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Alexandra Fante Nishiyama

No documento Fortuna Crítica de José Marques de Melo (páginas 33-43)

MARQUES DE MELO, José; SILVA, Carlos Eduardo L. da.

Perfis de Jornalistas. São Paulo: FTD, 1981. 150p.

Nesta obra, José Marques de Melo e Carlos Eduardo Lins da Silva organizam textos que explanam sobre biografia e posi- cionamentos referentes a episódios marcantes da imprensa e da atuação profissional dos 20 mais importantes jornalistas até o início da década de 1990. Escrito em 1991, o livro expõe a motivação, o desejo de combater o regime militar, a consciência política e a convicção de que o jornalismo pode contribuir para a igualdade social. A censura e a discussão so- bre a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exer- cício da profissão já era pauta entre os profissionais da área.

1. Doutoranda em Comunicação Social Linha de Inovações Tecno- lógicas na Comunicação Contemporânea pela Universidade Me- todista de São Paulo. Mestre em Comunicação Social Linha de Comunicação Midiática nas Interações Sociais pela Universidade Metodista de São Paulo. Especialista em Comunicação e Educa- ção pela Faculdade Cidade Verde. Jornalista pela Faculdade Ma- ringá. Membro fundadora do grupo de pesquisa Mídia Cidadã e pesquisadora do ComTec. E-mail: alexandrafante@yahoo.com.br

3.1

Em suma, as organizações desses depoimentos documentam a história da im- prensa brasileira e objetivam fundamentar as bases do jornalismo nacional, per- mitindo a análise crítica da trajetória que construiu a comunicação contemporâ- nea no País. A obra contempla os 20 mais importantes jornalistas brasileiros até 1991 - data da publicação o livro acima citado. Entre eles Alberto Dines, Aloysio Biondi, Antônio Carlos Fon, Caco Barcellos, Caio Túlio Costa, Eduardo Martins, Gabriel Priolli, José Freitas Nobre, José Hamilton Ribeiro, Luís Nassif, Marcos Faerman, Mino Carta, Oswaldo Peralva, Percival de Souza, PerselAbramo, Primo Carbonari, Renata Falzoni, Ricardo Kotscho, Roberto Godoy e Ziraldo.

1. Alberto Dines – Um jornalista em estado de graça

Apaixonado pelas produções cinematográficas, o jornalismo o permitira es- tar sempre por perto. Em 1952, Alberto Dines foi convidado por NahumSi- rotsky para integrar o time de repórteres da Revista Visão2, em seguida passou a

assistente de direção e secretário de Redação da extinta Rede Manchete3, esteve

a frente do segundo caderno do jornal carioca, A Última Hora, e em seguida, da edição matutina e vespertina. Dines também teve papel fundamental no Diário da Noite do Rio, além de passar pelo Jornal do Brasil, Folha de São Paulo e pelo Pasquim. Dines foi autor de livros de jornalismo, como “O papel do jornal”, além de atuar no cinema, na criação de roteiros e produções. Mesmo não gradu- ado em jornalismo, Dines foi professor na PUC-RJ e defendia os cursos.

O jornalista defende que é preciso o ensino do jornalismo sensorial na aca- demia (exercícios de comunicação não verbal, expressão corporal, workshops de criatividade), além da necessidade de mestres preparados para desenvolver as percepções e preparar, eticamente, os futuros jornalistas para as redações. Para Dines, “no jornalismo a ética faz parte da técnica”. Ele lamenta o marketing ca- pitalista nas redações, que substitui o jornalismo de qualidade, pelo jornalismo simplista com uma linguagem rudimentar, em detrimento as grandes questões que envolvem a sociedade. “A baixa da qualidade é um bumerangue perverso: quando menos se espera, um jornal de qualidade está competindo com a im- prensa popular” (1981, p.17).

2. A Revista Visão teve publicação semanal e circulou de 1952 a 1993. Passou por vários proprietários e editorias.

2. Aloysio Biondi – Eu nunca fui militante

“Apenas acho que a democracia só se fortalece com a opinião pública infor- mada”, afirma Biondi (1981, p.24). Esta frase reflete a postura do jornalista.

Editor do caderno de Economia da Folha de São Paulo, Biondi era con- siderado antidemocrático, pois se posicionava como contrário aos governos, ministros e economistas. Apesar de ter um posicionamento firme, o jornalista afirmava não pertencer a nenhuma agremiação e ser independente. Biondi dizia agir em defesa da opinião pública e isso explica seus textos. Enquanto o governo dizia trabalhar para melhorar a situação dos assalariados, segundo Biondi, “in- tramuros a conversa era capitalizar as empresas”.

