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As pesquisas acerca da questão agrária no Brasil têm aumentado nas últimas décadas, principalmente a partir da década de 1990, gerando um rico e intenso debate em eventos científicos e publicações especializadas. O crescimento significativo de estudos em torno dessa temática se justifica pela importância que a agricultura familiar assumiu na produção de alimentos para o abastecimento da população urbana, pelo aumento dos conflitos sociais por terra e também pelas desvantagens da agricultura familiar frente à agricultura patronal moderna que vem crescendo nos últimos anos. Hespanhol (2000) e Mendes (2005) ressaltam que as discussões acerca da produção rural familiar são motivadas pela grande expectativa criada em torno desse segmento, dado o seu potencial na produção de gêneros alimentícios com baixo preço para atender ao mercado interno, além da capacidade de geração de emprego e renda no meio rural.

As teorias marxistas, como a de Kautsky (1980) e a de Lênin (1988), a partir da teoria da diferenciação social, previam o trágico fim da pequena produção rural familiar à medida que o capitalismo se expandisse para o campo, sendo os camponeses expropriados e, consequentemente, tornando-se assalariados3. Kautsky (1980), por exemplo, analisando o campesinato na Rússia, mostrou a separação entre o patronato russo e os trabalhadores, como também enfatizou a inferioridade da pequena exploração frente à grande exploração. O autor mostrou as condições de extrema precariedade das pequenas explorações russas, tanto no que diz respeito à produtividade quanto à qualidade de vida. Destacou a superioridade da grande exploração capitalista e a inutilidade de se procurar frear o movimento invencível de expropriação das pequenas unidades de produção rural que o capitalismo promove. Nessa perspectiva, as grandes explorações, capazes de absorver os recursos tecnológicos e demais insumos agrícolas e fundamentados no trabalho assalariado, seriam o modelo de propriedade adequado para atender ao crescimento da atividade industrial e da população urbana, conjugando uma oferta regular e em larga escala de matérias-primas e alimentos.

Kautsky (1980) ainda salienta que o lugar onde os camponeses sobreviviam não era sinônimo de eficiência, mas de superexploração, pois vendiam seus produtos a preços que não cobriam a própria subsistência. Esses fatores, de acordo com o citado autor, ocasionariam um crescente assalariamento na agricultura e, consequentemente, o fim da exploração de base familiar. Mas, a experiência atual mostra o contrário: não houve a predominância do

assalariamento, nem tampouco o fim da exploração rural familiar. Esta ainda resiste, assumindo um papel dentro do próprio modo de produção capitalista, conforme salientou Abramovay (1992), Guanziroli, et al. (2001) e Mendes (2005).

No Brasil, apesar de a agricultura familiar ter assumido tamanha importância dentro do modo de produção capitalista (produção de alimentos para abastecer a população na cidade, geração de emprego e renda, manutenção das pessoas ocupadas no campo), ainda padece com uma série de fatores: falta de políticas agrárias e agrícolas, baixo valor agregado aos seus produtos, à expropriação e envelhecimento da família rural, perda de lavouras face às oscilações climáticas, dificuldades de comercializar devido à concorrência desleal, a entrada de produtos industrializados no mercado e a consequente mudança dos hábitos alimentares da população brasileira e acúmulo de dívidas que levou muitos produtores à ruína. Mesmo diante de tais dificuldades, esse grupo ainda resiste, criando novas alternativas de produção (diversificação da produção), enquanto outros ingressam na luta por melhores condições de sobrevivência e de produção.

O problema acerca da agricultura familiar hoje no país, diante da constante precarização das condições de vida, está vinculado à forma como se deu seu desenvolvimento às margens da sociedade, ao longo da história da formação econômica do Brasil. Desde o início da colonização lusitana do território brasileiro, à agricultura altamente moderna4, as políticas agrícolas e agrárias sempre estiveram voltadas para os interesses das oligarquias fundiárias e do mercado externo e, consequentemente, ao fortalecimento do capitalismo no campo, deixando de lado a agricultura familiar, fragilizando-a e tornando-a dependente econômica e socialmente das políticas compensatórias do Estado (MENDES, 2005).

