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2.1. Políticas públicas sobre a Alfabetização de Jovens e

2.1.2 Alfabetização de Jovens e Adultos: um pouco de

A história da EA (Educação de Adultos) no Brasil tem os primeiros vestígios, durante o processo de colonização, com a chegada dos padres jesuítas em 1549. Eles tinham a missão de catequizar e “instruir” as pessoas adultas e também os adolescentes, dos dois povos: indígenas (nativos) e colonizadores, com apenas uma diferença, que eram os objetivos para cada grupo social.

Reconhece-se que os portugueses trouxeram para o Brasil um padrão de educação próprio da Europa. Uma cultura transplantada, que Romanelli (2000) considera ser essa cultura é ferramenta para impor e preservar os modelos culturais importados, que por si, inibem a possibilidade de criação e inovação culturais. Nesse sentido, Fernandes (1989), afirma que as populações indígenas que por aqui viviam já possuíam características próprias de educação, que era praticada por eles em suas tribos não tinha as marcas repressivas do modelo educacional europeu.

A difusão da alfabetização no Brasil ocorreu apenas no decorrer do século XX, acompanhando a constituição do sistema público de ensino, demorou a ocorrer. Até o final do século XIX, a escolarização era para poucos, pois as oportunidades eram muito restritas, quase que somente às elites proprietárias e aos homens livres das vilas e cidades, ou seja, uma parte da população. O primeiro recenseamento no Brasil ocorreu durante o Império, em 1872, e constatou que 82,3% das pessoas com mais de cinco anos de idade eram analfabetas. Percentual de analfabetos que se manteve no senso realizado em 1890, logo após a proclamação da República.

Conforme o documento Alfabetização de jovens e adultos no Brasil: lições da prática, no início do período republicano, a alfabetização e a instrução elementar do povo ocuparam lugar de destaque nos

discursos de políticos e intelectuais. Apontavam a questão do analfabetismo como vergonha nacional e acreditavam que a alfabetização possuía o poder de elevar moral e intelectualmente o país e transformar a grande massa dos pobres brancos e negros libertos , a iluminação do povo e o disciplinamento das camadas populares, consideradas sem cultura e incivilizadas. Apesar dos discursos, pouca coisa foi realizada nesse período, no sentido de desenvolver ações educativas que abrangessem a população de forma mais ampla. Tendo em vista a falta de oferta de acesso à escolarização na infância ou na vida adulta, até 1950 mais da metade da população brasileira era analfabeta, e, como consequência, excluída da participação na vida política, pois o voto era vedado aos analfabetos.

Foi somente a partir de 1947, que as primeiras políticas públicas nacionais destinadas à instrução de adultos foram implementadas, ao se estruturar o Serviço de Educação de Adultos do Ministério da Educação, concomitantemente, iniciou-se a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA)17. No mesmo período ocorreram duas outras campanhas: a Campanha Nacional de Educação Rural, em 1952, e a Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo, em 1958. No entanto, os resultados foram pouco efetivos, recebendo, muitas críticas, devido ao caráter superficial do

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Nesse período, diversos países da América Latina, Ásia e África realizaram campanhas massivas, atendendo recomendações da recém-criada UNESCO que, no contexto do pós -guerra, valorizou a alfabetização de adultos como meio de difusão de valores democráticos e motor do desenvolvimento dos países atrasados, corroborando a concepção que atribuía à alfabetização mudanças individuais ligadas à inserção na vida cívica, capacitação para o trabalho e incremento da produtividade, fundamentais para o projeto desenvolv imentista em que numerosos países se engajaram naquele momento.

Disponível em:

http://unesdoc.unesco.org/images/0016/001626/162640por. pdf

aprendizado que se efetivava num curto período de tempo e a inadequação dos programas, modelos e materiais pedagógicos, que não consideravam as especificidades do adulto e a diversidade regional.

Segundo Piletti (1996), os jesuítas foram expulsos das colônias em 1759, por Sebastião José de Carvalho e Melo o Marquês de Pombal, primeiro- ministro de Portugal de 1750 a 1777, em função de radicais diferenças de objetivos. Os jesuítas preocupavam-se com o proselitismo e o noviciado, enquanto o Marquês de Pombal tinha como meta reerguer Portugal da crise que se encontrava diante de outras potências europeias da época. Assim, a educação proporcionada pelos jesuítas não se alinhavam aos interesses comerciais estabelecidos por Pombal, uma vez que as escolas da Companhia de Jesus objetivavam servir aos interesses da fé e Pombal pensou em organizar a escola para servir aos interesses do Estado, voltando o ensino a ser ordenado no Império.

Durante todo esse período, a instrução primária esteve descentralizada, ficando na responsabilidade das Províncias, por meio do Ato Adicional de 1834. Em relação à divulgação da alfabetização no Brasil, é necessário destacar que ela ocorreu apenas no decorrer do século XX, como instrumento pelo qual seria possível combater a aristocracia agrária, “detentora” da hegemonia política do país.

