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OS TRABALHADORES: AS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO E SUBORDINAÇÃO NO SETOR FECULEIRO

95Agricultor 13 Olho junto

Agricultor 14 - Fécula branca Agricultor 15 - Fécula branca Agricultor 16 - Cascudinha e espeto

Agricultor 17 - Fécula branca e nega maluca Agricultor 18 - Fécula branca e nega maluca Agricultor 19 - Espeto

Agricultor 20 - Espeto e cascudinha

Agricultor 21 - Fécula branca, cascudinha, espeto e olho junto Agricultor 22 - IAC 90 e a cascudinha

Agricultor 23 - Fécula branca Agricultor 24 - Fécula branca

Agricultor 25 - Fécula branca, nega maluca e olho junto Agricultor 26 - Fécula branca e nega maluca

Agricultor 27 - Fécula branca

Agricultor 28 - Fécula branca e nega maluca Agricultor 29 - Cascudinha

Agricultor 30 - Fécula branca e nega maluca Fonte: Trabalho de campo, julho de 2011.

Existem diversas variedades cultivadas no Mato Grosso do Sul, desde as chamadas mandiocas mansas até as denominadas bravas. O que leva a essa deinição da mandioca ser mansa ou bra- va é o teor de ácido cianídrico contido na raiz, pois, quando o teor passa de 100 gramas por tonelada, é considerada mandioca brava e nociva aos seres humanos e animais, sendo destinada geralmente ao uso nas indústrias, ou até mesmo para o consumo de animais quando a raiz é desidratada após 24 horas. Além disso, após passar por processamento industrial – visto que o ácido cianídrico é reti- rado no processamento industrial – a massa e a casca das raízes podem ser usadas na alimentação de animais, principalmente para

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o gado leiteiro. Após passar por esse processamento industrial, a fécula torna-se alimento humano, independentemente da mandioca beneiciada ser classiicada como brava ou mansa.

A mandioca denominada mansa tanto pode ser utilizada pela indústria quanto no uso culinário. Os produtores que vendem man- dioca na feira utilizam chamada mansa. Mas, a mandioca mansa pode ser empregada na indústria, desde que tenha coloração clara e bom teor de amido. Pelo fato da mandioca ser plantada em quase todo o planeta, entre as latitudes 30º Norte e 30º Sul, existem mui- tas espécies no mundo. Em torno de 8.500 variedades já foram ca- talogadas, das quais 7.500 na América do Sul, e, somente no Brasil, nos centros de melhoramento genético, já existem mais de 3.000 variedades catalogadas. Isso conigura o Brasil com grande número de variedades, pois todos os estados, em maior ou menor grau, cul- tivam mandioca (LORENZ e DIAS, 1993).

No estudo feito em Costa (2008), com uma amostra de 30 agricultores plantadores de mandioca, as principais variedades de mandioca utilizadas em seus plantios foram: fécula branca, olho junto, espeto, cascudinha, amarelinha, IAC 15. No nosso estudo atu- al, como se pode ver no quadro 8, as principais variedades citadas pelos agricultores em suas plantações são: Fécula Branca, Espeto, Cascudinha, Olho Junto, Nega Maluca e IAC 90. Vemos manuten- ção das mesmas variedades sendo utilizadas, com uma pequena mudança que se apresenta pela ausência da plantação da espécie Amarelinha e da IAC 15. Da primeira, sabemos que é utilizada mais no ramo culinário por ser uma variedade mansa e com cor escura, o que diiculta o processamento industrial, visto que se exige bran- cura da fécula. A IAC 15, encontrada pela primeira amostra, assim como a IAC 90, encontrada na nossa amostra atual, é pouco utiliza- da pelos agricultores.

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Outra mudança na utilização dessas espécies certamente se dá com a espécie cascudinha que, apesar de ter alta produtividade segundo os agricultores entrevistados, está sofrendo uma baixa em até 10% de seu preço no momento da venda. Isto ocorre em fun- ção da diiculdade de extração do amido identiicado na balança hidrostática, pelas indústrias, visto que as máquinas não estão con- seguindo extrair o teor de amido identiicado dessa espécie. Assim, os agricultores avisados já não estão plantando mais essa espécie Cascudinha em suas atuais plantações.

