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Agricultura Familiar no Nordeste e o PNAE

Figura 2 - fluxograma com detalhes do PNAE

Fonte: elaboração própria com base em dados fornecidos pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (2018).

2.3. Agricultura Familiar no Nordeste e o PNAE

Nesse ambiente de regras e procedimentos para execução do PNAE na compra de gêneros alimentícios da agricultura familiar, é possível afirmar que todas as regiões brasileiras se beneficiaram com a execução do Programa, em menor ou maior grau; umas dessas regiões, com certeza foi a Nordeste:

“No período de 1950 até 2010, a região Nordeste tem passado por um ciclo de crescimento econômico e de mudanças, em que diferentes contextos se definem a partir de modelos predominantes no meio rural, resultados das políticas agrárias e agrícolas nacionais de desenvolvimento regional. Tais mudanças se devem de um lado, na manutenção de velhas instituições que defendem a reprodução do modelo econômico do Centro-Sul, com o crescimento de atividades modernizadas em grandes empresas e, do outro, no surgimento de novas instituições, que buscam um desenvolvimento levando em consideração as atividades tradicionais por meio da agricultura familiar.” (NUNES et al., 2018)

[...]

“Oliveira (2006) destaca que a agricultura familiar do semiárido tem grande importância tanto econômica como social por contar com mais de 62% dos estabelecimentos rurais do Nordeste e 30% do valor bruto de toda a

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• Mapeamento dos produtores da agricultura familiar

2 • Construção do cardápio

3 • Chamada Públia

4 • Projeto de venda

5 • Seleção dos projetos

6 • Assinatura do contrato

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produção agropecuária nordestina, produzindo principalmente alimentos básicos, além de ser a principal geradora de mão de obra, ocupando 58% do pessoal ocupado do Nordeste.” (NUNES et al., 2018)

A região Nordeste possui números relacionados à agricultura familiar mais significativos do que a própria média nacional, como é o caso, por exemplo, da participação dos estabelecimentos familiares na área ocupada, sendo a média nacional 32,4%, enquanto que no Nordeste 46,9%. Dentre eles, 92,7% estão na categoria familiar, enquanto o Brasil possui uma média de 87,5% e o valor bruto de produção no Nordeste 50,2% e no Brasil 40%, de acordo com o censo agropecuário 2006. Quando se trata de mão de obra, os familiares são mais ineficientes ou improdutivos (GUANZIROLI, 2011).

A região Nordeste possui 2.274.120 estabelecimentos de agricultura familiar, mas apesar disso apenas 155.379 (6,83%) estão entre os grupos mais capitalizados (Tipo A). Sendo a maior parte (50,72%) na categoria do tipo D, menos capitalizado superando a média nacional (IBGE, 2009).

A agricultura familiar no Nordeste ocupa uma posição diferenciada, em comparação ao Brasil. Entre essas características é possível observar registros importantes sobre a irrigação no Nordeste, de acordo com o censo agropecuário (1996) a região Nordeste possuía 751,8 mil hectares irrigados; em 2006 passa para o valor de 985,3 mil hectares. Além disso, houve aumento no uso de energia elétrica que possibilitou uma ampliação expressiva de sua cobertura (GUANZIROLI, 2011). Estão no campo do tipo de produtor familiar, de suas rendas, indo até questões climáticas, como períodos de secas recorrentes nesta região. Segundo dados do Censo agropecuário 2006, do IBGE, a região Nordeste apresenta dados superiores em relação ao Brasil no que se refere à área ocupada, pessoal ocupado, valor bruto de produção, estabelecimentos e financiamentos. De acordo com Guanziroli (2011), o Nordeste se destaca ainda na divisão de estabelecimentos classificados como: Tipo A, B, C e D como sendo os tipos A mais capitalizados e o tipo D menos capitalizado, tendo no Nordeste o tipo D com o maior número de produtores.

