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Além do jardim: um jardim educativo, mobilizador social e

A poesia é uma busca da Palavra essencial, a mais profunda, aquela da qual nasce o universo. Eu acho que Deus, ao criar o universo, pensava numa única palavra: Jardim! Jardim é a imagem de beleza, harmonia, amor, felicidade. Se me fosse dado dizer uma última palavra, uma única palavra, Jardim seria a palavra que eu diria. (Rubem Alves).

A área verde da escola oferece um recurso educativo maravilhoso, no qual os estudantes podem vivenciar o terreno de sua escola, de forma prazerosa e transformadora. O olhar da comunidade escolar deveria se voltar para o pátio escolar, para os áridos terrenos da escola. Quiçá este ambiente se transformaria em uma área planejada, permitindo uma aprendizagem espontânea e conectada ao mundo real e que desperta um imenso interesse aos estudantes e professores, favorecendo perfeitamente à comunidade escolar, o que Freinet (1973) nos diz a respeito do verdadeiro papel da escola. Para o autor, não é necessário sufocar as crianças com matérias para que elas consigam aprender. O papel da escola é de proporcionar situações por meio das quais as crianças sintam necessidade de agir, ou seja, fazer com que elas se dediquem intensamente à descoberta de algo que conseguiu despertar seu interesse.

Entretanto, para Blaunth (2004), infelizmente existe nas cidades a cultura do concreto, que também aparece nas escolas: quadras ao invés de jardins. O autor coloca o posicionamento “urbanóide” de muitos profissionais da área educacional, que defendem que os terrenos escolares devem possuir apenas as quadras esportivas “dão menos trabalho, não sujam os pátios, os alunos jogam bola, nas quadras não cresce mato” (p.2). Mas, ao escolher pavimentar totalmente os pátios das escolas, o referido autor afirma que a

comunidade escolar comete um erro. Pois as quadras e os caminhos da escola feitos de concreto não florescem na primavera, não dão frutos, nem sombra e nunca atraem passarinhos. “A verdade é que o jardim quase sempre é desprezado, ou tem apenas funções estéticas e decorativas, meia dúzia de pinheiros e palmeiras para enfeitar, um vasinho de flores e pronto” (BLAUTH, 2004, p. 3).

Aprender na horta escolar ainda é um privilégio de poucas crianças. Um jardim orgânico repleto de ervas, minhocas, borboletas, flores, alfaces, árvores, besouros, passarinhos, em formato espiralado, colorido, cheiroso, cheio de curvas que formam uma mandala, certamente daria uma força estimuladora para um ensinar-aprender agradável.

Um jardim escolar é um laboratório vivo, onde mora diversidade e beleza. E variadas atividades pedagógicas podem ser trabalhadas em torno deste ambiente. Carolyn Nuttal, uma professora do ensino fundamental na Austrália, que decidiu que o jardim da escola poderia ser uma sala de aula ao ar livre, relatou sua magnífica experiência no livro “Agrofloresta para crianças”. Ela ousou passar o ano inteiro com seus estudantes no pátio da escola, e nos ensina como uma floresta permacultural pode oferecer atividades da vida real como foco de aprendizagem. Para Nuttal (1997), os terrenos da escola são focos importantes da educação, “que as crianças se beneficiam de um currículo que inclua oportunidades para o seu desenvolvimento, experimentação, conhecimento do ambiente e participação ativa” (p. 6).

Legan (2007) nos diz que é por meio da conexão com a terra que as crianças podem experimentar a força da natureza e aprender a cuidar do planeta Terra. Para a autora, a Permacultura na escola é um programa de “Educação Ambiental em Ação”. “É um programa prático e estimulante, onde todos podem aprender e aproveitar de forma sensível, onde o educador pode utilizar um currículo efetivo” (p.15).

Cogitar o Jardim Escolar como um espaço pedagógico implica em pensar a vivencia dos ciclos da vida, as diferenças das estações do ano, as influências do ciclo da lua, a importância do ciclo da água, dos nutrientes, o fluxo da energia e muitas outras coisas. Podemos observar os pássaros e o comportamento de vários animais e as árvores, dando espaço para outras árvores menores, outras se retorcendo para encontrar luz e outras se preparando para espalhar seus genes.

