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Algumas propostas de análise de materiais didáticos de língua estrangeira

um número relativamente efetivo de pesquisas no que se refere à seleção e produção de material didático e/ou livro didático (Williams 1983; Bohn, 1988; Ramos, 2003).

Williams (1983) propõe uma avaliação do MD ou LD amparada, de modo geral, em dois grandes grupos denominados de análise geral e análise técnica. De acordo com o autor, as análises do tipo geral focalizam as questões referentes às metodologias e abordagens de ensino, bem como, as necessidades do aprendiz, do professor e da comunidade em que se insere o livro didático. O segundo grupo de análise é definido como técnicas, uma vez que atentam para aspectos relacionados com a materialidade do livro didático, focalizando características como: a qualidade de edição e publicação; a disponibilidade de material suplementar; o custo e a duração do livro; autenticidade da língua; o estilo do autor e etc.

Por sua vez, Bohn (1988, p.292) propõe um guia de avaliação de material de ensino (ME) partindo do princípio que este é uma das variáveis externas ao aprendiz que intervém no “complexo processo” de aprendizagem de LE. O autor verifica o papel dos materiais nesse processo, bem como, a relação deles com as necessidades e objetivos do ensino de LE. Para tanto, o autor tece algumas considerações a respeito de questões teórico- práticas envolvidas no levantamento de critérios, e também, sugere uma guia de avaliação de ME, uma vez que entende que a avaliação e a seleção de ME está intimamente relacionada com os objetivos e necessidades de aprendizagem de uma LE. Deste modo, o autor preconiza uma análise das necessidades de aprendizagem de LE no contexto em questão como base para se estabelecerem os objetivos do curso e, posteriormente, empreender a avaliação e seleção dos ME. Acrescenta-se, ainda, que “os critérios utilizados para avaliar materiais somente farão sentido quando examinados à luz destes objetivos.” (Bohn, ibid., p.295-296).

Concordamos com o autor que admite que os critérios avaliativos propostos por ele para a análise e seleção de ME se tornam limitados, uma vez que não podemos conhecer os elementos que participam do processo de aprendizagem (como processos cognitivos e estratégias individuais de aquisição); porém não impede essa verificação que encontremos, nesses mesmos critérios, orientações e posicionamentos teóricos de grande valia. Ainda, a lista de critérios proposta visa, acima de tudo, “oferecer um roteiro de discussão para, de uma maneira sistemática e significativa, harmonizar as potencialidades de um programa

com os objetivos educacionais de uma escola, região ou país.” (Bohn, ibid., p.298-299). Tal referencial pode, segundo o autor, ser usado em sua totalidade ou parcialmente.

O guia de avaliação proposto é dividido em oito grandes categorias: geral, aspectos técnicos, compreensão oral, leitura, expressão oral, expressão escrita, vocabulário e gramática; que formam a base da avaliação. Entretanto, num momento anterior à aplicação do guia, Bohn (ibid., p.300) sugere que deve-se

definir o aluno, o nível de ensino, familiarizar-se com os materiais em seu conjunto, em termos de organização, de ênfase ou de equilíbrio nas diferentes habilidades, nos pontos gramaticais abordados, como também familiarizar-se com os princípios teóricos e pedagógicos que subjazem a organização e a aplicação dos materiais.

A avaliação se dá através de atribuição de pesos para os objetivos (que são definidos a partir das percepções do professor, das características e expectativas dos alunos, dos objetivos de ensino do curso/ escola) e para os materiais (considerando, aqui, a ênfase e a freqüência dada ao item no material). A atribuição de pesos vai de quatro (04), para o item considerado muito importante/ muito enfatizado, a um (01), para o item visto como não-importante/ não-enfatizado. A aceitabilidade do ME é baseada no grau de harmonia entre os objetivos de ensino traçados, o construto teórico estabelecido e sua efetivação no material.

Acreditamos que esse roteiro de análise de material proposto por Bohn (1988) seja não só bastante complexo e enfadonho de ser aplicado, como também pouco eficiente em nosso contexto de ensino de LEC, uma vez que ele foi pensado primariamente para a avaliação de MDLE de adultos.

Ramos (2003 apud Ramos & Roselli 2008) apresenta uma lista de critérios para análise de materiais didáticos feita a partir dos estudos sobre MD de Curnningsworth, 1984; Breen & Candlin, 1987; Hutchinson & Waters, 1987. Segundo a autora, o estabelecimento de critérios de análise tem a ver com a necessidade de guiar o julgamento de quem avalia o MD ao considerar, por exemplo, o público-alvo, incluindo, faixa etária, sexo, conhecimento de língua estrangeira, nível de formação, etc. Depois, é necessário

considerar os objetivos do livro e se esses são alcançáveis e condizentes com os conteúdos e atividades propostas ao longo das unidades.

Dois critérios importantes, a serem considerados também, são a visão de linguagem e a visão de ensino-aprendizagem que o material apresenta, uma vez que a primeira define o conteúdo a ser apresentado e a segunda, os procedimentos e ações metodológicas do professor e como o aluno aprende. Ainda, segundo Ramos (op.cit.), deve-se observar que os materiais contém em termos de a) conteúdo (conhecimento sistêmico, textual, etc), b) textos (gêneros, autenticidade, assuntos, etc), c) atividades (objetivos, instruções, tipos, etc).

Um sexto critério a ser avaliado é como o material é explorado, ou seja, o que se quer que os alunos e o professor façam. Por fim, devemos concluir se o material atinge os objetivos propostos por ele e fazer um diagnóstico final, pensando em qual é o seu papel e lugar no curso em questão. Essa análise necessariamente exige o conhecimento do contexto ao qual se destina o MD e, conseqüentemente, uma tomada de posição por parte do avaliador em relação aos diferentes critérios elencados que se fazem presentes no processo de ensino-aprendizagem de uma LE.

Deste modo, este trabalho, ao fazer a análise e discussão acerca do MD, adotará os critérios de avaliação propostos por Ramos (2003), por entendermos que eles atendem às nossas necessidades para a análise dos materiais em questão, visto que nos oferecem uma possibilidade de reflexão sobre o MDLE e possam ser adaptados ao contexto de LEC.

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