Graças às políticas públicas foi possível desenvolver outras camadas sociais da população nordestina. Anteriormente, a inserção do micro e pequeno produtor rural em um espaço de produção e competição comercial eram dificílimos, tendo em vista a presença dos grandes produtores rurais que dispunham de meios e recursos abundantes para a produção em larga escala, diferentemente do agricultor familiar rural (BUAINAIN et al., 2003). Até pouco tempo, as políticas existentes favoreciam os grandes produtores, contudo, apenas após dispositivos legais, como os criados pela Lei n° 11.947/2009, a inserção do produtor familiar

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rural foi possível, gerando oportunidade de participação do mercado de venda de gêneros alimentícios para o ambiente escolar. A criação de políticas públicas configurou, nesse caso, de suma importância devido à quantidade expressiva de agricultores familiares presentes no Nordeste, como pode ser observado no gráfico 1, a seguir:

Gráfico 1: quantitativo de alunos, agricultores familiares e do repasse do FNDE para PNAE em 2011, por região do Brasil (em percentual).

Fonte: PNAE (2011); Nunes et al. (2018) apud Nunes et al., (2014).

De uma maneira geral, a região Nordeste brasileira é a que possui a maior população e as maiores fragilidades sociais do país. Se comparada as outras 4 regiões do território brasileiro todas as médias são inferiores. O IDH e Renda Per Capita são os mais baixos, os índices de percentual de pobres e extremamente pobres do país são os mais altos, além de uma maior desigualdade econômica entre seus habitantes (LOPES, 2017).

Ao se fazer a comparação com outras regiões, como a região Sul, por exemplo, que possui uma estrutura econômica já consolidada para absorver a política, a região Nordeste encontra-se em um patamar retardatário, em que políticas como o PNAE e o PAA, podem está servindo para criar arranjos institucionais que dão vida a uma estrutura econômica frágil e vulnerável (LOPES, 2017).

Apesar de números negativos preocupantes em alguns índices citados acima, a Região Nordeste é a que apresentou maior frequência de municípios com 10 ou mais ocorrências no

11.32 31.91 37.15 12.57 7.05 10.65 30.84 38.07 13.4 7.03 9.46 50.08 16.03 19.46 4.98 0 10 20 30 40 50 60

Norte Nordeste Suldeste Sul Centro-Oeste

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PNAE. Em parte porque possui o maior número de municípios no país e em consequência, mais cidades sorteadas pela Controladoria para auditoria; “destaca-se a frequência de ocorrências relacionadas ao PNAE que, em termos percentuais, foi a mais elevada ao considerar a relação constatação/relatório” (LOPES, 2017). É a segunda maior região com capacidade de consumo de alimentos e também possui o maior percentual de agricultores do Brasil fazendo com que 3 bilhões de reais fossem destinados para o PNAE em 2011 (FNDE, 2014).

Assim, visando a aplicação de políticas voltadas para amenizar as desigualdades regionais, dentre outras ações, o Governo Federal, através da Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), lançou, em 2003, o Programa Nacional do Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais (PRONAT). Nele podemos citar:

A definição de Território rural proposta pela SDT é um espaço geograficamente definido, caracterizado por critérios multidimensionais, tais como: ambiente, economia, sociedade, cultura, política e instituições. Possui população formada por grupos sociais relativamente distintos que se interrelacionam interna e externamente por meio de processos caracterizados por um ou mais elementos que indicam identidade, coesão e sentido de pertencimento. (PLANO TERRITORIAL DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL DO SERTÃO DO PAJEÚ, 2011, p.14)

Nessa perspectiva territorial, o Nordeste apresenta o maior número de Territórios da Cidadania, tendo demarcado 56 regiões, das 120 regiões brasileiras demarcadas por tal classificação, representando 47%, o que colabora com a possibilidade de que esta região deve ser prioritariamente vista pelas políticas públicas (SOUZA, 2015).

No estado de Pernambuco existem 6 Territórios da Cidadania, que foram instituídos pelo Programa Território da Cidadania6 lançado pelo Governo Federal. Desses Territórios, o Sertão do Pajeú e o Agreste Meridional possuem a maior quantidade de municípios, ambos, com 20 municípios (MDA, 2009). O documento referente ao Sertão do Pajeú, especificamente, tem como objetivo ser “[...] instrumento de apoio ao desenvolvimento rural

6O Programa Território da Cidadania é um programa do Governo Federal que visa diminuir as desigualdades

sociais, sobretudo, no meio rural, onde ainda é mais notória, através de uma parceria entre os Governos federal, estadual, municipal e a sociedade. Pretende garantir um desenvolvimento regional e sustentável garantindo direitos sociais, a fim de gerar desenvolvimento econômico e garantir o acesso a programas básicos de cidadania. As escolhas dos territórios seguiram critérios geográficos como, por exemplo, serem maiores que um município e menores que o Estado, possuindo características coesas em diversos aspectos, tais como sociais, culturais, econômicos, com o intuito de formular políticas que atendam melhor as necessidades de cada território. O programa pretende, assim, atender famílias de pescadores, quilombolas, assentados, indígenas e agricultores familiares. O programa conta ainda com junção de ações de diferentes Ministérios em prol de alcançar os objetivos propostos como melhorar o IDH, evitar o êxodo rural e superar as desigualdades regionais.

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sustentável do território, propiciar o desenvolvimento, fortalecimento e consolidação da agricultura familiar e de suas organizações.” (TERRITÓRIOS DA CIDADANIA, 2008 p.16).

Assim, o Território da Cidadania do Sertão do Pajeú abrange uma área total de 13.350,30 km² e uma população total de 395.315 habitantes, sendo 38,89% residentes na zona rural (IBGE, 2010). Localizado no Sertão Pernambucano é composto por 20 municípios que podem ser divididos em três microrregiões: a) Microrregião São José do Egito: Itapetim, Tuparetama, São José do Egito, Santa Terezinha e Brejinho; b) Microrregião de Afogados: Afogados da Ingazeira, Tabira, Sertânia, Carnaíba, Quixaba, Iguaracy, Ingazeira e Solidão; e c) Microrregião Serra Talhada: São José do Belmonte, Santa Cruz da Baixa Verde, Serra Talhada, Mirandiba, Flores, Triunfo e Calumbi.

No gráfico 2, abaixo, pode-se observar o número de estabelecimentos da Agricultura familiar nos municípios que compõem o Sertão do Pajeú demarcados pelo território da cidadania de acordo com o IBGE (2010).

Gráfico 2 - número de estabelecimentos da agricultura familiar no Sertão do Pajeú em 2010.

Fonte: elaboração própria a partir dos dados do IBGE (2010).

0 500 1,000 1,500 2,000 2,500 3,000 3,500 4,000 4,500

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Existem 33.804 estabelecimentos da agricultura familiar no Sertão do Pajeú, no qual a cidade de Serra Talhada possui 4.221 o maior número de estabelecimentos, seguida por Sertânia 3.849 e Flores 3.171. A região apresenta também o quantitativo de 104.243 pessoas ocupadas na agricultura familiar, 16 comunidades quilombolas, uma área demarcada como terra indígena na cidade de Mirandiba e um número de 1.810 famílias assentadas pela Reforma Agrária, de acordo com os dados apresentados no último Censo demográfico do IBGE 2010.

Em suma, a demarcação do Território da Cidadania constituiria num instrumento de elaboração de políticas públicas que possam trazer desenvolvimento socioeconômico para essas regiões, além disso, melhorar a infraestrutura dessas regiões com melhorias nos modais rodoviários a nível federal e estadual, para interligar os municípios e também a capital, facilitando o escoamento da produção local. Assim, esse Programa tinha como intuito dinamizar os Territórios com ações públicas o que corrobora, significativamente, com os aspectos propulsores do desenvolvimento da atividade agropecuária familiar dos Territórios da Cidadania do Nordeste brasileiro.

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