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ALGUNS ASPECTOS DO ARCABOUÇO LEGAL DA MOBILIDADE URBANA

No documento RUI MANUEL PINTO DANTIER (páginas 31-35)

Sem aplicar as políticas de priorização do transporte público dificilmente vai ser possível oferecer um serviço de qualidade para a sociedade, inviabilizando, inclusive, um desenvolvimento sustentável de excelência para a população urbana (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DAS EMPRESAS DE TRANSPORTES URBANOS, 2015).

Promulgada a Constituição Federal (CF), em 1988, o desenvolvimento urbano e o transporte urbano foram tratados, especialmente, nos seguintes artigos:

Artigo 21, XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos( BRASIL, 1988, p. 26); Artigo 30, V- compete aos municípios organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial (BRASIL, 1988, p. 34).

Passados pouco mais de um ano da promulgação da CF de 1988, objetivando instituir normas para o sistema nacional de transportes coletivos urbanos, foi proposto o Projeto de Lei (PL) nº 4.203/1989. Posteriormente a este, o PL nº 870/1991, que tratava das diretrizes nacionais de transporte coletivo urbano; o PL nº 1.777/1991, que regulamentava os princípios de regras básicas para os serviços de transporte coletivo rodoviário de passageiros; e o PL nº 2.594/1992, sobre as diretrizes nacionais do transporte coletivo urbano. Pela similaridade do assunto, as três acabaram sendo apensadas ao PL nº 4.203/1989, pois restringiam o objeto ao transporte coletivo, sendo todas arquivadas em 1995. Nesse mesmo ano foi criado o PL nº 694/1995, que dispunha sobre as diretrizes para o transporte coletivo no país, passando, daí em diante, a tramitar sob esse número (BRASIL, 1995b).

Nesse intervalo foi aprovado o Estatuto da Cidade, Lei nº 10.257/2001, criada para regulamentar os artigos 182 e 183 da CF, que tratam da política de desenvolvimento urbano e da função social da propriedade. A lei estabeleceu as diretrizes gerais e os instrumentos da política urbana, porém não dispôs sobre a mobilidade urbana, apenas sobre a obrigatoriedade da existência de plano de transporte urbano integrado para os municípios com mais de 500 mil habitantes (BRASIL, 2001).

Contudo, para Maricato (2015), foi a criação do Ministério da Cidade (MC), em 2003, que representou um marco na política urbana e no destino das cidades, apesar de a política de transporte e mobilidade ter sido pouco trabalhada no período 2003-2011, ofuscada pelo intenso movimento social em torno dos temas da habitação e do saneamento básico.

Após tramitarem nas comissões da Câmara dos Deputados, somente em 2003 foi instituída uma comissão especial para apreciar e dar parecer ao PL nº 694/1995, sendo apensado a ele, posteriormente, o PL nº 1.974/1996, “sobre a prestação de serviços de transporte rodoviário coletivo de passageiros sobre o regime de concessão ou permissão” e o PL nº 2.234/1999, sobre “sistema integrado de transporte coletivo urbano” (BRASIL, 1995b).

Apesar da suposta retomada, o PL nº 694/1995 acabou ficando novamente inativo por mais três anos, foi quando o poder executivo, por meio do Ministério das Cidades, enviou o PL nº 1.687/2007 (Executivo), que “instituiu as diretrizes da Política de Mobilidade Urbana”, compreendidas como parte da política de desenvolvimento urbano, apensada ao PL nº 694/1995.

Desse modo, o PL nº 1.687/2007 seguiu, no início de 2010, para o Senado Federal sob a denominação de Projeto de Lei Complementar (PLC) nº 166/2010, oriundo da Comissão Especial da Câmara, sendo aprovado em dezembro de 2011 sem alterações de mérito.

Finalmente, 17 anos após a criação da PL nº 694/1995, foi sancionada a Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU), Lei nº 12.587/2012, no dia 3 de janeiro de 2012, que atribui prioridade aos meios de transporte não motorizados e ao serviço de transporte público coletivo, assim como a possibilidade legal de aplicar restrições ao uso de automóveis (BRASIL, 2012). Foi a primeira lei abrangente sobre o tema dentro da perspectiva da equidade e da sustentabilidade. Os municípios deveriam elaborar o PMU integrado ao PDM existente ou em elaboração.

Segundo a PNMU, a obrigatoriedade recai sobre os municípios com população superior a 20 mil habitantes, e os demais obrigados à elaboração do Plano Diretor (PD) conforme descrito no art. 416 da Lei Federal nº 10.257/2001,

6 Art.41. I – com mais de vinte mil habitantes; II – integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas; III – onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos no§ 4o do art. 182 da Constituição Federal; IV – integrantes de áreas de especial interesse turístico; V – inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional.VI - incluídas no cadastro nacional de Municípios

assim como as localidades que fazem parte de regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e Regiões Integradas de Desenvolvimento Econômico (Rides) que, ao todo, tenham mais de um milhão de habitantes. Também os municípios de interesse turístico, incluídos os litorâneos, cuja dinâmica de mobilidade urbana sofra alterações nos finais de semana, feriados e períodos de férias, em função da presença de turistas (FARIAS, 2020).

O prazo inicial de três anos previsto no PD para elaboração do PMU, venceu em abril de 2015. Após mais dois adiamentos, o novo prazo previsto pela Lei nº 14.000/ 2020, para cidades com mais de 250 mil habitantes, foi de 12 de abril de 2022, enquanto nos municípios, com população de até 250 mil pessoas, o prazo termina em 12 de abril de 2023 (FARIAS, 2020).

Com o PMU pronto, o Município de Campos habilita-se a ter acesso a um fundo Federal para obras de mobilidade urbana. Em pesquisa realizada pela Secretaria Nacional de Mobilidade e Serviços Urbanos (SEMOB), em fevereiro de 2019 e atualizada em dezembro de 2019, dos 3.476 pesquisados (62% do total dos municípios brasileiros), apenas 2.315 municípios responderam aos ofícios. Destes, apenas 321 municípios (14% dos respondentes) declararam possuir o PMU e 518 alegaram estar em fase de elaboração. Cabe ressaltar que o PMU deve ser aprovado por lei para se tornar uma política de Estado e não de Governo (FARIAS, 2020).

Já em 2015, foi aprovada a Lei nº 13.146/2015, que define, no capítulo X, artigo 46, o direito ao transporte e à mobilidade da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, por meio da identificação e eliminação de todos os obstáculos e barreiras que dificultem seu acesso (BRASIL, 2015b).

Reforçando a importância do transporte público, foi aprovada em 15 de setembro de 2015, EC 90/15, incluindo o transporte na relação de direitos sociais do cidadão (BRASIL, 2015a).

Como também está em tramitação a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 159/2007 que propõe a criação de uma CIDE Municipal. Assim, parte da

com áreas suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos(Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012).

arrecadação oriunda do consumo de gasolina, pelo transporte individual, será investida em transporte público (BRASIL, 2007).

Portanto pode-se observar que a mobilidade urbana vem sendo tratada com prioridade em todas as esferas do poder público, que, pelo menos do ponto de vista legal, buscam garantir ao cidadão o acesso universal à cidade.

3 BREVE HISTÓRICO DO TRANSPORTE COLETIVO URBANO EM CAMPOS

No documento RUI MANUEL PINTO DANTIER (páginas 31-35)

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