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Agricultura Familiar e o processo de mercantilização

4 POLITICAS PÚBLICAS E PROGRAMAS SOCIAIS

4.2 Agricultura Familiar e o processo de mercantilização

Na década de 1960, o país moderniza sua agricultura, baseado no modelo conhecido como “revolução verde” em que sementes melhoradas passaram a ser utilizadas, respondendo rapidamente ao uso de adubos químicos, requerendo a aplicação de agrotóxicos e de forma mecânica. Essa época também o governo lançou mão do sistema de crédito rural para incentivar o uso dessa tecnologia.

Muda a feição do campo na medida em que foram implementadas novas tecnologias, baseadas na mecanização intensiva e na agroquímica e associada a uma política agrícola de produção em larga escala, de monocultura e de exportação, ampliou a concentração da propriedade da terra e intensificou o assalariamento e o êxodo rural.

acreditamos que o Brasil esteja fadado a repetir a experiência dos países hoje industrializados, que conseguiram reduzir a uma percentagem insignificante o emprego na agricultura e absorveram com sucesso o excedente de mão-de-obra rural nas cidades, principalmente nas indústrias.

É um erro supor que os refugiados do campo que migram para as favelas e os bairros periféricos das cidades se transformam automaticamente em citadinos. São candidatos a uma urbanização cuja efetivação dependerá da criação de empregos e alojamentos decentes e de condições para o exercício da cidadania. Tudo indica que o custo da urbanização dos que foram arraigados do campo será mais elevado do que seria a geração de empregos e auto empregos decentes e a promoção do progresso civilizatório no meio rural. (SACHS, 2004)

A modernização da agricultura Familiar é gradual e viável, daí uma expectativa maior de vida. Sem a sua consolidação, dificilmente o Brasil poderá contar com um sistema eficiente de segurança alimentar.

Parte do agronegócio, que tanta importância tem para o comércio exterior do Brasil, é constituído por agricultores familiares bem-sucedidos, por exemplo, no setor de aves ou carne suína. Não se deve considerar a produção mecanizada de grãos (soja), que cria um número diminuto de empregos diretos, como representativa do conjunto de agronegócios (SACHS, 2004).

Segundo dados do PRONAF, a agricultura familiar é hoje (dados referentes ao ano de 2003) responsável por 77% da ocupação no meio rural e responde por 37% da produção agrícola brasileira. Cerca de 84% dos 5 milhões de estabelecimentos agropecuários são agricultores familiares (VEIGA, 2004).

Ressalte-se que a racionalidade da economia familiar é diferente da economia de empresa e que os membros da família não imputam ao seu tempo de trabalho um salário como se estivessem empregados como assalariados. Daí resulta a resiliência dos agricultores familiares submetidos à concorrência dos produtores modernos.

Para todos os efeitos, podemos considerar a unidade familiar como possuidora de uma reserva potencial de tempo de trabalho a ser aproveitada como uma verdadeira reserva de desenvolvimento. Por isso, longe de serem meramente políticas sociais, a reforma agrária e as medidas de apoio à agricultura familiar afiguram-se como alavancas importantes da estratégia de desenvolvimento.

Apesar do processo da mercantilização das práticas econômicas e das relações sociais, ocasionado por processos tais como a modernização da agricultura, a externalização dos processos produtivos e o crescimento das formas de trabalho assalariadas no meio rural, agricultores de certas regiões têm realizado estratégias de reprodução social que se fundamentam em relações não mercantis.

Podem-se compreender como lógicas não mercantis aquelas que podem ser organizadas por meio de práticas de reciprocidade e relações de proximidade entre as pessoas, nas quais estas últimas assumem a importância capital nos contextos sociais em ação. (SCHNEIDER, 2009).

A compreensão da mercantilização da agricultura se dá no âmbito do processo social que não afeta apenas as esferas econômica e produtiva da agricultura, mas também a cultura, o saber fazer, os aspectos sociais das famílias. A mercantilização também difere da simples mercadorização.

A mercadorização refere-se ao período histórico em que os agricultores não eram dependentes do mercado e apenas possuíam vínculos mercantis com os comerciantes locais ou as casas de comércio rural. Nesse caso, o mercado não é um processo social, mas apenas um local personificado, onde os agricultores realizam suas transações mercantis (compra, venda, troca de mercadorias etc), muito comum nos municípios brasileiros em forma de “feiras”.

Quanto à mercantilização, se refere à situação em que o agricultor passa a depender cada vez mais do mercado para executar a sua reprodução social. Nesse sentido (Ploeg, 1992 in Schneider 2009, p.86) explica que a mercantilização não somente implica na produção de mercadorias e se expressa, principalmente por meio da externalização de etapas do processo produtivo e das diferentes relações que emergem dos circuitos mercantis em que os agricultores estão inseridos. Isso quer dizer que é o processo pelo qual o agricultor passa a ter a sua reprodução social e econômica dependente do mercado.

Comungando com essa afirmação, pode-se dizer que a mercantilização materializa-se por meio do processo de externalização, da cientifização da produção e da dependência estrutural em relação aos mercados pelos agricultores. Entendendo a externalização como dependência do agricultor de fatores externos à

propriedade para iniciar um novo ciclo produtivo; a cientifização é a maneira pela qual a agricultura começa a internalizar e assimilar a técnica desenvolvida pela ciência moderna na produção agropecuária.

Van der Ploeg (1990; 1992) considera a cientifização o estágio de forças produtivas da agricultura que usam da ciência para produzir e reproduzir as condições objetivas de existência humana e a materialidade do processo produtivo agrícola. Como se dá essa cientifização? Conforme o autor é a internalização das técnicas modernas de cultivo e manejo, no uso de máquinas e equipamentos, no plantio das sementes melhoradas, na fertilização e correção das propriedades químicas e físicas dos solos, no uso dos agrotóxicos agrícolas etc.

De acordo com o contexto, pode-se questionar a diferenciação do autoconsumo entre os agricultores que possuem uma maior mercantilização do processo produtivo, são os mais vulnerabilizados em sua produção para o autoconsumo. Isso se confirma na medida em que uma maior mercantilização produtiva com plantio de cultivos comerciais e maior inserção no mercado, não necessariamente, acarretam em uma menor produção para autoconsumo.

Para Schneider (2009, p.94), a explicação para a diferenciação do autoconsumo deve ser buscada em outros fatores, como o tamanho da propriedade e as condições de relevo, diferentes inserções no processo de modernização da agricultura, o sistema produtivo e organizacional empregado na unidade de produção, os tipos de cultivos desenvolvidos e o saber-fazer das famílias.

A diferenciação entre agricultores e localidades se dá também através das condições agronômicas do terreno, como a declividade do solo, erosão, a fertilidade, características físicas entre outros fatores.

A dimensão da economia solidária no contexto da organização social na região de Ibiapaba mostra sua inserção em uma região historicamente latifundiária, marcada pelo êxodo rural e relações de poder que configuram um espaço social marcado pela exclusão social apesar de geograficamente ser uma região privilegiada por serras e fontes de água, contém em si os problemas típicos das grandes metrópoles, como violência urbana, desemprego, bolsões de pobreza.

desagregadores revelam que na realidade é comum aos outros municípios cearenses e são característicos do espaço socialmente produzidos.