A discussão da função social da escola passa pelo entendimento de que é fundamental proporcionarmos à comunidade escolar experiências significantes. As recentes mudanças no paradigma do conhecimento trazem novas epistemologias e possibilidades de olhares diferenciados ao entendimento da vida. A transdisciplinaridade, a complexidade e o pensamento ecossistêmico abarcam novas reflexões sobre o papel da escola dentro do novo modelo de sociedade, desenhando na contemporaneidade novas maneiras de agir e pensar no mundo. Frente a isso, a postura pedagógica vem se reinventando e o emergir de

técnicas de mediação pedagógica dão o tom de novas abordagens necessárias. Uma delas é a transversalidade, que busca superar o conceito de disciplina por meio da interlocução entre as disciplinas, tratando um tema como transversal a todos os saberes.

De acordo com Blauth (2004), o Jardim é transversal, pois:

Escora todas as disciplinas dentro de um contexto que é arte, ambiente, cultura e economia ao mesmo tempo. São amplas as possibilidades pedagógicas do trabalho no jardim, desde a convivência com os seres vivos até a criação de tecnologias de jardim como treliças, viveiros, composteiras. Mas é preciso saber fazer e infelizmente muitos de nossos professores nunca tiveram nenhum contato com a terra, limitando sua prática docente a tarefas cognitivas, muitas vezes seguindo um currículo descontextualizado e ultrapassado. E assim, os alunos aprendem a copiar (BLAUTH, 2004, p.2).

Desta maneira, podemos partilhar do pensamento de Blauth (2004, p.3), que nos relata que educar no jardim significa explorar um lugar mágico, onde “a cada centímetro quadrado existe uma surpresa fazendo cócega na imaginação, provocando o espanto, ajudando a crescer as nossas asas, veias artísticas e espirituais, que estimulam nossa conexão com o todo, alegremente desconhecido”.

Esta pesquisa aborda a importância da realização do processo de ensino- aprendizagem de maneira ativa e significativa, trazendo para o nosso cenário a possibilidade de educar para a sustentabilidade nos Jardins da escola, construídos de forma participativa, a partir da técnica e da filosofia agroecológica e permacultural. É nesse sentido que apresentamos conceitos fundamentais para este estudo como o Quintal Permacultural e o Jardim Educador.

O significado da palavra quintal presente nos dicionários remete a uma área, um pequeno terreno, muitas vezes com jardim com horta, atrás de casa. Nesta pesquisa, o quintal pode ser entendido com um espaço verde, construído participativamente e constituído essencialmente por diferentes jardins. Quintal, pois entendemos a escola como nosso oikos, nossa casa. O permacultural qualifica o substantivo quintal com intuito de descrever nosso espaço, como um alugar pensado e desenvolvido sobre os princípios da Permacultura.

Jardim, local onde se cultua a biodiversidade. O Jardim Educador é um jardim construído para o ambiente escolar, diverso, criado de forma coletiva, constituído de plantas medicinais, ornamentais, árvores, hortaliças, flores, latadas, arbustos. Trata-se de uma sala de aula viva, que a comunidade escolar pode se apropriar para a aprendizagem do mundo natural. É a ponte entre diversos saberes com potencial de enriquecer o processo de ensino-aprendizagem.

Para Legan (2007), o desenvolvimento de um trabalho nos jardins, utilizando o terreno da escola como uma sala de aula ao ar livre, “permite a experiência em primeira mão com a natureza, trabalhando para o futuro sustentável. A sala de aula ao ar livre

oferece além do espaço estimulante e da ventilação, a alternativa para a criança desenvolver habilidades e conhecimentos aplicáveis ao mundo real” (p. 15).

Conforme a autora, o terreno da escola, o espaço permacultural, deve ser planejado para permitir o aprendizado espontâneo e diversificado. Em suas palavras:

O ambiente é preparado de forma a facilitar uma exploração ativa, interagindo com adultos e os parceiros da comunidade escolar. Todos se tornam parte da solução de muitos problemas atuais e futuros. A sala de aula ao ar livre se encaixa em qualquer currículo, para qualquer idade ou nível escolar (op.cit.).

Por fim, é importante colocar que o trabalho educativo nos Jardins pode trazer grandes benefícios para além dos encantamentos e sensação agradável que um jardim nos oferece. Aprender novas habilidades, apurar o saber, partilhar conhecimento, exacerbar nosso potencial de restauração de um ambiente, despertar valores ambientais, aprender com o fazer cotidiano, consumir alimentos saudáveis e inventar novas perspectivas para propostas e atividades de Educação Ambiental são possibilidades que reforçam a intenção da proposta Jardins Educadores.

CAPÍTULO 2. EDUCAÇÃO AMBIENTAL E ECOPEDAGOGIA: A

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