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Aferição da responsabilidade civil subjetiva do empregador quanto às normas de

4.3 DIREITO DE REGRESSO DO INSS

4.3.2 Aferição da responsabilidade civil subjetiva do empregador quanto às normas de

A aferição da responsabilidade civil subjetiva do empregador quanto ao cumprimento das normas de segurança do trabalho é muito importante, tendo em vista que a responsabilização do empregador é um dos pressupostos a ser preenchido para o exercício do direito de regresso por parte do INSS.

Destaca-se que o acidente de trabalho e a concessão de uma prestação social acidentária não autorizam, por si só, a propositura da ação regressiva. É necessário que a pretensão de ressarcimento esteja fundada em elementos que demonstrem a culpa da empresa quanto ao cumprimento e fiscalização das normas padrão de segurança e saúde do trabalho indicadas para a proteção individual e coletiva. (AGU, 2009, p. 11).

A culpa quanto ao cumprimento dos comandos normativos pertinentes à proteção do trabalhador também pode advir da omissão dos responsáveis, pois, a estes, com efeito, não compete somente munir os trabalhadores com equipamentos de proteção individual e coletiva adequados ao risco de cada atividade, mas também, zelar pela sua efetiva utilização, instruindo, exigindo e fiscalizando o seu correto manejo. Vale dizer que a aferição da culpabilidade do empregador para efeitos de cumprimento dos requisitos legais da ação regressiva é realizada pela AGU através do que a Instituição chama de PIP – procedimento de instrução prévia4, tendo ele três fases, quais sejam, instauração, instrução e conclusão.

O PIP é instaurado quando o Procurador Federal tiver conhecimento da ocorrência de algum dos pressupostos das ações regressivas acidentárias, ocasião em que expedirá uma

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Conceitua-se o PIP como o expediente administrativo instaurado no âmbito da PGF, cuja finalidade é identificar a ocorrência dos pressupostos fáticos que viabilizam o ajuizamento da ação regressiva acidentária prevista no art. 120 da Lei 8.213/91.

O PIP possui disciplina normativa básica nos arts. 2º a 5º da Orientação Interna Conjunta - OIC nº 01/2009 PFE/INSS-CGCOB

Portaria de Instauração determinando as diligências preliminares para apuração das informações necessárias ao ajuizamento da demanda (AGU, 2009, p. 15).

Os pressupostos para o ajuizamento da ação regressiva acidentária são o acidente do trabalho sofrido por segurado do INSS, o implemento de alguma prestação social acidentária e a culpa do empregador quanto ao cumprimento e fiscalização das normas de segurança e saúde do trabalho (AGU, 2009 p.11).

Percebe-se que o não cumprimento por parte do empregador da previsão legal de prevenção de acidentes do trabalho é tratada como negligência, pois, gera um ambiente laboral propício ao acontecimento de infortúnios e sobre este prisma, a legislação previdenciária através da Lei n.º 8.213 (BRASIL, 1991b) determina em seu artigo 19, § 1°, a responsabilização da empresa empregadora pela adoção e uso de medidas coletivas e individuais de proteção e segurança da saúde do trabalhador, ditando ainda em seu § 2°, que a atitude negligente do empregador é caracterizada como fato típico penal, punível por multa.

A responsabilização do empregador para com a Previdência Social, no caso de Ação Regressiva, nasce do descumprimento destas regras, ou seja, de seu ato omissivo na observância destas, o que aumenta inconseqüentemente o número de acidentes de trabalho, e é justamente a negligência que caracteriza a culpa da empresa no acidente de trabalho, destacando a utilização da teoria subjetiva da responsabilidade nesta ação de regresso, sendo ela requisito fundamental para o seu ajuizamento.

No entanto, o que se observa é que existe divergência quanto à responsabilização do empregador no que tange à ação de regresso, haja vista a lei rezar que serão responsabilizadas as empresas negligentes quanto às normas de segurança e saúde do trabalho (BRASIL 1991b, ART, 120 e 121) e por vezes, confundir negligência do empresário, com atividade empresarial de risco para o ajuizamento destas ações, sendo que nesta última a responsabilidade da empresa seria objetiva.

O posicionamento de Miguel Horvath Júnior (2010, p. 588-589) é no sentido de que somente se terá a responsabilização da empresa quando esta não cumprir as normas de prevenção, caracterizando o ato ilícito e a subjetividade, o que, portanto, para sua caracterização seria necessária à comprovação da culpa ou do dolo do empregador.

