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2 RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO

2.5 Agregados reciclados gerados a partir de RCD

Segundo Santana et al. (2001), o reaproveitamento de resíduos na construção civil é uma atividade que já vem sendo desenvolvida há algum tempo. Subprodutos de carvão e cinzas volantes têm sido utilizados, há, aproximadamente, cinco décadas, em concretos de

cimento Portland. Entretanto, a reciclagem de entulho para a produção de materiais de construção começou a despertar interesse no Brasil apenas na década de 80, com os estudos iniciais de Pinto (1986), conforme já mencionado em 2.3.

As utilizações mais comuns do RCD são em sub-bases de pavimentos e agregados reciclados para concretos sem função estrutural, já normatizadas pelas NBR 15115 (2004h) e NBR 15116 (2004i) respectivamente. Embora a utilização de agregados reciclados miúdos, com dimensão inferior a 4,75mm, em argamassas, seja estudada por pesquisadores há anos, e algumas usinas brasileiras já produzam areia reciclada, ainda não há norma brasileira com requisitos para a utilização desse material em argamassas.

A resolução 307 do CONAMA (2002) define agregado reciclado como “material granular proveniente do beneficiamento de resíduos de construção que apresentem características técnicas para a aplicação em obras de edificação, de infraestrutura, em aterros sanitários ou outras obras de engenharia”.

De acordo com a ABRECON, através da triagem e processamento do RCD, em algumas cidades como São Paulo, tem-se o agregado reciclado, classificado nas granulometrias de areia, pedrisco, brita, bica e rachão (quadro 4). A fração fina do material reciclado obtido da britagem ou moagem do entulho, a depender das suas características, pode ser utilizada nas argamassas, em substituição às adições ou aos agregados convencionais.

A NBR 15116 (ABNT, 2004i) classifica os agregados em dois tipos, quanto à sua origem: (a) agregado reciclado de concreto (ARC), cujo teor de fragmentos à base de cimento e rochas é maior que 90%; e (b) agregado reciclado misto (ARM), cujo teor é menor que 90%. Essa classificação, na prática, parece simples: bastaria, na usina, algum funcionário controlar, visualmente, os RCD que chegam e armazenar, separadamente, aqueles predominantemente originados de concreto daqueles com presença de materiais cerâmicos, no entanto o volume de material é muito expressivo. Além disso, uma grande dificuldade para a aplicação está no controle da variabilidade das características físicas ou na presença de impurezas e contaminantes que serão abordados mais adiante.

Produto Características Uso recomendado Areia

reciclada

Material com dimensão máxima característica inferior a 4,8 mm, isento de impurezas, proveniente da reciclagem de concreto e blocos de concreto.

Argamassas de assentamento de alvenaria de vedação, contrapisos, solo-cimento, blocos e tijolos de vedação.

Pedrisco reciclado

Material com dimensão máxima característica de 6,3 mm, isento de impurezas, proveniente da reciclagem de concreto e blocos de concreto.

Fabricação de artefatos de concreto, como blocos de vedação, pisos intertravados, manilhas de esgoto, entre outros. Brita

reciclada

Material com dimensão máxima característica inferior a 39 mm, isento de impurezas,

proveniente da reciclagem de concreto e blocos de concreto.

Fabricação de concretos não estruturais e obras de drenagens.

Bica corrida

Material proveniente da reciclagem de resíduos da construção civil, livre de impurezas, com dimensão máxima característica de 63 mm (ou a critério do cliente).

Obras de base e sub-base de pavimentos, reforço e subleito de pavimentos, além de regularização de vias não pavimentadas, aterros e acerto topográfico de terrenos. Rachão Material com dimensão máxima característica

inferior a 150 mm, isento de impurezas, proveniente da reciclagem de concreto e blocos de concreto.

Obras de pavimentação, drenagens e terraplenagem.

Quadro 4 - Usos recomendados para agregados reciclados

Fonte: Adaptado do site da ABRECON

Santana et al. (2001) afirmam que a principal diferença entre os agregados reciclados no canteiro de obras ou em usina de reciclagem é que, dentro do canteiro, pode-se facilmente separar os materiais que serão reciclados conforme a fase de execução da obra. Por exemplo: na fase estrutural, separar os resíduos de concreto, na fase de levante, separar os resíduos de alvenarias e na fase de acabamentos, separar os resíduos de argamassas. Isso possibilita a produção de agregado reciclado com composição mais homogênea, com a presença de uma única fase inorgânica não metálica dominante, como os agregados reciclados de concreto e os agregados reciclados de cerâmica vermelha. Já o entulho reciclado em usina, origina-se de diversas obras da região e é constituído de diversos tipos de materiais, cuja separação agrega custos ao processo, podendo tornar economicamente inviável a reciclagem, devendo-se então buscar aplicações que possibilitem a utilização desse material de origem heterogênea e com características diferentes do reciclado em canteiro.

O RCD fornecido pela GR 2 é misto, com diversas fases presentes, como argamassa, tijolos, blocos cerâmicos, concreto e rochas.

Segundo Cabral (2007), três constituintes representam mais de 70% de todo o resíduo de construção e demolição, em todas as cidades do país, de onde se têm os dados da caracterização desses resíduos, os quais são cerâmica vermelha, argamassa e concreto.

a) Cerâmica vermelha: os materiais cerâmicos de alvenarias em geral, representam uma fração importante do volume total de RCD.

b) Argamassas: As argamassas são frações muito presentes nos resíduos de construção e demolição, entre elas, as mais presentes, normalmente, são as argamassas de cal e cimento e argamassas de cimento.

c) Concretos: O concreto é considerado o material mais nobre encontrado em RCD, principalmente pela sua composição conter elevado teor de material pétreo e pelo fato de poder ser mais bem reutilizado para produção de novos concretos e argamassas. Segundo Miranda (2005), quando devidamente reciclados, os resíduos de cerâmica vermelha podem ser aplicados em aterros, como bases e sub-bases de pavimentos e materiais de enchimento, na fabricação de pavimento asfáltico ou utilizados na correção de pH de solos. Em usos mais nobres, pode-se citar a fabricação de vasos ornamentais, tijolos maciços e argamassas não estruturais. Todavia, dificilmente resíduos de cerâmica vermelha estarão isentos de cal, sobretudo se forem de alvenarias ou de revestimentos cerâmicos antigos. Muito comumente, esses resíduos estão associados a argamassas de assentamento ou de revestimento, ou ainda argamassas colas.

Assim sendo, em função da sua origem, o agregado reciclado pode ser definido como material heterogêneo. Sua composição varia de uma região para outra e na própria unidade recicladora. Isso se deve por ser um resíduo produzido num setor que envolve uma grande variedade de técnicas, métodos e materiais. Além disso, a dificuldade de separação na origem (obras de construção e demolição) dificulta a sua padronização.

De acordo com Lima e Leite (2012), muitos autores internacionais investigam a reutilização de agregados provenientes de concreto. No entanto, no Brasil, a maior parte dos resíduos de construção e demolição é composta de tijolos, blocos cerâmicos, telha cerâmica e argamassa.

Para a utilização dos agregados reciclados, Mehta e Monteiro (2008) consideram como características importantes a se conhecer: porosidade, composição granulométrica, absorção de água, forma e textura superficial das partículas, resistência à compressão, módulo de elasticidade e os tipos de substâncias deletérias presentes. Essas características serão abordadas no seguinte capítulo.