Contestado por ter aceitado o convite de chefiar o Shopping News, Biondi comenta durante a entrevista que ali pode fornecer dados, informações e pers- pectivas diferentes das que estavam nos meios de comunicação da época, o que permitia enriquecer os debates. Além do mais, escrevia para a classe média, um público no qual ninguém escrevia.

3. Antônio Carlos Fon – O que vale é a informação isenta

Ouvir a frase de que nunca seria jornalista, proferida pelo Padre Quevedo, em 1967, ao tentar uma vaga para o curso de Jornalismo da Faculdade de Fi- losofia de Santos, apenas fez com que Antônio Carlos Fon quisesse ainda mais tornar-se jornalista. A sensação de liberdade e o ideal de ser um “cavaleiro an- dante, defensor dos fracos e oprimidos”, o fizeram decidir pelo jornalismo.

Para Fon, o decreto do AI-5, em 1968 fez com que os jornalistas se reu- nissem a favor da liberdade de imprensa. Para o jornalista, foi nesse perío- do que surgiu o “tecnocrata da informação”, aquele jornalista que só dava valor à informação vinda de fontes oficiais. Muitos jornalistas aderiram a essa postura.

Contudo, Fon sempre foi um defensor da ética. O desafio para os jornalistas, segundo ele “é refletir a realidade que o cerca, e não ‘fazer a cabeça’ das pessoas. [...] é manter o equilíbrio entre o seu papel de cidadão (que deve ter uma pos- tura política) e o jornalista (que não pode ter nenhuma)”.

4. Caco Barcellos – Os correspondentes vão à guerra e ficam no hotel

In loco – Para Caco Barcellos é isso que diferencia os jornalistas. O “pé na

estrada” fez com que, segundo ele, se tornasse jornalista, conhecendo de perto a vida das pessoas e suas rotinas, aprendendo, mas sem julgamentos. Barcellos la- menta a cultura no nosso país, ao constatar que grande parte da população não gosta de matérias com muito texto. Ao contrário, a TV tem um alcance muito maior e, no caso da Rede Globo, chega a milhões de casas, de graça, sem ter que pagar ou sair de casa para comprar o jornal.

Influenciado pelo jornalismo americano, Caco Barcellos logo se tornou um correspondente, in loco, para conhecer de perto a realidade e assim, fazer um jornalismo real. O fato dos jornalistas escreverem matérias ou mesmo cobrirem guerras sem sair do hotel é citado por ele como um jornalismo sem qualidade. A briga pelo lucro também influencia nesta postura. Afinal, para as empresas o custo é bem menor se tudo puder ser resolvido pelo telefone ou pelo computa- dor com a ajuda da Internet, sem deslocamento. “Na briga pelo lucro, vale tudo, diz Caco. Até mesmo dar um jeito para que o diploma não seja obrigatório e os empresários possam gastar menos” (1981, p.39).

Para Barcellos, o jornalismo deve ser mais corajoso, mais combativo, mais forte.

5. Caio Túlio Costa – O sindicato não se preocupa com

a qualidade do jornalismo

Para Caio Túlio da Costa, os meios de comunicação no Brasil estão presos a questões econômicas e partidárias, que são negadas. Diferente dos “nanicos”4 que tinham uma postura bem definida referente às questões ide-

ológicas, os grandes meios, por dependerem de acordos políticos e recursos dos governos, não cumprem muito bem o trabalho que deve ser baseado na independência e ética.

Quanto aos cursos de jornalismo, Costa diz que um curso ruim se baseia em professores, alunos e a estrutura que a instituição oferece e que, “os sindicatos são muito pequenos, corporativos e não se preocupam com a qualidade do jor- nalismo” (1981, p.45).

6. Eduardo Martins – O jornal tem uma cultura própria

Ao ser questionado sobre a obrigatoriedade do diploma, Eduardo Martins responde como sim e não. Ele considera o diploma uma conquista da classe e deve continuar a existir, contudo por não ter diploma e atuar desde os 24 anos, já como editor do Estado de São Paulo, não acredita que a graduação seja pri- mordial. Para ele, “A técnica do jornalismo, tão enfatizada nas escolas de comu- nicação, nem sempre reflete a realidade do jornal. Além disso, essa técnica varia de jornal para jornal” (1981, p.49).

