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Alguns dos problemas surgidos nos fogões foram reconhecidos pela A

No documento Data do documento 2 de dezembro de 2021 (páginas 22-31)

40. As vendas gerais da R., nomeadamente nas plataformas L… e M…, têm vindo a diminuir desse 2016 até à atualidade, afetando a sua liquidez e o seu equilíbrio económico e financeiro,

designadamente os seus compromissos com fornecedores, trabalhadores, Fisco e Segurança Social alemã.

Procede, assim, parcialmente a impugnação da decisão em matéria de facto.

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A aplicação do Direito

3. Cumprimento defeituoso da obrigação da A. e a exceção de não cumprimento do contrato

Incumbe ao tribunal proceder à qualificação jurídica que julgue adequada, nos termos do art.º 5º, nº 3, considerando a delimitação dada pela factualidade alegada e provada e os limites do efeito prático-jurídico pretendido.

No dia 1 de junho de 2014, a A. celebrou um acordo com a R. pelo qual, a pedido e sob encomenda desta última, a primeira lhe passou a fornecer vários equipamentos do seu comércio a fim desta a colocar no seu armazém para venda. Em contrapartida, a R. receberia uma comissão sobre cada venda efectuada, de 5%

do valor da venda revelado na fatura que emitia ao cliente final.

Para que se concretizasse o recebimento da comissão, a R. estava obrigada a emitir e a enviar à A. um relatório mensal relativo às vendas que efetuava, dependente da aprovação da A. em determinado prazo.

Salvo melhor posição, temos para nós que o contrato celebrado não é um normal contrato de compra e venda, mas um contrato de compra e venda à consignação, por consistir na entrega de mercadoria a um negociante para que as venda ou revenda por conta de quem lha entrega, efectuando o consignatário as vendas em nome próprio, mas por conta do consignante.

Como se refere no acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 9.10.2003[14], no seu significado comercial a consignação "consiste na entrega de mercadorias a um negociante para que as venda ou revenda por conta de quem lhas entrega"[15].

Assim, nesse contrato de consignação, melhor dito de venda à consignação, "o consignatário efectua as vendas em nome próprio, mas por conta do consignante"[16].

Há, pois, um verdadeiro mandato[17] para venda do bem ou bens entregues em regime de consignação (com a obrigatoriedade, para o consignatário, de devolver o bem se o não vender) embora sem que ao mandatário sejam conferidos poderes de representação, situação expressamente prevista pelo art.º 1180º do Código Civil.

Na verdade, "configura-se um mandato sem representação, nos termos e para os efeitos dos artºs. 1180º e seguintes do C.Civil, quando, concertadamente, e sem outorga da procuração específica, o mandatário celebra um dado negócio jurídico em seu próprio nome (nomine proprio) mas por conta do mandante, ocorrendo em tal situação uma interposição real de pessoas"[18].

Tal mandato sem representação possui o seu homólogo no domínio do direito comercial --- art.º 266º do Código Comercial --- o qual define como contrato de comissão aquele em que no exercício do mandato comercial o mandatário executa o acto sem menção ou alusão alguma ao mandante, contratando por si e em seu nome, como principal e único contraente.

Foi esta relação continuada de comissão para venda à consignação --- e não de compra e venda --- a que se estabeleceu entre A. e R. nos limites do contrato celebrado no dia de junho de 2014. É um contrato

bilateral e sinalagmático, tem direitos e obrigações correspetivas: À venda dos equipamentos da A., por parte da R., corresponde a obrigação daquela de lhe pagar o valor da comissão acordada.

São aspectos da relação interna, entre a A., como mandante/comitente, e a R., na qualidade de mandatária/comissária, que aqui estão em causa: e existência de defeitos na mercadoria fornecida à consignação para venda a clientes da R. na Alemanha, e a aplicação da exceção de não cumprimento relativamente à entrega do preço dessa mercadoria à A. comitente.

Pra além dos deveres específicos do mandante, no âmbito do mandato, previstos no art.º 1167º do Código Civil, também neste contrato, à semelhança da compra e venda, se impõem deveres gerais de cumprimento, como é o cumprimento pontual (no devido tempo e sem vícios ou defeitos), nos termos dos art.ºs 762º e seg.s, 798º e 799º do Código Civil.

Se, à semelhança da generalidade dos contratos, há flexibilidade na contratação de comissão, há rigidez no cumprimento, pois que estes existem para serem cumpridos com respeito pelos interesses da contraparte, legal e contratualmente protegidos (art.ºs 398º, nº 1 e 406º, º 1, do Código Civil). Existe uma eficácia comum a todos os contratos que se consubstancia no princípio da força vinculativa ou da obrigatoriedade; significa que, uma vez celebrado, o contrato plenamente válido e eficaz, constitui lei imperativa entre as partes.

