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2. Comportamentos adictivos e de jogo

2.4. Adicção aos smartphones / Gadgets

À medida que a popularidade das comunicações orientadas para as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) aumenta, o uso dos telemóveis foi orientado para a cultura dominante. Isto é distintamente verdadeiro quando nos referimos a jovens adultos, que consideram cada vez mais os telemóveis como parte do seu ser e identidade (Hooper & Zhou, 2007; Madrid, 2003, citado por Shambare, Rugimbana, & Zhowa, 2012). Estudos anteriores demonstram que jovens adultos e estudantes utilizam os smartphones para vários fins, incluindo o Facebook, gastando pelo menos três horas por dia, todos os dias, a navegar nas suas contas de Facebook através do seu smartphone (Shambare, Rugimbana, & Zhowa, 2012).

Dada a globalização da utilização deste tipo de dispositivos, muitos pesquisadores postulam que o seu uso é adictivo, compulsivo, criador de dependência e de formação de hábitos (Aoki & Downes, 2003; Hooper & Zhou, 2007; Madrid, 2003, citado por Shambare, Rugimbana, & Zhowa, 2012). Madrid (2003, citado por Shambare, Rugimbana, & Zhowa, 2012) afirma que o uso de telemóveis é uma perturbação compulsiva e adictiva que parece tornar-se uma das maiores adicções comportamentais do século XXI.

Embora os telemóveis tenham sido inicialmente utilizados como dispositivos de comunicação, hoje são um ícone do século XXI, uma vez que desempenham múltiplos papéis (Garcia-Montes et al., 2006; Levitin, 2015). Desta forma, pode-se dizer que o

infinidade de recursos num só dispositivo, tais como agenda, organizador pessoal e calendário, banco, se usado em serviços de mobile home banking (Jayamaha, 2008), câmara fotográfica, calculadora, dicionário, navegador de internet, email, GPS, redes sociais, entre muitas outras utilidades (Bicen & Cavus, 2011; Levitin, 2015). Devido a isto, Levitin (2015), refere que os smartphones são extensões cerebrais dos indivíduos, uma vez que podemos, com este tipo de dispositivos, estimular zonas cerebrais e, por isso, percebe-se que a sua utilização apresenta todas as características para se tornarem adictivas. Aoki e Downes (2003) alegam ainda que o telemóvel deixou de ser um dispositivo ligado a um espaço, passando a ser ligado exclusivamente a um indivíduo, tornando-se um artigo pessoal e íntimo (Mvula e Shambare, 2011).

Os smartphones geralmente possuem telas sensíveis ao toque (touchscreens), acesso à Internet via Wi-Fi ou através da utilização das redes móveis, capacidade para instalação de aplicações (apps) e outras funções, tais como, leitores de música, câmaras digitais e navegação baseada em GPS (Levitin, 2015).

Existem estudos que demonstram que em muitos países ocidentais, como por exemplo na Suíça, quase todos os adolescentes (98%), situados entre os 12 e os 19 anos, possuem um telemóvel, sendo que a maioria dos quais são smartphones (97%) (Medienpädagogischer Forschungsverbund Südwest, 2014).

Já em Portugal, o Instituto Nacional de Estatística (INE) refere que 74% das famílias têm acesso à internet em casa, sendo que os smartphones são um dos equipamentos mais utilizados para aceder a ela (78%). Além disso, O INE acrescenta que, em 2016, 72% dos utilizadores da internet referem ter acedido à rede em mobilidade, ou seja, através de equipamentos portáteis fora de casa e do local de trabalho.

Embora as apps possam oferecer várias formas auspiciosas principalmente no setor da saúde, trazendo benefícios no aumento da atividade física (Althoff, White, & Horvitz, 2016; Baranowski, 2016) que, por sua vez, ajude a prevenir e tratar doenças crónicas, tais como a diabetes (Arsand, Muzny, Bradway, Muzik & Hartvigsen, 2015; Bain, Jones, O'Brian & Lipman, 2015) ou alcoolismo (Gustafson et al., 2014), também existem efeitos adversos visíveis sobre a saúde física e mental do indivíduo, causados pelo seu uso excessivo. Exemplos de efeitos físicos adversos incluem sintomas de dor no pescoço (Lee, Kang & Shin, 2015) ou acidentes que afetam pedestres e condutores quando utilizam o telemóvel enquanto conduzem (Klauer et al., 2014; Shelton, Elliott, Lynn & Exner, 2009).

