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2.1. O Território e a Dimensão Natural

A aldeia de Castelo Mendo situa-se no Distrito da Guarda, na zona sudoeste do Concelho de Almeida, distando aproximadamente 19km desta vila. O Concelho de Almeida integra vinte e nove freguesias (Ade, Aldeia Nova, Almeida, Amoreira, Azinhal, Cabreira, Castelo Bom, Castelo Mendo, Freineda, Freixo, Junça, Leomil, Malhada Sorda, Malpartida, Mesquitela, Mido, Miuzela, Monte Perobolço, Nave de Haver, Naves, Parada, Peva, Porto de Ovelha, São Pedro de Rio Seco, Senouras, Vale de Coelha, Vale da Mula, Vale Verde e Vilar Formoso). A aldeia ocupa uma área aproximada de 7km2, encontrando-se implantada sobre um maciço granítico a 756m de altitude. Quase inacessível dos lados Nascente, Sul e Poente, a aldeia domina uma paisagem agreste e recortada, de vales cavados. A leste circunda-a o rio Côa e a sul o ribeiro de Cadelos. A localidade tem como principais eixos viários de acesso o Itinerário Principal 5 e a Estrada Nacional 16 que sai da cidade da Guarda em direcção a Vilar Formoso, sendo também servida por transportes ferroviários, nomeadamente pela Linha da Beira Alta (Vilar Formoso), estando o apeadeiro localizado a cerca de 3,5km da aldeia, ver Figs. 2.1. e 2.2.

A área geográfica em que se insere o Concelho de Almeida pode considerar-se um território de transição entre as altas serras do maciço central, a Oeste (ainda sob influência de condições de carácter atlântico), o quente e mediterrânico ambiente duriense (a Norte) e o frio e agreste planalto beirão raiano, fazendo parte de uma região que alguns autores designam por Beira Interior ou Raia Central (inserindo-se, em particular, na chamada Beira Transmontana ou região de Riba-Côa). A integração do Concelho de Almeida nesta referida zona Raiana é caracterizada pela sua feição continental e pela natureza pobre dos solos graníticos onde, no que respeita à agricultura, predominam os sistemas cerealíferos de sequeiro em rotações longas. No entanto, a partir do núcleo das aldeias assiste-se a uma diversificação da agricultura com o cultivo de olivais e vinhas. No entanto, generalizada ocorrência de monólitos de granito dificulta a exploração agrícola na maioria dos terrenos, tornando mesmo alguns deles impossíveis de trabalhar, o que, pode, explicar a elevada expressão visual das áreas sem cultivo.

Relativamente às zonas de ocupação florestal, assumem especial relevo espécies vegetais como o sobreiro (Quercus suber), a azinheira (Quercus ilex), o carvalho

(b) A Beira Interior Norte na Região Centro, NUTIII.

(a) A Região Centro em Portugal Continental, NUTII.

(c) A Concelho de Almeida na Beira Interior Norte.

(d) A freguesia de Castelo Mendo no Concelho de Almeida.

Fig. 2.1. Castelo Mendo. Localização na Região Centro de Portugal.

(a) Ortofotomapa.

(b) Mapa da rede viária.

Fig. 2.2. Castelo Mendo. Localização.

Fonte: GoogleEarth, www.dgotdu.pt

negral (Quecus pyrenaica) – formando bosquetes ou integrando renques arbóreos na margem dos prados/lameiros, normalmente associados ao freixo-de-folha-estreita (Fraxinus angustifolia) – e o pinheiro bravo (Pinus pinaster). Apesar do carvalho e do freixo desempenharem um importante papel na estrutura da paisagem, caracterizada pela presença do castanheiro (Castanea sativa) no extremo sudoeste, considera-se que o Concelho de Almeida é, no seu conjunto, um território bastante desarborizado. Nesta zona, os níveis de altitude, crescem de nordeste para sudoeste, desde o vale encaixado do Côa, até às altas serras do limite ocidental do concelho da Guarda, que ultrapassam os 1000m. Existe uma vasta zona interior de planalto (“Almeida” é uma palavra de origem árabe “Tal meida” que significa “a mesa”), com altitudes que rondam os 750 / 800m, entalhada pelo vale do Côa e por alguns dos seus afluentes. O ponto mais alto é atingido na Cabeça Alta, a 1287m de altitude, ver Fig. 2.3. (b).

