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Algumas considerações acerca de Orchidée:

Capítulo III Abordagem analítica de mémoire-érosion e Speakings

3.1 Introdução e Procedimentos Metodológicos para a realização dos processos analíticos

3.2.1 Algumas considerações acerca de Orchidée:

O trabalho conceitual para o desenvolvimento da ferramenta Orchidée pode ser “generalizado” pela seguinte lógica: a partir de uma determinada referência sonora de entrada, denominada como “som-alvo” ou “timbre-alvo191”, podendo ser apreendido por intermédio de amostras gravadas de som ou pela sua própria criação, há a procura das “melhores soluções timbrísticas” possíveis, como arranjos e organizações instrumentais e orquestrais, com resultados finais em forma de notação musical, dentro de diversos critérios

191 Importante ressaltar que o conceito de “timbre-alvo”, segundo Carpentier, é considerado como um

“espectro médio” ou um “envelope espectral” calculado sobre o “sinal sonoro de entrada”, a partir, principalmente, de técnicas de processamento de sinal para a extração de características parametrizadas do sinal sonoro. Para maiores detalhes, ver CARPENTIER, G. Approche Computationelle de l’orchestration musicale. Optimization multicritère sous contraintes des combinaison instrumentales dans de grandes banques de sons. 2008. Tese de doutorado, Univerisdade Paris VI. pgs. 247. (N.A.)

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de restrições. Tais “restrições” podem recair tanto sobre as próprias “preferências do usuário/compositor” (como modos específicos de execução instrumental, restrição em efetivo instrumental e em outros parâmetros constituintes do fenômeno sonoro, dentre outros) quanto pelas “procuras algorítmicas”, que são realizadas, principalmente, por cálculos em “algoritmos genéticos” e da “computação evolutiva”. Dessa forma, um “automatizado e computacional” ambiente para sugestão em orquestração, tal como

Orchidée, destaca a importância da interação do compositor/usuário na confecção de uma

comunicação entre os domínios simbólicos, notação gráfica das informações musicais, as características parametrizadas do timbre musical, como um dos verdadeiros princípios conceituais da orquestração (e, porque não, da Composição Assistida por Computador). Carpentier destaca a verdadeira complexidade intrínseca da orquestração, que tange a conexões complexas e multidimensionais de relações entre o verdadeiro resultado sonoro/timbrístico com os recursos da notação musical simbólica. Assim, o aplicativo

Orchidée procura um maior refinamento algorítmico para representar o resultado sonoro a

partir de uma linguagem convencional da notação musical. Ainda, o sistema de Orquestração Orchidée se comunica com diversos ambientes da computação musical, tais como OpenMusic (IRCAM) ou Max/MSP (Cycling’74) , como um verdadeiro aplicativo independente de qualquer suporte de ambiente de programação.

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Figura 44: Esquerda = Ambiente ORCHIS (servidor próprio do Orchidée). Centro = Solução I. Direita = Solução II: distintos parâmetros estabelecidos.

A Figura acima mostra dois espaços resultantes distintos de soluções a partir de diversos parâmetros, dentro do aplicativo Orchidée enquanto um ambiente standalone, i.e., sem a presença de um ambiente de suporte, como o OpenMusic. Em “solutions-map” do centro, os parâmetros são: centróide espectral e energia em amplitude. Já em “solutions-

map”, da direita: tempo de ataque e média da amplitude dos componentes espectrais192.

3.2.2 Acerca da criação de espaços “sonoros”, “simbólicos” e de “características multidimensionais”, para a concepção estrutural de Orchidée

Como já apresentado, há diversas relações complexas entre “material sonoro” e “materiais simbólico-musicais” acerca das construções timbrísticas e orquestrais. Do ponto de vista “simbólico”, uma orquestração é um sistema discreto que pode ser “facilmente” descrito em notação musical enquanto um conjunto de variáveis discretas: instrumentos, notas musicais, dinâmicas, técnicas e estéticas de execução instrumental, etc. A partir desse momento, a “partitura musical” é projetada dentro do “espaço sonoro” que, no âmbito de resultante orquestral, é pouco previsível, justamente por abordar características outras que extrapolam a “esfera” das propriedades simbólicas da notação musical. A introdução de um

192 Para maiores informações sobre esses presentes parâmetros, ver PEETERS, Geoffroy. A Large Set of

Audio Features for Sound Description (Similarity and Classification) in the CUIDADO Project. CUIDADO I.S.T. Project Report, 2004

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“som de referência” é o primeiro “estágio” em direção à organização desse “espaço sonoro”.

