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Capítulo 3: A mídia econômica no Brasil e a dinâmica dos mercados focados em

3.1 Alguns aspectos da configuração do campo midiático brasileiro

MIDIÁTICO BRASILEIRO

Esta seção tem o objetivo de apresentar aspectos da configuração do campo midiático no Brasil que sejam relevantes para o entendimento do contexto em que está inserido o jornalismo econômico e de negócios brasileiro. A partir de fatos

53 históricos associados à configuração da mídia no Brasil, analisados com base nas lentes da Sociologia Reflexiva, buscam-se analisar brevemente alguns elementos chave da configuração e da dinâmica desse espaço.

A mídia e o jornalismo têm sua gênese atrelada à invenção da prensa móvel em meados do século XV na Alemanha, por Johannes Gutemberg (BARBOSA, 2010). No Brasil, a imprensa chega juntamente com a Corte portuguesa, em 1808, com a instalação das oficinas da Impressão Régia (MARTINS e DE LUCA, 2008; BAHIA, 2009; BARBOSA, 2010). Antes disso, a tipografia e o jornalismo eram proibidos pela administração colonial portuguesa (BAHIA, 2009). Para alguns, esse estabelecimento da imprensa brasileira é considerado tardio (GIOVANINNI, 1987), uma vez que, após a invenção da prensa móvel, essa rapidamente se expandiu e chegou às Américas. Há de se considerar que, em um primeiro momento, a utilização dessa tecnologia na Europa e nas Américas foi uma atividade pouco intensa, com a produção de material impresso tendo se intensificado no século XVII na Europa no século XVIII nas Américas (MARTINS e DE LUCA, 2008). Além disso, também há registros de impressos clandestinos em território brasileiro antes de 1808, como o jornal chamado Gazeta Brasiliense, produzido em Londres por Hipólito da Costa13, o que contrapõe a ideia de atraso da chegada da imprensa no Brasil.

Talvez mais relevante do que o momento da chegada da imprensa no Brasil seja o contexto em que isso ocorre e ganha maior escala. A Imprensa Régia e o primeiro jornal oficial brasileiro, a “Gazeta do Rio”, vêm marcar um momento de transformações nas relações de poder (MARTINS e DE LUCA, 2008). A chegada de Dom João VI gera diversas movimentações para a criação de um senso de sociedade

brasileira e a legitimação do poder central, com a inauguração da imprensa brasileira

nesse contexto.

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Martins e De Luca (2008) apresentam uma série de jornais e outros impressos produzidos tanto nacionalmente quanto na Europa e circulando em terras brasileiras.

54 Até 1821, a imprensa brasileira foi marcada pela censura prévia em relação ao conteúdo publicado exercida por uma Junta Diretora, que visava a garantir que não se publicassem conteúdos contra a religião, o governo e os bons costumes (BAHIA, 2009). Entre 1821 e 1889, a censura prévia foi suspensa, sendo os autores considerados responsáveis por suas publicações e ficando sujeitos a penalidades em caso de calúnias, injúrias, ofensas à moral pública ou zombarias contra a religião ou o

Império. Nesse período, surgem alguns jornais como o Estado de São Paulo, o Jornal

do Brasil e a Gazeta de Notícias. Com a proclamação da República, em 1889, foi promulgado o Decreto Rolha, com a volta da censura prévia. A terceira leva de jornais se forma entre 1920 e 1930, com destaque para a Folha de São Paulo, O Globo e o Estado de Minas.

Dois indivíduos com importante influência na formação do espaço midiático brasileiro mais contemporâneo são Assis Chateaubriand e Roberto Marinho. O primeiro foi responsável pela criação do que é considerada a maior cadeia de imprensa brasileira, os Diários Associados, formada por jornais, revista, emissoras de rádio, estações de televisão e agência de notícias. Roberto Marinho herdou do pai o jornal O Globo e, a partir de um acordo inconstitucional na época com um grupo norte- americano, formou a Rede Globo de Televisão, que se expandiu significantemente durante o regime militar (HERZ, 1987; KALIKOSKE, 2011).

A expansão das mídias no Brasil está relacionada ao seu alinhamento com os governos vigentes. Isso não significa que existe uma influência direta do governo na determinação do conteúdo veiculado, como no período de censura. Porém, a expansão de alguns veículos em detrimento de outros, inclusive nos períodos em que houve censura, está relacionada ao alinhamento com o governo. Diversos autores (MORAIS e ALMEIDA, 1994; MARTINS e DE LUCA, 2008) apontam, por exemplo, a proximidade de Assis Chateaubriand a grupos políticos dominantes e à sua própria passagem pelo governo, como senador entre 1952 e 1957. Colocando-se

55 contra o golpe militar e a ditatura, Chateaubriand foi perdendo alguns privilégios. Nesse momento, se fortalece a figura de Roberto Marinho, também próximo a figuras políticas e que não mediu esforços para apoiar o golpe militar. Com isso, Marinho acumulou recursos, tornando-se dominante nesse espaço.

O jornalismo econômico e de negócios brasileiro se expandiu no período dos governos militares no Brasil (1964-1985), em que houve uma ampliação de toda a indústria cultural brasileira, fortemente incentivada pelo Estado (ORTIZ, 1988). Até o final dos anos 1960, o conteúdo midiático de alguma forma associado à economia era relativo à comunicação de informações comerciais e financeiras, sem incluir análises mais gerais, e o conteúdo era mais limitado à região em que os veículos de comunicação eram editados (QUINTÃO, 1987). A partir dos anos 1970, a mídia passou a publicar análises e informações econômicas (CALDAS, 2003), consolidando-se o jornalismo econômico e alguns dos principais jornalistas econômicos brasileiros. Pedroso (2015) associa essa mudança de posicionamento aos governos militares, em que houve um atrofiamento do espaço político e, em paralelo, da imprensa política, e a promoção do crescimento econômico como forma de legitimação desses governos, e, em paralelo, do jornalismo econômico.

Os atores dominantes da mídia nacional compõem o campo do poder brasileiro (BOURDIEU, 1998; HJELLBREKKE, ROUX, KORSNES, LEBARON, ROSENLUND e ROUANET, 2007), interagindo com atores importantes da esfera econômica e influenciando fortemente as representações da economia. Na próxima seção, discute-se como o jornalismo econômico e os mercados estão se co- produzindo.

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3.2 O JORNALISMO, A DIFUSÃO DE NOVAS CATEGORIAS E A