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AGRICULTURA FAMILIAR

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estratégia acaba por consolidar os interesses do crescimento econômico sob a ótica da teoria do desenvolvimento sustentado. Parece que o planejamento no estado está mais uma vez voltado aos interesses da elite política, econômica e agroindustrial.O caminho está direcionado, nesse sentido, ao avanço do setor sucroalcooleiro.

O planejamento para a região Centro-Oeste enfatiza a gestão ambiental e a recuperação ambiental, a diversificação e adensamento das cadeias produtivas condensados em mais de 20 programas e projetos (MIN, 2006). Mas não aborda a agricultura familiar aniquilada pela Revolução Verde.

Pensar a sustentabilidade em Goiás necessariamente requer pensar as desigualdades regionais e as formas de zoneamento do estado, sobretudo no aspecto da agricultura familiar no campo. Portanto, reafirma-se que os rumos da agricultura atendem à pequena propriedade em segundo plano e privilegia o agronegócio de exportação.

1.4 AGRICULTURA FAMILIAR

Segundo Lamarche (1997), essa atividade de exploração familiar passou pelo crivo das profundas transformações nas ultimas décadas por meio de um caráter conservador da modernização agrícola de forma discriminatória, parcial e incompleta.

Ao agricultor familiar restou buscar novas atividades em pequena escala, voltadas para a pluriatividade e não mais exclusivamente para a agricultura e pecuária tradicionais, uma vez que estas não conseguem atender a dinâmica do emprego no campo, sendo preciso incluir outras atividades agropecuárias intensivas (SILVA, et al, 1997).

Entretanto, a inserção do agricultor familiar no mercado produtivo ainda é um desafio, apesar dos programas governamentais estarem disponíveis, muitas vezes falta informação para se ter acesso aos recursos, qualificação e assistência para desenvolver a atividade agrícola sustentável.

Para Pietrafesa (2002), agricultura familiar concerne em uma atividade de exploração familiar de unidade de produção agrícola onde propriedade e trabalho, estão intimamente ligados à família, em um processo que cria interdependência entre os três fatores: propriedade, trabalho e família.

A produção familiar está dirigida ao valor de uso da comunidade familiar sobre a ótica da subsistência que proporciona autonomia em relação ao mercado de bens alimentícios básicos.

Lima et al (2001) fazem uma distinção no cenário da caracterização da agricultura familiar camponesa na qual diferencia a empresa ou unidade camponesa de produção familiar e unidade camponesa familiar.

A primeira caracteriza por um alto nível de capital de exploração; realizar a produção com base na forca de trabalho familiar (não remunerado); produzir prioritariamente para o mercado; desenvolver sistemas de produção intensivos, geralmente com poucas linhas de produção; possuir superfície de terras iguais ou superiores ao modulo regional. A segunda caracteriza por baixo nível de capital de exploração; realizar a produção exclusivamente através da força de trabalho familiar; manter baixo grau de comercialização, tendo em vista a pequena escala de produção e, normalmente, comercializa somente o excedente do consumo familiar; manter sistema de produção diversificado, com alta exigência de mão-de-obra; possui área de terra inferior a ao modulo rural (LIMA et al, 2001, p. 39).

Nessa linha, percebe-se que agricultura familiar destaca-se em ambas as caracterizações por meio da propriedade familiar, mas também de exploração agrícola ancorada no trabalho familiar.

Lopes (1981) já fazia essa distinção da tipologia na produção familiar camposesa, onde considerava a unidade familiar produtora de mercadorias e a unidade camponesa. A primeira atrelada à exploração agrária mercantil, fundamentalmente em mão-de-obra familiar com trabalho assalariado eventual, considerando pequenos proprietários, arrendatários ou parceiros. A segunda também é baseada na mão-de-obra familiar, mas tem um caráter econômico de subsistência que abarca os pequenos proprietários (minifúndios), arrendatários, parceiros e posseiros.

Com base nesta abordagem, fica evidente a figura do produtor familiar camponês tradicional que vive ou não na terra e dela tira sua renda mercadológica ou sua subsistência.

Segundo Lima et al (2001), o que vai diferenciar agricultura familiar das grandes organizações, em particular das empresas, são as particularidades das condições sociais, econômicas e políticas que têm objetivado sua administração e

seu campo de atuação com base nos seguintes aspectos: realização do trabalho e da produção baseado na mão-de-obra familiar; não separação entre os proprietários dos meios de produção e os trabalhadores; não espacialização e divisão clássica, formal e hierárquica do trabalho; participação solidária e co-responsável de todos os membros da família na organização e funcionamento da produção; informalidade no planejamento, coordenação, direção e controle da produção; garantia de segurança alimentar e do aumento da renda familiar; diversificação do sistema de produção.

Esse conjunto de características pode ser visto como suporte ao agricultor familiar para que possa permanecer em seu eixo produtivo, mas que também proporciona a livre escolha do tipo de organização, orientação de trabalho e produção. Nesse aspecto, o sistema família e a unidade de produção precisam estar associados para a coesão do processo.

Neves (1995) vai além das definições já citadas, uma vez que considera na agricultura familiar, a produção, o trabalho, e também as formas de resistências sobre a apropriação de excedente via mercado e a proletarização, as orientações e condições de reprodução produtiva na busca do consumo próprio.

Esse contexto nos mostra uma relação dos agentes sociais produtores e reprodutores da agricultura familiar com os agentes da produção capitalista no meio rural por meio da coexistência destes na organização produtiva agrícola.

Para Lamarche (1997, p.13)

Independentemente de quais sejam os sistemas sociopolíticos, as formações sociais ou as evoluções históricas, em todos os países onde um mercado organiza as trocas, a produção agrícola é sempre, em maior ou menor grau, assegurada por explorações familiares, ou seja, por exploração nas quais a família participa na produção.

Esta afirmação dá suporte para que se possa salientar que a agricultura familiar sempre existiu nos moldes campesinos no Brasil e em Goiás, como já mencionado.

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