O ponto de referência sonora, o som ou “timbre-alvo”, é sugerido para medir as distâncias dos diversos resultados que o algoritmo é capaz de encontrar dentro de um mesmo espaço sonoro. Para isso, as diversas informações parametrizadas do fenômeno sonoro de referência são utilizadas para calcular e classificar essas distâncias entre essas diversas soluções. Essas características são automaticamente extraídas dos sinais de áudio e podem ser facilmente correlacionadas com essas multidimensões paramétricas de determinado timbre. Ainda, é possível encontrar, dentro de um espaço de características, um alto índice de dimensionalidades ou parâmetros, seja como “centróide espectral”; “brilho”; “intensidade sonora”; “harmonicidade”; “quantidade de ruído”; “principais componentes espectrais”, dentre outros, alocando a escolha desses domínios dimensionais a uma posição complexa e determinante para as “preferências” de escuta e de escolhas, realizadas pelo usuário/compositor. Além disso, está implícita a todo esse sistema, a criação de um sem número de conjuntos de dados sonoros (dentro de banco de dados) onde as soluções podem ser encontradas, a partir de “aproximações” com os dados multiparametrizados do “som-alvo”. A pesquisa dessas soluções é realizada por dois processos distintos e colaborativos. De um lado, um algoritmo de pesquisa, apreendido, principalmente, pela computação evolutiva e genética, busca por soluções eficientes dentro do espaço multidimensional parametrizado. Por outro lado, outro algoritmo de pesquisa busca as configurações locais que satisfaçam, por sua vez, as restrições simbólico- musicais193. Portanto, é interessante apontar, ainda, as relações intrínsecas e não hierárquicas entre os espaços “simbólicos”, “sonoros” e de “características” para o todo algoritmo interno de Orchidée.

Orchidée incorpora tanto a representação das capacidades instrumentais quanto um

conjunto de algoritmos de orquestração. Dado como input sonoro de referência, Orchidée sugere uma partitura musical para reconstruir aquele “som-alvo” por intermédio de

193 CARPENTIER, G. Interacting with Symbol, Sound, and Features Spaces in Orchidée, a Computer-Aided

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misturas instrumentais previamente estabelecidas. O “conhecimento instrumental” do

Orchidée, para as possíveis elaborações em orquestração, é representado por um banco de

dados de “descritores sonoros”, em que cada “item” é uma amostra de som instrumental, associada com atributos musicais (tais como altura, dinâmica, etc.) com características relevantes à percepção (brilho, rugosidade, etc.). Assim, as características informacionais resultantes das amostras apreendidas pelo Orchidée podem ser comparadas com as características do “som-alvo” e, a partir disso, uma “similaridade estimada” pode ser calculada sob cada dimensão perceptível194. Ainda, estes procedimentos podem ser realizados por “iteração”, muito devido ao seu caráter apreendido pela computação evolutiva, e pelo “refinamento das preferências implícitas do usuário”, o que significa em identificações variantes (enquanto resultantes) a partir de configurações relevantes, para cada caso particular de proposta de efetivo instrumental/orquestral. Além disso, por objetivar as características espectrais e harmônicas de determinados timbres, Orchidée não oferece, até o presente momento, sugestões dinâmicas, com transformações espectrais ao longo do tempo. Por isso, todas as “soluções sonoras” sugeridas por esse aplicativo são estáticas. Ainda, não há presença de qualquer instrumento de percussão, muito em parte, por concordar com os seus objetivos conceituais acerca de resultados puramente harmônicos.