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3.3 Locais da pesquisa: em um tempo e um lugar

3.3.2 Aldeias Infantis SOS

A ONG Aldeias Infantis SOS é uma instituição compreendida como um aparelho social não governamental, sem fins lucrativos. É membro da UNESCO e conta com um assento permanente no Conselho Econômico e Social da ONU. Atua em 132 países e comunidades, promovendo ações para defender e garantir os direitos de crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social, que perderam ou estão prestes a perder os cuidados de suas famílias.

Foi criada em 1949, na Áustria, por Hermann Gmeiner, um jovem estudante de Medicina, comprometido com crianças que perderam seus lares, suas famílias e sua segurança em consequência da Segunda Guerra Mundial. A SOS Kinderdorf International, sediada em Innsbruck (Áustria), é a federação de todas as Aldeias infantis SOS no mundo. Atualmente, mais de 73.000 crianças, adolescentes e jovens até 18 anos incompletos são acolhidos em todos os continentes.

Nasceu, dessa forma, a iniciativa de propiciar às crianças órfãs de guerra o direito ao atendimento individual personalizado, que segundo os preceitos da entidade prevalecem o carinho, o respeito e o direito de viver em um ambiente seguro e acolhedor, um espaço de educação, de afeto e de formação integral.

A instituição Aldeias Infantis SOS adota uma gestão democrática e descentralizada, através das instâncias compostas da seguinte forma: Conselho Diretor; Conselho Fiscal; Conselho Nacional de Operações; Comitê Local de Operações; Comitê de Apoio Local; Comitê Familiar e Comitê de Aldeia. Seguindo o ideário do seu fundador, cada aldeia é administrada por um dirigente, que apóia, orienta e exerce o papel de pai simbólico das crianças e sua constituição educativa está fundamentada em quatro categorias básicas, a saber: Aldeias SOS; casa-lar; mãe-social e os irmãos.

As casas-lares acolhem crianças nos moldes da constituição de uma família. A mãe- social é uma profissão regulamentada por lei, cuja função é dirigir a casa-lar, na perspectiva de tentar suprir as necessidades afetivas de mãe, enquanto que os irmãos são as crianças com

idade e sexo que variam. Assemelhando-se, portanto, à família natural, os irmãos consanguíneos são mantidos na mesma casa-lar, para preservar os laços afetivos.

Orientada por esses princípios básicos, a ONG Aldeias Infantis SOS desenvolve seis ações complementares, com o intuito de cumprir a sua missão: Casa transitória – destinada a dar apoio e segurança às crianças que residem nas casas-lares; Creches – objetivam atender às crianças da comunidade em geral; Escola - leva educação de qualidade para as crianças das aldeias e da comunidade; Centro Cultural Hermann Gmeiner – oferece oficinas de informática, teatro, esportes e outras; Centros de Capacitação de Jovens – têm a finalidade de orientar jovens para o seu desenvolvimento profissional e cultural; Casas de Jovens – são as residências juvenis que complementam o processo de desenvolvimento e integração à vida de jovens oriundos das Aldeias SOS.

Atualmente, as Aldeias SOS desenvolvem suas atividades em cidades de dez estados brasileiros, a saber: Amazonas (AM), Brasília (DF), Caicó (RN), Goioerê (PR), Jacarepaguá (RJ), Juiz de Fora (MG), João Pessoa (PB), Lauro de Freitas (BA), Natal (RN), Poá (SP), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ), Santa Maria (RS), São Bernardo do Campo (SP) e em São Paulo (SP).

Ao longo dos seus 42 anos de trabalho, a organização conta com 28 programas que atendem a 10.000 crianças, adolescentes e jovens, nos países de atuação. Estabelece suas ações com foco na garantia, na promoção e na defesa integral dos direitos de crianças, adolescentes e jovens, na perspectiva de fortalecer a convivência familiar e comunitária baseada em um programa integral, com duas linhas de ação: “Fortalecimento familiar e

comunitário” e “Acolhimento institucional - modalidade casa-lar‖.

A ação de acolhimento faz parte da premissa da proteção integral da entidade e refere- se à estadia provisória, porém qualificada, para desenvolver o trabalho educacional que busca a reinserção familiar. Enquanto que a ação do fortalecimento familiar e comunitário diz respeito à proteção e ao cuidado diário com crianças e adolescentes; e a atenção psicopedagógica, a fim de fortalecer os vínculos e a integração da família. Posto isso, passamos a caracterizar as Aldeias Infantis SOS, João Pessoa, PB, por ser o outro lócus pesquisado.

