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1. INTRODUÇÃO

2.4 ALFABETIZAÇÃO FINANCEIRA

De acordo com Kehiaian (2012), a educação financeira é um assunto que se vem trabalhando desde o início do século passado. O autor ainda revela que o primeiro livro que discute sobre finanças pessoais foi escrito em 1905 por Ellen Richards (KEHIAIAN, 2012, p. 15). Entretanto, o conceito de alfabetização financeira é mais recente e tem sido definido de diversos modos. O termo alfabetização financeira, em inglês intitulado financial literacy, não possui na literatura uma definição única e simples, uma vez que é um tema complexo e engloba um conjunto amplo de aspectos, partindo desde o entendimento de conceitos financeiros chaves, passando pela habilidade e confiança para administrar de forma apropriada suas finanças pessoais até chegar a um comportamento eficiente, balizado em decisões de curto prazo e planejamento financeiro de longo prazo, que possibilitem a manutenção financeira em meio a qualquer evento relacionado à vida e às mudanças de condições econômicas (REMUND, 2010).

Além disso, o termo tem sido frequentemente utilizado como sinônimo de educação financeira ou conhecimento financeiro. No entanto, esses dois construtos são conceitualmente diferentes e usá-los como sinônimos pode gerar problemas, uma vez que a alfabetização financeira vai além da mera educação financeira (POTRICH, 2014). Para diferenciar esses dois conceitos, Huston (2010) argumenta que a alfabetização financeira possui duas dimensões: o entendimento, que representa o conhecimento financeiro pessoal ou a educação financeira, e a sua utilização, ou seja, a aplicação de tais conhecimentos na gestão das finanças pessoais. Os autores Messy e

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Monticone (2016), ratificam que a alfabetização financeira é uma competência crítica no século 21 para os indivíduos, já a educação financeira é um complemento essencial para a proteção e a inclusão financeira dos consumidores, sendo que devem existir esforços para o aprimoramento de ambas, a fim de apoiar o crescimento econômico em qualquer economia mundial. De forma similar, Fernandes, Lynch e Netemeyer (2014) afirmam que a educação financeira pode ser vista como um "remédio de informações" para uma combinação de políticas que inclui: oferecer mais opções aos indivíduos; proporcionar melhores informações e a partir destes, fornecer incentivos aos consumidores para mudarem seus comportamentos.

Em termos de relevância, o tema alfabetização financeira é cada vez mais abordado pelos governos, que buscam alternativas para que a população incremente sua capacidade de compreensão sobre os produtos financeiros, bem como conceitos e riscos inerentes, a fim de que isso interfira na sua qualidade de vida e seu bem-estar econômico. Porém, para que o indivíduo seja considerado alfabetizado financeiramente, as qualidades "habilidade" e "confiança" devem ser levadas em consideração, ou seja, ele apenas será qualificado como tal caso consiga aplicar o conhecimento com as características citadas nas suas tomadas de decisão. Segundo Criddle (2006), possuir alfabetização financeira não é apenas saber construir orçamentos para poupança futura ou checar contas bancárias, inclui o aprendizado quanto à escolha de inúmeras alternativas para o estabelecimento dos objetivos financeiros, pois os mercados financeiros estão cada vez mais complexos e mais acessíveis a mais pessoas, e com isso, a capacidade dos indivíduos para aperfeiçoarem a maneira como administram suas finanças se torna essencial. Neste panorama, a alfabetização financeira tornou-se um tema em ascendência nas pesquisas nacionais e internacionais, uma vez que ela vem sendo reconhecida como um importante elemento de prevenção contra as adversidades financeiras (OPLETALOVÁ, 2015), ao atuar como uma ferramenta de capacitação intelectual para a tomada de decisões mais responsáveis (HUSTON, 2010).

O método de como é feita a mensuração da alfabetização financeira é outra questão complicada. Desse modo, Lusardi e Mitchell (2011) defendem o argumento de que embora seja importante o como avaliar se as pessoas são financeiramente alfabetizadas, na prática, é difícil explorar a forma que elas processam as informações financeiras e tomam suas decisões baseadas nesse conhecimento. A falta de cultura do povo brasileiro no entendimento do lado financeiro, aliado a difícil mensuração dos níveis de alfabetização financeira, indicam os índices insatisfatórios

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do tema em nosso país. Nesse sentido, a Organization for Economic Co-operation and

Development (OECD, 2011) criou em 2008, a Rede Internacional de Educação Financeira (INFE)

para facilitar a partilha de experiências e conhecimentos entre especialistas e o público em todo o mundo, além de promover o desenvolvimento de ambos os trabalhos de análise e recomendações políticas. Assim, a falta de uma medida e de dados internacionais, juntamente com o pedido de muitos países para criação de uma medida robusta de alfabetização financeira, a nível nacional, levou a OECD e a sua INFE a desenvolver um instrumento de pesquisa que pode ser usado para capturar a alfabetização financeira de pessoas em diversos países, centrando-se sobre os aspectos dos conhecimentos, atitudes e comportamentos que estão associados com os conceitos globais de alfabetização financeira. A OECD mensura a alfabetização financeira como uma combinação de consciência, conhecimento, habilidade, atitude e comportamento necessários para tomar decisões financeiras sólidas e, finalmente, alcançar o bem-estar financeiro individual (OECD, 2015a). Além deste conceito mais simples, a OECD também se refere à alfabetização financeira incorporando mais elementos a sua definição, tratando-a de forma mais abrangente ao conceituá-la como o conhecimento e a compreensão de conceitos e riscos financeiros; as habilidades, a motivação e a confiança para aplicar esse conhecimento; e a compreensão, a fim de tomar decisões eficazes em uma variedade de contextos financeiros, para com isso, melhorar o bem-estar financeiro dos indivíduos e da sociedade, a fim de permitir a participação na vida econômica (OECD, 2015b). Assim, a OECD mensura a alfabetização financeira em três dimensões: a educação financeira ou conhecimento financeiro, o comportamento financeiro e a atitude financeira.

Pode-se dizer assim, que o conceito de alfabetização financeira desenvolvido pela OECD (2015a) revela uma interligação entre suas dimensões, sendo que o conhecimento financeiro é a ferramenta que coordena as atitudes dos indivíduos, as quais, por sua vez, influenciam o comportamento de gestão financeira (HUNG; PARKER; YOONG, 2009).

Seguindo o raciocínio apresentado, o significado de uma pessoa que é alfabetizada financeiramente está relacionado com os comportamentos que ela adota, suas escolhas, atitudes, os quais segundo Mundy (2011) precisam estar pautados em cinco componentes, que são:

1. O indivíduo precisa honrar com as despesas, não estar com dívidas pendentes;

2. Ter as finanças sob controle, sem imprevistos que possam atrapalhar seu planejamento de curto, médio e longo prazo;

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4. Fazer escolhas assertivas de produtos financeiros, melhorando a sua rentabilidade mensal se comparado a outras escolhas; e

5. Manter-se atualizado das questões financeiras, a fim de descobrir sempre novas oportunidades no mercado.

Porém, segundo a visão de Holzmann (2010), se um dos componentes da alfabetização financeira é saber escolher produtos financeiros adequados, a forma como o conceito é mensurado nos países de baixo e médio rendimento necessita ser adaptada à realidade da população, pois grande parte desses indivíduos não possui acesso a serviços financeiros formais, muito menos existem quantidades consideráveis destes produtos.