Este território é principalmente granítico, existindo, no entanto, no extremo sudoeste e a Norte do Concelho de Pinhel, terrenos de xisto de extensão considerável. O xisto ocorre ainda de forma dispersa na zona em estudo, tornando-se a sua presença aparente sobretudo pela alteração provocada no tipo de vegetação, na morfologia e no aspecto dos campos. Um pouco a Sul de Azêvo, no Concelho de Pinhel, surgem repentinamente terras argilosas e avermelhadas, acompanhadas por manchas de esteva (Cistus ladanifer), indicando-nos imediatamente a passagem do granito para o xisto. Ainda antes de Azêvo emerge uma crista quartzítica, na transição novamente para o granito. Na maior parte dos casos, a paisagem granítica é barroquenta, estando abundantemente revestida por monólitos dispersos ou amontoados. Em certas situações, como no vale do Côa, próximo de Cidadelhe, o próprio vale é definido por enormes maciços rochosos, assumindo frequentemente a forma de imponentes escarpas. No limite sudeste do Concelho de Almeida evidencia-se um substrato de génese sedimentar, ver Fig. 2.3. (a).

Nesta área geográfica observa-se uma apreciável variação da quantidade de precipitação, sendo esta mais escassa nas zonas interiores e / ou afastadas dos maciços montanhosos e bastante mais significativa na área de influência directa da Serra da Estrela, no extremo sudoeste do Concelho da Guarda. Verifica-se um aumento de pluviosidade de nordeste para sudoeste, existindo, no entanto, uma pequena área de maior precipitação no extremo sudeste do Concelho de Almeida – fenómeno que eventualmente se deverá à influência exercida pela proximidade da Serra da Malcata, ver Fig. 2.3. (c). O teor de humidade atmosférica é relativamente elevado, variando pouco em toda a extensão do território em estudo, ver Fig. 2.3. (d).

(a) Características geológicas. (b) Hipsometria.

(c) Pluviosidade. (d) Humidade do ar.

Fig. 2.3. Distrito da Guarda. Características ambientais.

Fonte: www.snig.igeoe.pt

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No que respeita à temperatura, verifica-se a existência de uma zona bastante quente no prolongamento para Norte do Concelho de Pinhel, de uma zona fria condicionada pelo efeito orográfico e de uma vasta zona interior amena e fresca. No entanto, torna- se necessário esclarecer que as amplitudes térmicas (diárias e anuais) são consideráveis, sobretudo no Concelho de Almeida, em que os vales encaixados dos cursos de água denotam condições microclimáticas próprias e que, de uma maneira geral, nos Concelhos de Almeida e de Pinhel se caracteriza por uma considerável secura, ver Fig. 2.4. Baseados nos indicadores geoclimáticos e biológicos foram definidas cinco zonas naturais distintas para a área em estudo, salientando a existência de variações locais mais ou menos pronunciadas relacionados com a existência de vales profundos e / ou abrigados, a variada exposição das encostas, as características litológicas e com o tipo e magnitude da intervenção humana.

A Zona Duriense, delgada e de reduzida superfície, corresponde aos vales apertados do Côa e dos seus principais afluentes. O ambiente natural assume, desta forma uma maior presença em relação ao ambiente humanizado. Trata-se de uma área bem demarcada cujo enquadramento geográfico gera condições completamente diferentes do resto do território. Desenvolve-se sob a influência de um clima claramente mediterrânico, quente e seco, ver Fig. 2.5. A Zona de Policultura Submediterrânica configura uma paisagem eminentemente agrícola, ainda a baixa altitude. Predominam os pomares, nos quais se inclui, de forma dispersa, a amendoeira (Prunus dulcis) e a vinha, embora existam com alguma expressão o pinhal, o centeio, os prados e, sobretudo junto às linhas de água, a horticultura. O sobreiro, o carvalho-negral, e o freixo-de-folha estreita são frequentes, enquanto que o castanheiro é mais raro, Fig. 2.6.

O Planalto Beirão abrange praticamente todo o Concelho de Almeida e a metade oriental do de Pinhel. Trata-se de um território granítico, entre os 700 e os 800m de altitude, em grande parte desarborizado, no qual chove pouco e pontuam o giestal e as culturas arvenses de sequeiro. Corresponde ao prolongamento para Sul da “Terra Fria”, da área geográfica de Castelo Rodrigo (Concelhos de Vila Nova de Foz Côa e Figueira de Castelo Rodrigo). A Zona Serrana encontra-se quase toda acima dos 800m e, na sua porção sudoeste, está mesmo acima dos 1000m. O clima é frio e chuvoso, com o relevo muito acidentado, as serras elevadas e as encostas íngremes, separadas por vales profundos e férteis, nos quais correm linhas de água. Nesses vales desenvolvem-se condições microclimáticas que possibilitam uma maior

(a) Temperatura. (b) Freguesia de Castelo Mendo.

