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PARTE 4- OS ENCONTROS

4.9. Algumas atividades desenvolvidas

Ao lerem a sétima e oitava prescrição da PNAB (2012):

Desenvolver atividades de promoção da saúde, de prevenção de doenças e agravos e de vigilância a saúde, por meio de visitas domiciliares e de ações educativas individuais e coletivas nos domicílios e na comunidade, por exemplo, combate à dengue, malária, leishmaniose, entre outras tantas, mantendo a equipe informada, principalmente a respeito das situações de risco; e estar em contato com as famílias desenvolvendo ações educativas, visando à promoção da saúde, à prevenção das doenças e ao acompanhamento das pessoas com problemas de saúde , bem como ao acompanhamento das condicionalidades do Programa Bolsa- Família ou de qualquer outro programa similar de transferência de renda e enfrentamento de vulnerabilidades implantado pelo governo federal, estadual e municipal, de acordo com o planejamento da equipe. (BRASIL, 2012, p. 49, 50).

As agentes disseram que realizam ações de promoção a saúde e de prevenção de doenças: “a gente promove saúde também olhando o cartão de vacina pra prevenir doenças; da dengue a gente orienta até porque se o vizinho não cuidar do quintal ele também me coloca em risco”. O fato das agentes residirem na área que trabalham, contribui na prevenção e controle de focos de doenças como a dengue, que colocam não apenas a comunidade em risco, assim como as próprias ACS. Entretanto, o controle da dengue não é uma

40 Devido à falta de espaço na unidade de saúde, todas as etapas desta pesquisa ocorreram

numa igreja que fica ao lado da construção da nova unidade de saúde. É importante ressaltar que outras ações da unidade ocorrem no espaço da igreja, já que a unidade está provisoriamente num local pequeno enquanto a construção da nova USF não fica pronta.

atividade específica das agentes de saúde, pois existem os agentes de endemias que são responsáveis, exclusivamente, no combate à dengue.

Acerca do programa Bolsa-Família, as ACS orientam na pesagem e medição das crianças, e isso ocorre semestralmente. Disseram que existe uma pesagem especial em que é necessário vir toda a família, senão esta perde o benefício. Entretanto, elas realizam outra pesagem mensalmente, que é referente ao SISVAM41, mas informam à comunidade que faz parte do

programa bolsa-família - “ na verdade, o que a gente pesa todo mês não é o bolsa família, é o SISVAN, mas eles não podem saber que é o SISVAN, senão eles não vêm pesar, então a gente fala que é o bolsa família”. Assim, para conseguir realizar a pesagem do SISVAN, as agentes fazem uso de ‘artimanhas’- mantém a informação de que é um procedimento do bolsa família, pois conhecem a comunidade e sabem que se não for em função do bolsa- família, os usuários não comparecerão a pesagem.

Ao indagar sobre o que significa “SISVAN”, as agentes informaram não saber o significado da sigla. Uma ACS esclareceu

É pra ver como tá a população, a saúde da população, eu sei que é alguma coisa assim, se tá de baixo peso as crianças; como que tá os adulto, a base é essa, é pra ver como tá a população como um todo; mas a verdade é que a gente só pesa as crianças, não pesa adulto não.

Desse modo, foi possível identificar que as agentes realizam tarefas sem ter clareza/conhecimento para que servem, como o SISVAN, em que apenas uma agente soube explicar sua finalidade.

Ao falarem das parcerias com outros serviços públicos na região, disseram que já se reuniram com o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), que apesar de fazerem planos, estes não saíram do papel.

O CRAS até fez uma reunião que eu participei, falaram que ia ter uma parceria boa com a gente pra orientar, para falar do SUS, pra gente está orientando nas casas porque tem muito adolescente mexendo com droga, com coisa errada, pra gente tá orientando a mãe, só que é isso que eu falo, tudo fica só no papel, já tem mais de três

meses que a gente teve reunião e a gente não teve resposta; a gente não vê ação da população, tudo fica no querer, mas fazer ninguém faz (ACS).

Assim, percebemos que não existe um trabalho em rede nessa região. Os trabalhadores dos diversos serviços não estabelecem diálogo: a unidade de saúde não dialoga com o pronto-atendimento, assim como o PACS de Nova Rosa da Penha I - apesar de referenciar seus usuários para a unidade em Nova Rosa da Penha II - não dialoga com as ACS da ESF; o CRAS fica isolado dos serviços de saúde e não tem conhecimento sobre os serviços oferecidos na unidade. Portanto, não há interação nem conhecimento entre os serviços da região, conforme é possível evidenciar na fala desta ACS - “eu acho que a gente não interage direto no CRAS, porque as pessoas que vem aqui, o CRAS encaminha, mas eles não passam direito a informação pra gente”.

Por isso, faz-se necessário a construção de processos que viabilizem a interação entre os diversos serviços e entre as diferentes redes, não apenas da saúde, mas da assistência, da educação, visando a integração, não apenas entre serviços e trabalhadores, mas também, da comunidade. Quando não existe comunicação e parceria entre os serviços, o usuário tem que se deslocar diversas vezes para conseguir uma informação.

Eles [o CRAS] entendem que tudo é o agente de saúde, não sabem orientar, não sabem esclarecer.

Às vezes a pessoa chega aqui dizendo que bloquearam seu benefício, a gente encaminha ao CRAS e depois eles retornam dizendo que o CRAS não soube explicar porque bloquearam; o que eles vão fazer depois disso então? .

(Relato de duas ACS).

Assim, é preciso a construção de uma rede transversal, pois esta

[...] se produz pelos entrelaçamentos entre diferentes atores, serviços, movimentos, políticas num dado território – ou seja, a rede heterogênea – é que parece ser o lugar da novidade na saúde. É ela que pode produzir diferenças nas distribuições de poderes e saberes. (BRASIL /MS, 2010, p.9).

4.10. Um (des)encontro com as prescrições: entre vazios de normas