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CAPÍTULO 3 – UM TESTE EMPÍRICO PARA O

3.1 O MODELO

3.1.2 Análises Preliminares

3.1.2.1 Algumas evidências sobre a migração de crédito

O objetivo desta seção é discutir algumas evidências descritivas que apontam o encadeamento lógico levantado por este trabalho. Procura-se observar se aumentos da meta para taxa Selic provocam piora dos balanços dos tomadores e, conseqüentemente, dos critérios utilizados para classificá-los sob os diferentes níveis de provisionamento para crédito de liquidação duvidosa dos bancos, em conformidade com as resoluções do Banco Central. Por via de consequência, e com uma certa defasagem, a piora dos balanços deve potencializar um aumento do nível de provisionamento de crédito, o que representa maiores despesas financeiras aos bancos que, conjugado à outras questões regulatórias e de composição de portfólio ótimo, motiva-os a uma queda do total de crédito concedido. Portanto, o que se espera, na média, é que a partir de choques monetários haja uma tendência de aumento do nível de provisionamento, para resguardar os bancos de uma maior inadimplência, concomitante a uma queda do total do crédito concedido. É o que se pretende examinar a seguir.

Em especial, uma vez que o trabalho procura indícios a partir de choques monetários contracionistas, avalia-se preliminarmente os efeitos de quatro grandes choques desta natureza ocorridos na economia brasileira, ao longo do período em análise:

1) Set/97 a Dez/97 (de uma taxa de 20,59% a.a. para 38% a.a; com elevação de

17,4% na taxa anual);

2) Set/98 a Mar/99 (de uma taxa de 19,75% a.a. para 43,5% a.a., com elevação de

23,75% na taxa anual);

3) Mar/01 a Dez/01 (de uma taxa de 15,75% a.a. para 19% a.a., com elevação de

3,25% na taxa anual);

4) Jun/02 a Mar/03 (de uma taxa de 18,5% a.a. para 26,5% a.a., com elevação de

8,0% na taxa anual).

Considera-se que o efeito da política monetária no Brasil ocorra de 6 a 9 meses43, devendo impactar com ao menos esta mesma defasagem as demais variáveis financeiras da economia, inclusive as contas de balanço, tal como consolidadas aqui. Obviamente que os efeitos estão sujeitos à intensidade do movimento, bem como a outros fatores que, por ora, não podem ser isolados. Portanto, supõe-se que um choque contracionista que ocorre em determinado mês poderá causar queda do total de crédito com uma defasagem de, no mínimo, 6 meses de diferença com relação ao choque. Para uma abordagem mais conservadora, supõe-se que esta contagem se dê a partir do primeiro e do último mês em que se empreende o choque, o que geraria a seguinte correspondência temporal, partindo desta causalidade:

• Set/97 a Dez/97 Æ Efeitos a partir de Fev/98 a Mai/98 • Set/98 a Mar/99 Æ Efeitos a partir de Fev/99 a Ago/99 • Mar/01 a Dez/01Æ Efeitos a partir de Ago/01 a Mai/01 • Jun/02 a Jun/03 Æ Efeitos a partir de Nov/02 a Nov/03

É demonstrado abaixo um conjunto de quadros que indicam a relevância da proporção de provisionamento sobre o total de crédito dos 50 maiores bancos brasileiros, conforme relatório do Banco Central, de Março de 2000 até Dezembro de 2004. Neste sentido, procura-se demonstrar a evolução de duas participações percentuais (%), que indicam a importância e a tendência de algumas das variáveis analisadas: 1) provisão para crédito de liquidação duvidosa como percentual do total de crédito e 2) total de crédito como

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percentual do total de ativos dos 50 maiores bancos, conforme registro contábil daquele período.

Percebe-se pelos quadros que existe uma série de movimentos coincidentes entre: 1) um aumento/queda do provisionamento com relação ao total de crédito (∆1>0 e ∆1<0, respectivamente) e 2) uma queda/aumento do total de crédito como proporção do total do ativo dos 50 maiores bancos brasileiros (∆2<0 e ∆2>0, respectivamente). Estes indícios incrementam as evidências favoráveis às hipóteses do trabalho de que um aumento das provisões implicariam em uma menor concessão de crédito e vice-versa, já que os quadros abaixo, que demonstram a variação (∆) destes percentuais de um período a outro, mostram que estes movimentos são compatibilizados, à exceção de jan/99, jan/00, abr/00, jan/01, abr/01, jun/01, out/01, abr/02, jun/02, out/04, jan/05, sendo os mais relevantes em magnitude: jan/00, jun/02 e jan/05. Os movimentos não compatibilizados e de maior magnitude, que apresentam uma queda expressiva do provisionamento de crédito de um período a outro, concomitante a uma importante queda do total de crédito como proporção do total do ativo, muito provavelmente refletem que, não obstante os choques monetários44 (que pioram as condições dos tomadores e que, portanto, potencialmente aumentariam a constituição de provisionamento dos bancos em resposta); deve haver uma queda do valor provisionado, uma vez que estes choques devem retirar liquidez do mercado de crédito, provocando uma queda do total de crédito em carteira e, portanto, dos eventos de inadimplência potenciais.