Fig. 2.4. Almeida. Características ambientais.

Fonte: INE; www.snig.igeoe.pt

Fig. 2.5. Distrito da Guarda. Delimitação das zonas naturais.

Fonte: FAUTL (Projecto de Investigação do Património Rural em Portugal)

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variedade de vegetação e de utilização agrícola. Por oposição ao Planalto Beirão, aqui o meio florestal tem elevada expressão e variedade, soutos, pinhais, carvalhais. Os matos também abundam sobretudo devido aos incêndios florestais.

Finalmente, a Zona de Transição é um território caracterizado por diversas influências ambientais, bastante chuvoso, sensivelmente plano e granítico. Apresenta notável diversidade agrícola e florestal, na qual se interpenetram pequenos campos cultivados (sobretudo na área de influência das aldeias), manchas de pinhal e de carvalhal, de castanheiros, de áreas arbustivas e alguns cursos de água. Do ponto de vista estritamente natural é caracterizada pela significativa frequência da ocorrência de caldoneira (Echinospartum lusitanicum), que chega a cobrir algumas encostas em povoamentos extremos, identificável devido à forma arredondada, amoitada das próprias plantas e à diferente tonalidade (verde claro) que confere aos locais onde se desenvolve. Na ausência de influência humana, poderíamos esperar encontrar na Zona Duriense um bosque de tipo mediterrânico, no qual pontuariam árvores de maior porte como a azinheira, o sobreiro, o carvalho-cerquinho (Quercus faginea) e o oxicedro (Juniperus oxycedrus) e as pequenas árvores ou grandes arbustos como a zelha (Acer monspessulanum) e a cornalheira (Pistacia terebinthus).

Esta formação seria mais ou menos fechada se o permitissem os abundantes afloramentos rochosos, sobretudo no vale do Côa, embora muito diferente do bosque climático. Por comparação com o Planalto Beirão, este estaria coberto de bosques multi-específicos nos quais se integrariam sobretudo a azinheira, o carvalho-negral e o freixo-de-folha-estreita, estando o sobreiro também presente embora de forma minoritária. Em determinados locais, respondendo às variações das condições do ambiente, poderiam ocorrer manchas de bosque constituídas apenas por uma ou duas das espécies anteriormente referidas, sendo natural que, nas áreas de fronteira com a Zona Duriense, as quercíneas perenifólias fossem dominantes e que surgisse também o oxicedro e outros elementos próprios da vegetação duriense. A Zona de Policultura Mediterrânica apresentaria uma versão empobrecida do coberto vegetal tipicamente duriense. O sobreiro e a azinheira teriam um papel de destaque e, desta vez, o carvalho-negral seria minoritário. Na Zona de Transição, a Norte, existiria uma predominância dos dois carvalhos mediterrânicos de folha persistente atrás referidos e, à medida que se caminharia para Sul, a paisagem seria dominada pelo freixo, castanheiro e Quercus pyrenaica, ver Fig. 2.6. (b).

(a) Carvalhal. (b) Souto de castanheiros.

(c) Castelo Mendo.

Fig. 2.6. Conselho de Almeida. Características ambientais.

A Zona Serrana é detentora de uma mancha ecológica de considerável variedade, como consequência do relevo, da variação altimétrica e do efeito que ambos os factores exercem nas condições climáticas. No fundo das encostas, sob condições de maior insolação e de um regime térmico mais favorável, desenvolver-se-ia uma flora de tipo mediterrânico que, com a altitude, daria lugar a outra de carácter mais atlântico, de que seriam exemplo os carvalhais de Quercus pyrenaica (que integrariam o castanheiro e poderiam incluir, em determinadas situações, o carvalho-roble (Quercus robur) ou a azinheira). Nas zonas mais altas, o carvalhal poderia dar lugar a um vidoal de Betula pubescens ou a uma mistura de ambas as formações.

2.2. História e Desenvolvimento Local

A evolução histórica de Castelo de Mendo, localizada em zona de fronteira encontra- se profundamente ligada à vocação militar de defesa e consolidação do território nacional, facto que leva a compreender a dualidade de vivências, quer referentes ao passado, quer ao presente, num contraste entre a pujança e o poder alcançados noutros tempos e o actual estado de abandono e despovoamento. No entanto, ao longo dos séculos, o local foi conhecendo ocupações diversas: um castro neolítico – na muralha encontra-se vestígios e nas encostas do monte sobre o qual os romanos edificaram uma importante fortaleza, estratégica na ocupação militar e administrativa. Na via militar de ligação a Almeida e na estrada que ligava a Guarda a Castelo Bom subsistem ainda alguns troços. Posteriormente, presume-se que passaram por Castelo Mendo os Vândalos que destruíram a fortaleza e os Alanos que a teriam restaurado.