Estudos como os de Prado Júnior (1962), Martins (1976), Guimarães (1982), Mendonça (2004) e Mendes (2005) trazem várias contribuições para compreender os elementos que influenciaram na atual estrutura do espaço agrário brasileiro. De posse desses significativos estudos sobre questão, abordaremos o Desenvolvimento de Comunidades Rurais no Brasil a partir da década de 1950, que foi uma política trazida de fora para dentro, sob orientação dos Estados Unidos da América, como forma de fortalecer o capitalismo nos países periféricos devido ao temor da expansão do socialismo.

Assim, o descaso histórico com a agricultura familiar, dada a opção fundiária que o Estado brasileiro assumiu ao longo de seu desenvolvimento econômico, contribuiu não só

4 A agricultura moderna se caracteriza pela implantação de tecnologias e uso de produtos químicos, que

para a concentração de terras nas mãos de uma minoria, mas também, para a efetivação da luta pela sobrevivência e pelo direito de reconquistar a terra. Exemplo disso é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que se estende por todo o território brasileiro na luta pela terra.

Diferentemente do Brasil, nos Estados Unidos, na Europa e também no Japão a forte presença da agricultura familiar e a efetivação da reforma agrária constituíram fatores decisivos na estruturação de suas economias. Abramovay (1992), Lamarche (1993) e Guanziroli, et al. (2001) ressaltam a forte influência que a agricultura familiar teve nas economias norte-americana, europeia e japonesa. A organização do espaço agrário nessas economias baseou-se no acesso à terra que no caso do oeste dos Estados Unidos, promoveu a abertura das fronteiras aos farmers. O dinamismo da agricultura, nessas sociedades, garantiu uma estrutura mais organizada e equilibrada do espaço social rural.

A estruturação do espaço agrário nos Estados Unidos foi baseada no modelo dinamarquês. As unidades familiares de produção eram abertas às incorporações de inovações tecnológicas com o objetivo de baixar o preço dos alimentos e liberar recursos para aquisição de produtos industriais, visto que havia um grande número de consumidores no campo. Dessa forma, criaram-se nesses países unidades de pequeno porte com elevada produção e produtividade (ABRAMOVAY, 1992). No Brasil, Mendes (2005) salienta que,

A situação é inversa. Tanto a política de colonização de fronteiras e a atual política de assentamentos não foram capazes de promover mudanças significativas na estrutura agrária brasileira. A produção familiar foi significativamente marcada pelas origens coloniais da economia e da sociedade brasileira, assentada na grande propriedade, nas monocultoras de exportação e no trabalho cativo. (MENDES, 2005, p. 35).

Nesse pensamento, Abramovay (1992) afirma que o Brasil é marcado por uma bimodalidade tecnológica. De um lado, as explorações modernas batem recorde na produção das supersafras e na tecnificação acelerada dos setores integrados ao complexo agroindustrial. De outro, destacam-se, a extrema pobreza da população rural, o atraso econômico, social e político nas regiões onde predomina o latifúndio, o coronelismo e a “lei do mais forte”.

Com o intuito de reafirmarmos a importância que a agricultura familiar assume no Brasil, ressaltamos os dados apresentados em 1996 pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), e pelo Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). Os dados revelaram que aproximadamente, 85% do total de propriedades rurais do país pertencem a grupos familiares. São 13,8 milhões de pessoas que têm na atividade agrícola sua única alternativa de sobrevivência. Cerca de 4,1 milhões de

estabelecimentos familiares, o que corresponde a 77% da população ocupada, concentra-se na agricultura. Cerca de 60% dos alimentos consumidos pela população brasileira é oriundo da agricultura familiar, como mostra o gráfico 1.

GRÁFICO 1 – Percentual do Valor Bruto da Produção nos estabelecimentos familiares - 1996.

Fonte: FAO/INCRA, 1996. Org.: SENETRA, A.

De acordo com o estudo do FAO/INCRA (1996), quase 40% do Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) é produzido por agricultores familiares. O estudo mostra que 24% do VBP total da pecuária de corte, 52% da pecuária de leite, 58% dos suínos e 40% das aves e ovos advêm da agricultura familiar. Esse grupo de produtores ainda é responsável por 33% do algodão, 31% do arroz, 72% da cebola, 67% do feijão, 97% do fumo, 84% da mandioca, 49% do milho, 32% da soja, 46% do trigo, 58% da banana, 27% da laranja, 47% da uva, 25% do café e ainda 10% do VBP da cana-de-açúcar, como mostra o gráfico 1. Esses dados comprovam a importância da agricultura familiar para a sociedade e para a diminuição das desigualdades sociais no campo brasileiro.

