ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Professora I A forma ção continuada do professor, pois, nosso

A primeira coisa a discutir nestas considerações finais refere-se à viabilidade e pertinência de ter utilizado para a análise dos depoimentos coletados o referencial teórico-metodológico elaborado por Alves (2000), para identificar projetos de formação continuada comprometidos com a transformação social.

Os cinco pares de categorias dialéticas representaram um patamar amplo e seguro que permitiu olhar criticamente para os depoimentos coletados sobre o Programa Ler e Escrever, identificando-o como um projeto transformador. Isto pode ser constatado em um exame cuidadoso dos quadros elaborados para a análise.

É importante compreendermos que o Programa Ler e Escrever não é um projeto novo. Ele traz influências de outros projetos já criados pela própria Secretária Estadual de Educação. Podemos citar o Projeto Letra e Vida, que foi um projeto bem conceituado e conhecido pelos docentes da área.

Um dos indícios para essa constatação é o fato de perceber que o referencial teórico do presente programa é basicamente o mesmo do pioneirismo construtivista da década de 1980 com Emilia Ferreiro, Ana Teberosky e Telma Weiz.

O Programa Letra e Vida já trazia como referencial teórico os conceitos construtivistas, sendo assim o construtivismo já esta nos documentos institucionais da educação brasileira há mais de 25 anos. E muitos professores acreditam que é novo e que apenas agora fazendo parte do Programa Ler e Escrever ele se tornará transformador.

Outra questão, ainda sobre o referencial de análise é a atribuição de mais de um par de categorias a um único depoimento, o que demonstra a leitura polissêmica dos conceitos envolvidos em um fenômeno educativo, ou seja, uma mesma afirmação permite várias interpretações.

Ao analisar o significado da proposta de formação do Programa Ler e Escrever na perspectiva de um grupo de professoras entrevistadas das séries iniciais mostra-se que grande parte delas professoras entrevistadas revela ter gostado da prática formativa, das atividades sugeridas pelo programa e da sondagem constante realizada com os aluno.

Das dez professoras entrevistas apenas duas demonstram descontentamento com o programa em linhas gerais, trazendo queixas à qualidade das formações

realizadas pelos professores-coordenadores e reclamando ainda da incompatibilidade entre teoria e prática, dicotomizando-as.

Através dos questionários percebe-se que os professores-coordenadores atuam como porta-vozes das instâncias oficiais do programa e, como tal, tentam encorajar a equipe docente, incentivando-os para novas práticas e mostrando seus benefícios.

Porém, os professores-coordenadores, embora procurem incentivar os professores, mostrando aspectos positivos do referencial construtivista, muitas vezes, realizam a formação de maneira repetitiva e tradicional.

Através da análise dos dados fica claro observar que os professores culpam os professores-coordenadores por não realizarem uma formação de qualidade nas reuniões de HTPC, e, por sua vez, os professores-coordenadores demonstram que os professores não têm interesse nas reuniões e que alguns acabam permanecendo no sistema tradicional.

É possível perceber que cada profissional tende a responsabilizar o outro. Parece que ninguém toma para si a sua própria responsabilidade diante da implantação do programa, o que, com certeza, não contribui para o desenvolvimento das suas ações, e que, provavelmente, caso essa postura seja estendida para outros momentos da atuação desses profissionais, também dificulta a melhoria da educação como um todo.

De outro lado foi muito gratificante constatar por parte dos depoentes, manifestações muito mais a favor do que contra o Programa, em que pesem as condições adversas postas aos profissionais de ensino no exercício da docência. Muito embora essa “boa colheita” não se deva apenas ao Programa Ler e Escrever, mas também a inúmeras outras iniciativas de formação de professores, assumidas por políticas educacionais em entes federados progressistas, desde meados dos anos de 1980.

O reconhecimento do Ler e Escrever (construindo significados, como rezam as teorias e práticas construtivistas) como condições indispensáveis para o exercício da cidadania cr os meios fundamentais ao desenvolvimento social.

Enfim, mesmo considerando as dificuldades vividas pelo setor educacional do país, tanto por causas internas como causas externas do fracasso escolar, que não se distribui democraticamente, mas castiga as camadas mais pobres da população, o fato de os educadores do Projeto assumirem-no como uma iniciativa transformadora da qualidade social da educação traz perspectivas positivas à extinção do analfabetismo que se eterniza desde o início da colonização do Brasil.

BIBLIOGRAFIA

ALVES, Maria Leila. Educação continuada comprometida com a transformação social. Universidade Estadual de Campinas (Tese de Doutorado). Campinas: 2000. AZANHA, Maria da Graça. Construtivismo: De Piaget a Emília Ferreiro. 7 ed. São Paulo: Ática, 1999.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamemtal. Parâmetros curriculares nacionais: Introdução. Brasília: MEC/SEF, 1997.

________. Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996– Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 20 dez. 1996.

CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizando sem o bá-bé-bi-bó-bu. São Paulo: Scipione, 1999.

FERREIRO, Emilia. Reflexões Sobre alfabetização. São Paulo: Cortez, 2000.

________. Com Todas as Letras. São Paulo: Cortez, 1999.

________. Alfabetização em processo. São Paulo: Cortez, 1996.

FERREIRO, Emilia e TEBEROSKI, Ana. A psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 40 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. ________. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 17 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001.

________. Educação e mudança. 14 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1979.

________. A importância do ato de ler. In: FREIRE, P. A importância do ato de ler em três artigos que se completam. São Paulo: Autores Associados; Cortez, 1983, p. 11-24.

GADOTTI, Moacir. Pressupostos do projeto pedagógico: Anais da Conferência Nacional de Educação para Todos. Brasília: MEC, 1994.

GHIRALDELLI Júnior, Paulo. O que é pedagogia. 3 ed. rev. e atual. São Paulo: Brasiliense,1996.

LÜCK, H. A escola participativa e trabalho do gestor escolar. Rio de Janeiro: DP&A, 1998.

MOURA, Tânia Maria de Melo. A prática pedagógica dos alfabetizadores de jovens e adultos:Uma contribuição de Paulo Freire, Emilia Ferreiro e Vygotsky. Maceió: EDUFAL, 1999.

PARO, V. H. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Ática, 2002.

SÃO PAULO. Secretaria Estadual De Educação. Programa ler e escrever: Coletânea de atividades – 1ª série. São Paulo: FDE, 2008. Disponível em

http://lereescrever.fde.sp.gov.br/Documentos/Coletanea_Atividades.pdf. Acesso em 01/12/2009.

________. Secretaria Estadual De Educação. Programa ler e escrever. Resolução SE 86, de 19-12-2007. 2007. Disponível em:

http://lereescrever.fde.sp.gov.br/site/Documentacao.aspx Acesso em: 23/02/2009 SÃO PAULO (Município). Educação Fundamental: orientações gerais para o ensino de língua portuguesa e matemática no ciclo I (v.1) / Secretaria Municipal de

Educação. São Paulo: SME / DOT, 2006.

SOARES, M. Leitura e democracia cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

________. Letramento: Um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

SOUZA e CAVÉQUIA. Linguagem, criação e interação: 8ª série. São Paulo: Saraiva, 1999.

VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos superiores. São Paulo: Martins Fontes. 1998

DUARTE, N. Concepções afirmativas e negativas sobre o ato de ensinar. Caderno CEDES, Campinas, v. 19, n. 44, 1998 . Disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101- 32621998000100008&lang=pt

APÊNDICE 1

Programa de Mestrado da Universidade Metodista de São Paulo – Profª. Priscila Vita Pesquisa Educacional:

Questionário sobre o Programa Ler e Escrever da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo

1. Qual é a sua função atual na escola? ( ) Professor

( ) Coordenador Pedagógico ( ) Diretor

( ) Vice-Diretor ( ) Outros

Se for professor, em qual(is) turma(s) e/ou qual(is) disciplina(s) leciona?

2. O que você acha da proposta do Programa Ler e Escrever?

__________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________

3. Você acredita que o Programa Ler e Escrever pode contribuir para melhorar o aprendizado dos alunos?

( ) Sim ( ) Não Por quê?

4. A proposta está sendo aplicada na sua escola? ( ) Sim ( ) Não De que forma?

__________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ Em caso positivo, você sentiu dificuldades na aplicação?

( ) Sim ( ) Não Quais?

5. Você acredita que o Programa já trouxe resultados positivos visíveis em relação ao aprendizado dos alunos (na sua escola ou em outras)?

( ) Sim ( ) Não Quais?

6. Você acredita que o Programa Ler e Escrever pode contribuir para melhorar a educação pública em geral?

( ) Sim ( ) Não Como?

7. Os professores e coordenadores pedagógicos se reúnem para a discussão da proposta pedagógica e para a avaliação da prática?

( ) Sim ( ) Não

Em caso positivo, de que forma essas reuniões contribuem para a melhoria da prática pedagógica?

8. Cite e justifique alguns pontos, na sua opinião, positivos do Programa.

9. Cite e justifique algumas, na sua opinião, limitações do Programa.

10. Você gosta de trabalhar com o Programa Ler e Escrever? ( ) Sim ( ) Não Por quê?

No documento Download/Open (páginas 90-97)