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2 REFLEXÕES TEÓRICAS SOBRE O TEACHER

2.8 Alguns estudos de percepção contemporâneos

De uma forma geral, os sentidos são confiáveis e fornecem dados precisos sobre o ambiente. Em alguns casos, entretanto, os sentidos são enganados sistematicamente, acontecendo as chamadas ilusões perceptivas. Gentaz e Hatwell (2005), em um trabalho sobre as ilusões do tato, analisam três experimentos clássicos que são apresentados nas FIG. 5, 6 e 7.

FIGURA 5 - Ilusão de Muller-Lyer

Fonte: GENTAZ e HATWELL, 2005, p. 86.

Na ilusão representada pela FIG. 5, a reta com as flechas abertas para fora parece maior do que a mesma reta com as flechas abertas para dentro.

FIGURA 6 - Ilusão vertical-horizontal Fonte: GENTAZ e HATWELL, 2005, p. 87.

Em relação à ilusão da FIG. 6, no desenho em L ou em T invertido o segmento vertical parece maior que o horizontal.

FIGURA 7 - Ilusão de Delboeuf

Fonte: GENTAZ e HATWELL, 2005, p. 88.

Na FIG. 7, o círculo parece menor quando inserido em outro círculo do que quando é apresentado sozinho.

Esses experimentos são exemplos de ilusões perceptivas. Eles ilustram como os nossos sentidos podem se enganar na percepção dos fenômenos. As ilusões perceptivas são estudadas há muito tempo na psicologia.

Os autores demonstram que as ilusões táteis são estudadas geralmente testando três grupos diferentes de pessoas: de olhos vendados, cegas de nascimento e cegas tardias. Dessa forma, por exemplo, se uma ilusão existe somente para as pessoas que enxergam e para os cegos tardios, pode-se concluir que a causa é a experiência visual.

Por meio da análise de ilusões visuais e táteis, os resultados encontrados para os experimentos acima foram:

A ilusão de Muller-Lyer ocorre na visão e no tato e resulta de mecanismos comuns às duas percepções. A ilusão vertical-horizontal é também visual e tátil, mas os mecanismos em jogo são, em parte, específicos a cada sentido. A de Delboeuf é somente visual, em razão do caráter analítico do tato. Portanto, compreender o funcionamento da ilusão visual não é suficiente para compreender o do tato (GENTAZ e HATWELL, 2005, p. 89).

Esse estudo deixa evidente que, assim como a visão, o tato também pode ser enganado, já que esses sentidos possuem algumas elaborações cognitivas em comum. Entretanto, a visão se deixa enganar com mais facilidade do que o tato. Assim, dado que certos mecanismos são comuns às ilusões visuais e táteis, um dos objetivos perseguidos pelos psicólogos é desvendar quais mecanismos são comuns aos dois tipos de ilusão e quais são próprios de cada uma delas.

Logothetis (2005), em estudos que analisam a relação entre consciência e percepção visual, demonstra que não estamos cientes de grande parte da atividade em nosso cérebro. Muitos neurônios respondem a estímulos dos quais não estamos conscientes. Além disso, uma descrição da consciência visual que possa ser considerada mais completa terá de considerar também resultados de experiências com outros processos cognitivos, como a atenção ou a memória operacional. Dessa forma, como já mencionado anteriormente, a percepção envolve várias atividades cognitivas que são inter-relacionadas.

Vicario (2005), por meio de experimentos sobre a relação entre o tempo psicológico e o tempo físico, mostra que as pesquisas psicológicas sobre a percepção do tempo são complexas e resultam em uma multiplicidade de perspectivas sobre o tema. Para o autor, tanto os processos fisiológicos como os psíquicos podem transformar os estímulos temporais em sensações que desvirtuam, por exemplo, a duração e a sucessão das experiências:

Estamos habituados a pensar que o tempo psicológico seja uma projeção, mais ou menos fiel, do tempo físico, mas os resultados das pesquisas nos dizem: a) que no tempo psicológico as relações antes/depois não dependem exclusivamente da seqüência real dos estímulos; b) que os fatores decisivos na formação das relações antes/depois no tempo psicológico não são de natureza temporal. [...] O fluir e a continuidade do tempo psicológico são, em certo sentido, independentes do fluir e da continuidade do tempo físico (VICARIO, 2005, p. 65).