Almeida Costa[19] define ainda a regra da eficácia vinculativa através dos seguintes princípios:

- O da pontualidade, utilizando a lei o termo “pontualmente” com o alcance de que o contrato deve ser executado ponto por ponto, quer dizer, em todas as suas cláusulas e não apenas no prazo estipulado[20]; e - Os da irretratabilidade ou da irrevogabilidade dos vínculos contratuais e da intangibilidade do seu conteúdo, fundindo-se estes no que também se designa por princípio da estabilidade dos contratos.

Como refere Enzo Roppo, cada um “é absolutamente livre de comprometer-se ou não, mas, uma vez que se comprometa, fica ligado de modo irrevogável à palavra dada: pacta sunt servanda”[21], sendo certo que, é “nesta estrutura de confiança que se intercala o laço social instituído pelos contratos e pelos pactos de todos os tipos que conferem uma estrutura jurídica à troca das palavras dadas”, e que, o “facto de os pactos deverem ser observados é um princípio que constitui uma regra de reconhecimento que ultrapassa o face a face da promessa de pessoa a pessoa”[22].

Ainda assim, ocorrem situações que, excecionalmente, por motivos supervenientes, justificam um desvio àquela regra, permitindo que uma relação contratual validamente constituída se extinga, sendo uma delas a resolução contratual.

Tanto o comitente como o comissário estão adstritos ao princípio da boa fé (art.º 762º, nº 2, do Código Civil). Este princípio, em sentido objetivo, acompanha a relação contratual desde o seu início, permanece durante toda a sua vida e subsiste mesmo após se ter extinguido. Está presente, além do mais, na formação do contrato e na sua execução e cumprimento.

Invocou a R. a exceção de não cumprimento do contrato e, com base nela, o direito a não pagar o valor em que foi condenada na 1ª instância enquanto a A. não substituir os 8 a 10 fogões (ou, pelo menos, 5 fogões) por outros de qualidade, ou o seu valor em dinheiro.

Vejamos.

O ponto 17 dos factos provados foi alterado, tendo passado a ter o seguinte teor:

“A A. suportou a devolução de todos os eletrodomésticos (em bom estado e danificados ou defeituosos) do armazém da R., na Alemanha, para o armazém da A., em Portugal, até ao mês de outubro de 2016, tendo havido, porém, posteriormente, devolução à R. de cerca de 5 a 10 equipamentos de fogão por clientes depois dessa data que a A. não discutiu nem assumiu.”

Dispõe o art.º 428º, nº 1, do Código Civil, que “se nos contratos bilaterais não houver prazos diferentes para o cumprimento das prestações, cada um dos contraentes tem a faculdade de recusar a sua prestação enquanto o outro não efectuar a que lhe cabe ou não oferecer o seu cumprimento simultâneo”.

A exceptio é um reflexo do sinalagma funcional, um corolário da interdependência das obrigações sinalagmáticas; cada uma é causa da outra (nexo causal recíproco).

As obrigações do sinalagma devem, em princípio, ser cumpridas simultaneamente. Uma parte tem a faculdade de recusar o cumprimento da obrigação própria enquanto a outra parte não cumpra ou não ofereça o cumprimento, quando as obrigações são sinalagmáticas ou não têm prazos diferentes de cumprimento.

A exceptio non adimpleti contractus constitui uma exceção perentória de direito material, cujo objectivo e funcionamento se ligam ao equilíbrio das prestações, valendo, tipicamente, no contexto de contratos bilaterais, quer haja incumprimento ou cumprimento defeituoso. São seus pressupostos a existência de um contrato bilateral, não cumprimento ou não oferecimento do cumprimento simultâneo da contraprestação e a não contrariedade à boa fé.

Em regra, a exceptio aplica-se às obrigações principais e essenciais ligadas por um vínculo de reciprocidade e interdependência. [23] Mas, a interdependência pode ocorrer relativamente a prestações acessórias do contrato. A exceção de inexecução visa precisamente evitar que um dos sujeitos seja obrigado a realizar a sua prestação quando a contraprestação, sua causa, não seja por sua vez, realizada.

Mesmo havendo prazos diferentes para cumprimento, a exceção em referência pode ser invocada pelo contraente que está obrigado a cumprir em segundo lugar quando aquele que estava obrigado a cumprir em primeiro lugar o não tenha feito.