Relativamente à saúde mental, estudos recentes mostraram que o aumento do uso de

smartphones pode estar relacionado com distúrbios de sono e depressão (Lemola,

Perkinson-Gloor, Brand, Dewald-Kaufmann & Grob, 2015). Além disso, o aumento da frequência e do tempo despendido em smartphones está intimamente relacionado com a gravidade da dependência (Lin et al., 2015).

De acordo com Lin et al. (2015), a adicção aos smartphones pode ser considerado uma forma de dependência tecnológica.

Outros usos dos telemóveis passam pela possibilidade de facilitar a interação social, a criação de dependência, a formação de imagem e identidade, a criação de comportamentos relacionados ao mesmo, entre outros, que irão ser descritos posteriormente, apenas utilizando alguns exemplos.

Relativamente à interação social, os utilizadores usam os seus smartphones para manter contato com amigos e familiares (Aoki & Downes, 2003). A melhoria dos serviços telefónicos sociais, tais como o Twitter, o Facebook, o Snapchat, o Instagram, entre outros. Devido à grande variedade de recursos e à sua portabilidade, os smartphones passaram a tornar-se na ferramenta de interação social ideal (Aoki & Downes, 2003).

No que diz respeito à dependência, segundo Rogers (1995), os utilizadores tornam- se cada vez mais confortáveis na utilização dos seus telemóveis e identifica isso como "compromisso" com o uso de uma inovação. Assim sendo, começam a utilizar os telemóveis regularmente, tornando-se parte da sua vida ao ponto de se sentirem perdidos, quando se encontram sem esse dispositivo (Hooper & Zhou, 2007).

No que toca à imagem e identidade, os telemóveis também podem ser considerados símbolos de estatuto. Em particular, Shambare e Mvula (2011) afirmam que estudantes sul-africanos adquirem smartphones para puderem aceder ao Facebook, simplesmente porque os pares assim também o fazem. Assim, as descobertas de Wilska (2003) propõem que o seu uso possa ser caracterizado como sendo viciante, na moda e impulsivo.

No que respeita ao comportamento associado ao uso do telemóvel, existem autores que identificam seis tipos de comportamentos associados ao uso dos smartphones. Estes são os tipos de comportamentos habituais, adictivos, obrigatórios, voluntários, dependentes e compulsivos (Hanley & Wilhelm, 1992; Hooper & Zhou, 2007; Madrid, 2003, citado por Shambare, Rugimbana, & Zhowa, 2012; O'Guinn & Faber, 1989).

Neste contexto, portanto, o aumento da atenção, o uso incontrolável e involuntário dos smartphones podem ser considerados como uma adicção.

Com o crescente interesse no desenvolvimento da adicção a este tipo de tecnologia surgem alguns instrumentos para a avaliar, nomeadamente o Smartphone Addiction Proneness Scale for Youth (SAPS), o Smartphone Addiction Scale (SAS), a Smartphone Addiction Scale – short version (SAS-SV) e o Smartphone Addiction Inventory (SPAI) (Silva, Teixeira, & Soliz, 2017).

Focando a atenção no SPAI, este é constituindo por um questionário de autoavaliação baseado nas características dos smartphones, composto por 26 itens, organizados em quatro fatores, sendo eles, o comportamento compulsivo, a limitação funcional, a abstinência e a tolerância (Lin, Chang, Lee, Tseng, Kuo, & Chen, 2014; Silva, Teixeira, & Soliz, 2017). O instrumento, após testado, apresentou boas qualidades psicométricas e uma validade aceitável (Lin, Chang, Lee, Tseng, Kuo, & Chen, 2014Silva, Teixeira, & Soliz, 2017).

A versão portuguesa, também ela constituída por 26 itens, enquadradas nas suas 4 subescalas, também revelou uma elevada consistência interna global (alfa de Cronbach de .92) (Silva, Teixeira, & Soliz, 2017).

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