Sua história surgiu por iniciativa de Madre Carolina, religiosa e diretora do Instituto João XXIII, juntamente com um grupo de 96 pessoas envolvidas com a escola. Em 26 de outubro de 1984, o Governo do estado da Paraíba doou um terreno de 10 hectares para a Organização.

No dia 31 de maio de 1987, a ONG Aldeias Infantis SOS-PB (Figura 8) foi inaugurada oficialmente, com seis casas-lares em um condomínio, com escritório para a equipe técnica e um centro de vivências (anfiteatro). Trata-se de uma instituição localizada no Bairro de Mangabeira, zona sul da cidade de João Pessoa, capital da Paraíba.

O bairro Mangabeira foi fundado em 23 de abril de 1983, com o nome Conjunto Habitacional Tarcísio de Miranda Burity e está subdividido em oito partes numeradas do I ao VIII, assim caracterizadas: Mangabeira I, Mangabeira II, etc. Por abrigar diferentes classes sociais e mais de 100.000 habitantes, é o bairro mais populoso da capital paraibana.

Devido ao inchaço urbano, incorporou, em seu cotidiano, problemas comuns às grandes cidades, tais como: falta de moradia adequada e de acesso a serviços básicos nas áreas de saneamento, saúde e educação.

Figura 8 – Aldeias Infantis SOS João Pessoa – PB

Acesso principal as Aldeias Infantis SOS Área interna das Aldeias Infantis SOS

Fonte: Arquivos da pesquisa in loco, 2012.

O bairro Mangabeira possui índices alarmantes de vulnerabilidade, visto que a maioria da sua população encontra-se inserida em situação de violência e marginalização, o que tem gerado agressividade, carência de projetos de vida e a ausência de valores como o respeito e a ética.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE (2010) confirmam que Mangabeira tem um número expressivo de famílias em situação de risco, sem nenhum rendimento que garanta a sobrevivência, visto que 54,28% sobrevivem com apenas um salário mínimo. Isso reflete a precariedade da qualidade de vida dessas famílias diante das necessidades básicas - alimentação, moradia, saúde e educação. Isso justifica o baixo índice

de escolaridade existente, porquanto 68,57% da população de Mangabeira encontram-se no nível fundamental incompleto.

O bairro (Figura 9) conta com um comércio focado em atividades informais, fato que vem acarretando um crescimento no número de mulheres que trabalham fora de casa e construindo novos mecanismos de responsabilidades coletivas, de tomada de decisões e responsabilidades compartidas. Oferece, também, prestação de serviços para a comunidade local, através de diversas instituições relevantes, para efetivar os processos de organização e participação comunitária e o seu desenvolvimento socioeducativo.

Figura 9 – Fotos do Bairro Mangabeira

Acesso principal do Bairro Mangabeira Rua do Bairro Mangabeira

Fonte: Arquivos da pesquisa in loco, 2012.

Dentre as instituições implantadas no bairro, destacamos as Aldeias Infantis SOS-JP, com suas 13 Casas-lares, que contam com o trabalho de uma Mãe social para cada uma delas. Por serem responsáveis pela educação da criança e/ou do adolescente e agem como se fossem sua verdadeira mãe. Nesse trabalho de acolhimento, tentam resgatar os laços entre eles e as família de origem, de maneira que retornem aos seus pais ou a outros familiares.

As Aldeias Infantis SOS─JP se propõem a desenvolver um trabalho articulado por meio de medida de proteção provisória e excepcional, destinado a acolher crianças e adolescentes, quando seus direitos são ameaçados ou violados. Nesse sentido, presta assistência a crianças e adolescentes, ofertando-lhes acolhida, cuidado e espaço para sua socialização e desenvolvimento. Segundo seu Estatuto, sem nenhum tipo de intolerância ou discriminação econômica, social e pessoal, pois entende que todos que lá residem são pessoas

que, por razões diversas, fazem a travessia de uma situação de vulnerabilidade para um programa de oferta de serviços por meio do acolhimento institucional ou familiar.

