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Afastamento do Trabalho para Tratamento de Saúde

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3.3 A INSERÇÃO DOS SOROPOSITIVOS NO MERCADO DE TRABALHO

3.3.1 Afastamento do Trabalho para Tratamento de Saúde

Neste ítem, agrupam-se questões que abordam o tempo de conhecimento do diagnóstico do vírus, de afastamento do trabalho e as condições físicas em decorrência da utilização dos medicamentos ARVs.

Quanto ao esclarecimento do diagnóstico, este é feito em momentos diferentes para cada pessoa, em relação ao histórico do desenvolvimento da doença. Algumas pessoas realizam o exame anti-HIV para detectar a presença do vírus no organismo antes de apresentar qualquer sintoma da doença, enquanto outras realizam o teste porque apresentaram algum agravo de saúde relacionado à Aids.

Segundo Kahhale (2010), quando se trabalha com pessoas vivendo e convivendo com HIV/Aids enfrentam-se diversas dificuldades que se expressam nas relações de trabalho, nas condições de vida e nas relações familiares. Ainda segundo essa autora, não é raro encontrar profissionais que perdem a condição ocupacional, seja pela dificuldade de manter a mesma capacidade de produção, seja pelo preconceito que encontram quando sua soropositividade é conhecida, sendo que, neste último caso, é comum que as pessoas vivendo

com HIV deixem o trabalho, até mesmo pelo receio de que sua condição de soropositivo seja descoberta. Muito embora não se possa comparar com a discriminção sofrida pelos tuberculosos e hansenianos, no caso do HIV também se percebe, apesar da forma mais velada, os processo de exclusão em que vivem as pessoas nesta condição. A condição de soropositividade atravessa a vida dos sujeitos, compromete o trabalho, as relações sociais, a vida em família e as relações afetivas.

Os dados da tabela 8 demonstram que a maioria dos entrevistados, 43,75%, teve conhecimento da sorologia positiva para o HIV no período compreendido entre 16 a 20 anos.

Entre outros participantes destaca-se percentual igual, 21,88% dos diagnósticos realizados entre 6 a 10 e 16 a 20 anos. Os demais participantes acima de 21 anos ficaram distribuídos com a percentagem de 9,38% nos diagnósticos realizados.

Na tabela a seguir observa-se, em anos, o tempo decorrido desde que os participantes tiveram conhecimento do diagnóstico do vírus HIV/Aids.

Tabela 8 – Diagnóstico da doença por idade

Nº % De 1 a 5 anos 1 3,13 De 6 a 10 anos 7 21,88 De 11 a 15 anos 7 21,88 De 16 a 20 anos 14 43,75 Acima de 21 anos 3 9,38 Total 32 100,00

Fonte: Pesquisa primária realizada pela pesquisadora no Grupo AAVE- Goiânia/2012

Conforme estudos acerca do aumento de sobrevivência dos soropositivos, esse tempo tem aumentado substancialmente em comparação com os casos iniciais de 51 meses para casos diagnosticados entre os anos de 1982 e 1989, passando para 58 meses em casos diagnosticados em 1996 (BRASIL, 2004, p. 87).

Segundo Programa das Naçoes Unidas (PNU), registra-se queda no contágio pelo

vírus entre os anos de 2001 e 2012. De acordo com os números, houve redução de 33% nos novos casos da doença em todo o mundo. No Brasil, o total da população entre 15 e 49 anos contaminada por HIV não mudou nesse período, mantendo-se em 0,4% e 0,5%. Já as mortes pelo vírus da aids decresceram, passando de 39% para os atuais 30%.

Estudos revela também que mortalidade tem diminuído ao longo do tempo por causa do maior acesso em todos os países com relação ao fornecimento da medicação. De acordo com o PNU, hoje em dia, mesmo em países mais pobres, o acesso às medicações está

mais rotineiro e regular, por isso houve grande redução no número de mortes.

A infecção atingiu o Brasil com toda a sua força, porém, não se pode negar um diferencial. O tratamento da aids no país ganhou atenção especial em função das organizações da sociedade civil que ajudaram a viabilizar políticas públicas específicas, com também combate e prevenção especiais (CASTRO, 2004).

A análise dos dados sugere que, além de o tempo de sobrevida estar relacionado ao tratamento, o diagnóstico pode estar sendo feito precocemente, o que não ocorria no início da epidemia em razão do desconhecimento da própria doença e seus sintomas, do medo, do preconceito, do despreparo dos profissionais de saúde, entre outros fatores.

Certamente não é tarefa fácil para a pessoa com o vírus HIV perceber-se suscetível à ação da doença. Para muitos o exame com sorologia positiva para o HIV transforma-se num “atestado de óbito” antecipado.

