• Nenhum resultado encontrado

A ADI 4638-DF

No documento LUCIANA SACHETTO NASCIMENTO (páginas 42-46)

CAPÍTULO III – A ADI 4638-DF E O ATIVISMO JUDICIAL

3.2 A ADI 4638-DF

A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), no mês de agosto de 2011, impetrou no STF a ADI 4638-DF com a finalidade de arguir a constitucionalidade da Resolução 135 do CNJ, que dispõe sobre a uniformização de normas relativas ao procedimento administrativo disciplinar aplicável aos magistrados.29

Na referida ação, a AMB questionava detalhadamente cada item da norma que, na visão deles, se tornou inconstitucional pois o assunto tratado não diz respeito às competências constitucionais do Conselho.

Relata também a AMB que nessa questão, o Conselho Nacional de Justiça obriga os tribunais a seguir a resolução, em detrimento das normas editadas pelos tribunais. “Está claro que a competência do CNJ é para conhecer de reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, desde que isso ocorra sem prejuízo da competência disciplinar e correicional dos tribunais30”, alegava a Associação dos Magistrados do Brasil ao ressaltar que não é competência do Conselho Nacional de Justiça criar regras a serem obedecidas pelos juízes e demais órgãos do Poder Judiciário.

Desta forma, a AMB solicitou ao STF que declarasse a inconstitucionalidade da Resolução nº 135 do Conselho.

Assim, o ministro Marco Aurélio, no mês de dezembro de 2011, então relator da ADI 4638, deferiu, em parte, o pedido de liminar suspendendo alguns dispositivos da Resolução n°135.

Ao proferir a decisão, o Min. Marco Aurélio ressaltou que “o tratamento nacional reservado ao Poder Judiciário pela Constituição não autoriza o CNJ a suprimir a independência dos tribunais, transformando-os em meros órgãos autômatos, desprovidos de autocontrole”.

De acordo com ele, a ADI não fala da intervenção do Conselho Naional de Justiça em processo disciplinar específico, mas sim da possibilidade de 29 Sítio do STF <http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo345.htm> Acesso em 08.03.2013 30 ADI 4638-DF

regulamentar normas que dizem respeito aos processos disciplinares em geral, o que não respeita a independência dos tribunais e infringe a reserva de lei complementar. “Não incumbe ao CNJ criar deveres, direitos e sanções administrativas mediante resolução, ou substituir-se ao Congresso e alterar as regras previstas na Lei Orgânica da Magistratura”.

Porém, o relator não acatou a solicitação de suspensão do quarto artigo, que, segundo a Associação dos Magistrados Brasileiros, suprimiu a obrigatoriedade de sigilo na imposição das penas de advertência e censura, como dispõe a Lei Orgânica da Magistratura Nacional (LOMAN), e do artigo 20, que diz que o julgamento dos processos administrativos disciplinares deverão acontecer em sessão pública, a não ser em caso de defesa do interesse público. “O respeito ao Poder Judiciário não pode ser obtido por meio de blindagem destinada a proteger do escrutínio público os juízes e o órgão sancionador. (...) Tal medida é incompatível com a liberdade de informação e com a ideia de democracia”.

Para o Min. Marco Aurélio, a manutenção do sigilo com a finalidade de proteger a honra dos magistrados “contribui para um ambiente de suspeição, e não para a credibilidade da magistratura”.

Quanto ao terceiro artigo, inciso V, há de se observar que ele impõe como pena disciplinar – a serem aplicadas aos juízes da Justiça Federal, da Justiça do Trabalho, da Justiça Eleitoral, da Justiça Militar, da Justiça dos estados e do Distrito Federal e Territórios – a aposentadoria compulsória. O Supremo Tribunal Federal, por unanimidade dos votos, resolveu manter a eficácia desse dispositivo.

Já o parágrafo 1º do mesmodispositivo prevê a aplicação, a magistrados, de penas previstas na Lei n°4.898/65 (Lei de Abuso de Autoridade), desde que não tenham incompatibilidade com a LOMAN.

