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CAPÍTULO I ABORDAGEM TEÓRICA DAS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO NÃO

1.2 Evolução da agricultura camponesa no Brasil

1.2.2 Agricultura camponesa no Brasil de Ariovaldo Umbelino de Oliveira

O tema proposto nesta obra intitulada “Agricultura camponesa no Brasil” consiste na necessidade fundamental em nosso país de se compreender o desenvolvimento do modo capitalista de produção aqui na nossa formação social capitalista. Segundo Oliveira (2001, p. 11) “a compreensão sobre o desenvolvimento desigual do modo capitalista de produção só é possível se articulada com relações sociais não capitalistas. A unidade deve ser uma unidade na diversidade. E, o campo tem sido um lugar marcado por evidenciar tais contextualidades. Assim,

Se, de um lado, o capitalismo avançou em termos gerais por todo o território brasileiro, estabelecendo relações de produção especificamente capitalistas, promovendo a expropriação total do trabalhador brasileiro no campo, colocando-o nu, ou seja, desprovido de todos os meios de produção; de outro, as relações de produção não-capitalistas, como o trabalho familiar praticado pelo pequeno lavrador camponês, também avançaram mais. Essa contradição tem nos colocado frente a situações em que há a fusão entre a pessoa do proprietário da terra e a do capitalista; e também frente à subordinação da produção camponesa, pelo capital, que sujeita e expropria a renda da terra. E, mais que isso, expropria praticamente todo excedente produzido, reduzindo o rendimento do camponês ao mínimo necessário à sua reprodução física.(OLIVEIRA, 2001, p. 11)

Dessa maneira, segundo Oliveira, o capital sujeita a renda da terra e em seguida, subjuga o trabalho nela praticado. A luta pela propriedade da terra no Brasil evidencia um panorama inversamente proporcional às previsões da expansão do modo capitalista de produção sobre a agricultura. Ao passo que avança a concentração fundiária e a proletarização da força produtiva, têm-se registrado um aumento de trabalhadores familiares no campo. Esta relação contraditória e desigual é eminentemente motivado pelo próprio desenvolvimento capitalista. (OLIVEIRA, 2001, p. 15)

A utilização destas relações de trabalho familiar, de um lado, poupa aos capitalistas o investimento em mão de obra, de outro, possibilita a apropriação do excedente produzido, transformando a renda da terra camponesa em capital. Dessa maneira, Oliveira (2001, p. 20) compreende que o capital não expande totalmente o trabalho assalariado no campo, assim como, não elimina totalmente do campo o trabalho familiar camponês. Na verdade, segundo este autor, ele - o capital - cria e o recria para que o fruto de sua produção seja capaz de reproduzir novos capitalistas.

Segundo Oliveira (2001, p. 25), esse conjunto de contradições que marcam o processo de desenvolvimento capitalista é revelador do domínio do trabalho assalariado nas grandes e médias propriedades e, do predomínio do trabalho familiar nas pequenas unidades de produção. Também é revelador do aumento do trabalho familiar no campo brasileiro, ao mesmo tempo em que se amplia o trabalho assalariado, não que o primeiro seja funcional e complementar ao segundo, mas devido as contradições internas do próprio modo capitalista de produção.

Para Oliveira (2001, p. 32), essa desigualdade está assentada no momento histórico de ocupação de cada unidade federativa. Consequentemente, a realidade de todo território nacional consiste na ampla concentração fundiária com áreas superior a 1000 hectares sob o domínio de uma minoria burguesa, enquanto os camponeses, a grande maioria da população do campo, estão numericamente concentrados em unidades produtivas inferior a 10 hectares e, mais grave ainda, um grande contingente populacional estão sem a terra.