É possível perceber que esta “aristocracia” agrária representava os interesses dos conservadores, denunciando a mobilização alfabetizadora e mostrando-se preocupada com a educação da classe proletária, manifestando-se contrária ao ensino obrigatório. Sendo assim, até o final do século XIX, as oportunidades para a escolarização eram muito restritas, pois quem tinha acesso eram quase que somente as elites proprietárias e os homens livres das vilas e cidades, ou seja, uma pequena parte da população.

Quanto à alfabetização no início do período republicano, Paiva (1987) afirma que, a partir da

Primeira Guerra Mundial, o problema da educação ganha lugar de destaque nos discursos de políticos e intelectuais. Nesse processo qualificavam o analfabetismo como vergonha nacional e creditavam à alfabetização o poder de elevação moral e intelectual do país, de regeneração da massa dos pobres brancos e negros libertos e de iluminação do povo e disciplinamento das camadas populares, consideradas sem cultura e não civilizadas.

Nesse sentido, dá-se início a uma campanha para a “erradicação” do analfabetismo, momento em que surgem os primeiros “profissionais da educação”. Pode-se dizer que surgem também preocupações com uma escola renovada e com um ensino de qualidade. No entanto, mesmo diante de um quadro que apresenta um avanço na trajetória da educação brasileira, vale destacar que devido às poucas oportunidades de acesso à escolarização na infância ou na vida adulta, até 1950, mais da metade da população brasileira era analfabeta, não tendo o direito à vida política, pois não poderiam votar, sendo, portanto excluídos desse processo.

Com o encerramento da Segunda Guerra Mundial e do Estado Novo, emergem movimentos em busca da da democracia e juntamente com ela, também aparecem as primeiras políticas públicas nacionais destinadas à instrução dos jovens e adultos. No entanto, foi em 1947, que o governo brasileiro lança pela primeira vez a Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos – CEAA, quando se criou o Serviço de Educação de Adultos do Ministério da Educação. Em se tratando dessa Campanha, Paiva (1987, p. 178) destaca que

a CEAA nasceu da regulamentação do FNEP e seu lançamento se fez em meio ao desejo de atender aos apelos da UNESCO em favor da educação popular. No plano interno, ela acenava com a possibilidade de

preparar mão-de-obra alfabetizada nas cidades, de penetrar no campo e de integrar os imigrantes e seus descendentes nos Estados do Sul, além de constituir num instrumento para melhorar a situação do Brasil nas estatísticas mundiais de analfabetismo.

Stephanou e Bastos (2005) argumentam, em concordância com a visão de Paiva, que os índices de analfabetismo no Brasil, por esse período, atingiam mais de 50% da população com 15 anos ou mais. Esse era um dos fatores que contribuiu para criação da Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos. O autor coloca também que, nesse período duas outras campanhas foram criadas, mas, que não obtiveram muitos resultados efetivos: a Campanha Nacional de Educação Rural, em 1952, e a campanha nacional de Erradicação do Analfabetismo, em 1958. Na segunda metade dos anos 50, muitas c ríticas foram destinadas às campanhas, devido ao caráter superficial do aprendizado que se efetivava num curto período de tempo e de inadequação dos programas, modelos e materiais pedagógicos que não levavam em conta as especificidades dos adultos e a diversidade de cada região.

No final dos anos 50 e início de 60, surgem os movimentos de base voltados à alfabetização de adultos. Esses movimentos são paralelos à ação do governo e consistiam da ação da sociedade civil, que desejava uma mudança no quadro socioeconômico e político. Nesse sentido, vários grupos de educadores tinham a oportunidade de manifestar sua preocupação com a questão da alfabetização e a educação dos adultos. Nesse momento, essa preocupação era geradora de novos métodos para a alfabetização. Tendo em vista essas considerações, o analfabetismo passou a não ser mais visto como causa da situação de pobreza, mas como efeito de uma sociedade que tem como base a injustiça e a desigualdade.

Quase todos esses movimentos de educação e cultura popular, adotaram a filosofia e o “método” de alfabetização proposto por Paulo Freire. Houve programas empreendidos por intelectuais, estudantes e pessoas ligadas à igreja católica engajados na ação política: o Movimento de Educação de Base, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, estabelecido em 1961, patrocinado pelo governo federal; o Movimento de Cultura Popular do Recife, a partir de 1961; a Campanha de Pé no Chão se Aprende a Ler, da Secretaria Municipal de Educação de Natal e os Centros Populares de Cultura, órgãos culturais da União Nacional dos Estudantes (UNE). Com relação a esses movimentos liderados por segmentos da sociedade civil, Paiva (1987, p. 236) registra que eles tinham como pretensão, encontrar um procedimento para a prática educativa ligada às artes e à cultura popular e como ressalta a autora, fundamentalmente promover a conscientização das massas por meio da alfabetização e da educação e base.

2.1.3 Breve histórico das contribuições do