Por mais assustador que o diagnóstico possa parecer, ele passa a se tornar concreto quando é sentido no próprio corpo, quando a doença deixa suas marcas visíveis às outras pessoas ou apenas sentidas internamente pelo indivíduo. Tem-se conhecimento, por meio da vivência pessoal e profissional, que muitas vezes o soropositivo sente dificuldades de relacionar, à própria Aids, as doenças que surgem em decorrência do avanço da doença. Os agravo à saúde que a doença pode acarretar, aliada ao desconhecimento e à negação da sorologia positiva, pode contribuir para tal dificuldade.

Ainda que a utilização dos medicamentos ARVs contribua para a melhoria das condições físicas do soropositivo, não raro essas pessoas acometidas pela doença sofrem com efeitos colaterais dos medicamentos e são obrigadas a se afastar de suas atividades, inclusive do trabalho. Ante a realidade vivida pelos sujeitos da pesquisa, questiona-se a necessidade de afastamento do trabalho em decorrência da Aids. As pessoas que responderam afirmativamente informaram também o período do afastamento.

Quanto aos afastamentos do trabalho para tratamento de saúde, tem-se que, entre o total de participantes, 16 referem ter desenvolvido doenças ligadas à aids; elas necessitaram se afastar do trabalho, o que significa 50,% de afastamentos das pessoas que desenvolveram doenças. Observa-se que 37,50% dos entrevistados não foram afastados do trabalho em decorrência do desenvolvimento da aids e 12,50%, não souberam responder. Cabe destacar que as pessoas que declaram ter tido essa vivência apontam os atos preconceituosos e discriminatórios como causa principal dos afastamentos do trabalho em decorrência da sorologia positiva, como apresenta a tabela nº 9.

Tabela 9 - Afastamento do trabalho por doença Nº % Sim 16 50,00 Não 12 37,50 Não responderam 4 12,50 Total 32 100,00

Se sim, por quantos dias?

De 01 até 15 dias 2 14,29

De 16 até 30 dias 1 7,14

Acima de 30 dias 11 78,57

Total 14 100,00

Fonte: Pesquisa primária realizada pela pesquisadora no Grupo AAVE- Goiânia/2012

De acordo com os dados coletados, verifica-se que, quando surgem os sintomas da Aids, o afastamento das atividades ligadas ao trabalho é frequente entre os participantes. Dos entrevistados, 78,57 % tiveram afastamento por período acima de 30 dias e 14,29% afastamentos entre 01 até 15 dias. Entre os participantes, 7,14% foram afastados por período de 16 até 30 dias.

Espera-se que, com o aperfeiçoamento dos medicamentos ARVs, tal realidade possa ser diferente não apenas do ponto de vista da capacidade para o trabalho, mas para todas as atividades que envolvem a vida em sociedade.

Além do tempo de conhecimento do diagnóstico e tratamento, foram questionados os participantes que utilizam a terapia ARV foram indagados quanto à percepção de melhora das condições físicas a partir do início do tratamento ARV. Cabe destacar que a percepção é algo subjetivo, mas que se faz importante diante de uma epidemia que traz consigo um histórico de medos e incertezas, tanto por parte das pessoas em relação ao soropositivo e à doença, quanto do próprio soropositivo em relação ao vírus HIV/Aids.

De acordo com os dados coletados, a maioria dos participantes se referiu à não- percepção de melhora após o início do tratamento, 71,88% destacaram que não melhoram, enquanto 28,13% consideram que melhoraram a saúde física.

0 50 100 Sim Não Total 9 23 32 28,13 71,88 100

Número de entrevistados percentual Gráfico 4 - Relação trabalho e doença

Fonte: Pesquisa primária realizada pela pesquisadora no Grupo AAVE- Goiânia/2012

Os participantes que responderam ter havido melhora justificam a resposta pelo fato de iniciarem o tratamento sem nunca terem desenvolvido doença oportunista, sendo possível então manter as mesmas condições de saúde anteriores ao diagnóstico. Nesses casos, o tratamento pode ter sido indicado antes de se instalar um agravo de saúde relacionado à Aids.

Dessa forma, pode-se considerar a possibilidade de o medicamento retardar ou impedir o avanço da doença e diminuir a multiplicação do vírus HIV/Aids no organismo dessas pessoas. Em termos simples, os medicamentos auxiliam as pessoas a satisfazerem uma de suas necessidades humanas básicas: a saúde física, entendida por Pereira (2006) como uma conotação que supera a simples sobrevivência devido a todos os fatores que a envolvem.

Para fins de confirmação da percepção dos pesquisados sobre sua condição física, é necessário o auxílio da equipe médica do serviço. Contudo, o enfoque nesta questão é simplesmente a percepção dos sujeitos, ainda que não sejam confrontadas evidências clínicas ou laboratoriais.

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