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A partir dos vários pontos abordados na análise das entrevistas, muitas informações interessantes surgem dos prefeitos e também do proprietário e da editora dos jornais três-maienses.

Um ponto que vale ser destacado é a questão da falta de hábito da leitura nos municípios de Alegria, Independência e Tucunduva. Não é novidade que as pessoas prefiram ouvir as notícias no rádio a lê-las em um jornal, por exemplo. Nos municípios menores e, principalmente, no interior, o rádio é a companhia e muitas vezes o único meio de comunicação que transmite notícias sobre o município e a localidade em que o indivíduo mora. E isso ficou evidente quando os prefeitos de Tucunduva e Independência revelaram que uma pesquisa também indicou a preferência da população pelo meio de comunicação falado. Contudo, a hipótese pela qual a maioria prefere ouvir rádio para ficar informado pode estar relacionada justamente com a falta de um jornal impresso local.

E quem sabe por não existirem muitos leitores e, consequentemente, muitos assinantes nos municípios ‘órfãos’ de jornais, a mídia impressa não valorize de forma satisfatória as notícias deles. Ainda, os jornais explicam que, mesmo a necessidade de divulgação não sendo suprida, é dado espaço aos demais municípios, mas claro que de forma mais restrita. A preferência é pelas notícias de maior impacto ou sobre algum evento que venha a ocorrer.

Os jornais, como se ressalta na bibliografia utilizada nos dois capítulos anteriores, têm poder por meio da informação transformada e divulgada em notícia. Logo, o impacto que causam tanto na vida econômica quanto social de um município é visível. Ou seja, os municípios que não têm um veículo de comunicação impresso ficam, sim, à mercê dos meios de comunicação de fora. Por isso, perdem em conteúdo, uma vez que, como já afirmado, o espaço destinado é restrito. E, perdendo em conteúdo, a

comunidade como um todo perde em desenvolvimento, como vimos nos conceitos no capítulo anterior. À medida que a notícia é utilizada como conhecimento, ela pode gerar desenvolvimento, pois mobiliza as pessoas e transforma de alguma forma quem está lendo.

Também cabe aqui destacar a colocação do prefeito de Tucunduva, Mateus Busanello. Tamanha é a importância que ele dá à comunicação, principalmente ao jornalismo, que atribuiu à falta de divulgação de suas obras a perda da reeleição no último pleito municipal.

A revisão bibliográfica e a posterior análise das entrevistas acerca de o jornalismo contribuir com o desenvolvimento local estão em consonância. Isso porque a maioria dos gestores demonstrou acreditar no potencial da atividade, indo ao encontro daquilo que os autores afirmam na revisão bibliográfica do capítulo anterior. Ou seja, é visível que o jornalismo contribui para o desenvolvimento local pelo fato de abordar problemas sociais e valorizar potenciais, contribuindo para o cotidiano da população. Mas não são todos que veem o jornalismo desta maneira. Ainda há quem entenda o jornalismo como importante apenas para o compartilhamento de notícias com a comunidade, como se a repercussão da notícia terminasse quando ela é publicada.

Já a análise comparando os três municípios sem jornal com Três de Maio deixa claro o entendimento de algumas questões a que esta pesquisa se propôs. Primeiro, devido a estar bem servido na questão de meios de comunicação, tanto jornais impressos como rádios, Três de Maio é amplamente divulgado nessas mídias. O fato de eles serem meios locais propicia isso. Logo, tendo ampla divulgação, o município cresce e prospera. Não que o fato de o município não ter um jornal local implicará na estagnação de seu desenvolvimento. Contudo, acredita-se que a comunicação pode não ser a única responsável por isso, mas com certeza é um dos motivos que contribui para o desenvolvimento, e não só o desenvolvimento econômico, mas também social de seu município.

E o fato de os gestores acreditarem que o jornalismo contribui para que seu município cresça e se desenvolva é fundamental. Nota-se que onde os prefeitos acreditam e entendem a importância da atividade para melhorar a vida de seus moradores há uma tendência à prosperidade que deve ser levada em conta. O prefeito de Três de Maio, por exemplo, fecha com chave de ouro

esta análise, quando sintetiza a ideia central de jornalismo e desenvolvimento local, afirmando que “é através do jornal e da rádio que se oportuniza aos formadores de opinião o exercício de sua atividade, o que é importantíssimo para o desenvolvimento econômico e para o exercício da cidadania.”

CONCLUSÃO

Mesmo vivendo a ‘era da informação’, em que somos bombardeados de informações a todo minuto por meio da internet, pessoas que moram em municípios pequenos não têm acesso sequer a rádios e jornais impressos locais. Se pensarmos sobre o assunto, pode-se entender que essa é uma realidade distante ou, pelo menos, que ocorre em regiões mais pobres e que pouco se desenvolvem.

Contudo, isso está bem próximo de nós e não se limita apenas a municípios pobres ou distantes de outros municípios mais estruturados e desenvolvidos. Na nossa região, várias cidades encontram-se praticamente ‘alienadas’ no que se refere a informações transmitidas por meios de comunicação locais, ou seja, que atendam aos interesses e particularidades de cada município. E, por isso, dependem de meios de comunicação de fora, que não conseguem suprir de forma satisfatória suas necessidades de informação, comunicação e, por que não dizer, de desenvolvimento.

A fim de comprovar com exemplos os impactos que a falta de um meio de comunicação faz, e, neste caso, um jornal impresso, foi realizada nesta pesquisa, primeiramente, uma revisão bibliográfica sobre comunicação, jornalismo e desenvolvimento. Depois, partindo para a parte prática da pesquisa, foram feitas entrevistas com os prefeitos dos municípios de Alegria, Independência e Tucunduva, localizados no Noroeste do Rio Grande do Sul. Para comparar a ação da mídia nestes municípios e em um município próximo que possui dois jornais impressos, também se ouviu a opinião do proprietário e da editora dos dois jornais de Três de Maio, bem como a do prefeito três- maiense.

A partir disso, ficaram visíveis os prejuízos sentidos por estes três municípios não possuírem um veículo de comunicação impresso. A pesquisa conseguiu também refletir a preocupação dos gestores municipais com relação a isso. O trabalho, que analisou mais precisamente a relação do jornalismo impresso com o desenvolvimento local, obteve resultados reveladores no que tange ao entendimento dos prefeitos gestores de cada município sobre o assunto.

A análise permitiu avaliar que a falta de hábito da leitura é um dos motivos pelos quais não há jornais nos municípios estudados. Além disso, ao depender de jornais de cidades próximas, a mídia valoriza o município sede, ou seja, a necessidade de divulgação deles não é suprida, uma vez que é dado espaço às notícias de maior impacto. Em Três de Maio, onde a ação da mídia local é satisfatória, percebe-se o impacto econômico e social que os jornais causam no desenvolvimento. O jornalismo e o desenvolvimento andam juntos e o entendimento disso por parte dos gestores municipais é de fundamental importância.

Por isso, ao finalizar a pesquisa, conclui-se que analisar a contribuição do jornalismo para o desenvolvimento local faz-se necessário para a sociedade e, principalmente, para os comunicólogos. Entender este assunto, que está intrínseco na sociedade, é uma forma de os jornalistas compreenderem a força que a atividade tem e também a responsabilidade que desempenham no desenvolvimento como um todo, tanto econômico quanto social. E mais: o jornalismo contribui, sim, para o desenvolvimento local, porque é ele é um serviço público. Não que ele seja o único motivo pelo qual um município se desenvolve ou não, mas é um dos fatores que permite que isso aconteça, porque é um veículo capaz de promover o desenvolvimento da comunidade onde está inserido.

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