Seu objetivo é de promover ações, visando à formação integral para a cidadania de crianças e adolescentes em situação de risco, oferecer aos seus assistidos, tanto no fortalecimento familiar quanto no acolhimento, atividades complementares para a educação formal, visto que as crianças e os jovens das Aldeias estudam em escolas da comunidade. Assim, de segunda a sexta-feira, com quatro horas diárias, oferece atividades socioeducativas, culturais, nutricionais (alimentação e saúde), inclusive psicossociais. Também realiza trabalhos sistemáticos com as famílias da comunidade, no que se refere à orientação legal familiar; ao cuidado com os filhos e à sua proteção; acompanhamento a projetos de vida e fortalecimento e integração da família.

Entre as atividades desenvolvidas nas Aldeias Infantis SOS-JP, destacamos as práticas de leitura que propiciam ações como: hora do conto, produção textual e literária, empréstimo de livros, biblioteca itinerante e confecção de livros com histórias produzidas pelas crianças e pelos jovens (Anexo D). Essas ações sinalizam a responsabilidade e o compromisso dessa ONG voltados para o incentivo à leitura, em um contigente marcado pela ausência de espaços

e de meios públicos de difusão e democratização de bens culturais ― bibliotecas, cinemas,

teatros e livrarias.

Tal feito levou a instituição a se articular em redes com outras instituições socias, a fim de incentivar a promoção da leitura e do acesso ao livro. Contando com uma biblioteca (Figura 10) e dois mediadores de leitura, a ONG desenvolve práticas de leitura dentro e fora dos seus espaços, com o objetivo de despertar nas pessoas o gosto e o prazer de ler.

Figura 10 – Biblioteca da sede Aldeias Infantis SOS ─ JP

Devido ao compromisso com o incentivo à leitura, as Aldeias Infantis SOS-PB efetivaram parceria com o Instituto C&A, através do polos de leitura do Programa Prazer de Ler, que financia, em âmbito nacional, projetos de incentivo à leitura de instituições voltadas para a formação de leitores e mediadores de práticas leitoras.

Em João Pessoa, essa parceria se concretizou com a criação do Polo de Leitura na Rede, cuja estratégia de articulação é desenvolver o gosto e a fruição pela leitura. Para isso, incorpora práticas de leitura à rotina cotidiana das instituições envolvidas na rede, na perspectiva de formar uma sociedade leitora.

Outra ação dessa natureza desenvolvida pela ONG, diz respeito à sua parceria com a Petrobrás, através do projeto Com Vivência (Anexo E), como linha de atuação na garantia dos direitos da criança e do adolescente; Instituto Fazendo História (Anexo D), organização não governamental fundada por um grupo de psicólogas envolvidas com a causa de crianças e adolescentes que vivem em abrigos, a fim de fortalecê-los para que se apropriem e transformem a própria história.

O Instituto, também, atua em parceria com ONGS, através de diversos programas e projetos, dentre eles, o projeto Fazendo Minha História (Anexo F), que propõe, através da mediação de leitura, proporcionar meios de expressão para que cada criança e adolescente que vive em instituições de acolhimento possam registrar suas vivências e despertar para o prazer da leitura.

No programa, cada participante recebe um álbum em branco a ser preenchido com fotos, textos, desenhos e outros dados inerentes a sua história de vida. Nele ficam registradas informações importantes sobre a família, o tempo no abrigo, os amigos, a escola, as perspectivas e os sonhos para o futuro dos protagonistas das histórias.

Salientamos que um ponto relevante para a escolha das ONGS Casa Pequeno Davi e Aldeias Infantis SOS ─ como lócus de pesquisa ─ é o fato de serem gestoras de projetos de estímulo à leitura que revitalizam o fortalecimento da cidadania e do estimulo à leitura, de fazerem uma conexão sistemática entre o amparo social e a inserção social, articulando a leitura como uma das ferramentas desse processo; e ainda, por estarem voltadas para mecanismos interdisciplinares, respaldados no respeito pelo outro, com todas as suas diferenças.

Outro fator, não menos importante, é que essas instituições fazem parte do projeto Polo de Leitura na Rede (PLR), que atua na região metropolitana de João Pessoa, com o objetivo de disseminar a leitura, principalmente entre crianças.

Trata-se, de um projeto de cunho social, nascido há três anos na cidade de João Pessoa, com suporte financeiro do Instituto C&A. É constituído por instituições situadas em território marcado pela ausência de espaços e meios de difusão e democratização de bens culturais, tais como: bibliotecas, cinemas, teatros, livrarias, dentre outros.