A exceção vale tanto para o caso de falta integral de cumprimento, como para o incumprimento parcial ou o cumprimento defeituoso; porém, desde que a sua invocação não contrarie o princípio geral da boa fé (art.º 762º, nº 2, do Código Civil).

Para que a exceção de não cumprimento não seja julgada contrária à boa fé, deverá haver uma tripla relação entre o incumprimento do outro contraente e a recusa de cumprir por parte do excipiente: relação de sucessão, de causalidade e de proporcionalidade.

Assim, não pode recusar a sua prestação, por via da exceptio, o contraente que primeiro deixou de cumprir. A recusa de cumprir do excipiente deve ser posterior à inexecução da prestação da contraparte.

A suspensão da prestação do excipiente deve ter unicamente por causa aquele incumprimento, sendo sua consequência imediata.

Pelo princípio da equivalência ou proporcionalidade das inexecuções, a recusa do excipiente deve ser equivalente ou proporcionada à inexecução da contraparte que reclama o cumprimento, de modo que, se a falta desta for de leve importância, o recurso à exceção pode ser ilegítimo.

A recusa pode ainda mostrar-se contrária à boa fé se o que falta prestar é uma pequena parte, que na ocasião não possa ser prestada.

Como refere F. Baptista de Oliveira[24], “seria realmente contrário à boa fé que um dos contraentes recusasse a sua prestação só porque o outro não cumpriu uma parte insignificante, que não podia de momento cumprir.

O razoável é que, em tal caso, lhe seja consentido apenas recusar uma parte da prestação, bastante para se garantir da parte não cumprida.[25]

Almeida Costa também ensina que seria contrário à boa fé que um dos contraentes recusasse a sua inteira prestação só porque a do outro enferma de uma falta mínima ou sem suficiente relevo. Acrescenta que “na mesma linha surge a regra da adequação ou proporcionalidade entre a ofensa do direito do excipiente e o exercício de uma exceção. Uma prestação significativamente incompleta ou viciada justifica que o outro obrigado reduza a contraprestação a que se acha adstrito. Mas, em tal caso, só é razoável que recuse quando se torne necessário garantir o seu direito”.[26]

Volvendo ao caso sub judice, a aplicação da exceção de não cumprimento do contrato está fragilizada desde logo pelo facto de não estarem em causa as prestações essenciais ou fundamentais do contrato: A venda dos produtos da A. versus o pagamento da comissão a que ela se obrigou.

Poderá haver correspetividade --- uma relação causa-efeito --- entre a obrigação da R. de entrega dos valores relativos aos preços de venda dos equipamentos à A. e o pagamento das comissões a que tem direito. Mas, ainda assim, o direito ao recebimento da comissão (5%) estava dependente da emissão e envio à A. pela R. de um relatório de vendas (“sales report”) mensal que, após aprovação, seria pago pela A. no prazo de 30 dias após a sua emissão. E a verdade é que, em outubro 2015 a R. deixou de remeter os relatórios de vendas, bem como os documentos respeitantes às comissões eventualmente devidas.

Não há simultaneidade de prestações entre a obrigação da A. de recolha de bens devolvidos e o dever de entrega do preço por parte da R. Esta obrigação é anterior às vicissitudes pós-vendas e a R. não provou a causa das concretas devoluções de equipamentos, sendo estas já posteriores à resolução do contrato por parte da A. e à recolha de existências nos armazéns da R. A situação não foi oportunamente reportada à demandante, para que pudesse ter sido atempadamente atendida.

Ocorre também que o valor de 5 a 10 fogões não tem expressão significativa no elevado volume de negócios havido entre as partes, determinante do pagamento de uma dívida superior a € 100.000,00 pela R. à A. Não sabemos quantos fogões foram efectivamente devolvidos, podendo ser apenas cinco.

Suspender o pagamento daquela dívida de valor elevado em função de um acerto de contas motivado por 5 a 10 fogões de cozinha, nas referidas condições, é manifestamente desproporcional e atentatório do princípio da boa fé contratual.

De resto, aqueles fogões estão na posse da R. e, ainda que estejam viciados, constituem uma garantia de valor que lhe é favorável.

Termos em que improcede a questão da exceção de não cumprimento do contrato, invocada pela recorrente.

