior for a comunicação entre a criança e seu cuidador, maior será o estresse, menor a qualidade de vida e a adesão ao tratamento. Estes autores ainda afirmam que a baixa adesão em jovens associa-se fortemente a pouca escolaridade, baixa renda, idade avançada do cuidador (em geral avó) e desintegração do meio familiar (mãe solteira ou viúva, muitos filhos na família e alto grau de pobreza). Feitosa et al (2008), destacou o sabor desagradável dos medicamentos, não adequados para crianças e voltados exclusivamente para TARV em adultos.

Da Silva et al (2009) observou que muitos pacientes não aceitam a condição de serem portadores de uma doença estigmatizante, interferindo na aderência a seu tratamento. O medo do preconceito e da discriminação ultrapassaria a fronteira da família, tornando-se presente no ambiente de trabalho, associado ao sentimento de viva inquietação ante a noção do perigo real ou imaginário da ameaça, do temor de perder o emprego. Padoin et al (2011) demostra que o fato de trabalhar fora de casa também se mostrou um fator de não adesão, uma vez que os pacientes deixavam de tomar a medicação no período de trabalho, o que remete ao medo do preconceito dos colegas de trabalho.

A variável uso de álcool apresenta associação estatística significativa com o abandono da terapia medicamentosa. (GOMES et al 2009). Padoin et al (2011) relataram que alguns indivíduos deixam de fazer uso dos TARV devido a ingestão de bebida alcoólica. Isso estaria relacionado, de acordo com Dos Santos et al (2010), ao medo de uma possível “intoxicação” relacionada a interação entre TARV e álcool , além de deixarem de tomar medicamentos para cumprirem suas funções sociais como ir a festas e bares, locais onde lhe são oferecidos bebidas.

Outros fatores menos citados, também relacionavam-se a baixa adesão em portadores de HIV. Dos Santos et al (2010) observou que o baixo poder aquisitivo diminui a adesão, isto deve-se a falta de transporte gratuito pra realização do tratamento e ao acesso limitado a uma alimentação adequada. Dos Santos et al (2010) também relata a dificuldade de conservação da TARV, principalmente quando estes necessitam de refrigeração, foi outro aspecto definido a não adesão a medicação. Santos (2006) acredita que os pacientes tolerem a dor em função da motivação e do otimismo causados pelos resultados apresentados com o uso da medicação, como o aumento de CD4 e a diminuição da carga viral.

Em relação aos fatores associados a melhoria na adesão medicamentosa do

TARV pode se destacar alguns fatores. Trombini; Schermann, (2010) perceberam a alta

adesão no Brasil pode estar relacionada ao acesso universal gratuito a TARV. Dos Santos et al (2010) acrescentou ainda o fato dos indivíduos se sentirem bem fazendo uso da medicação e a ausência de efeitos colaterais. Com relação a ausência de efeitos colaterais, Da Silva et al (2009) aponta-o como o principal fator facilitador a

adesão, seguidos da quantidade de medicamentos ingeridos e posologias menos complexas.

Da Silva et al (2009) revelou outro aspecto favorável a adesão a TARV que seria a presença de uma memória dos sintomas da doença. Os portadores costumam referir que não querem passar pelo que já passaram anteriormente, e por isto tentam seguir corretamente o tratamento. Dos Santos et al (2010) chega a mesma conclusão, as lembrança dos sintomas da doença faz com que indivíduos façam uso correto da medicação por medo de conviver novamente com as doenças oportunistas e hospitalizações.

Para Blatt et al (2009) as variáveis que se mostraram associadas a adesão foram a escolaridade (mais de oito anos de estudo) e o fato de viver com a família. O ultimo ponto teve muita importância para autores como Dos Santos et al (2010), afirmaram que o apoio ofertado as pessoas que vivem com HIV/AIDS pela sua rede social (amigos, familiares e profissionais da saúde) podem influenciar a adesão a TARV. Da Silva et al (2009), observou, de forma similar, que os indivíduos que apresentavam melhor aderência ao tratamento eram aqueles que possuíam uma rede social, ou seja, que referiam procurar colegas de igreja ou o marido para ajudar na resolução dos problemas, enquanto os não-aderentes não pertenciam a nenhum grupo social. No entanto, o próprio autor afirma que há ressalvas, o fato de serem apoiados em excesso pode tanto estimular quanto desestimular a adesão (DA SILVA et al 2009 ). Kourrouski; Lima (2009) colocou como facilitador da adesão as crenças no benefício da TARV para a saúde e sobrevivência, ter consciência de que a não ingestão de medicações pode agravar a enfermidade, a vontade de viver e de ter um futuro. Como estratégias para promoção da adesão, merece destaque o observado por Da Silva et al (2009), onde a atuação dos profissionais no início do tratamento seria extremamente importante. A boa adesão nesse período pode significar adesão em longo prazo, uma vez que pacientes quando em estágios mais avançados da doença, tornam-se mais resistentes e temerosos, o que pode dificultar a realização do autocuidado.

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