Com as invasões Bárbaras e, posteriormente, Muçulmanas, a povoação terá ficado em ruínas, motivo pelo qual se supõe que D. Sancho I terá determinado a reconstrução do castelo. De facto, a tradição historiográfica apontou uma presumível intervenção em fins do séc. XII, quando D. Sancho I, ao ter encontrado a povoação arruinada, teria ordenado a reedificação do castelo, concedendo-lhe carta de foral em 1186. Em Março de 1229, D. Sancho II terá renovado o Foral de Castelo Mendo, nomeando como Alcaide D. Mendo Mendes que estará, possivelmente, na origem do topónimo da aldeia, ver Fig. 2.7. (a). Evidenciando a necessidade de povoar a zona do castelo, ordenou o seu reforço e ampliação e instituiu a realização do mercado, concedendo Carta de Feira à povoação. Nesta Carta ficou estabelecida a realização da feira, com duração de oito dias, pela Páscoa, S. João e S. Miguel, assim como um mercado de pão, carne e peixe. A feira, distinguindo-se do mercado, é considerada a primeira feira oficial do Reino, desconhecendo-se, no entanto, o local exacto da sua localização.

Várias fontes apontam como possível localização a Rua da Praça, junto à Porta da Guarda. Em Dezembro de 1281, D. Dinis tornou a feira franca, tendo esta uma periodicidade anual e uma duração de quinze dias, decorrendo entre finais de Abril e princípios de Maio, ver Fig. 2.7. (c). Supõe-se que, nesta data de confirmação do foral, poderá ter ocorrido uma transferência do local da feira para a Devesa (zona exterior do segundo núcleo amuralhado), ficando assim os alpendres isentos de impostos por não entrarem no espaço urbano, tal como é referido nos forais, usos e costumes.

“Em 1281, El-Rei D. Dinis confirmou o foral e, uma vez mais, a tradição historiográfica atribui a este monarca a renovação das estruturas defensivas, talvez a edificação da torre de menagem e, em particular, a construção da segunda cintura muralhada.” [CONCEIÇÃO, 2000], ver Fig. 2.7. (b). Em 1285, o monarca remodelou o castelo e ampliou de novo a cerca das muralhas e, em 1295, concedeu de novo foral a Castelo Mendo, ampliando os privilégios já concedidos. Desta forma, apesar das divergentes posições relativamente às origens históricas de Castelo Mendo, diversos estudos apresentam referências a D. Dinis. Durante o reinado de D. Dinis, a assinatura de um dos mais importantes tratados da história portuguesa resultou num afastamento da linha fronteiriça e das zonas de tensão, vindo, o Tratado de Alcanices, a influenciar a vivência da população e, consequentemente, a expansão urbana de Castelo Mendo, que, desempenhara importante papel na defesa do território nacional.

Em 12 de Setembro de 1297, na povoação fronteiriça espanhola, perto de Miranda do Douro, foi assinado, entre Portugal (D. Dinis) e Castela (D. Fernando IV), o Tratado de Alcanices, documento que definiu os limites definitivos do território português, estabelecendo também os casamentos de D. Fernando IV com D. Constança, filha de D. Diniz, e do futuro rei D. Afonso IV com a irmã do rei castelhano, D. Beatriz. Durante a crise de 1383-85, D. João de Castela, casado com D. Beatriz, filha de D. Fernando, terá passado por Castelo Mendo quando invadiu Portugal. Com efeito, esta fortificação desempenhou um papel de assinalada importância durante a época medieval.

A localização junto da fronteira com Castela, permitia uma situação económica favorável, resultado do desenvolvimento do comércio local e instalação de nobres e de uma classe burguesa constituída, principalmente, por judeus. Castelo Mendo desempenhou um importante papel na defesa e consolidação do território nacional, nos conflitos com Castela, na época medieval, no séc. XVII com as Guerras da Restauração e, no século XIX, com as Invasões Francesas. A fortificação demonstrou também a dimensão da sua importância durante as Lutas Liberais. Em 1387, na

tentativa de superar e reparar os castelos da raia, D. João I criou um couto de homiziados em Castelo Mendo, impondo a definição política para a raia, a defesa e o povoamento, medida que poderemos interpretar enquanto forma de colmatar dificuldades de povoamento e consequente preenchimento da área urbana.

