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A agenda internacional

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O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL

1.4. O envelhecimento populacional na agenda das políticas públicas Diante dos muitos desafios provenientes do fenômeno do

1.4.1. A agenda internacional

Em 1982 aconteceu na cidade de Viena a I Assembléia Mundial sobre o Envelhecimento, promovida pela ONU. Ela foi considerada o marco inicial na discussão de políticas voltadas para a população idosa. O Plano por ela adotado estruturou-se da seguinte forma: “... 66 recomendações para os estados membros referentes a sete áreas: saúde e nutrição, proteção ao consumidor idoso, moradia e meio ambiente, família, bem-estar social, previdência social, trabalho e educação”.61 Continua Camarano:

A concepção do idoso traçada no plano era a de indivíduos independentes financeiramente e, portanto, com poder de compra. As recomendações eram dirigidas, em especial, aos idosos dos países desenvolvidos. Suas necessidades deveriam ser ouvidas, pois agregavam valor à economia e permitiam o desenvolvimento de um novo nicho de mercado. Por outro

61 CAMARANO, Ana Amélia & PASINATO M. T. O envelhecimento populacional na agenda das políticas públicas. In: CAMARANO, A A (org). Os novos idosos brasileiros muito além dos 60?, Rio de Janeiro, IPEA, 2004. p. 255.

lado, o plano também foi fortemente dotado por uma visão da medicalização do processo de envelhecimento.62

O Plano de Viena apresentou várias recomendações que dependiam de subsídios que não foram orçados. Pode se destacar a questão de se promover a independência do idoso. Isto implicava em aumentos nos gastos públicos, especificamente na área social (pensões, aposentadorias e assistência à saúde).

Durante os vinte anos que se passaram entre esta assembleia e a segunda, ocorrida em Madri em 2002, com o mesmo tema, houve mudanças profundas nos planos econômico, social e político dos países. Vale destacar que na década de 1990, o tema do envelhecimento populacional entrou de forma mais efetiva na agenda das políticas sociais dos países em desenvolvimento. Naquela época o debate político e acadêmico considerava a população idosa como um segmento homogêneo, com necessidades e experiências comuns. Essa leitura simplista levou a duas posições antagônicas: A primeira é a medicalização63 da velhice, associando o envelhecimento à dependência e a problemas sociais. A segunda, contrária a esta, foi considerar o idoso apto a ainda produzir, contribuindo financeiramente para a sociedade. O que se observou é que, dentre as duas idéias, prevaleceu a primeira.

Em 1991 a Assembleia Geral da ONU adotou 18 princípios em favor da população idosa. Segundo Camarano esses princípios “podem ser agrupados em cinco grandes temas: independência, participação, cuidados, auto- realização e dignidade”.64

62 CAMARANO, Ana Amélia & PASINATO M. T. O envelhecimento populacional na agenda das

políticas públicas. In: CAMARANO, A A (org). Os novos idosos brasileiros muito além dos 60?,

Rio de Janeiro, IPEA, 2004. p. 255.

63 Expressão medicalização ou biomedicalização do envelhecimento surgiu como uma reação dos gerontólogos sociais ao que julgavam ser uma exagerada e indevida ampliação do poder da medicina, tanto para explicar a velhice e o envelhecimento como para propor soluções quer no âmbito da pesquisa, quer no da intervenção em saúde e nas políticas sociais. Conferir: NERI, A. L. Biomedicalização da velhice: distorções cognitivas relacionadas ao uso de modelo

biomédico na pesquisa gerontológica. In: DIOGO, M. J., NERI, A. L. e CACHIONI, Meire (orgs.)

– Saúde e Qualidade de Vida na Velhice. Campinas: Editora Alínea, 2004. p. 12.

64 CAMARANO, Ana Amélia & PASINATO M. T. O envelhecimento populacional na agenda das

políticas públicas. In: CAMARANO, A A (org). Os novos idosos brasileiros muito além dos 60?,

Esta mesma Assembleia, em 1992, aprovou a Proclamação sobre o Envelhecimento, estabelecendo o ano de 1999 como o Ano Internacional dos Idosos, sob o slogan: uma sociedade para todas as idades. Esta assembleia também definiu que:

os parâmetros para o início da elaboração de um marco conceitual sobre a questão do envelhecimento... O marco conceitual foi elaborado em 1995 (Documento 50/114 da ONU) e a exemplo da Proclamação sobre o Envelhecimento conta com quatro principais dimensões para a análise de uma “sociedade para todas as idades”: a situação dos idosos, o desenvolvimento individual continuado, as relações multigeracionais e a inter-relação entre envelhecimento e desenvolvimento social.65

Conforme aprovado em 1992, em 1999 foi comemorado o Ano Internacional do Idoso, quando então todos os países membros da ONU teriam que aplicar os cinco princípios em favor dos idosos já adotados pela Assembléia Geral de 1991: independência, participação, cuidados, auto- realização e dignidade.

Em 2002, em Madri, num contexto social, econômico e político, bastante diferente daquele que se verificou na Primeira Assembléia (Viena), aconteceu a Segunda Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento. Esta Assembleia aprovou uma nova declaração política e um novo plano de ação que serviram de orientação e normatização às políticas e programas voltados para a população idosa. Este “Plano” propôs a colaboração da sociedade civil com o Estado para que se efetivasse políticas públicas. Segundo Camarano, ele se fundamenta em três princípios básicos: a) participação ativa dos idosos na

sociedade, no desenvolvimento e na luta contra a pobreza; b) fomento da saúde e bem-estar na velhice: promoção do envelhecimento saudável; e c) criação de um entorno propício e favorável ao envelhecimento.66

Em 2007 na Sede da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina), em Santiago no Chile, ocorreu o Seminário Internacional “Camino a Madrid + 5”. Este evento teve como objetivo principal fortalecer o compromisso

65 Ibid.

66 CAMARANO, Ana Amélia & PASINATO M. T. O envelhecimento populacional na agenda das

políticas públicas. In: CAMARANO, A A (org). Os novos idosos brasileiros muito além dos 60?,

dos 26 (vinte e seis) países participantes com os eixos prioritários do “Plano de Madri”. Neste mesmo ano, em Brasília, aconteceu o “Forum Regional das Instituições da sociedade Civil sobre o Envelhecimento da América Latina e no Caribe”, promovido pela SEDH, MRE e CEPAL, onde foi produzido o documento “Declaração de Brasília”.67

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