Por meio de um estudo do Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (NEAD), outro fator curioso que nos chama atenção em relação à agricultura familiar, é a responsabilidade desta por 33% do Produto Interno Bruto (PIB) Nacional, como mostra o gráfico 2. 25 31 67 97 84 49 32 24 52 58 40 Em % do VBP

GRÁFICO 2 - PIB por tipo de produtor no Brasil - 2006.

Fonte: NEAD/MDA, 2006. Org.: SENETRA, A.

A partir desses dados, é mister ressaltarmos as reflexões de Soares (2000) e Maluf (2003). Para esses autores, a agricultura familiar assume grande importância na segurança alimentar da família e da sociedade. Além disso, contribui também para a preservação dos recursos naturais e para a reprodução socioeconômica e cultural das famílias rurais. Os autores ressaltam ainda que parte da insegurança alimentar do Brasil provém da inviabilização da agricultura familiar. Desta forma, Soares (2000) salienta que,

O descaso histórico com esse setor da agricultura, seja através da falta de financiamento, ou da falta de infra-estrutura de produção e comercialização, ou da ausência de políticas públicas de saúde e educação, leva à saída acelerada de agricultores do campo para a cidade. (SOARES, 2000, p. 44).

Esse autor aborda questões fundamentais no que se refere aos principais problemas agrários no Brasil, como a falta de políticas públicas que dê condições para que o agricultor familiar produza e coloque seus produtos no mercado e a falta de acesso à saúde e à educação. Esses fatores têm contribuído para a expulsão permanente dos camponeses para a cidade, em busca de trabalho e renda, principalmente da classe jovem, como percebemos na comunidade em estudo. Reforçando tal idéia, Cândido (1998) e Wanderley (2000) salientam o movimento de camponeses fugindo de situações instáveis de miséria e exploração. Ainda, nessa mesma linha de raciocínio, Soares (2000) mostra que,

33% 67%

É estratégico o papel desempenhado pela agricultura familiar para a segurança alimentar. Tanto pelo lado da produção de alimentos quanto pelo efeito distribuidor de renda deste setor da agricultura, criando condições para o acesso ao alimento. Ao se elaborar e executar políticas públicas, inclusive a política comercial, deve-se levar em conta esta função [...] o reconhecimento da multifuncionalidade da agricultura familiar pode significar que seu tratamento não pode ser unicamente comercial ou de mercado. A agricultura familiar provê um conjunto de serviços e bens públicos, tangíveis e intangíveis de elevado valor para a sociedade em geral. Os meros instrumentos de mercado não são suficientes para dar conta da complexidade do desenvolvimento da agricultura familiar em seus diversos aspectos. (SOARES, 2000, p. 44-47).

Nesse sentido, Mendes (2005), analisando as comunidades rurais em Catalão (GO), ressalta a importância da produção rural familiar, no tocante à diminuição dos problemas sociais e econômicos, bem como a redução das desigualdades sociais no campo face às inovações tecnológicas, geração de empregos, melhoria da renda no meio rural, diminuição dos conflitos sociais e do êxodo rural. A autora comenta, sobretudo, que os pequenos produtores dispõem de condições desvantajosas, quando comparadas com os meios da agricultura moderna.

Com essa idéia, Graziano da Silva (1998) enfatiza que a agricultura familiar conheceu na década de 1980, entre os governos Figueiredo e Collor, a maior perversidade da história econômica brasileira. Nesse período, a ação do Estado objetivava diminuir o consumo interno, dando ênfase maior para a exportação, gerando saldos comerciais crescentes e fazendo frente aos serviços da dívida externa, que já ultrapassava a casa dos US$80 bilhões. Esses fatores refletiram na agricultura, privilegiando os interesses da elite fundiária, que possuía terra e dinheiro para produzir. A partir dessa premissa, o autor denomina a década de 1980 como “década perversa”, dados os baixos investimentos na agricultura familiar e o consequente aumento dos movimentos sociais (camponeses, operários, estudantes).

