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Apesar do forte investimento brasileiro em iniciativas para o esverdeamento da agricultura familiar, faz-se necessário destacar a importância da produção extensiva ligada à monocultura, que faz parte da estratégia do agronegócio brasileiro, respondendo ao maior uso de terras no país (IRIGARAY, 2011).

Ainda de acordo com o Irigaray (2011), esse método produtivo “responde por um terço do PIB e 42% das exportações no Brasil”, no entanto, devido aos impactos dessa atividade e ao poder de barganha dos grandes produtores nacionais, as iniciativas brasileiras voltadas para o esverdeamento do setor agrícola têm se mostrado mais relacionadas com o incentivo à produção familiar sustentável. Romeiro (2011, p.127) afirma que

é preciso ter claro que a monocultura contraria uma regra básica na natureza, segundo a qual diversidade é sinônimo de estabilidade. Quanto mais simplificado for um determinado ecossistema, maior a necessidade de fontes exógenas de energia e matéria para manter o equilíbrio.

Por isso, a produção agrícola extensiva tende a causar distúrbios ambientais e a empregar mais fertilizantes e herbicidas químicos que degradam o solo, a água e o ar, contribuindo para a deterioração ambiental.

Por outro lado, Muçouçah (2009) afirma que a produção extensiva de etanol de cana-de-açúcar, apesar de produtiva e eficiente, não pode ser considerada verde, devido ao mau uso do solo e às más práticas do cultivo da cana-de-açúcar.

Para que o biocombustível seja considerado verde, “toda a cadeia de valor precisa garantir a sua sustentabilidade”, ou seja, “nenhumas das etapas de produção, manuseio ou transporte de biocombustível pode ser vista como destrutiva ecologicamente de nenhuma maneira” (GLENISTER; NUNES, 2011, p.4). Chum e outros (2015) consideram como melhor processo produtivo de biocombustível àquele que observa a preservação ambiental, a redução dos impactos ambientais e a eficiência no uso de recursos e energia.

A Secretaria da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (Brasil, 2014c) ressalta a importância que a agricultura familiar pode assumir

nas cadeias de energias renováveis do Brasil, em especial os biocombustíveis que podem ampliar a inclusão produtiva e a geração de renda no campo.

O Intergovernmental Panel on Climate Change alega que a substituição dos combustíveis fósseis por energia produzida a partir de matérias-primas agrícolas, a bioenergia, tem grande potencial mitigador das emissões de gases de efeito estufa (SMITH et al., 2007). De acordo com o mesmo relatório, “a contribuição da agricultura para o potencial de mitigação pela utilização de biocombustíveis depende dos preços relativos dos combustíveis e da balança comercial entre oferta e demanda”.

Visando explorar o potencial de desenvolvimento e inclusão social da agricultura familiar, em 2004 foi desenvolvido o Programa Nacional de Produção e uso do Biodiesel, que tem por objetivo “implementar de forma sustentável, tanto técnica, como economicamente, a produção e uso do Biodiesel, com enfoque na inclusão social e no desenvolvimento regional, via geração de emprego e renda” (BRASIL, 2015b).

Entre as medidas brasileiras para estimular a sustentabilidade na cadeia produtiva de açúcar, etanol e bioenergia (Etanol Verde), o Programa Bolsa Floresta, desenvolvido em São Paulo, opera através da adoção de um certificado de boas práticas ambientais do setor sucroenergético (YOUNG, 2012).

O autor ainda afirma que as instituições detentoras do Selo Verde, serão beneficiadas com “desoneração fiscal (isenção do ICMS) na compra de equipamentos para cogeração de energia a partir do bagaço de cana”, com o objetivo de estimular a cogeração para gerar excedentes de energia, passíveis de comercialização. Os benefícios aos produtores estão relacionados a publicidade positiva e as vantagens fiscais ao produtor que adotar medidas de boas práticas (BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO E O MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2012).

O estudo realizado no decorrer deste capítulo, motivou a conclusão de que a produção agrícola com bases sustentáveis e ecológicas é tangível e está sendo implementada em um número crescente de propriedades. As medidas governamentais de apoio ao setor mostram-se importantes para conduzir essa transição verde.

A agricultura familiar apresenta grande potencial para o esverdeamento do setor agrícola, devido a sua grande participação no abastecimento do mercado

nacional de alimentos, assumindo práticas de policultura, integração com a pecuária e sistema de plantio direto, recebendo investimentos e incentivos governamentais para ampliar as práticas verdes e promover o desenvolvimento nas áreas rurais.

As práticas agroecológicas desenvolvidas pela agricultura familiar, além de beneficiar o meio ambiente também melhoram a saúde humana devido a redução dos agrotóxicos, herbicidas e fertilizantes químicos.

O próximo capítulo dedica-se ao setor de biocombustíveis líquidos, apresentando o setor de etanol e biodiesel, e seus impactos ambientais e sociais, além de apresentar medidas de boas práticas no setor.

5 BIOCOMBUSTÍVEIS NO BRASIL

Atendendo ao terceiro objetivo desta pesquisa, o capítulo 5 pretende caracterizar o setor de biocombustíveis no Brasil e analisar as práticas verdes. De acordo com a Petrobrás (2007, p.7) biocombustíveis são “combustíveis produzidos a partir da biomassa (matéria orgânica), isto é, de fontes renováveis”. Entre as fontes de biocombustíveis mais utilizadas no mundo para a produção de álcool, etanol e biodiesel, estão: a cana-de-açúcar, o milho, a soja, a semente de girassol, a madeira e a celulose.

A Lei nº 9.478, de 06 de Agosto de 1997 define biocombustível como:

substância derivada de biomassa renovável, tal como biodiesel, etanol e outras substâncias estabelecidas em regulamento da ANP, que pode ser empregada diretamente ou mediante alterações em motores a combustão interna ou para outro tipo de geração de energia, podendo substituir parcial ou totalmente combustíveis de origem fóssil (BRASIL, 1997).

A adição de oxigênio nos biocombustíveis, em especial no etanol e biodiesel, auxiliam a reduzir as emissões de CO (monóxido de carbono) quando adicionados aos combustíveis fósseis, reduzindo a poluição resultante da combustão (PETROBRÁS, 2007).

Os biocombustíveis podem ser a resposta para as atuais crises econômicas e energéticas internacionais, pois auxiliam na promoção do desenvolvimento econômico através da geração de renda, especialmente nas áreas rurais, aumentando o número de empregos, além de ser uma fonte de energia renovável e abundantemente disponível em território nacional (JOLY et al., 2015; DIAZ-CHAVEZ et al., 2015)

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