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4. Em sede reconvencional, a obrigação da A. reconvinda de indemnizar a R. reconvinte pelo dano reputacional, pelo impacto negativo que a situação teve nas vendas e lucros da R., perda de clientela e pelo valor dos fogões devolvidos

Alega a R., quanto à matéria da reconvenção, que, de acordo com o art.º 798º do Código Civil, o devedor que falta culposamente ao cumprimento da obrigação se torna responsável pelo prejuízo que causa ao credor, sendo que nos termos do art.º 799, nº 1, do mesmo código, incumbe ao devedor provar que a falta de cumprimento ou o cumprimento defeituoso da obrigação não procede de culpa sua.

No entender da reconvinte, a A. reconvinda não afastou aquela presunção.

Aquele princípio da presunção de culpa da parte que não cumpriu o contrato, ou que o cumpriu defeituosamente, está correto, porquanto nos situamos em sede de responsabilidade contratual. No entanto, à semelhança do que acontece na responsabilidade civil por atos ilícitos, é o credor que deve provar o incumprimento ou o cumprimento defeituoso, o prejuízo e o nexo causal entre aquela contrariedade à lei e ao contrato e o dito resultado danoso.

Era à R. que cumpria alegar e provar o ambiente da obrigação contratual da A. e o respetivo incumprimento, sendo ónus desta última a demonstração de que o incumprimento não resultou de culpa sua, ilidindo a presunção que lhe está associada, nos termos do art.º 799º, nº 1, do Código Civil.

A A. estava obrigada a entregar à R. os produtos do seu comércio sem vícios que os desvalorizassem, que impedissem a realização do fim a que se destinavam, com as qualidades por ela asseguradas ou necessárias para a realização daquele fim.

Cabia, assim, à R. reconvinte provar a existência e identificar os vícios nos materiais que a A. lhe foi fornecendo, ou seja, o cumprimento defeituoso da obrigação, ainda o nexo causal entre a desconformidade e os danos por ela sofridos, e fazer a respetiva denúncia, devendo a A., por seu turno, provar que o defeito não lhe é imputável, que não procede de culpa sua (art.ºs 483º e 799º do Código Civil).

Dado o tipo de contrato em causa e o acordado pelas partes, na existência de defeitos, cumpria à A.

aceitar a devolução dos produtos defeituosos ou contribuir para a sua reparação.

O desenvolvimento da relação contratual estava sujeito a um relatório mensal que reflectia o estado das vendas e as condições de que dependia o pagamento da comissão a que a R. tinha direito.

Ora, desde outubro de 2015 que a R. não mais enviou à A. os relatórios de vendas, o que, por certo, complicou a relação comercial.

A R. assumira a obrigação de garantia de qualidade dos produtos dada aos seus clientes (finais), por dois anos, a contar da venda, e a A. remeteu, sempre que foi solicitado pela R., gratuitamente e ao abrigo da garantia, todos os acessórios e peças que aquela requisitava. Suportou também a A. a devolução de todos os electrodomésticos (em bom estado, e danificados ou defeituosos) do armazém da R., na Alemanha, para o seu armazém, em Portugal, inexistindo, até à data da resolução do contrato (efectuada pela A., com base no incumprimento da R. por falta de pagamento) qualquer equipamento reclamado que esteja por resolver.

Está bem patente nos autos que foi o incumprimento da R. que deu origem à resolução (válida) do contrato.

A R. não logrou fazer prova de que a A. deixou de cumprir as suas obrigações contratuais.

É certo que existiam defeitos em vários equipamentos enviados pela A. à R. para venda no mercado

alemão, mas, sempre que lhe foi solicitado, a A. contribuiu para a solução desses problemas, de acordo com o contrato, aceitando devoluções e enviando peças ou acessórios, conforme o solicitado, para que fosse efectuada a devida reparação.

Era da R. a responsabilidade pela prestação de assistência técnica em relação aos produtos que vendia, com a garantia de dois anos, não logrando demonstrar que foi impedida pela A. do cumprimento dessa sua obrigação, tanto mais que não fez prova de datas em que comunicou problemas com os bens à A. ou que esta se recusou a substituir peças ou os equipamentos.

Não tendo ficado demonstrado o incumprimento da A., antes se concluindo que o incumprimento definitivo do contrato é imputável à R., por falta injustificada de pagamento e que foi determinante da resolução do contrato (efectuada por carta de outubro de 2015), a reconvinda não tem que ilidir qualquer presunção de culpa para evitar a sua responsabilização, seja por danos reputacionais da R., sejam eles por ofensa do bom nome e credibilidade (dano não patrimonial), sem como dano patrimonial indirecto (o impacto negativo nas vendas e lucros cessantes da R.). De igual modo, não se encontra fundamento para condenar a A. relativamente a despesas com o serviço de gestão de reclamações e apoio aos clientes e de transportes, ou com prejuízos resultantes de perda de clientela, vendas e lucros.