Os cronistas apontam para uma intervenção no último quartel do séc. XIV (quando D. Fernando ordena um novo restauro das muralhas), facto que se poderá considerar singular, senão mesmo algo contraditório. Em Junho de 1510, D. Manuel outorgou novo foral à povoação, na sequência do qual se supõe ter sido colocado um raro pelourinho de “gaiola” na praça junto à Igreja de S. Pedro, ver Fig. 2.7. (d). Durante as Guerras da Restauração, em 1640, é feita uma renovação das estruturas defensivas, intervenção marcada pela construção do baluarte junto à Porta Falsa do castelo.

As Memórias Paroquiais de 1758, elaboradas na sequência do terramoto de 1755, referem a existência de muros fortes e de oito torres arruinadas. No reinado de D. Maria I foi criada, em 1782, a primeira escola oficial. No séc. XIX, a estrutura defensiva entrou em processo de ruína com as Invasões Francesas e as Lutas Liberais, sendo a zona do castelo transformada em cemitério. Em Outubro de 1855, data de grandes reformas administrativas no País, Castelo Mendo deixa de ser sede de concelho, e a aldeia, bem como as freguesias que então o constituíam (Azinhal, Peva, Freixo, Mesquitela, Ade, Monte Perobolso, Cabreira, Amoreira, Leomil, Mido, Senouras, Aldeia Nova), são integradas no Concelho do Sabugal. Mais tarde, em 1870, passou a pertencer ao Concelho de Almeida. Em 1949 terá ruído o arco da Porta do Castelo e, em 1979, foi elaborado um estudo de recuperação urbana e arquitectónica.

Actualmente, após a intervenção do Programa das Aldeias Históricas, Castelo Mendo poderá começar a despertar de um longo período durante o qual o tempo parece ter parado. Marcado pela vivência predominantemente rural, o quotidiano da aldeia é agora quebrado pontualmente pela presença de turistas, interessados em conhecer a povoação que desempenhou um papel relevante na história da defesa e consolidação do território português. No entanto, o dia-a-dia da população (reduzida e bastante envelhecida) reparte-se pelas actividades agrícolas de subsistência e pela pastorícia. A falta de população jovem poderá justificar o facto da aldeia não tirar o devido proveito do factor turístico, contrariamente ao que já acontece em algumas aldeias próximas, nomeadamente ao nível da restauração e turismo rural, ver Fig. 2.7. (e).

(a) El-Rei D. Sancho II. (b) El-Rei D. Dinis.

(c) Alpendre da Feira. (d) Pelourinho, em “gaiola”.

(e) Vista aérea.

Fig. 2.7. Castelo Mendo. Registos históricos.

2.3. População e Caracterização Social

Após uma breve reflexão sobre a intervenção do “Programa de Recuperação das Aldeias Históricas de Portugal”, em particular em Castelo Mendo, surgiu a necessidade de analisar mais profundamente as eventuais consequências que o Programa possa ter trazido para esta localidade, procurando entender de que forma terá ou não contribuído para resolver os seus problemas, ou até mesmo para delinear percursos futuros. Considerando estes objectivos, procedeu-se a uma caracterização demográfica e do edificado das freguesias constituintes do Concelho de Almeida, com base em técnicas de infografia e tratamento estatístico. Partindo dos resultados dos Censos de 1981, 1991 e 2001, disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), pretendeu-se comparar alguns indicadores referentes ao edificado (época de construção, uso predominante e tipo de ocupação) e à demografia (taxa de variação da população, estrutura etária e indicador da dimensão média da família) dentro do Concelho, tentando analisar as tendências recentes de evolução da aldeia de Castelo Mendo, única freguesia do Concelho que, com a vila de Almeida – sede de Concelho e localidade de maior dimensão (vila), sofreu a intervenção do “Programa de Recuperação das Aldeias Históricas de Portugal”, em comparação com as restantes freguesias. Além da análise ao nível do concelho, procedeu-se também ao tratamento estatístico dos resultados dos Censos de 1991 e de 2001 para as subsecções que constituem a freguesia de Castelo Mendo.

A referida freguesia é constituída por três subsecções – Castelo Mendo, Paraísal e a área residual resultante da subtracção das áreas de Castelo Mendo e de Paraísal à área total da freguesia, ver Fig. 2.4.(b), facto que permite uma análise ainda mais rigorosa da realidade e, consequentemente, uma previsão mais concreta das tendências de evolução e perspectivas de futuro da localidade, dados essenciais para a identificação de eventuais problemas e elaboração de possíveis propostas de solução. Esta análise é composta pela caracterização demográfica e do edificado das freguesias do Concelho de Almeida, seguida de uma outra caracterização, também

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