Assim, a maioria dos atributos do tempo de que se tem experiência não pode ser explicada com os atributos do tempo físico. Além disso, o tempo também possui uma natureza cultural e social, evidenciada por meio da maneira de ver e dividir o tempo.

Pode-se dizer que os exemplos acima ilustram uma importante característica da percepção: ela não espelha fielmente a realidade e envolve também interpretação. Diversos fatores como expectativas, motivações, experiências anteriores, emoções, valores, objetivos, interesses e o contexto sócio-cultural influenciam o modo como as pessoas percebem os fenômenos. Trabalhos recentes sugerem então que:

O retrato do cérebro que começa a emergir desses estudos é o de um sistema cujos processos criam estados de consciência, não só em resposta a informações sensoriais, mas também a sinais internos que representam expectativas baseadas em experiências anteriores (LOGOTHETIS, 2005, p.55).

Dessa forma, a percepção que as pessoas têm, por exemplo, dos encontros interpessoais é carregada de subjetividade. Todos possuem uma estrutura de personalidade única e enxergam o mundo por meio das suas “próprias lentes”. Geralmente, a tendência é a pessoa enfatizar aspectos da realidade que são congruentes com as suas crenças, com a sua maneira de ver o mundo. Daí, provavelmente, vem o ditado popular: a gente vê aquilo que quer ver.

Em relação às expectativas, por exemplo, são muito conhecidos os estudos sobre as chamadas “profecias auto-realizadoras”26. Esses trabalhos mostram a influência das expectativas do professor sobre o desempenho dos alunos:

O conceito central trabalhado por esses autores é o de “profecia auto- realizadora”, cujo significado básico é o de que a predição feita por uma pessoa quanto ao comportamento de outra, de algum modo, chega a realizar-se. Embora a predição possa existir apenas na percepção de quem a faz, é perfeitamente possível que ela seja comunicada a outra pessoa, sob formas muito sutis e não intencionais, influenciando e direcionando seu comportamento (RIBEIRO e BREGUNCI, 1986, p. 62, grifo nosso). Esse tipo de comunicação sutil, não intencional, envolve de perto aspectos não-verbais da comunicação. Essas pesquisas demonstraram que o desenvolvimento intelectual está relacionado ao tipo de interação entre o professor e os alunos. Por meio do tom de voz, da expressão facial, pelas posturas e pelo contato em geral, os professores comunicam aos alunos (provavelmente de uma maneira não intencional) suas expectativas de melhoria de desempenho. A expressividade não-verbal é constitutiva da comunicação e ganha uma grande força na comunicação das expectativas dos professores.

Os estudos dessa área são conclusivos e avaliam que apesar das diferenças entre professores, os efeitos das expectativas são reais. Além disso, dois aspectos importantes merecem destaque. Em primeiro lugar, o efeito das expectativas é mais nítido nas primeiras séries. As crianças menores são mais sensíveis aos processos pelos quais os professores comunicam suas expectativas e julgamentos em decorrência do estágio evolutivo em que se encontram. Em segundo lugar, os professores mais competentes são menos susceptíveis aos efeitos das expectativas (RIBEIRO e BREGUNCI, 1986).

26

Destacam-se aqui os estudos de Rosenthal e Jacobson, que são famosos na área da educação. Eles foram os primeiros a demonstrar a influência desse fator e a sua primeira publicação foi em 1968.

“Poesia é aquilo que se perde na tradução.” Robert Frost

“O que há de melhor numa poesia é o que ela não perde quando traduzida.” Goethe

CAPÍTULO 3 - TRADUÇÃO, LINGUAGEM E DIFERENÇAS CULTURAIS: