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2.3.1 O uso da água na cultura do arroz irrigado

A agricultura irrigada visando à prática da produção de alimentos é a que mais contribui para o redirecionamento das águas de seus cursos naturais. Isso é verdade, principalmente em países da Ásia e do Saara Africano, onde entre 80 e 90% da água doce é destinada para esse fim (FAO, 2004a). Atualmente, a irrigação é utilizada em 17% das áreas aráveis do planeta, sendo responsável por 40% da produção mundial de alimentos. A irrigação usa aproximadamente 70% total das águas retiradas do sistema global de rios, lagos e mananciais subterrâneos e os 30% restantes são utilizados para outros fins (industrial, geração de energia, recreação) (ANA, 2007).

Apesar do Brasil ser detentor de aproximadamente 10% das águas doces do planeta, a maior parte dessa água, aproximadamente 70%, está localizada na bacia Amazônica, região de menor índice demográfico do país, onde vivem apenas 7% da população. Sendo assim, a maior parte da população brasileira tem que dividir os 30% restantes. Em relação à água consumida no Brasil, metade ocorre na agricultura irrigada, a qual está vinculada a aproximadamente 5% da área cultivada, o restante é utilizado para outros fins (industrial, geração de energia, recreação) (ANA, 2007; REBOUÇAS et al., 2002; KRAUSE, 1997).

A prática da irrigação se constitui no maior usuário de águas no país. A região Sul, demanda cerca de 41% (34% do total usado no Brasil) da água usada na irrigação (REBOUÇAS et al., 2002). A água é um dos mais importantes fatores na produção do arroz, pois influencia nas características da planta, nas condições nutricionais do solo, regula a temperatura e controla as plantas daninhas (SOSBAI, 2003).

No RS, predomina o cultivo do arroz irrigado com as sementes distribuídas em solos secos com a semeadura feita em linhas ou a lanço. O início da irrigação ocorre em torno da terceira semana após a germinação e, na maioria das vezes, é intermitente até a pré-colheita (EMBRAPA, 1999). Tradicionalmente, é utilizada a irrigação contínua com água corrente, que se caracteriza por um elevado consumo (15.000 m3 ha-1) e baixa eficiência (IRGA, 2007).

Com o decorrer do tempo, as vantagens do sistema são suplantadas pelas desvantagens ambientais. Apesar da grande contribuição do Estado do RS na produção de arroz, muito pouco, até o momento, se fez em relação a estudos de comportamento e destino dos herbicidas no sistema, visando à manutenção da eficiência com menor risco e dano ambiental.

2.3.2 A necessidade de água para o arroz irrigado

O cultivo de arroz pode ser realizado no sistema irrigado, cujas lavouras concentram-se em sua grande maioria no Sul do País, ou no sistema de terras altas (ou de sequeiro), que é mais utilizado no cerrado brasileiro. Pode ser realizado em 4 diferentes sistemas, os quais diferenciam-se, basicamente, quanto à forma de

preparo do solo, métodos de semeadura e manejo inicial da água e dividem-se em: sistema convencional, cultivo mínimo, plantio direto, pré-germinado, mix e transplante de mudas.

Atualmente, no RS predomina o sistema de cultivo convencional (70,0%) seguido dos sistemas mínimo e plantio direto (19,0% da área) e pré-germinado + mix (11,0%) (ZAFFARONI & TAVARES, 2007). Em Santa Catarina (SC), o sistema pré- germinado é a única forma de cultivo de arroz irrigado utilizado (SOSBAI, 2003).

O cultivo mínimo é o sistema no qual se utiliza menor mobilização do solo, comparado ao convencional. O preparo do solo pode ser realizado tanto no verão como no final do inverno e a semeadura é realizada diretamente sobre a cobertura vegetal previamente dessecada com herbicida, sem revolvimento do solo, o que diminui a incidência de plantas daninhas, principalmente arroz vermelho (SOSBAI, 2003).

O sistema pré-germinado caracteriza-se pelo uso de sementes pré- germinadas em solo previamente inundado. Esse sistema tem-se mostrado mais eficaz no manejo da água, tendo em vista a boa distribuição da água e um maior planejamento no sistema de irrigação e drenagem. A manutenção da lâmina de água, após a semeadura pode provocar a morte das sementes pré-germinadas por falta de oxigênio, reduzindo a população das plântulas de arroz (SOSBAI, 2003). Para evitar esse problema, recomenda-se a drenagem dos quadros até o estabelecimento das plântulas. Entretanto, com esta prática, os nutrientes, colóides em suspensão e os pesticidas aplicados são liberados junto com a água para o meio ambiente. Portanto, no sistema pré-germinado, a drenagem da área após a semeadura pode desencadear grave problema ambiental, ao mesmo tempo que pode causar perdas dos nutrientes e/ou de pesticidas que estão presentes na água de irrigação que é liberada (MACHADO, 2003).

A irrigação da lavoura de arroz está intimamente relacionada ao sistema de cultivo adotado. A adoção de um ou de outro sistema irá determinar diferenças na época de início e fim da irrigação, manejo e consumo da água e no preparo do solo.

Para suprir a necessidade de água durante o ciclo para os cultivos convencional, mínimo e plantio direto, recomenda-se a utilização de vazões contínuas de 1,5 a 2,0 L s-1 ha-1, num período médio de irrigação de 80-100 dias. No sistema pré-germinado, apesar do período de irrigação ser proporcionalmente maior, normalmente ocorre um menor consumo de água. Para a manutenção da lâmina,

vazões em torno de 1,0 L s-1 ha-1 são suficientes, devido a menor percolação da

água no solo. A Tabela 2 compara o consumo total de água entre os diferentes sistemas de cultivo de arroz irrigado no RS.

Tabela 2 - Estimativa do consumo total de água para irrigação do arroz no Rio Grande do Sul (ZAFFARONI & TAVARES, 2007; OLIVEIRA, 2007)

Sistema de cultivo Área (ha) Área (%) Consumo (1000 m3 ha-1) Consumo (1000 m3) Consumo (%) Convencional, cultivo

mínimo e plantio direto 845500 89,0 17,28 14610240 94

Pré-germinado 104500 11,0 8,90 929967 6

Total 950000 100 - 15540207 100

No entanto, o manejo da água é de fundamental importância para o sucesso na produção de arroz irrigado. A água, além de influenciar no aspecto físico das plantas, interfere também na disponibilidade dos nutrientes, na população e espécies de plantas daninhas presentes bem como na incidência de algumas pragas e doenças. A quantidade de água exigida para o cultivo de arroz é o somatório da água necessária para saturar o solo, formar uma lâmina, compensar a evapotranspiração e repor as perdas por percolação vertical, as perdas laterais e dos canais de irrigação.