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2. A dimensão do mercado de trabalho, economias de aglomeração e o

2.5 Aglomerações urbanas e participação no mercado de trabalho

Nas seções anteriores vimos que as aglomerações urbanas teriam um efeito positivo sobre os rendimentos dos trabalhadores no mercado de trabalho. Além disto, os efeitos de um mercado mais amplo e mais diversificado seriam relativamente mais benéficos para as mulheres, ao passo que abrandariam os impactos negativos de interrupções na vida laboral que seriam mais comuns entre estas (Card, 1999). Entretanto, pouca atenção tem sido dada aos efeitos das aglomerações urbanas sobre a participação dos indivíduos no mercado de trabalho. Contudo, as grandes aglomerações urbanas, em tese, poderiam ter um impacto positivo sobre a participação dos indivíduos no mercado de trabalho. Incentivando uma maior oferta de força de trabalho, na medida em que estas ofereceriam um retorno esperado mais elevado, por conseguinte, elevando as chances de superar o salário de reserva médio dos indivíduos. Numa perspectiva análoga, Rosenthal e Strange (2003) investigam a relação entre aglomerações e comportamento no mercado de trabalho. A partir dos micro-dados do Censo Demográfico Americano de 1990, as evidências obtidas pelos autores sugerem que, entre trabalhadores qualificados, uma maior densidade de indivíduos na mesma ocupação estimularia um crescimento no número de horas trabalhadas, especialmente entre os indivíduos com menos de quarenta anos. Ademais, Rosenthal e Strange (2003) sugerem que haveria uma auto-seleção entre os trabalhados mais dedicados (hard

workers) e mais produtivos e as cidades maiores. Este indício, associado às economias

de aglomeração esperadas nos grandes centros urbanos, estimularia a participação dos indivíduos no mercado de trabalho nas cidades maiores.

Em uma análise dos mercados de trabalho local na Coréia, Kim (1985) investiga as relações entre a taxa de participação e de desemprego para homens e mulheres e as características demográficas e econômicas das cidades. Segundo os resultados estimados, a proporção de indivíduos casados, assim como a de migrantes, estaria relacionada à taxa de participação de homens e mulheres no mercado de trabalho. O tamanho das cidades teria um efeito positivo sobre a taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho, por hipótese, devido a um ambiente mais favorável onde haveria uma menor discriminação por gênero, uma maior oferta de serviços sociais (creches, pré-escolas, assistência social, etc.) e uma grande diversidade de oportunidades de trabalho.

Desta forma, três argumentos poderiam ser mencionados para esperarmos uma maior participação das mulheres em mercado de trabalho maiores. Primeiro, um maior oferta de serviços de assistência social, principalmente creches e pré-escolas, reduziriam o salário de reserva das mulheres para ingressarem no mercado de trabalho e, conseqüentemente, as estimulariam a ofertarem mais mão de obra (Heckman, 1974; Cahuc e Zylberberg, 2004; Phimister, 2005; Del Boca e Vuri, 2007). Ademais, este efeito seria mais relevante entre as mulheres casadas do que entre as mulheres solteiras (Connelly, 1992; Kimmel, 1998). Outro argumento estaria na maior diversidade de oportunidades de emprego disponíveis nos grandes centros urbanos que, em face da mobilidade espacial mais restrita das mulheres, possibilitaria um incremento nas chances de uma melhor alocação (match) no mercado de trabalho. Alocações mais adequadas, como já mencionamos, trariam um incremento na produtividade dos indivíduos e, por conseqüência, nos seus rendimentos. Logo, via incremento na qualidade de matches, aglomerações urbanas maiores estimulariam a participação das mulheres no mercado de trabalho. Por último, as mulheres teriam retornos de aglomeração ligados a redução de perdas por períodos fora do mercado de trabalho, dado que as mulheres, de modo geral, trabalham menos horas do que os homens e têm uma freqüência maior de interrupções em sua vida produtiva (Altonji e Blank, 1999). Além disto, como as mulheres têm uma estabilidade menor em suas ocupações, na medida em que a probabilidade delas de saírem da ocupação atual para o desemprego ou para fora do mercado de trabalho seria maior que a dos homens (Frederiksen, 2008), mercados de trabalho mais diversificados e mais amplos ampliariam as chances de

ocupação das mulheres reduzindo as perdas associadas aos períodos fora do mercado de trabalho (Phimister, 2005).

Phimister (2005) verifica a hipótese de que o diferencial de participação de homens e mulheres no mercado de trabalho variaria com a dimensão das aglomerações urbanas. Aplicando um modelo probit, com efeitos fixos para as características não observáveis dos indivíduos, separadamente para as áreas urbanas e para as áreas rurais do Reino Unido, o autor estima os impactos das características indivíduos sobre a participação no mercado de trabalho. Em seguida, os coeficientes estimados para os indivíduos das zonas urbanas e rurais foram aplicados as características observáveis dos indivíduos residentes nas áreas urbanas para obter dois vetores com as probabilidades de participação preditas. Assim, Phimister (2005) define o prêmio urbano sobre a participação no mercado de trabalho como a diferença entre as médias dos valores preditos anteriormente. Segundo o autor, este prêmio poderia ser interpretado como o aumento na probabilidade de um indivíduo aleatoriamente escolhido de participar do mercado de trabalho se localizado numa área urbana contra estar localizado numa área rural. Empiricamente, o prêmio estimado para as mulheres seria positivo (0,028 a 0,031), enquanto entre os homens este prêmio seria negativo (-0,001) ou extremamente pequeno (0,008). Com base nos resultados estimados, Phimister (2005) conclui que haveria evidências sugerindo um pequeno prêmio das aglomerações urbanas, porém significativo, sobre a participação das mulheres no mercado de trabalho. Enquanto, entre os homens, não haveria evidências de um prêmio sobre a participação destes no mercado de trabalho advindo das aglomerações urbanas.