Vários fornos, fogões e placas fornecidos pela A. e vendidos pela R. foram objeto de várias reclamações por parte dos clientes finais, tendo defeitos os que se identificam sob o ponto 29. Também é certo que as vendas gerais da R., nomeadamente nas plataformas L… e M…, têm vindo a diminuir desse 2016 até à atualidade, afetando a sua liquidez e o seu equilíbrio económico e financeiro, designadamente os seus compromissos com fornecedores, trabalhadores, Fisco e Segurança Social alemã. Mas não provou a R. nexo de causalidade relevante entre a existência daqueles defeitos e a degradação progressiva da sua condição económica e empresarial.

Como se refere na sentença recorrida, “(…) não fez a R., também, prova de custos acrescidos com as alegadas reclamações e devoluções dos bens (de € 2.000,00 e € 2.587,50 – alínea A) dos factos não provados), nem de qualquer quantia monetária concreta, nem da possibilidade de existirem valores só afectos a tal situação para a resolução de ‘defeitos’, desconhecendo-se o contrato que a R. fez com a D…, designadamente se comportava uma quantia por cada intervenção, por grupo de intervenções ou mensal (…)

Apenas se apurou que a R. deixou de vender produtos da A. e as suas vendas diminuíram em 2016, mas não se conseguiu apurar se tal diminuição se deveu exclusivamente à venda de produtos objecto de reclamação, até porque a R. continuou a sua actividade, que mantém, com outro fornecedor e, de qualquer forma, vendeu muitos outros produtos da A. que não apresentaram qualquer problema”.

Note-se que a R. nunca tinha alegado qualquer defeito ou problema técnico dos equipamentos como causa do seu incumprimento, apenas referindo que o motivo do incumprimento verificado eram as suas dificuldades financeiras, que eram estas que a impediam de efectuar o pagamento da dívida, já acumulada em mais de € 100.000,00.

Andou bem a sentença ao não atribuir indemnização à reconvinte com os referidos fundamentos.

Resta apenas a questão dos 5 a 10 fogões que foram devolvidos por clientes à R. após a resolução do contrato de comissão pela A.

A reconvinte pretende obter uma indemnização da A. reconvinda pelo valor dos referidos fogões, a liquidar oportunamente.

A devolução dos fogões indicia, mas não demonstra, a existência de vícios nesses bens e, na afirmativa, quais sejam eles, e se são reparáveis ao abrigo da garantia, ou não. As devoluções dos fogões pelos clientes finais, ou algumas delas, podem ter origem noutras causas, que não a existência de defeitos.

A R. assumira a responsabilidade pela garantia prestada na venda dos produtos aos seus clientes, estando obrigada a fazê-lo pelo prazo de 2 anos, contra os defeitos de fabrico. Para o efeito, foi ela, e não a A., que contratou a D… para solucionar os pedidos de assistência técnica no âmbito da garantia.

Dado o contrato celebrado, a R. poderá (eventualmente) ter direito à devolução dos fogões à A. (com ou sem defeitos e com ou sem alguma compensação de créditos), mas a matéria de facto provada é insuficiente à procedência de um pedido deste jaez --- que, aliás, não foi formulado na reconvenção ---, não havendo também fundamento factual justificativo de indemnização a favor da reconvinte pelo valor dos fogões (de 5 a 10) que tem na sua posse.

Decorre de tudo o que ficou exposto que a reconvenção improcede totalmente, devendo confirmar-se, também nesta parte, a sentença recorrida.

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SUMÁRIO (art.º 663º, nº 7, do Código de Processo Civil)

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V.

Pelo exposto, acorda-se em julgar a apelação improcedente, confirmando-se a sentença recorrida, quer quanto à acção, quer quanto à reconvenção.

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Custas pela R. reconvinte apelante, por ter decaído totalmente no recurso (art.º 527º, nº 1, do Código de Processo Civil).

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Porto, 18 de novembro de 2021 Filipe Caroço

Judite Pires

Aristides Rodrigues de Almeida _______________

[1] Por transcrição.

[2] Por transcrição.

[3] Diploma a que pertencem todas as disposições legais que se citarem sem menção de origem.

[4] Código de Processo Civil anotado, Almedina, 2019, Vol. I, pág. 252.

[4] Código de Processo Civil anotado, Almedina, 2019, Vol. I, pág. 252.

No documento Data do documento 2 de dezembro de 2021 (páginas 22-31)

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