É nesse processo dialético de reprodução ampliada do capital no espaço agrário brasileiro, ora contraposto pela força de trabalho, ora pela concentração de terras, que percebemos o campesinato como um movimento de dentro do modo capitalista de produção. Vendo como uma classe de dentro, este autor converge com o pensamento de Martins (apud Oliveira, 2001, p. 47) de que a gênese do nosso campesinato está inserida dentro do modo capitalista de produção e, mesmo com a constante expulsão da terra, o camponês vai lutar para entrar novamente. Dessa maneira, a reprodução social da agricultura camponesa dentro do modo capitalista de produção é contraditória e combinada, do próprio sistema capitalista.

Entendemos, portanto, que o desenvolvimento do modo capitalista de produção no campo se dá primeiro e fundamentalmente pela sujeição da renda da terra ao capital, quer pela compra da terra para explorar ou vender, quer pela subordinação à produção do tipo camponês. O fundamental para o capital é a sujeição da renda da terra, pois a partir daí, ele tem as condições necessárias para sujeitar também o trabalho que se dá na terra. (OLIVEIRA, 2001, p. 49)

Para essa concepção de sujeição da terra e do trabalho familiar ao capital, Oliveira (2001, p. 55-56), compreende que o primeiro elemento da produção camponesa a ser

analisado é a força de trabalho. Para o autor, o trabalho familiar é o motor do processo de trabalho na produção camponesa. É também derivado desta característica que a família abre a possibilidade da combinação de outras relações de trabalho no interior da unidade produtiva, como por exemplo, a ajuda mútua, a parceria, o trabalho acessório e o trabalho assalariado. Porém, tais combinações parte do entendimento que a força de trabalho familiar na unidade produtiva é insuficiente para assegurar as necessidades básica da família.

Oliveira define as características de cada uma dessas relações. Segundo este autor, a ajuda mútua aparece na unidade produtiva sob diferentes formas, sendo a mais comum o mutirão e a troca de dias. Ela é a solução encontrada para realizar o trabalho que a família não conseguiria realizar. A parceria condiz na dificuldade de produção por algum motivador, o que leva o camponês à um acordo, da força de trabalho, externo a sua unidade produtiva dividindo com o outro as despesas e os lucros resultante deste labor. O trabalho acessório é a capacidade do camponês de transformar periodicamente em trabalhador assalariado para aquisição de renda suplementar à da unidade produtiva. O trabalho assalariado, refere-se ao trabalho contratado temporariamente dentro da unidade produtiva em momentos de ciclos agrícolas em que a família sozinha não é suficiente para execução de todas as atividades. (OLIVEIRA, 2001, p. 56-58)

Outro elemento importante da produção camponesa segundo Oliveira (2001, p. 60-61) é a propriedade da terra. Esta é para este autor “a propriedade direta de instrumentos de trabalho que pertence ao próprio trabalhador. É pois terra de trabalho”. A propriedade familiar camponesa é diferente da propriedade capitalista da terra. Ela não é regulada pela necessidade de lucro do capital. Ela não provém da exploração de trabalhadores expropriados, mas, parte do seu trabalho é apropriado pelo capital, e isso significa a “sujeição da renda da terra ao capital”.

A propriedade dos meios de produção compreenderia o terceiro componente da produção camponesa. Segundo o autor são na maioria das vezes adquiridos externo a unidade de produção familiar, o que constitui, portanto, uma mercadoria. E é a necessidade de acesso desta mercadoria que o camponês trava relação com o capital. É por meio deste processo que parte da renda é drenada para o capital financeiro por intermédio de empréstimos e para o capital industrial pelo acesso barato da produção camponesa. (OLIVEIRA, 2001, p. 63)

Contudo, o que evidencia e fortalece a agricultura camponesa no Brasil compreende não somente uma classe socialexterna ao modo de produção capitalista, na verdade o campesinato deve ser visto de dentro, a unidade deve ser uma unidade na diversidade, uma reprodução social e cultural desigual, capaz de reproduzir suas peculiaridades e assegurar a

sua manutenção nas gerações futuras por meio de readaptações, reinvenções ao modo na qual está inserido, mesmo que constantemente explorados, seja direto ou indiretamente, porém resguardados de suas características fundamentais: o trabalho familiar e a terra.