O relator Marco Aurélio deferiu o pedido da Associação e suspendeu esse parágrafo em casos de sanção administrativa civil, argumentando que as penas aplicáveis a juízes estão contidas na LOMAN taxativamente. “A inobservância de qualquer dos deveres administrativos gera penalidades estabelecidas na própria LOMAN”, alegou. Assim, os ministros, em sua maioria, concordaram com o posicionamento do relator.

Com relação ao quarto artigo contestado nesta Ação de Direta de Inconstitucionalidade, que foi discutido em sessão do dia 2/2/12, a redação e validade foram mantidas, ratificando o relatório do Min. Marco Aurélio que não deferiu o pedido cautelar. Tal dispositivo afirma que o juiz que se comportar de maneira negligente poderá se sujeitar à pena de advertência, censura ou outra pena mais grave, de acordo com cada infração.

Quanto aos arts. 8º e 9º, parágrafos 2º e 3º, respectivamente, os ministros preservaram validade dos artigos, alegando que cabe ao órgão competente de cada tribunal a apuração de eventuais irregularidades cometidas por magistrados. Para os ministros, porém, não cabe ao Conselho Nacional de Justiça definir de quem é a competência para proceder essa apuração no âmbito dos tribunais. A decisão foi unânime.

O Plenário decidiu manter a vigência do art. 10 da Resolução, por maioria dos votos. A redação desse dispositivo alega que "das decisões referidas nos artigos anteriores caberá recurso no prazo de 15 dias ao Tribunal, por parte do autor da representação"31. Os magistrados entenderam, portanto, alterar a última parte do artigo, dando interpretação conforme a Constituição ao artigo, sendo assim, o objetivo foi deixar claro que todas as partes interessadas no processo podem recorrer, não apenas o autor ou juiz investigado.

Após a continuação do julgamento, na abertura do ano judiciário de 2012, houve a conclusão do julgamento que decidiu pela competência concorrente do CNJ para investigar juízes.

Ao analisar um dos artigos mais controversos, qual seja, o art. 12 da Resolução n° 135, os ministros julgaram, por maioria de votos (6 votos a 5), que o Conselho Nacional de Justiça pode sim instaurar processo administrativo disciplinar aos magistrados independentemente da atuação da corregedoria do tribunal estadual que ocupa, não tendo a necessidade de justificar seu motivos.

Os membros do STF, por maioria dos votos, negaram referendo à liminar do art.14, §§3º, 7º, 8º e 9º, do art. 17, caput e art. 20, §3º e ratificaram a atribuição do

31

Sítio do STF <http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo345.htm> Acesso em 08.03.2013

CNJ para regular a instauração de processo disciplinar contra magistrados. Os tribunais estaduais terão prazo de 140 dias para concluir o PAD, prazo esse que terá a possibilidade de ser dilatado em casos de motivo justificado. O presidente e o corregedor do tribunal terão direito a voto e o processo não terá revisor. O juiz que não apresentar defesa dentro do prazo terá a possibilidade de ser declarado revel e sua defesa será feita por um defensor dativo.

O art. 20, também teve sua redação e validade mantidas, tal dispositivo alega que o julgamento de processo administrativo disciplinar contra magistrados será realizado em sessão pública. Os membros do STF ratificaram a decisão do relator que, também nesse ponto, indeferiu o pedido de medida cautelar.

Ao analisar o último artigo, o art.21, parágrafo único, foi decidido igualmente, por maioria de votos, que em casos de desacordo do tribunal a respeito da penalidade a ser aplicada ao juiz, todas as sugestões de pena deverão ser apreciadas de forma separada com a finalidade de ser aplicada apenas a que conseguir quórum de maioria absoluta no julgamento. Nesta questão, o STF deu interpretação conforme ao dispositivo da Resolução 135 do Conselho Nacional de Justiça para não haver divergência com os incisos VIII e X do art. 93 da Carta Magna.

No documento LUCIANA SACHETTO NASCIMENTO (páginas 42-46)

Documentos relacionados