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Como todo projeto inovador, tivemos algumas limitações. Uma delas foi o fato de uma única pessoa criar todo o conteúdo da página, o que leva a um enviezamento de posições; recomenda- se sempre pelo menos duas pessoas na criação de conteúdos para criar colaborativamente e evitar possíveis má-interpretações, permitindo também a discussão de diferentes ideias e pontos de vista sobre um assunto e filtrar situações que possam ser deletérias ao público e aos objetivos da página, evitando também ter que apagar publicações já feitas. Se possível, é bom que a própria comunidade interessada colabore com materiais para potencializar ainda mais o senso de pertencimento e apropriação das ideias. A falta de uma segunda visão sobre os conteúdos refletiu também em uma constatação da própria pesquisadora em não ter trabalhado a EA crítica tanto quanto desejado, e às vezes ter-se apresentado mais pragmática ou mesmo conservadora em seus discursos; o ritmo intenso de produção dos conteúdos diários acabou por deixar pouco espaço para reflexões mais profundas sobre o discurso que se construía.

Não ter verba para impulsionamento de publicações também atrapalha cada dia mais a propagação de conteúdos no Facebook e seus crescentes cortes de alcance. Nosso objetivo foi realmente testar o espalhamento orgânico, contudo outros projetos podem segmentar seus impulsionamentos para atingir o público que deseja e assim ser mais eficiente no repasse da mensagem desejada. Embora dependente de recursos financeiros, as redes sociais se mostram extremamente eficientes em achar exatamente o público que se quer, permitindo amplificar a eficácia de ações de Educação Ambiental, e com as estratégias e conteúdos corretos, escalar rapidamente a entrega da mensagem a grandes públicos.

No início, tentamos que nosso projeto e página fossem divulgados aos zoológicos associados da AZAB e ao público das páginas da FPZSP, Zoo de Pomerode e Zoológico de Brasília, contudo os contatos feitos por email não foram frutíferos. Embora sem detalhamentos, sentimos certa resistência e insegurança nestas instituições, mais tradicionais, em apoiar um projeto novo dessa natureza - talvez também por desconhecer trabalhos anteriores da pesquisadora. Apesar de mais da metade dos respondentes já não trabalharem em zoológicos, teria sido relevante a oportunidade de alcançar mais os visitantes desses zoológicos, contando sobre as ações envolvidas de conservação in situ e ex situ. De qualquer forma, foi interessante observar que algumas dessas instituições chegaram até nós organicamente e compartilharam alguns de nossos conteúdos, como por exemplo o Zoológico Quinzinho de Barros, de Sorocaba, e o Parque

Zoobotânico de Brusque, além da página Juntos pelos Zoos, que é seguida por muitos profissionais que trabalham em diversas instituições zoológicas no Brasil e mesmo fora dele. Inclusive soubemos que houve a citação oral de um dos palestrantes durante o XXXVI Encontro Anual de Etologia, ocorrido em Novembro de 2018 em Minas Gerais, de nossa página como um exemplo de estratégia interessante de divulgação científica e EA. Assim, mesmo sem outras parcerias diretas, conseguimos atingir um público relevante no período da pesquisa, mostrando que já há algumas ações pontuais em algumas das instituições, tentando se apropriar da cultura da internet e dos memes para suas ações de comunicação.

Uma constatação feita informalmente, embora fora do escopo da pesquisa, foi a de que as publicações que os seguidores compartilhavam em suas linhas do tempo tinham pouco engajamento (poucos ou nenhum comentário ou curtida). Porém, os motivos podem ser diversos (engajamento do perfil naturalmente baixo, alcance reduzido pelo Facebook por ser compartilhamento de página em vez de ser conteúdo original, horário de compartilhamento ruim, etc); por isso não podemos inferir que o conteúdo não interesse a partir do segundo nível de compartilhamentos, embora possamos afirmar claramente que isso atrapalhou a propagabilidade dos conteúdos para além do nicho que já seguia a página originalmente. Ficou também a falta de análises específicas sobre os reais motivos que fizeram cada um dos conteúdos agradar ao público e se destacar com grandes números em alcance observado. Assim, fica como uma possibilidade de futuros estudos.

Por fim, como foi uma ação pontual e de prazo relativamente curto, é difícil mensurar o impacto real que os conteúdos abordados na página tiveram nas mudanças de concepções em relação ao trabalho dos zoos e sobre ações de conservação. Estudos longitudinais e mais aprofundados poderiam investigar de forma mais precisa como essa ação impactou nas concepções e principalmente nas ações diárias dos seguidores com relação à conservação da biodiversidade e nas concepções mais profundas sobre zoológicos.

Esse trabalho permitiu derrubar um pouco a falácia do mundo offline de que ‘pessoas não leem textão no Facebook’, quando este tem relevância para a realidade das pessoas. Foi possível se conectar a esse público abordando situações com as quais elas se identificaram, representando falas que elas mesmo teriam e gostariam de repassar aos seus amigos online. Por fim, outro fator muito relevante para o sucesso de uma estratégia como essa é conhecer seu público e ouvir o que ele tem a dizer. A horizontalização das relações é essencial na nossa cultura da conexão e no sucesso de ações como essa: conhecer para quem estamos falando (e adequar o conteúdo aos

seus interesses), assumir e corrigir os erros e pensar em estratégias que agradem o público e os façam interagir com o que estamos oferecendo. E com sorte, nossa mensagem será entregue, e poderá ser capaz de mudar concepções e desenvolver o espírito crítico da EA.

No mais, foi uma excelente oportunidade de demonstrar o potencial dos memes e do humor para tratar de assuntos importantes à sociedade e propagar os conteúdos com ajuda dos próprios leitores, por fazer parte de seus discursos e as pessoas acharem interessante passar isso adiante em seu círculo social. Estudos posteriores, ou mesmo ONGs, outras instituições ambientais e até mesmo profissionais dentro de espaços formais de ensino podem aproveitar nossos materiais e nossos achados para pensar em estratégias de comunicação similares, a fim de ampliar a divulgação do conhecimento dessa área para o público comum e somar esforços na conservação da biodiversidade.

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