Ao ser questionado sobre a dependência e o vínculo comercial entre o Es- tado de São Paulo e anunciantes, Martins afirma que a dependência financeira pode sim influenciar o conteúdo, mas no caso deste veículo, a empresa buscou formar um grupo forte e diversificado para assegurar tal independência.

7. Gabriel Priolli – Os jornalistas me decepcionaram

Com um currículo extenso que passa pelos grandes meios de comunicação, Gabriel Priolli, que trocou a publicidade pelo jornalismo, diz ter se decepcio- nado com os profissionais da área ao afirmar que acha “o jornalista uma pessoa individualista, narcisista e até oportunista [...]” (1981, p.55). Ao analisar a pes- quisa científica em comunicação e o mercado, Priolli comenta que ambas as áre- as não têm vínculo, que falta ao mercado profissional aceitar a pesquisa teórica e que nos cursos também falta um vínculo maior com a prática.

Conforme Eduardo Martins, Priolli também defende a questão dos veículos serem independentes e não ficarem presos a interesses do Estado e de grupos eco- nômicos. Assim como a imprensa sindical, partidária, dos movimentos sociais que não busca disputar mercado, mas ter uma relação intensa com aqueles envolvidos em tais segmentos. Contudo, ele alerta para o perigo do amadorismo, presente em grande parte da imprensa alternativa e a necessidade do rigor profissional.

8. José Freitas Nobre – Entre a política e o jornalismo

Pela sua história profissional, José Freitas Nobre considera um elo perma- nente a comunicação e a política. Responsável por grandes reportagens, o jor- nalista afirma que vivemos fases, ora de grandes reportagens, ora de reportagens leves, políticas etc. A questão é que o jornalista muitas vezes sabe o que fazer, mas está preso aos princípios do veículo que trabalha, “quem dá o tom da viola

é o dono, o empresário” (1981, p.63). Nobre afirma que “para cumprir sua responsabilidade social, o jornalista precisa do máximo de liberdade” (1981, p.64). Na mesma linha de Eduardo Martins e Gabriel Priolli, Nobre comenta a necessidade dos veículos de comunicação não estarem presos a interesses comer- ciais. Ao mesmo tempo em que a publicidade deve garantir certa independência financeira, não deve suprimir o espaço das notícias.

Em relação às reportagens políticas e as fontes, Nobre alerta para as possíveis ne- gociações com políticos e com pessoas ligadas ao serviço público e a necessidade de se checar a informação com outras fontes, bem como analisar se a fonte é confiável.

9. José Hamílton Ribeiro – Os jornalistas não conhecem sua história

Jornalismo e literatura são as características do texto de José Hamilton Ribei- ro, um jornalista que por se envolver com uma greve de estudantes, por ques- tionar os professores da instituição que cursava, foi convidado a deixar o curso de jornalismo. Não graduado, ele foi trabalhar na Folha de São Paulo. Mesmo assim, Ribeiro defende a preparação dos profissionais nos cursos de jornalismo. Para ele, na faculdade “o estudante tem oportunidade de criar, inventar mudan- ças e crescer. Isso numa redação é impossível” (1981, p.70).

Ribeiro questiona a cobrança dos veículos no desempenho de várias ações por um só profissional como pauta, reportagem, edição, diagramação etc. E contesta tal postura dos meios de comunicação alegando que as reportagens se tornam rasas devido ao tempo de checagem de dados, da elaboração de um bom texto etc.

10. Luís Nassif – A vitória do jornalismo de serviço

Ousado, Luís Nassif inovou o jornalismo econômico. A escolha feita por haver menos censura durante a ditadura, fez com que ele se especializasse em matemática financeira e, através dos textos, ensinasse e discutisse temas que envolvessem o jornalismo econômico de serviços.

Com uma linha mais metódica e sistemática, o jornalista defende um mo- delo industrial nas redações com horários e regras rígidas, mas com criatividade industrial e comenta sobre a necessidade de estrutura e de um bom banco de dados para a produção de notícias.

Sobre a academia, Nassif acredita que os cursos de jornalismo devem estar mais próximos do mercado, sistematizando experiências reais com profissionais experientes.