Corroborando com este entendimento, Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari (2009, p. 465-466) ensinam que:

Assim, surge um novo conceito de responsabilidade pelo acidente de trabalho: o Estado, por meio do ente público responsável pelas prestações previdenciárias, resguarda a subsistência do trabalhador e seus dependentes, mas tem direito de exigir do verdadeiro culpado pelo dano que este arque com os ônus das prestações - aplicando-se a noção de responsabilidade objetiva, conforme a teoria do risco social para o estado; mas a da responsabilidade subjetiva e integral, para o empregador infrator. Medida justa, pois a solidariedade social não pode abrigar condutas deploráveis como a do empregador que não forneça condições de trabalho indene de riscos de acidentes.

Adilson Sanchez e Victor Hugo Xavier (2009, p. 236), posicionam-se no sentido de que a legislação previdenciária não poderia estipular modalidade de culpa diferente da prevista no artigo 7º, inciso XVIII, da Constituição Federal (BRASIL, 1988), haja vista o inciso instituir o seguro de acidentes do trabalho, a cargo do empregador, para o custeio do infortúnio, “sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa.

É importante ressaltar que para a atividade laboral de risco, paga o empregador o seguro de acidente do trabalho, nos moldes do artigo 22 da Lei 8.213 (BRASIL, 1991b) que visa o financiamento de aposentadorias especiais e benefícios acidentários com uma alíquota de 1%, 2% ou 3% de acordo com o grau de risco da atividade.5 É o chamado SAT (Seguro de Acidentes do Trabalho), que de acordo com Castro e Lazzari (2009, p. 264) “trata-se de seguro obrigatório, instituído por lei, mediante uma contribuição adicional a cargo exclusivo da empresa e destina-se à cobertura de eventos resultantes de acidente de trabalho.”

As contribuições do SAT, juntamente com as outras contribuições sociais por parte da empresa, são para a satisfação do interesse coletivo, sendo estas receitas guardadas em um único fundo, o qual serve para o custeio de todos os benefícios previdenciários, inclusive os benefícios acidentários.

Jean Fernando Selva (2009, p. 60) assevera que:

Acidentes de trabalhos podem ocorrer por diversas razões. É possível que se cumpram todas as normas de segurança do trabalho e, ainda assim, ocorram acidentes, pois existem atividades que, por sua própria natureza, podem ser lesivas

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Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do disposto no art. 23, é de: [...] II - para o financiamento do benefício previsto nos arts. 57 e 58 da Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991, e daqueles concedidos em razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, sobre o total das remunerações pagas ou creditadas, no decorrer do mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos: a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante o risco de acidentes do trabalho seja considerado leve; b) 2% (dois por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja considerado médio; c) 3% (três por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja considerado grave.

ao segurado, mesmo diante da ausência de comportamentos empresariais negligentes para com as mesmas. Como por exemplo, o caso de funcionários de um banco em gozo de auxílio-doença por LER (Lesão por Esforço repetitivo), neste caso, mesmo que a empresa siga com todas as normas de ergonomia, de descanso e de ginástica laboral poderá o empregado adquirir a referida doença ocupacional. Este exemplo trata-se da hipótese onde o empregador poderia ser responsabilizado pela teoria da responsabilidade objetiva. No caso comentado acima, não houve a prática de ato ilícito contra esse fundo, ao contrário, o trabalhador desenvolveu uma doença ocupacional porque a própria atividade desenvolvida por ele, por si só, é prejudicial à saúde. Nessas circunstâncias, os recursos do fundo serão destinados ao custeio dos benefícios acidentários, sem maiores problemas, pois o custo a ser pago, resulta de situações já antevistas pela própria lógica que preside o fundo. As contribuições sociais já se destinam a custear os riscos no ambiente de trabalho.

Como visto o cumprimento das normas de segurança e saúde não basta para evitar o infortúnio, porém, descaracteriza a negligencia do empregador (culpa), impedindo o ajuizamento da demanda regressa por não cumprir com todos os requisitos, justamente por inexistir culpa do empregador, pois, para as atividades de risco ele possui a obrigação de contribuir com o SAT. Portanto, o INSS terá o direito de regresso contra os causadores de dano, somente quando o infortúnio ocorrer por culpa ou dolo (responsabilidade subjetiva), excluindo-se a possibilidade da ação regressiva baseada somente na responsabilidade objetiva (atividade de risco).

4.3.3 Obrigação ―ex lege‖ do INSS de interpor a ação regressiva quando presentes os

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