As ações das fecularias determinam de certa forma, o que os agricultores irão plantar, o que causa certa especialização, ao passo que as relações entre fecularias e agricultores se articulam para re- alizar adaptações no setor.

Tempo de trabalho do agricultor com a atividade mandioqueira

Os agricultores que plantam mandioca em Mato Grosso do Sul, em sua maioria, têm tradição de cultivo, pois são pessoas que vieram de pais oriundos do Nordeste brasileiro, do Sul – como Pa- raná e Santa Catarina – e do Sudeste, principalmente de São Paulo, ou são descendentes. Em relação ao tempo de experiência com o cultivo da mandioca, 13% dos agricultores responderam possuir até três anos de experiência. 37% airmaram possuir de 4 a 7 anos de experiência. 20% possuem experiência de 8 a 10 anos e um per- centual de 30% possui mais de 10 anos de experiência. 50% dos entrevistados possuem experiência superior a 8 anos de plantio da

mandioca (TRABALHO DE CAMPO, JULHO DE 2011). (Na pesquisa

feita em Costa (2008), esse número era de 53%).

Percebemos que uma grande parte dos agricultores não se conforma em não ter o acesso à terra, mesmo que, para isso, te-

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nham de pagar pela renda da terra para dela tirar uma pequena fra- ção de renda para sua manutenção e de sua família, o que evidencia a resistência e insistência do homem do campo em manter uma relação com a terra e dela tirar o seu sustento.

Caracterização fundiária e plantação

Dos 14 agricultores que plantam mandioca em terras pró- prias, 29% (4 agricultores) ocupam até 10 hectares com a plantação de mandioca. Dos 11 a 30 hectares ocupados com cultivo de man- dioca, apenas 21% (3 agricultores) correspondem a esse número. De 31 a 50 hectares, apenas 29% (4 agricultores), em 51 a 100 hec- tares, nenhum produtor dessa amostra se apresentou, mas, acima de 100 hectares, temos 21%, ou seja, 3 agricultores ocupam essa extensão de área com o plantio da mandioca. Podemos observar que a maioria dos agricultores que cultiva mandioca ocupa peque- nas áreas com esse cultivo. Nesta amostragem, 79% (11 agriculto- res) dos produtores de mandioca que plantam em terras próprias ocupam áreas abaixo de 100 hectares. É importante lembrarmos que esses agricultores pertencem ao grupo mais bem estruturado da pesquisa, pois possuem terras próprias (TRABALHO DE CAM- PO, JULHO DE 2011).

Em relação aos agricultores sem-terras que arrendam para produzir como agricultores familiares, número correspondente a 16 agricultores em nossa pesquisa, o peril é parecido: 94% plantam em áreas arrendadas de até 100 hectares (TRABALHO DE CAMPO, JULHO DE 2011).

Plantação, técnica e produção

A plantação é feita de forma mecanizada por meio de uma plantadeira, uma vez que o procedimento manual, quando se trata

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de terrenos acima de três hectares, é muito laborioso e exige muita mão de obra. Em função disso, os agricultores utilizam plantadeiras próprias ou alugadas para executar a tarefa. O período do ano para a plantação de mandioca varia dos meses de abril a outubro. Mas em um trabalho realizado por Valle (2006), concluiu-se que o plan- tio entre os meses de maio a agosto gera vantagens por haver “(...) menor incidência de ervas daninhas, melhor controle da erosão, maior controle de pragas e moléstias e aumento da produtividade” (VALLE, 2006, p.83).

Nos municípios da região do Vale do Ivinhema15, onde as

ações das fecularias são mais intensas, os grupos feculeiros trou- xeram de outras unidades da federação manivas de mandioca e distribuíram gratuitamente a agricultores da região, a im de, no momento da compra da raiz, obter uma raiz com menor teor de água e maior peso possível, exigindo a colheita acima de 12 meses, de um a dois ciclos (VALLE, 2006). Observe na foto 1, manivas de mandioca para o plantio.