11. Marcos Faerman – A reportagem está morrendo

“A grande reportagem, como todo grande texto, deve ter o dom de inquietar quem a lê” (1981, p.81). Marcos Faerman tem como postura profissional ouvir, aprender e conversar com os repórteres mais experientes para saber o que liam. Para ele, “quem não lê muito, não pode ser um bom jornalista” (1981, p.81). Saudosista, Faerman recorda no capítulo do livro os cadernos literários com publicações de peso e a contribuição de nomes relevantes de mestres, artistas e intelectuais. E sentencia que as redações de jornais têm medo de fazer grandes reportagens, com textos densos e não atrair a atenção dos leitores. Preferiram trabalhar com frases curtas e diretas, empobrecendo o conteúdo. Outra hipó- tese do jornalista seria o alto custo para produção de grandes reportagens, com maior dedicação de tempo e recursos.

Bacharel em direito, Faerman defende o curso de jornalismo e considera o canudo uma conquista da profissão. E afirma que, um grande repórter precisa ler sempre textos dos grandes mestres, seja da ficção ou da não ficção.

12. Mino Carta – A censura acabou sendo benéfica

Italiano, Mino Carta chega ao Brasil com a família aos 12 anos. Filho de jornalista, Mino se deixou levar pelo jornalismo e teve uma carreira consolidada pela criatividade e o sucesso.A originalidade é o que busca esse jornalista.

Para ele, o problema do jornalismo brasileiro é político. Os meios de comu- nicação defendem grupos minoritários e ficam presos a eles. E o que lhe deixa perplexo é a naturalidade em que os jornalistas se prostram diante dessa ditadu- ra e às ordens dos seus patrões. Para ele, “ser jornalista no Brasil é uma batalha diabólica, porque você é obrigado a lutar contra o esquema de poder, o poder instalado dentro das redações e contra os seus colegas” (1981, p.90).

Sobre o diploma, o jornalista acredita que a obrigatoriedade é sinônimo de fascismo.

13. Oswaldo Peralva – O jornal é uma trincheira de luta

Ligado ao Partido Comunista, Osvaldo Peralva considera o jornalismo uma atividade pública. Entre grandes veículos e o jornalismo internacional, já na década de 1990 ele alertava que a imprensa escrita estava enfrentando uma crise decorrente da concorrência dos meios eletrônicos e cita como principal, a televisão. Peralva faz

um comparativo entre os jornais impressos nos Estados Unidos e no Brasil e uma avaliação sobre os custos e o fechamento de grandes veículos, gerando um cená- rio de monopólio de informação, já que poucos veículos conseguem permanecer, equilibrando as finanças à custa de medidas racionalizadoras, produzindo notícias.

14. Percival de Souza – Entre o crime e a fé

Especialista em reportagem policial, Percival de Souza defende que o jor- nalismo deve ser feito por repórteres e não por cronistas e articulistas. A rua,

in loco, é o lugar onde o jornalismo acontece. Jornalista do impresso, ele saiu

do papel e foi para o vídeo e o Rádio. O poder de síntese foi necessário para ajustar o tempo limitado da TV. Na linha policial, Souza incomodou com suas matérias, juízes e autoridades, sendo processado mais de 15 vezes, mas nunca condenado, por ter provas conclusivas daquilo que revelava em suas matérias. O jornalista também alerta para o cuidado com pequenos e grandes favores pessoais, o que pode suprimir a liberdade de falar sobre tudo.

Referente à formação em jornalismo, Souza comenta que “é uma idiotice fi- car defendendo o diploma, só porque isso interessa a um grupo de profissionais que estão nas escolas de comunicação” (1981, p.100-101).

15. Perseu Abramo – Um mestre de resistência democrática

Professor e jornalista, ligado às questões políticas e defensor dos sindicatos, Perseu Abramo situa a discussão de que os meios de comunicação estão nas mãos de grupos dominantes e que as notícias divulgadas nos grandes centros urbanos irradiam na formação da opinião pública, se tornando fontes oficiais para a grande massa. Ele pontua também a possibilidade de distorções na produção da notícia nas redações, feitas tanto por jornalistas, quanto pelos patrões. O que só poderia impedir seria “a consciência da classe, profissional, ético-filosófica, político-parti- dária” (1981, p.107). Para ele os jornais são quase partidos políticos, “exigem uma fidelidade de seus trabalhadores semelhante à que um partido exige de seus mili- tantes: quem não se adapta ao projeto do jornal acaba caindo fora” (1981, p.108). Abramo ainda afirma que não se deve haver neutralidade em ninguém, pois não há pessoas neutras. Ele afirma que o jornalista deve ser uma pessoa combativa.

