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3.3 A ajuda na política externa japonesa

3.3.1 A ajuda com finalidades econômicas

Como já mencionamos, o Japão desempenhara sua atuação internacional concentrando quase a totalidade de seus esforços em questões econômicas. Analisando cuidadosamente as condições econômicas e geográficas do Japão podemos chegar à conclusão de que dificilmente poderia ser diferente. O território japonês corresponde a um arquipélago composto por milhares de ilhas, sendo as quatro principais Honshu, Kiyushu, Shikoku e Hokkaido. Essas quatro ilhas constituem uma estreita e comprida superfície, com montanhas ao centro e curtas planícies litorâneas. São poucas as terras disponíveis para agricultura e escassos os recursos naturais. Portanto, as condições naturais fazem do Japão um país extremamente dependente de recursos oriundos do exterior obtidos através do comércio internacional. Seus recursos próprios são insuficientes à sua economia.

A busca de matérias-primas tem sido uma força propulsora da política externa do Japão desde que o país se industrializou. O Japão não poderia sobreviver como nação moderna sem importações regulares de minério. Esta é uma característica permanente da vida japonesa. Na verdade, quanto maior é o sucesso industrial do Japão, mais ele fica dependente dessas importações. (FRIEDMAN; LEBARD, 1993: 59)

Essas mesmas condições que formatam uma política externa voltada para a economia formataram uma política externa expansionista e agressiva na primeira metade do século XX. O acelerado processo de industrialização japonês daquele momento demandava cada vez mais

recursos naturais indisponíveis em seu território, aumentando gradualmente a dependência das importações. Cabe lembrar que os impérios europeus (em especial Reino Unido, França e Holanda) e os Estados Unidos ocupavam na primeira metade do século XX possessões coloniais na Ásia e no Oceano Pacífico, dificultando o acesso aos recursos e ameaçando a soberania japonesa.

O próprio sucesso da economia japonesa representou seu desastre. Ela não podia continuar a crescer sem ficar mais dependente de outros países, e isso, inevitavelmente, minava a autonomia do país. Para que o Japão não abrisse mão de sua independência, a única solução era passar a controlar suas fontes, ou ser suficientemente forte para que os outros temessem intrometer-se nesse abastecimento. (FRIEDMAN; LEBARD, 1993: 58)

Com a aceitação dessa perspectiva, o Japão lançou-se rumo à China e depois ao sudeste asiático, assegurando fontes de petróleo, minério de ferro, estanho, manganês, níquel, bauxita, etc. Era necessário também assegurar as rotas marítimas para o transporte seguro dos recursos. No outro lado do oceano, da mesma forma que os japoneses temiam as ameaças ao abastecimento de suprimentos indispensáveis à sua economia, os norte-americanos temiam o controle que o Japão poderia exercer no Oceano Pacífico (FRIEDMAN; LEBARD, 1993). O cenário estava montado para a eclosão da Guerra do Pacífico, protagonizada pelo Japão e pelos Estados Unidos no âmbito da Segunda Guerra Mundial. Como já observamos, o Japão saiu do conflito derrotado, mas o cenário internacional do pós-guerra levou ironicamente os Estados Unidos a apoiar a reconstrução e o desenvolvimento japonês.

Na segunda metade do século XX, a configuração da política externa japonesa continuou alicerçada na necessidade de insumos essenciais ao desenvolvimento japonês, porém, apresentando uma postura pacifista. Essa postura, determinada em parte pelo Artigo 9º da Constituição do Japão de 1946, levou a uma inserção internacional voltada à economia como pode ser observado na parte inicial deste capítulo. No contexto dessa política externa economicista, a ajuda externa teve um grande papel a desempenhar.

Ao processo de reconstrução do Japão seguiu-se um notável processo de desenvolvimento econômico e industrial com taxas de crescimento expressivas. Esse crescimento demandava grande volume de recursos naturais, necessidade que na primeira metade do século levou ao expansionismo territorial, e na sequência, à guerra. Essa postura não era mais compatível, nem à realidade japonesa, nem à realidade internacional. Respeitando o Artigo 9º da Constituição, o Japão comportou-se como uma nação pacífica, enfatizando sua inserção internacional pelas vias econômicas e comerciais.

Na medida em que a economia japonesa crescia, da mesma forma que eram necessárias importações de recursos naturais, tornava-se necessária a prospecção de novos mercados capazes de absorver a produção japonesa. A ajuda externa mostrava-se como uma interessante ferramenta de apoio nessa linha de atuação, o que de fato ocorreu e acabou por marcar permanentemente a ODA japonesa. Portanto, no âmbito do acelerado crescimento econômico japonês as motivações econômicas e comerciais tomaram forma, passando a influenciar decisivamente a distribuição da ODA japonesa. Já discutimos no segundo capítulo como a ajuda foi utilizada como ferramenta para fins econômicos e comerciais. Entre 2003 e 2008, essas características continuaram a influenciar a política japonesa de ajuda externa.

Japanese ODA was targeted for strategic commercial purposes. Instead of focusing on single infrastructure projects – a dam, a harbor development, or a highway, for example – the strategy of the Japanese government became more proactive and comprehensive, more attentive to the development of structural complementarities with the Japanese economy. (PYLE, 2007) Dentre os países que apresentam ampla complementaridade com a economia japonesa, podemos destacar os países do sudeste asiático. Observando a tabela 9 do segundo capítulo, podemos notar dentre os principais receptores da ajuda externa japonesa Indonésia, Filipinas e Malásia, países com os quais o Japão mantém fortes laços econômicos. É importante mencionar que a Malásia e a Indonésia, assim como Singapura, são os países que compõem o entorno do Estreito de Malaca, canal por onde passa o petróleo importado pelo Japão oriundo do Oriente Médio. Podemos notar também dentre os maiores receptores a presença da China e da Índia, membros do BRIC, países que apresentam significantes taxas de crescimento econômico com os quais o Japão também mantém estreito relacionamento econômico.