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CAPÍTULO 3: A NATUREZA NA CULTURA MEDIEVAL

3.2 Algumas considerações

A Natureza é um tema recorrente entre muitos estudiosos por diferentes motivos, em diferentes abordagens e acepções. Hoje vivemos um momento em que muito se discute a capacidade da Natureza suportar o consumo de mais de 7 bilhões de pessoas, um consumo numa escala nunca antes imaginada. Porém, muitas vezes busca-se ler a Natureza apenas através de uma visão economicista, tratando de uma forma reducionista um conceito tão importante para as mais diferentes áreas do conhecimento. Tal leitura, por si só, já denota a importância de se buscar em

outras épocas as diferentes concepções de temas que são tão caros hoje, seja para a ciência, numa questão interna de seu próprio desenvolvimento, seja para a sociedade, numa relação de buscar respostas para as sucessivas crises que a acometem.

Posto isto, este capítulo buscou num período da história não tão convencional para os geógrafos, em geral, nem muito para as outras áreas da ciência também. Não vou aprofundar nesta questão, pois já foi debatida em outro momento da tese, mas o fato é que, buscamos na Baixa Idade Média, num primeiro momento, traçar a concepção de Natureza, porém, ainda não foi suficiente e tivemos que eleger em diferentes momentos dos mil anos que compõem a Idade Média, autores e obras que pudessem elucidar a concepção que foi construída e predominou sobre a Natureza no período comentado.

Ao lançar sobre a Idade Média, recorremos a Plínio, o velho e sua obra História Natural, depois em Ptolomeu e as obras Almagesto e Geographie, ambos autores considerados de grande importância para a construção de visão da Natureza, pois são responsáveis por promover verdadeiras coletâneas sobre o conhecimento acumulado da Natureza da Grécia Antiga e na transição para a Idade Média. Ao primeiro se atribui o crédito em dar um rosto a Natureza, já o segundo, por introduzir concepções matemáticas, como geometria na interpretação astronômica. Lembrando que isso se faz importante na Idade Média, pois os céus era de extrema preocupação uma vez que a ele era atribuído muitas das relações que ocorriam no planeta. Como se a Natureza se expressasse através dos astros e dos céus e influenciassem a vida na Terra.

Caminhando de uma concepção mais física, por assim dizer, indo em direção a uma concepção teológica, nos deparamos com Santo Agostinho, e ele trouxe alguns elementos do conhecimento dos pensadores da Grécia Antiga e somou-os as concepções cristãs. Sendo assim, atribuiu à Natureza um sentido metafísico cristão que explicava tanto o significado da existência humana quanto a origem e propósito das coisas. Dentre o significado teológico teremos a ideia de Bem, onde na Natureza, criada por Deus só poderia ser boa e, isso proporcionaria uma relação contemplação da humanidade para com a Natureza. Desta forma, a Natureza servia como forma de religar a humanidade a Deus.

Já Tomás de Aquino, promoveu a separação da fé e da razão, entretanto, ele subordinou a razão à fé, pois seria atributo da razão buscar pelo entendimento e

comprovação da Palavra e isso ocorreria na natureza. Ele também, participando da ótica cristã sobre o mundo, concebeu a Natureza mediante a criação divina, logo ela representava o bem. Isso torna a Natureza, além de um caminho para nos religar a Deus, um lastro moral para a humanidade. Tomás de Aquino também foi responsável por promover uma hierarquia em relação ao criador, sendo que pelo grau de perfeição da criatura ela estava mais próxima ou distante de Deus. Logo, como o ser humano ocupava um dos graus mais elevados entre as criaturas, São Tomás acentuou a separação entre homem e natureza. Embora a natureza tivesse uma função nobre de religar o homem a Deus, cabia a natureza o papel de servir ao homem.

Logo, buscou-se nesse texto tanto o entendimento que se fez da Natureza na Baixa Idade Média quanto entender as influências e transformações que ela sofreu a partir da herança recebida, quanto das trocas estabelecidas com as diferentes culturas que a Europa Medieval tomou contato, bem como, as diferentes visões dos pensadores medievais. No que tange os propósitos desta tese, o conhecimento sobre natureza através de todo o exposto trouxe uma compreensão da cosmovisão medieval sobre ela e, além disso, do modo de proceder no entendimento do mundo, seja do natural, seja do sobrenatural.

Embora, as preocupações com o espaço habitado não era alvo de grandes reflexões pelos intelectuais medievais, pois, a preocupação era com o ato de se religar ao espaço divino (paraíso) e o espaço habitado era concebido como efêmero, corruptível, ou seja, enquanto uma cópia imperfeita do paraíso. Porém, mesmo que mínima, havia uma preocupação em tornar esse espaço habitado o mais propício para a vida na Terra, uma vez que entendia-se que a natureza era feita para servir a criação mais próxima de Deus, pois o homem era feito a Sua imagem e semelhança. Também, se pensou que poderia através da razão tornar a natureza inteligível e, assim, desvendar alguns dos mistérios da natureza, pois nela continha conhecimentos relevados por Deus, seja através da Palavra, seja através da iluminação.

À vista disso, mesmo o espaço mundano não estando no topo da lista das preocupações no medievo, ele nunca deixou de ser grafado, seja em forma de textos descritivos, seja forma de mapas. Esses dois elementos são de fundamental importância para o entendimento de como o espaço era concebido pelo homem medieval e, por sua vez, como ele experienciava o espaço.

CAPÍTULO 4 – ROBERTO GROSSETESTE E ROGER

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