Tabela 7 – Resumo das variações das relações “Provisão para Crédito para Liquidação Duvidosa sobre o Total do Crédito” e do “Total do crédito sobre o Total do Ativo” para os 50 maiores bancos brasileiros de Jun/97 a Dez/04 (Em Bilhões)

jun/97 jan/98 jun/98 jan/99 jun/99 jan/00 Provisão para Crédito em Liquidação Duvidosa 4,0% 1,4% 5,4% 0,1% 5,5% -1,1% 4,4% -0,4% 3,9% -0,2% 3,8% -3,8% Total do Crédito 33,2% -3,9% 29,3% -0,7% 28,5% 1,5% 30,0% -1,3% 28,8% 0,9% 29,6% -29,6% Total do Ativo 100,0% 0,0% 100,0% 0,0% 100,0% 0,0% 100,0% 0,0% 100,0% V 100,0% - 100,0% abr/00 jun/00 out/00

jan/01 abr/01 jun/01 out/01 jan/02 abr/02 jun/02

Provisão para 11,4% - 0,6% 10,9% - 3,4% 7,5% - 0,7% 6,8% - 0,2% 6,7% - 0,2% 6,5% - 0,2% 6,3% 7,2% 0,2% 7,3% 0,2% 7,5% -7,5% 44

Crédito em Liquidação Duvidosa 0,9% Total do Crédito 29,8% - 0,6% 29,2% 1,4% 30,6% 1,1% 31,8% - 0,4% 31,4% - 1,3% 30,0% - 1,1% 28,9% 0,5% 29,4% -0,6% 28,8% 0,9% 29,8% -29,8% Total do Ativo 100% 0,0% 100% 0,0% 100% 0,0% 100% 0,0% 100% 0,0% 100% 0,0% 100% 0,0% 100% 0,0% 100% 0,0% 100% - 100,0%

out/02 jan/03 abr/03 jun/03 out/03 jan/04 abr/04 jun/04 out/04 jan/05

Provisão para Crédito em Liquidação Duvidosa 6,9% 0,5 % 7,4% 0,4 % 7,8% 0,2 % 7,9% 0,0 % 7,9% - 0,4 % 7,5% - 0,0 % 7,4% - 0,3 % 7,1% - 0,3 % 6,9% 0,8 % 7,7% -7,7% Total do Crédito 42,6% - 2,7 % 39,9% - 0,3 % 39,6% - 7,2 % 32,4% - 1,5 % 30,9% 1,7 % 32,6% - 1,5 % 31,1% 2,7 % 33,8% 0,2 % 34,0% 0,3 % 34,3% -34,3% Total do Ativo 100% 0,0 % 100% 0,0 % 100% 0,0 % 100% 0,0 % 100% 0,0 % 100% 0,0 % 100% 0,0 % 100% 0,0 % 100% 0,0 % 100% -100,0%

Obs: A porcentagem correspondente à linha de “Provisão para Crédito em Liquidação Duvidosa” indica a sua proporção em relação ao Total de Crédito, e a linha de “Total de Crédito” representa a sua proporção com relação ao “Total do Ativo” dos 50 maiores bancos.

Com relação às evidências de efeitos de política monetária, que impactam as variáveis financeiras, dentro do timing esperado, observa-se um efeito de elevação do nível de provisionamento especialmente em: jan/98, out/01 (mais intenso entre eles), jan/02, abr/02, out/02, jan/03, abr/03, out/04. Adicionalmente, observa-se também movimentos de uma provável associação entre quedas expressivas de provisionamento, como proporção de crédito, concomitante à quedas relevantes do total de crédito, como proporção dos ativos (jan/00, jun/02 e jan/05). Abaixo, descreve-se as possíveis associações e causalidades temporais mais prováveis entre estes movimentos de política monetária e incrementos/quedas no nível de provisionamento, muito embora esta análise seja mais um indício com validade reduzida, se analisada de forma isolada.

Meses de Política Monetária Contracionista(*)

Efeito no nível de provisionamento

Mês do efeito(*)

Set/97 a Dez/97 aumento; queda

Jan/98; Jun/98 Set/98 a Mar/99 queda Jun/99 Mar/01 a Dez/01 aumento Out/01

Jun/02 a Jun/03 aumento; queda

Out/04; Jan/05 (*) – Associa-se o efeito com uma defasagem de 6 a 9 meses, a partir do