Quanto maior o seu engajamento à sua filosofia, à ética, a um partido, mais ele será capaz de observar a realidade, acuradamente, mais ele será

capaz de descobrir, na realidade, os fatos importantes que podem ser apreendidos de forma objetiva. Não existe neutralidade em ninguém. Ninguém vive fora de seu tempo, de sua classe (1981, p.108).

Sobre a obrigatoriedade do diploma, Abramo é favorável, pois acredita que o jornalismo é uma profissão como qualquer outra. Sem o diploma, “aumentaria a subserviência ao patrão. Afinal quem é que vai definir quem é jornalista? [...] Se o patrão define quem é o empregado, define também qual é a composição social, política, cultural do sindicato a quem pertence” (1981, p.110).

16. Primo Carbonari – O cinejornal é o veículo mais

censurado deste país

Na TV, a notícia. No cinema, o cinejornal. Entre as diferenças entre a notícia e o cinejornal está a forma de exibição, uma feita pela TV e outra pelo cinema; o tempo de duração de uma notícia é pequeno, enquanto do cinejornal pode ter até 15 minutos; e o conteúdo do cinejornal se faz com produção e podemos dizer, atualmente, marketing.

Primo Carbonari afirma que o cinejornal é “uma imagem viva de um acon- tecimento morto” (1981, p.114), isso porque o tempo de exibição do cinejornal chega a quatro anos após a produção, diferente da notícia.

Contratado pelo Departamento de Imprensa e Propaganda – DPI, no governo Getúlio Vargas, o objetivo de Carbonari era criar cinejornais para transmitir os feitos do então presidente, para fazer o marketing político dele. Este canal era capaz de atin- gir vários públicos e ficava em exibição por muito tempo. Mesmo aliado do governo, suas obras eram analisadas durante a repressão, processo que levava em média 21 dias.

17. Renata Falzoni – O fotógrafo é tratado como jornalista

de segunda classe

Para Renata Falzoni, a depreciação dos fotógrafos é notória frente aos jornalistas e ao conteúdo dos jornais, que priorizam textos ao invés das fotografias. A falta de um sindicato que defenda a categoria é um dos aspectos que enfraquece a classe.

Sem graduação de jornalismo, a fotógrafa acredita que “a profissão não pode ser aprendida nas escolas brasileiras, que têm baixo padrão” (1981, p. 123). Ela complementa dizendo que a proposta do diploma é exclusivamente política.

18. Ricardo Kotscho – Ninguém é dono da verdade.

Jornalismo é discussão

Ricardo Kotscho defende a necessária independência dos meios de comuni- cação em relação ao governo. Essa dependência econômica acaba provocando a queda na qualidade das notícias.

Dono de um posicionamento de “jornalismo-arte e jornalismo-emoção”, Kotscho se destacou pela ousadia em ver e sentir a notícia quando ela aconte- ce. E sobre isso, ele pontua que os novos jornalistas são tímidos, presos a uma carga horária de seis horas diárias, se parecendo mais funcionários públicos do que jornalistas. E essa é a questão principal, não a do diploma. Para ele, fazer jornalismo é negociar, é lutar constantemente pela verdade, não num jogo sujo.

19. Roberto Godoy – Há uma crise de talento na imprensa

Roberto Godoy se tornou especialista em jornalismo ligado a assuntos que tratam de armamentos e tecnologia militar. Referência na área, o talentoso jor- nalista diz que os jornais se tornaram acadêmicos e mesmo com ganho na so- fisticação tecnológica, “perdeu em sabor e em profundidade” (1981, p.135). Para ele houve o empobrecimento da notícia. A mídia eletrônica, no qual ele cita a TV, também chamou mais a atenção do que o papel. Para reconquistar os leitores, o jornal impresso deveria investir mais em reportagens investigativas, em reportagens de revelação e fazer a análise sobre os fatos, do ponto de vista de verdadeiros analistas. Ele afirma que os leitores mudaram e que os jornais também devem realizar mudanças.

Não diplomado, Godoy afirma que “Pessoalmente, sou contrário à exigência do diploma, embora não seja contrário às escolas de comunicação. Eu acho que a escola deve ser um canal, mas não o único canal de acesso à profissão” (1981, p.137).

No documento Fortuna Crítica de José Marques de Melo (páginas 33-43)