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5 BAILE DE SÃO GONÇALO: espaço de efervescência social

5.2 Os agentes do baile

Ao longo da pesquisa, foram contratados cinco guias, vinte dançantes e seis promesseiros. Três dos guias moram no município de São João Batista e 2 no município de São Vicente Férrer.

Infelizmente, a única mulher que é guia não pôde dar maiores informações, pois, viajou para o Rio de Janeiro e não retomou. Esta por sinal mora em São Vicente Férrer (ou morava). Atualmente, encontra-se em preparação uma jovem de vinte e cinco anos para exercer essa função.

Os quatro guias restantes foram bastante receptivos e dentro do limite que a narrativa oral lhes permitia relataram o enredo do baile em si. Percebe-se uma dificuldade nos guias em explicar a simbologia presente nos vários elementos do baile. Dentre os guias pesquisados um é aposentado pelo INSS e os três restantes são agricultores e praticam a pesca artesanal, possuindo ainda pequenos rebanhos de criações e algumas cabeças de gado. Todos habitam a zona rural de seus municípios.

O momento de realização do baile também e o momento de obter algum recurso. O preço de um baile varia de 300 a 600 reais, depende da quantidade de dias e da proximidade do guia com o promesseiro.

Dois dos guias entrevistados relataram que doam parte do que ganham para os dançantes mais próximos. Como por temporada um guia manda em média 15 bailes, isso lhes permite guardar algum recurso para os momentos mais difíceis do período chuvoso.

As atividades agrícolas que eles praticam não é suficiente para sustentar suas famílias e ainda vender, sendo portanto uma atividade de subsistência.

Os dançantes não são remunerados pela participação no baile, recebendo apenas a alimentação durante o baile e o transporte ida e volta para o local, pequenos presentes ou sobra dos preparativos para o banquete. Dos dançantes contactados

sistematicamente, quinze moram na zona rural e cinco na zona urbana; seis são funcionários públicos municipais; quinze exercem atividades agrícolas de subsistência e pesca artesanal; dois são aposentados; dezesseis estão na faixa etária entre quinze e trinta anos e apenas dois são idosos e já estão aposentados pelo INSS. Um exerce atividade autônoma e um outro é pequeno comerciante. Doze moram em São João Batista e oito em São Vicente Férrer.

Os seis promesseiros que foram ouvidos cinco moram na zona rural e um na zona urbana; quatro são aposentados, um é funcionário público estadual e um não tem função remunerada; cinco se denominaram agricultores; quatro foram mulheres e dois homens. Os mesmos falaram das dificuldades para o pagamento da promessa, mas essas dificuldades em momento algum foram postas como condição para o não pagamento da mesma. Todos se mostraram satisfeitos com a festa realizada e preferiam não falar das despesas.

Os músicos contactados foram seis. Dois dos quais também são artesãos; dois são aposentados; e todos praticam a agricultura de subsistência e a pesca artesanal. Todos moram na zona rural de São João Batista.

Uma dupla de músicos recebe remuneração semelhante ao guia. Essa remuneração serve para manter a família durante o período de acontecimento do baile, para a compra dos instrumentos e para guardar um pouco para o período chuvoso.

Há um dado que não pode deixar de ser mencionado, apesar da freqüência muito grande de bailes no período de realização da festa em São Vicente Férrer, é em São João Batista que encontra-se o maior número de guias, dançantes e músicos.

Em São Vicente reside apenas um grupo de músicos de São Gonçalo, que infelizmente por motivos de doenças e viagem não foram entrevistados.

Analisando o carnaval carioca, Cavalcanti (2006) faz referência à disputa entre as agremiações, essa rivalidade provoca um conflito saudável. Todos querem se sagrar campeões do carnaval.

O desfile é marcado de expectativas em torno de cada apresentação.

A cada carnaval as escolas de Samba competem entre si, narrando no desfile um enredo sempre renovado. Por meio das fantasias, das alegorias e do samba enredo, os desfiles contêm histórias, cuja força expressiva, o ideal almejado de realização imprevisível está na integração harmoniosa desse conjunto de elemento dramáticos e em uma comunicabilidade com o grande público. (CAVALCANTI, 2006, p. 29).

Essa disputa perfomática e de fantasias não está presente nos bailes de São Gonçalo. Nesse sentido cada baile é um ritual único que não permite comparação no sentido do melhor ou pior, não há disputa entre os bailes realizados em cada localidade. Os comentários existentes se restringem ao fato de o mesmo ter sido farto ou não, aceito ou não.

Estudiosos apontam possíveis conflitos entre manifestações religiosas diferentes, em que há uma tentativa se legitimar junto à entidade sagrada homenageada.

Mesmo existindo atualmente conflito entre cristãos protestantes e cristãos católicos em várias partes do mundo não se registrou no decorrer da pesquisa nenhuma manifestação nesse sentido nem de forma isolada e nem de forma coletiva.

Ao contrário, o que se observou foi filhos pequenos de famílias protestantes assistindo aos ensaios. Aliás, um hábito tipicamente católico de abençoar os filhos, afilhados, parentes e pessoas próximas é mantido por protestantes tanto os convertidos como os de nascimento em São Vicente Férrer.

Em um dos bailes assistido membros da família do promesseiro que eram protestantes se fizeram presentes. Essa presença foi marcada pelos laços de parentesco, porém, não se percebeu sinal de repulsa ou rejeição durante o ritual.

Uma prática não tão freqüente, mas que tivemos a oportunidade de presenciar foi a participação de umbandistas como dançantes. Essa é uma fronteira bastante fruida, pois o trânsito entre essas duas manifestações religiosas é muito comum. A freqüência das pessoas que assistem ao ritual das duas manifestações também é muito grande.

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