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3 A ATIVIDADE REGULADORA DO ESTADO NO SETOR ALIMENTÍCIO

3.4 AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA)

Dentre as várias agências reguladoras presentes no ordenamento jurídico brasileiro, a que será analisada é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Sua origem remete a Medida Provisória nº 1.791, de 30 de dezembro de 1998, que instituiu o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e a ANVISA. Posteriormente, a medida provisória foi convertida em lei ordinária, figurando como a Lei nº 9.782, de 26 de janeiro de 1999. No art. 3º da referida lei, o texto legal dispõe que a ANVISA é uma autarquia sob regime especial, que está vinculada ao Ministério da Saúde.

A respeito disso, Pinheiro explica (2007, p. 16) que:

A Vigilância Sanitária é vinculada ao Ministério da Saúde e é mediadora das relações entre produtores e consumidores, para assegurar a proteção aos cidadãos nos seus direitos fundamentais de vida e sobrevivência. É dever do Estado intervir quando estão em jogo deficiências, adversidades e riscos que afetam as pessoas.

Portanto, a função desempenha pela referida Agência, ainda que possua por finalidade a proteção da vida como um todo, por meio da manutenção da saúde da população, interfere diretamente nas relações consumeristas e, portanto, no domínio econômico. Desse modo, conforme o entendimento do autor (2007), o ente estatal possuir o dever de intervenção quando a segurança das pessoas está ameaçada.

No seu art. 6º, a Lei nº 9.782/1999 elucida que o propósito da agência é promover a proteção da saúde da população, utilizando-se do controle sanitário referente a produção e comércio dos produtos e serviços que possam, de alguma forma, trazer algum impacto a saúde dos indivíduos. Deste modo, é possível compreender que, a priori, a função reguladora desempenhada pela a ANVISA está mais intimamente ligada à concepção de saúde pública do que a de reguladora da atividade econômica.

Nesse sentido, explica Pinheiro (2007, p. 6) que:

A preocupação dos governos com os aspectos de segurança dos alimentos provém do fato que distúrbios na saúde dos cidadãos resultam em gastos expressivos adicionais na rede pública de saúde. Já as companhias estão sujeitas a perdas monetárias devido a insatisfação dos consumidores com seus produtos e ações legais.

Portanto, a prioridade da aludida Agência não é o setor econômico, mas recaí sob a saúde pública, que é de interesse de todos. O caráter preventivo das normas sanitárias, em coibir comportamentos e estipular certas práticas, conforme aduz o referido autor (2007), almejam inibir distúrbios na saúde da população, evitando, deste modo, despesas excessivas para remediar problemas resultantes de condições precárias de higiene e de boas práticas de fabricação.

É importante destacar que, conforme está disposto no art. 6º da Lei nº 9.782, o mecanismo adotado para a promoção da saúde da população consiste no controle sanitário da produção e comercialização dos mais variados produtos e serviços que estejam debaixo da autoridade e fiscalização da Vigilância Sanitária, dispondo de uma ampla gama de atuação, perpassando pelos portos, aeroportos e fronteiras do país.

Discorrendo a respeito do assunto, Baird (2012, p. 32) vem elucidar que:

A legislação garante a agência atuação ampla e transversal, uma vez que a Anvisa é responsável pelo controle sanitário dos produtos e serviços que possam trazer risco à saúde humana. A lei arrola grande número de produtos passíveis de serem fiscalizados pela agência, como medicamentos, cosméticos, saneantes, equipamentos médico- hospitalares, órgãos, sangue, cigarros e alimentos. A abrangência da atuação da Anvisa poder ser considerada uma singularidade da agência, pois todas as outras são responsáveis apenas pela regulação de setores específicos da economia.

Sendo assim, é importante destacar que, de acordo com o citado autor (2012), a ANVISA detém uma ampla esfera de atuação e, portanto, de intervenção no domínio econômico, aglutinando diversos setores econômicos, como a indústria farmacêutica e o setor de alimentos, de modo que o contato com os produtos e serviços que afetam diretamente a saúde pública revela-se imprescindível para a manutenção da saúde pública.

É importante entender que o papel regulador desempenhado pela Agência em questão decorre daquilo que Meirelles (2010) aduz como Polícia Sanitária, sendo manifesta na adoção de normas e medidas especificas, quando forem demandadas em situações que apontem para presentes ou futuros problemas que possam insurgir-se e ameaçar a saúde e a segurança sanitária dos indivíduos ou de toda a sociedade. Este, portanto, é um poder decorrente do próprio poder de polícia do Estado.

Compreendidos esses aspectos, tratando a respeito dos instrumentos normatizadores utilizados pela ANVISA, dentre os quais possuem relevância para a presente análise, um de notavél destaque é a Resolução de Diretoria Colegiada, o qual, conforme elucida Gasparini (2000), nada mais é do que um meio na qual os órgãos colegiados fazem uso afim de fazerem manifestas as suas deliberações em temas que são de sua competência.

A Diretoria Colegiada, por sua vez, é um órgão previsto no art. 9º, da Lei nº 9.782/1999, e disciplinado no Capítulo III - Da Estrutura Organizacional da Autarquia, Seção II - Da Diretoria Colegiada do mesmo dispositivo legal. Deste modo, essa diretoria é composta por 5 (cinco) membros indicados pelo Presidente da República, nomeados após a aprovação do Senado Federal. Dentre as respectivas atribuições deste órgão, que estão previstas no art. 15, do referido texto legal, o inciso III estabelece que é competência da Diretoria Colegiada editar normas a respeito de matérias que são de competência da agência.

Sendo assim, a ANVISA detém o condão de estipular normas que, ainda que tenham a prerrogativa de promover a higiene sanitária e a preservação da saúde pública, interferem diretamente sob a atividade econômica daqueles que produzem, comercializam ou armazenam alimentos, ressaltando o aspecto regulador do Estado por sua interferência indireta na condução da atividade econômica, com o intuito de fazer prevalecer o bem-estar social em detrimento dos interesses particulares.

4 O IMPACTO DA ATIVIDADE REGULADORA ESTATAL NO SETOR