Corbucci (1995) contempla as vantagens da agricultura familiar brasileira no que diz respeito à absorção de mão-de-obra e aos resultados econômicos, mas salienta que sua reprodução se dá em condições desvantajosas, pois continua sendo tratada através de políticas compensatórias, desqualificando sua contribuição socioeconômica e ambiental. O Estado, nas suas diferentes esferas (federal, estadual e municipal), “tende a direcionar seus esforços e recursos (quando o fazem) para a agricultura familiar dentro do enfoque social, mais precisamente do assistencialismo” (CORBUCCI, 1995, p. 41, parêntese da autora). Nesse sentido, essa autora coloca que minimizar a importância da agricultura familiar é desconsiderar as particularidades desse segmento no desenvolvimento econômico do país e em sua estabilidade social e econômica.

processo de Reforma Agrária, pois, como aconteceu em economias desenvolvidas, tais medidas possibilitam a construção de uma nova sociedade mais justa e igualitária. Com base em experiências de vários países desenvolvidos como Japão, Estados Unidos e os países da Europa, os autores ressaltam a viabilidade desse segmento e sua importância no plano econômico e social. Assim, Mendes (2005) defende que,

As cidades precisam da produção de alimentos fornecidos pelas pequenas propriedades rurais e esse estrato de produtores carece de políticas agrícolas que viabilizem sua produção – e suas condições de sobrevivência. Todas as decisões inerentes a esse setor são elaboradas por segmentos – órgãos institucionais – que nem sempre possuem autoridade/conhecimento, competência, dignidade e interesses para tais cargos e decisões. As necessidades mais emergenciais desses produtores têm sido ignoradas em nível de todas as instâncias governamentais, comprometendo diretamente a qualidade de vida - a dignidade dos trabalhadores rurais. (MENDES, 2005, p. 48).

Pensando nessa questão, na década de 1990 foram criadas algumas políticas públicas, dentre elas, o Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), cujo objetivo era o fortalecimento da agricultura familiar. Foram dois os fatores principais que motivaram o surgimento dessas políticas públicas: a crescente necessidade de intervenção estatal frente ao quadro crescente de exclusão social e o fortalecimento dos movimentos sociais rurais. O crescimento da miséria, da violência e da insegurança nas grandes cidades fez com que também ampliasse o apoio da sociedade urbana às políticas de valorização do meio rural.

Nessa conjuntura, alguns pesquisadores da questão agrária têm estudado a influência da industrialização na desarticulação das formas tradicionais de produção no campo. Schneider (1999) diz que as atividades dos colonos no Rio Grande do Sul sofreram grandes alterações ao mesmo tempo em que avançou o processo de industrialização. O autor acredita que a desarticulação do modo de vida tradicional e a emergência das relações capitalistas de produção são decorrentes não só das transformações engendradas pelos processos sociais de industrialização difusa do setor coureiro-calçadista como também, das mudanças nas estratégias de produção da agricultura familiar.

Assim, as formas pluriativas de produzir vêm sendo constantemente debatidas no meio acadêmico. Autores como Schneider (1999), Carneiro (2001), Wanderley (2000), Graziano da Silva (2002), Rua (2002/2005), e Pessôa (2003) acreditam que essas “novas” atividades no meio rural são alternativas de complementar a renda familiar no campo. Esse debate tornou-se intenso a partir da década de 1980, frente à crise da superprodução européia. Pessôa (2003) acredita que essa “nova” forma de produção no campo tornou-se importante,

quando ressaltado o significado que essas atividades ocupam no conjunto da economia familiar como estratégias de sobrevivência.

Essa diversificação de atividades no espaço agrário, na grande maioria das vezes, está relacionada à queda dos rendimentos médios dos agricultores face às dificuldades econômicas que a agricultura tem passado por uma ausência de política agrícola no país nas últimas três décadas, e a liberação de mão-de-obra agrícola, como resultado do uso cada vez mais acentuado de máquinas nos cultivos modernos (café, soja, cana-de-açúcar). (PESSÔA, 2003, p. 118).

Dentre essas “novas” atividades agrícolas e não-agrícolas desenvolvidas no campo, Graziano da Silva (2002) destaca a criação de animais silvestres, o turismo rural e hotéis- fazendas, a horticultura diversificada, a agricultura orgânica, a floricultura, a piscicultura, leilões, exposições e outras.

