• Nenhum resultado encontrado

Aleitamento materno em lactentes com fissuras labiopalatinas: uma prática

2.2 ALEITAMENTO MATERNO EM LACTENTES COM FISSURAS

2.2.2 Aleitamento materno em lactentes com fissuras labiopalatinas: uma prática

Para um melhor entendimento do aleitamento materno em lactentes com fissura labiopalatina, faz-se pertinente situar primeiramente o nascimento da criança com fissura e suas repercussões na família, já que a prática da amamentação ocorre concomitantemente com o fenômeno de ter um filho diferente do idealizado (Thomé, 2003).

Bradbury e Bannister (2005) ressaltaram que as crianças nascem em famílias cujas histórias podem se estender pelas gerações futuras. O novo bebê é comparado às semelhanças físicas, com os demais membros da família podendo assim ter demarcada a sua presença no universo familiar.

As mães no período de gestação, tendo em vista ideais estéticos e de saúde, aguardam por um filho belo, perfeito e inteligente (Graciano, Tavano e Bachega, 2007).

Para as autoras, quando as expectativas são correspondidas, as boas vindas são acompanhadas de transformações em todo o ambiente bem como na rotina familiar, exigindo assim novas adaptações. Por outro lado quando não são correspondidas, as boas vindas, podem ser transformadas em um pesadelo, um evento vital que vai alterar toda a homeostase familiar e desencadear uma crise.

Como nos mostraram Graciano; Tavano; Bachega (2007), a mãe, dentro de uma perspectiva onde a criança é uma extensão de si mesma, pode se perceber como incapaz de gerar um filho normal e, consequentemente, se autoavaliar como sendo defeituosa. Além disso, pode se sentir avaliada pelo cônjuge e familiares quando esses apontam seus erros e defeitos. Pode, finalmente, sentir medo, ansiedade e desamparo frente à possibilidade de ser banida ou estigmatizada pelo seu grupo social.

A revelação da malformação da criança pode ocorrer no período gestacional, sendo o diagnóstico feito através de exames ultrassonográficos ou no momento do parto, trazendo em ambas as situações uma complexidade de sentimentos e questionamentos.

Segundo Thomé (2003), quando o diagnóstico é feito antes do nascimento ou a mãe recebe a notícia da malformação, sem ter tido um contato com o bebê, logo após o parto surge o sentimento de expectativa sobre a condição da criança, a malformação e o grau de gravidade.

As repercussões do nascimento de uma criança com fissura não são restritas à figura da mãe.

Autores como Bradbury e Bannister (2005) salientaram que quando uma criança nasce com fissura labiopalatina os pais passam por um período de ajuste onde precisam lutar para aceitar o bebê ao mesmo tempo em que são compelidos a abandonarem as expectativas fantasiosas de uma criança perfeita que eles ansiavam.

Os mesmos autores concluíram que ter um bebê com fissura facial constitui- se como uma situação estressante para muitos pais, considerando que precisam se adaptar à nova situação que mudou suas vidas e administrarem os sentimentos de angústia.

De acordo com Drotar et al (1975), diante do impacto emocional os pais vivenciam etapas tais como: choque, negação, tristeza, raiva, ansiedade, adaptação e reorganização.

Evidentemente que tais reações trazem repercussões no vínculo pais-filho. Sendo assim, se faz necessário o restabelecimento do efetivo vínculo e a interação pais-filho afim de que sejam criadas condições propícias ao desenvolvimento emocional, social, cognitivo e da linguagem da criança (Carvalho e Tavano, 2000).

É nesse processo de uma família enlutada diante do nascimento de um bebê com malformação, de perda da criança idealizada e em um contexto de sobrecarga emocional, que acontece a vivência da mãe de amamentar a criança com fissura de lábio e/ou palato (Almeida 2002 e Thomé 2003).

A presença da fissura labiopalatina acarreta inúmeras dúvidas sobre os cuidados necessários para se obter a melhor reabilitação possível, associadas à insegurança ou ao medo quanto aos aspectos práticos do cuidado da criança, como a alimentação que em um primeiro momento parece superar a preocupação com outros aspectos, como a estética facial (Dalben, Costa e Gomide 2002 e Thomé 2003).

Como salientado por Thomé (2003), a prática da amamentação de crianças com fissuras, entendida como uma das condições especiais do amamentar, pode ser vista sob diversas perspectivas por parte das pessoas envolvidas nessa questão, no que diz respeito à sua indicação e contraindicação. Dessa maneira as dúvidas quanto a sua viabilidade acometem não somente as mães e os familiares, mas também os profissionais.

Para Bannister (2005), os objetivos imediatos de alimentar uma criança com fissura são os mesmos que para qualquer outro bebê.

A criança com fissura labiopalatina tem a integridade do sistema nervoso central e consequentemente apresenta funções e o potencial de crescimento dentro da normalidade, salvo situações em que a fissura está associada a algumas síndromes ou outras deformações. Dessa maneira os métodos de alimentação para elas são basicamente os mesmos adotados para as crianças sem fissura labiopalatina (Araruna e Vendrúsculo, 2000).

Araruna e Vendrúsculo (2000) salientaram que o processo de alimentar um recém-nascido com anomalia labiopalatina pode ser estressante e de difícil condução considerando não somente as dificuldades da mãe, que pode ter

sentimentos como angústia, ansiedade e medo de manusear o bebê, como, também as peculiaridades do bebê ao mamar.

Pode-se dizer que o aleitamento materno da criança com fissura labiopalatina, com toda a sua complexidade, pode ser vivenciado pela mãe com muita intensidade envolvendo sentimentos de tristeza, angústia, incerteza e perda somados ao movimento direcionado para a superação das dificuldades as quais podem ter significado de luta e vitória por proporcionar ao filho benefícios físicos, afetivos e sociais (Thomé 2003).

Cabe ressaltar o estudo de Silveira e Weise (2008), acerca das representações sociais de mães de crianças com fissuras labiopalatinas em relação ao aleitamento materno que nos mostrou a importância atribuída por elas, principalmente no que se refere aos aspectos biológicos da amamentação e os sentimentos como medo, frustração e constrangimento que vivenciaram diante do seu insucesso.

Tendo em vista que a amamentação da criança com fissura labiopalatina constitui-se como um processo complexo no qual nem sempre as mães, os familiares e até mesmo os profissionais de saúde estão preparados, tornam-se relevantes os estudos que possam subsidiar com novos conhecimentos um melhor atendimento e acompanhamento às mães.