As ocupações não-agrícolas no campo têm gerado várias controvérsias entre os autores citados. Alguns autores como Graziano da Silva (2002), têm mostrado o projeto rurbano, no qual já não existe mais diferença entre o urbano e o rural. Considera, porém que há ainda no rural muito sinônimo de atraso, vestígio do tipo de colonização implantado no país. Opondo-se a essa ideia, Carneiro (2001) ressalta que a nova relação de produção no campo não significa a homogeneização do rural e do urbano, mas uma valorização das características do rural.

Diante dessas considerações, acreditamos na importância da agricultura familiar para o desenvolvimento econômico brasileiro através da diminuição da pobreza e dos conflitos no campo. Apesar de tal relevância no contexto da economia brasileira, a agricultura familiar se desenvolve sob condições desvantajosas. As políticas implementadas pelo Estado têm sido de caráter assistencialista, não resolvendo, dessa forma, os problemas mais urgentes dos produtores.

2 FORMAÇÃO TERRITORIAL E CULTURAL DO MUNICÍPIO DE PRUDENTÓPOLIS 2.1 OS IMIGRANTES

A imigração marcou a história do Brasil e do Paraná por suas contribuições à formação de uma sociedade multicultural. A chegada dos ucranianos, poloneses, russos, italianos, alemães, holandeses entre outros ocorreu dentro de um processo que se inicia desde período imperial intensificando-se no início da república.

Esse fenômeno se associa a diferentes conjunturas políticas e econômicas dos países que recebiam imigrantes e daqueles que os repeliam. Durante a segunda metade do século XIX, a escravidão no Brasil caminhou lentamente para sua extinção. Sucessivas leis ao lado da resistência escrava alertavam fazendeiros, donos de latifúndios de produção cafeeira e autoridades da Província do Paraná sobre a necessidade de diversificar a população e a produção agrícola, além de povoar áreas vazias e pouco habitadas, cobertas por florestas. Ao mesmo tempo, o capitalismo industrial se expandia e se consolidava. Ao comércio internacional, aos industriais e empresas de navegação, as imigrações transoceânicas foram importantes aos seus negócios (COSTENARO, 2013).

Ligados a essa questão havia argumentos de que a mão de obra europeia era apropriada, de que as regiões denominadas de “vazios demográficos” deveriam ser povoadas, enfim, as portas do Brasil deveriam ser escancaradas aos imigrantes. Nesse contexto foram se formando várias colônias,5 dentre elas a de Prudentópolis. O território foi sendo fatiado por linhas demarcadas que passariam a comportar os lotes destinados aos imigrantes.

A imigração ucraniana não deve ser estudada como um fenômeno isolado, pois é fruto de um processo histórico complexo, no qual diversos grupos imigraram para o Brasil e outros países, especialmente na América. Esse processo se articulou no Brasil às questões políticas e econômicas, relacionadas, mormente à abolição da escravidão, a transição desse regime de trabalho ao livre.

No âmbito do Paraná e das regiões do sul do Brasil, a imigração esteve mais bem articulada ao fator de povoamento de regiões vazias, que na realidade não eram e ao estabelecimento de pequenas propriedades geradoras de gêneros alimentícios pelos imigrantes

5 Nas plantas que demonstram a divisão dos lotes em Prudentópolis de 1896 e 1897 o termo colônia aparece para

colonos6 que deveriam produzir para si e o excedente destinar ao abastecimento. No caso do Paraná que envolvia um projeto de colonização voltado à pequena propriedade era enfatizada a instalação de famílias nas terras.7

A noção de vazio demográfico foi construída e por muitas vezes reproduzida, como uma forma de ocultar as áreas habitadas por grupos indígenas, muitas em conflitos por essas populações no Paraná. Essa noção foi construída inclusive, ancorada nas teorias de migrações populacionais e reproduzida nos livros didáticos entre os anos de 1950 e 1990, como bem explicitou Mota.

Os territórios habitados pelos índios já desde muito tempo eram denominados de

sertão, vazio demográfico ou terras devolutas. E junto com essa construção do espaço, o

imigrante aparecia como morigerado e laborioso. “Cria-se um vazio demográfico a ser ocupado pela colonização pioneira. Vazio criado pela expulsão ou eliminação das populações indígenas que, desse modo, são colocadas à margem da história” (MOTA, 1994, p. 15).

Entre os anos de 1808 a 1850, as políticas de colonização visavam, sobretudo, ocupar